Mãe Nana agradece a todos que dedicaram uma horinha da sua tarde de sábado, lindo sábado, para conhecer seus 140 filhos.
Uma plateia carinhosa e atenta de professores, ex-alunos, artistas e amigos acompanharam a entrevista e adquiriram seu livro.
E atenção, que a promoção com o kit do Inventor do Vento (3 livros + CD) continua, pra você presentear os amigos neste fim de ano. Peça o seu direto com o autor!
E como diz o amigo, e editor, Borges Netto, qual vai ser o próximo livro, Albani?
Vendo tanta gente querida e reunida assim por causa da minha literatura, das músicas, poesias e ficções, já estou doido para publicar o próximo mesmo.
Teatro? Romance? Crônica? Mais música? Aguardem porque vamos sempre CAVALGANDO O VENTO!
Estou
contribuindo com o Festil (Festival de Teatro Estudantil de
Gravataí/RS) desde seu recomeço, em 2014. E, em 2019, o festival
chegou à sua 20ª edição, sendo o festival de teatro estudantil
mais antigo do Rio Grande do Sul, e é ali na escola, onde,
geralmente, essa arte começa.
Porém,
a minha sensação, a cada ano, é sempre a de RECOMEÇO. Partimos do
zero, todo ano, lá por volta do mês de maio, rumo a algo
imprevisível, misterioso, grandioso e, ao mesmo tempo, tão
minúsculo, porque trabalho de formiguinha, que é se apresentar no
Festil em novembro.
Embora
dirigindo e escrevendo esquetes que mantêm uma linha autoral já
reconhecida pelo público, entre o cômico, o filosófico, um
tiquinho de poesia e trilhas sonoras inteiramente ao vivo, cada ano,
tudo, ou quase tudo, parece novidade. Os erros e os acertos.
Começando pelas oficinas para a seleção de atores, que nunca são
competitivas, são sempre inclusivas: pois não importam as
dificuldades de expressão ou de leitura da gurizada, o que precisa é
ter gana pra encarar o palco, disposição pra respeitar a plateia,
cabeça aberta e criatividade, tentando com isso eu mesmo aprender e
tentando com isso eu mesmo ensinar um pouco pra eles sobre os
fundamentos da linguagem teatral.
O
recomeço prossegue nos intermináveis ensaios. Onde a repetição e
a criatividade são coisas que, curiosamente, se misturam, e parece
que nunca terminamos de ter novas ideias para enriquecer uma cena e
um movimento. E parece que nunca conseguimos realizar todas as cenas
e movimentos com a precisão idealizada.
O
recomeço é ainda mais forte durante a dúzia de apresentações que
fizemos antes do Festil, dentro da escola e fora, em outras escolas
da cidade. Veja só, mesmo em 2019 eu tendo dirigido, pelo segundo
ano consecutivo, um grupo de jovens que foi formado exclusivamente
por alunos das TURMAS de ACELERAÇÃO da escola Alberto Pasqualini
(do bairro Morada do Vale 2, onde trabalho há uma década), projeto
este, a Aceleração de Estudos, em que os estudantes, com idade de
Ensino Médio, ainda buscam recuperar suas defasagens, repetências e
dificuldades nos anos finais do Ensino Fundamental, tudo, tudinho, me
pareceu novidade e muito diferente do ano anterior. Em 2018 formamos
o grupo de Teatro A Milhão, que apresentou a esquete “História do
Bugio na Selva de Pedra”. Em 2019, formamos o Grupo de Saturno e os
Cronólogos, bolando a peça “Por dentro da ampulheta”, mas não
restando ninguém do grupo anterior, exceto quem viu a peça do ano
passado e estava doido pra fazer teatro também pela primeira vez.
Porque
são cerca de 4 meses de trabalho, em geral, dentro dos meus períodos
de Ciências Humanas (História e Geografia) em que, a cada ano, como
já disse, todo o elenco muda, os alunos se formam e se vão,
raramente um ou dois ficando pro ano seguinte. Por isso, cada grupo
tem uma nova identidade, um novo nome e um novo texto inédito e
escrito, em grande parte, em cima do perfil do próprio grupo, e tem
sido assim desde 2014. Então é sempre um eterno recomeço. E isso é
bem trabalhoso, mas extremamente pedagógico e muito lindo também,
eu diria.
