Gerrit
Dou, Astrônomo na luz da vela, 1659
Uma
das experiências criativas mais legais que tive em 2017 foi compor e
gravar com a Juliana Schmidt.
Parceria
inesperada que surgiu após a luminária dela pifar num show meu e
como ressarcimento eu ter poetado e musicado com a moça.
Se
não fosse o cantor Marcos Delfino não haveria nada disso. Ainda
pudemos contar com a flauta mágica do mestre Antonio Ramos.
A
arte vai por conta do holandês Gerrit Dou, cerca de 1659, já que os
pintores barrocos e flamengos souberam como ninguém trabalhar o jogo
das luzes contra as sombras.
Nossa
luminária é inspirada no movimento iluminista e suas lâmpadas
desde o século XVIII. Assim como nas memórias de Érico Veríssimo:
“Desde
que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a
idéia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de
atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada,
trazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele
caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos
tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror.
Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos nosso toco de vela
ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal
de que não desertamos nosso posto”.
(ÉRICO
VERÍSSIMO, 1973)
A
LUMINÁRIA PIFOU
(Carlos
Albani / Juliana Schmidt)
Não
era sobre o fim do dia
Mas
era a luz que findava
Era
a falta que fazia
Nada
mais irradiava
Nada
mais cintilando
Era
sobre a falta que fazia
Nada
mais reluzindo
Aquela
luz faltando
Onde
estava o poeta
Clarão
de ideias
Cabeças
se iluminando
Isso
até um rei tirano
Coroar
o apagão
Difamando
a luz do sol
Prender
a Prometeu
Cobrir
a todas às lâmpadas
Sequer
o gênio encontrou perdão
Nem
a lenha do fogão ardeu
Não
se viu mais raio no céu
Nem
Julieta, nem Romeu
A
paixão não mais amanheceu
Ainda
assim há que se incendiar
E
acender as velas
Há
que se riscar os fósforos
Fazer
fogueiras no fundo do poço