O
teatro me parece a mais efêmera das artes. No sentido de que ela se
desvanece no ar quando encerra o espetáculo para só se materializar
novamente em outra apresentação na semana seguinte. Diferente da
música que ouvimos centenas de vezes uma gravação a qualquer hora
ou lugar, ou os livros que, apesar de seus muitos inimigos, estão
aí, conosco, resistindo, até hoje, desde as primeiras plaquinhas de
barro de 3000 mil anos atrás dos iraquianos antigos.
Cada
apresentação teatral é um novo recomeço, repito com gosto. É que
as reações da plateia são sempre novas, a energia do dia ou do
lugar transformado em palco se renova e precisa ser construída
meticulosamente para atrair para nossa história a atenção de
professores, crianças e adolescentes que, muitas vezes, está alheia
ao nosso enredo, aos nossos propósitos, perrengues e incapacidades,
como toda plateia só quer ver uma boa peça e pronto. Isso que
apresentando em salas de aula e auditórios, construímos encenações
e narrativas que, geralmente, pelas limitações técnicas, dispensam
iluminação, cenários sofisticados, mesmo um palco, cortina e
tablados. Entretanto, é esse clima de teatro mambembe, uma anárquica
e rudimentar companhia saltimbanco é o que mais me agrada no fazer
do teatro estudantil em escola pública a cada ano, que nunca se
repete do mesmo jeito.
O
sentimento dos próprios atores que dão vida aos personagens oscila
e se renova semanalmente também. A máscara de cena que é tão
bacana pra um, para outro, pode ser inconveniente, pois que esconde o
rosto do ator. A piada que leva uns às gargalhadas, para outro, é
boba ou até mesmo desnecessária. A trilha que é muito criativa, às
vezes sai confusa ou parece fraca para outro espectador. Uns acham o
texto genial porque doido, sem propor respostas logo de cara ao
público. Outro detesta isso, porque não se entende nada.
Isso
quando não pecamos pelo excesso de empolgação e euforia,
esquecendo marcações e rubricas, mastigando o texto, perdendo o
volume de voz. Ás vezes simplesmente travamos pela timidez, mesmo
com dezenas de repetições, apresentações, exercícios, até yoga
fizemos, mesmo com motivação tanto no coletivo quanto ao pé do
ouvido, a cada roda de conversa após todos os espetáculos. Claro
que nisso tudo entram as minhas falhas como diretor e professor que,
a cada ano, se renovam sempre e mais também.
Mas
a cada sessão com plateia é um outro tremendo recomeço. Se foi
incrível, o desafio é repetir no mesmo nível de qualidade e
intensidade, o que raramente acontece. Se foi fraco, temos que elevar
a grandeza da encenação, conduzindo a plateia por momentos de
sonho, fantasia, imaginação, riso e emoção, tudo ao vivo, numa
atmosfera artesanal que só o teatro pode proporcionar.
Por
fim, encerro destacando a renovação proposta pelos avaliadores
(jurados) deste ano. Não sendo mais um festival competitivo, como já
foi, o que eu acho muito melhor e correto para não desmotivar
ninguém (ainda mais que outros motivos para desmotivar nunca
faltam), todos os grupos participantes ganham troféus de destaque
(além de diplomas e medalhas para cada aluno). Mas este ano, talvez
identificando os grandes desníveis entre os diferentes grupos (e
foram 25 se não me engano), envolvendo desde grupos mequetrefes e
anárquicos, de escola, e falo, obviamente, do meu grupo, até grupos
de escolas de teatro ou com teatro consolidado no currículo, com os
melhores professores da cidade, nessa área, ou ainda grupos
maravilhosos que se formaram em escola mas se estabeleceram como
companhias independentes e que vêm amadurecendo juntos ano a ano, os
avaliadores procuraram salientar muito mais a sensibilidade de cada
espetáculo levada pro palco do SESC, enalteceram isso muito mais do
que as questões técnicas (figurino, trilha, cenário, melhor ator,
melhor direção etc).
O
Grupo de Saturno e seus Cronólogos foi reconhecido pela DETERMINAÇÃO
em cena. O que é muito lindo! Tremenda aprendizagem pros atores
aprendizes, que, determinados podem mudar qualquer realidade, seja de
tristeza, de injustiça, de pobreza, de desigualdade, sei lá, o que
for, determinados, e claro, unidos. Além disso, um dos nossos
protagonistas, o Luan, mesmo há mais de mês atuando com o braço
quebrado, não faltou a nenhum ensaio sequer, caminhando boas
pernadas pra chegar na escola. Ainda por cima, emendamos uma piada
certeira depois que o braço quebrou: quando ele é atropelado pela
atriz Letícia, futura namorada (em cena): “quebrou o cóccix,
moço?”. “Não! Quebrei o braço, não tá vendo?”…
Assim
como, mesmo chovendo rios, o grupo não deixou de estar às 08h em
ponto na escola, prontinhos da silva e doidos de pedra pra se
apresentar no Rincão da Madalena, no Morro do Côco e se tivéssemos
conseguido transporte e tempo, no Alasca.
Pra
acabar, os agradecimentos são muitos e sempre falta agradecer a
alguém nessa jornada coletiva, solidária e cooperativa que é o
teatro. Mas hoje agradeço a quatro pessoas em especial: a minha
companheira Juliana Negreiros, também egressa do teatro estudantil,
que meteu a mão e fez as máscaras do elenco, um desejo meu antigo
para homenagear as máscaras gregas onde o teatro começou inventado
pelo deus maluco chamado Dioniso; e, claro, para resolver os
problemas da narrativa (Felipes jovens e velhos que se encontram e se
embaralham no sonho da trama). Embora cética com minha ideia, em um
primeiro momento, foi ela quem customizou as mesmas, encontradas ao
acaso num bazar em Balneário Pinhal e no número exato que
precisávamos, quinze máscaras; agradecer ao prof. Dionatan Rosa,
que viu a peça duas vezes, nos ensinou bastante e propôs muitas
melhorias ao espetáculo; à Izabel Cristina, que coordena o Festil
desde 2014 sempre com a postura altiva e nobre da jovem dama do
teatro que ela é; e à Viviane Juguero, uma das três avaliadoras e
que, bicho, me presenteou com seu livro LACATUMBA. Então ´bora
estudar, ler e aprender que ano que vem recomeça tudo de novo outra
vez!
Dedico
este texto aos Cronólogos: Letícia (Lelê), Bruno (galã), Cauan,
Daniel, Eric, João, Júlia, Luan, Matheus, Yorran.
As
fotos são da Prefeitura de GVI, da Juliana Nunes e da Janice Soares.
Monstro
Móide olhou no calendário e lembrou que a virada do mês de outubro
para novembro é um período especial para os seres sobrenaturais
como ele. Feitos de ficção, fantasia e de medo, esses seres também
têm uma longa história bem real.
Dia
31/10 é o Halloween, dia das bruxas, dos monstros, dos fantasmas e
outras feras. Dia 01/11 é o Dia de Todos os Santos. Se os monstros
geralmente são os vilões e bandidos das histórias, santos são
aqueles seres perfeitos e sem pecados, ou seja, tipo sagrado de
heróis. O dia 02/11 é o Dia de Finados, no Brasil, temos um dia de
luto e de saudade de quem já faleceu e agora dorme o sono eterno nos
cemitérios do país. No México, como todos sabem, há um carnaval
de caveiras e esqueletos, misturando o catolicismo com a cultura dos
índios astecas, porque mesmo morto há que se festejar quem veio
antes de nós, acreditavam os índios ancestrais.
Para
o Monstro Móide, a Idade Antiga muito contribuiu para a história
dos monstros, vilões e medos que nos precedem. Não só porque foi
nessa época que pintou o primeiro herói do mundo, Gilgamesh, lá na
Mesopotâmia. E pintou também toda a mitologia grega e romana, rica
de heróis e de monstros. Mas os deuses pagãos, desde o Monte Olimpo
da Grécia antiga até os Orixás da África negra são todos eles
bons e maus ao mesmo tempo, cheios de poderes e de fraquezas,
eternamente se batendo entre os ciúmes e as paixões. Um não se dá
com o outro, mas alguns deuses montam até suas próprias panelinhas.
Assim
como, acredita o Monstro Móide que, se você viajar pelos livros do
Extremo Oriente antigo, a Índia e a China, encontrará religiões
mais racionais, ao menos aquelas religiões ligadas ao I Ching (O
Livro das Mudanças) e ao Yin Yang, ideias estudadas pelo sábio
Confúcio, pelo príncipe de luz Buda, entre outros, em que o bem e o
mal parecem muito mais ficar dentro de nossas cabeças e de nossos
corações do que realmente encarnados em deuses ou demônios…
Porém,
Monstro Móide identifica as raízes da dualidade, senso comum de
muita gente até hoje, lá na Pérsia antiga onde o Profeta
Zoroastro, 1000 anos antes de Cristo, foi quem inspirou o livro
Avesta e nele o universo vem dividido entre BEM X MAL. No caso, duas
forças (deuses) que governam o mundo e se completam: Ahura Mazda e
Arinam, uma força bondosa, criadora e amorosa, outra força
destrutiva, furiosa, violenta. Ambas, envolvendo a humanidade, a
natureza, o sobrenatural. Sendo possível, no máximo, um equilíbrio
entre elas, não havendo um fim nessa disputa, porque sem o Bem não
há Mal e vice-versa.
Entretanto,
quando os judeus escreveram o Antigo Testamento da Bíblia, ou ao
menos, o canonizaram, uns 100 anos depois de Cristo, isso já mudou
de cara. Primeiro a ideia de um só povo, o hebreu, escolhido por
Deus, agora Ele chamado Jeová. Pois o povo judeu ou hebraico é um
povo superior aos demais povos antigos, pelo menos nas histórias da
Bíblia. O mundo foi criado por Deus e esculhambado pelo Diabo, daí
a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, o peso do trabalho, da
doença, da gravidez e da morte na vida humana. Assim como, o mundo
terá um fim, o Apocalipse, e nele o Bem vencerá o Mal, embora o Mal
tente vencer o Bem desde que Lúcifer, o melhor dos anjos, se
rebelou, caiu do Céu, inventou o Inferno e virou Satanás.
Porém,
o Monstro Móide lembra que, nem nos 73 livros da Bíblia católica
consagrada em 325 d.C., nem nos 66 livros da Bíblia evangélica de
Martinho Lutero, original de 1534, o Livro de Enoque aparece. E foi
esse escriba, antepassado de Noé, o herói do Dilúvio, que sonhou
com a queda de Lúcifer, escrevendo o episódio mitológico que
desagradou os padres e os pastores, fazendo eles deixarem a obra como
um dos livros apócrifos, que são os textos que não entraram pra
Bíblia porque não seriam sagrados, não seriam escritos pelo poder
do Espírito Santo.
Mas
ninguém entende os cagaços de hoje se não fizer que nem o Monstro
Móide e olhar também para a influência da Idade Média em nossa
imaginação. Foi o poeta Dante quem inventou o Céu e o Inferno, ou
pelo menos, a geografia desses lugares do Além. Pouco se fala na
Bíblia de como seria o Paraíso e menos ainda de como seria o
Inferno. Isso até 1321, quando, atrás da alma de sua musa, Beatriz,
falecida, precocemente, Dante andou e depois cantou os Nove Círculos
do Inferno, a Montanha do Purgatório, os Sete Céus.
Nessa
mesma época medieval, outro italiano, Jacopo Varazze, foi quem
escreveu, nos idos de 1260, o livro mais famoso da vida dos santos
cristãos: A Legenda Áurea. E nem todo santo, dentre 150
hagiografias de Jacopo, era pacifista e protetor da natureza como São
Francisco de Assis foi. Veja o caso de São Jorge da Capadócia,
soldado turco que arrancou a cabeça do dragão. Hoje sabemos que
este dinossauro está extinto da fauna terrestre.
Na
Terra, por 600 anos, a Igreja ergueu um Tribunal da Inquisição,
perseguindo bruxas e pecadores, queimando livros e achando que tudo
que não fosse certo era errado. Assim, muita gente inocente foi
queimada na fogueira por bruxaria, que era não seguir a Igreja,
torturada para expulsar demônios, castigada publicamente, humilhada,
espionada em nome de deus.
Na
Idade Moderna, a partir de 1500 e, principalmente, depois do poeta
Goethe escrever sua versão mais famosa em 1829, o Doutor Johann
Fausto se transformou no mais célebre homem a fazer um pacto com o
demônio Mefistófeles, em troca de fama, poder, conhecimento,
beleza, vida eterna, os motivos são muitos e os mais banais
possíveis. Ou não? Uma vingança, a saudade da mulher amada também
valem um pacto diabólico?
Na
Idade Contemporânea, quando os reis começaram a perder a cabeça em
nome da democracia de massas (eleições e leis), na França de 1789,
e as disputas entre partidos políticos de esquerda e direita, estes
apoiando, aqueles criticando, o capitalismo, nascido das máquinas e
das indústrias inglesas de 1760, os monstros se renovaram e se
misturaram.
Uns
monstros ficaram com saudade da Idade Média, por isso foram chamados
de góticos, agarraram-se como assombrações e maldições em
lugares encapetados, desde o Castelo de Otranto, do escritor Horace
Walpole, em 1764, até a Mansão Belasco, de 1971, de Richard
Matheson. Passando pela poesia macabra de Edgar Allan Poe em O Corvo
(1845), ave que sucedeu o seu pioneiro detetive Dupin, que é de
1841, a investigar assassinatos antes mesmo do Sherlock Holmes. O
terror do mundo atual chegou até a ficção científica macabra de
H. P. Lovecraft, mestre de todos os que vieram depois, e são muitos,
digo e não cito nomes, o leitor pode bem montar a sua lista malvada
pessoal, misturando ciência, ocultismo e magia negra em aventuras
arqueológicas ou futuristas, ou até os dois.
Bram
Stoker, com o livro Drácula de 1897, resgatou o velho senhor feudal
da Romênia, Vladimir Tepes, o Dracul, falecido em 1476, e fez ele, desde então, ser o rei nosferatu dos vampiros: monstros condenados a
fugir da luz do Sol, a dormir em caixões e a chupar o sangue humano
para viver eternamente.
Daniel
Defoe, nos anos 1700, entre um negócio e outro, que o homem era um
bom burguês britânico, escreveu reportagens, algumas inteiramente
dedicadas a causos, reais ou de mentirinha, de aparições de
fantasmas e espíritos. Até mestre Charles Dickens, 100 anos depois
de Defoe, anotou histórias de fantasmas, geralmente, assombrando
avarentos e gananciosos empresários nas noites de Natal, o que
inspirou remorsos, penas e arrependimentos, depois de assombrados
pelos mortos, em morrinhas como o Ebenezer Scrooge, em 1843.
Monstro
Móide me acusa de omissão se, antes de terminar esta crônica, não
lembrar de Robert Louis Stevenson que, no livro O Médico e o
Monstro, de 1886, faz o monstro (Mr. Hyde) morar dentro, na dupla
personalidade, do notável, famoso e respeitado homem de bem, o Dr.
Jeckyl, ou seja, a pessoa que ninguém, na Escócia inteira,
suspeitaria de tocar o terror na noite fria das ruas escocesas quando
dominado pelo seu alter ego, seu duplo infernal. Antes desse terror
psicológico, ligado a estados alterados de consciência, quando não
o uso de drogas, as doenças psiquiátricas mesmo, tivemos o alemão
E. T. A. Hoffmann que transformou o Homem de Areia, publicado em
1816, um bicho papão das crianças germânicas como o culpado pelos recalques e
traumas no jovem suicida Natanael.
No
Brasil, o Monstro Móide gosta de ler os contos mórbidos de Álvares
de Azevedo, autor da Noite na Taverna (1855) e Macário
(1852), peça de teatro em que o personagem que dá título ao teatro
se encontra com o capeta. Ou o conto A Dança dos Ossos, de Bernardo
Guimarães, escrito 50 anos depois de Azevedo que, aliás, faleceu
precocemente aos 21 anos de idade. Além desses românticos de 1800,
Móide devora os precursores da ficção científica brasileira, como
a Dinah Silveira de Queiroz que, em 1969, bolou a cigana Comba
Malina, viajante no tempo, e o André Carneiro que fez, em 1963, o
Diário da Nave Perdida.
Por
fim, não menos monstruoso, mas entre a ficção científica e o
estilo gótico, portanto também fantasmagórico, Monstro Móide te
recomenda, bestial leitor, o livro Frankenstein (1818) de Mary
Shelley. O livro que conta o drama do cientista Victor Frankenstein
que, com choques elétricos e cadáveres costurados, criou um monstro
em laboratório. Este monstro assustou a todo mundo, até mesmo o
doutor que se arrependeu, mas o monstrengo começou a lhe atazanar a
vida, a destruir a sua família, querendo que lhe oportunizasse uma
companheira igualmente de laboratório. A criatura ficou enfurecida
pelo ser grotesco que era, inclusive sem nome algum.
Filha
de um famoso escritor inglês do século 18, William Godwin, com uma
das primeiras grandes autoras feministas da Europa, Mary
Wollstonecraft, que morreu no parto da própria filha, Mary Shelley
fugiu de casa aos 16 anos para viver com o poeta romântico Percy
Shelley. Numa noite de tempestade tinhosa, ela e o esposo, desafiados
por outro gênio maldito da poesia romântica, Lord Byron, tentaram
compor histórias de terror. Não preciso nem dizer quem mandou
melhor nesse desafio.
Nos
duzentos anos do livro, em 2018, escrevi o sambinha que segue abaixo,
auxiliado, claro, pela consultoria em assuntos horrendos do Monstro
Móide, que desde piá me acompanha ao assombrar criancinhas
ranhentas e primas bagunceiras, contando também a gente, nesta
gravação no Laboratório de Sons do Vento, com o contrabaixo e o
pandeiro do camarada Stanis Soares, dialogando assim os três num
papo reto e franco com Frank, com a autora Mary, o poeta Percy, o Dr.
Victor, o capitão Robert Walton e a sua irmã, a Margarete, a guria
que recebeu as cartas que formam o romance original, todos
personagens reais ou de mentirinha desse grande livro sobre o
Prometeu moderno.
Inclusive,
o Monstro Móide dedica este samba monstruoso ao monstro de
Frankenstein, de cada um e do todo o dia.
Dedico
esta canção à reforma ULTRA CAPITALISTA da previdência
Proposta
e aprovada pelo atual governo brasileiro VERDE (cor da grana que suas
empresas e famílias acumulam) & AMARELO (cor do ouro que é a
cor da sua religião)
Com apoio de ampla maioria no
Congresso
Venderam aos bancos e à iniciativa privada a velhice
da classe trabalhadora
Numa reforma inspirada no modelo chileno
do ditador Pinochet
E celebrada também pelo presidente
empresário do Chile, Piñera
Por isso as ruas chilenas pegam
fogo em 2019
Nenhuma
taxa ou imposto sobre os lucros e heranças
Que é a realidade
da burguesia brasileira que não precisa se aposentar
Nenhum
privilégio de militares e juízes e parlamentares foi tocado.
[...]
POIS
É, CAPITALISMO (C.
A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
O
agro é pop
Mas também pode ser trash
A
bossa é nova
Mas também pode ser velha
Quando
um protesto (da agenda de Esquerda)
- cresce por todo o país
A
grande mídia vem e propõe outra pauta,
- debaixo do nosso
nariz
E
o que é comer papelão?
Ou morrer trabalhando?
Se ninguém
vai lembrar depois
Só não deixar o historiador lecionando
Fique
à vontade para nada saber
Isso não é feio, nem nunca vai
ser…
Entre assar no fogo do Inferno
Ou congelado por 20
anos ficar!
A
escolha é livre
É você quem decide
Na beira do
abismo:
Pois é capitalismo!