quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Lançamento do livro OS 140 FILHOS DE MÃE NANA


Lançamento do livro OS 140 FILHOS DE MÃE NANA
33ª Feira do Livro de Gravataí/RS, 23.11.2019

Mãe Nana agradece a todos que dedicaram uma horinha da sua tarde de sábado, lindo sábado, para conhecer seus 140 filhos.
Uma plateia carinhosa e atenta de professores, ex-alunos, artistas e amigos acompanharam a entrevista e adquiriram seu livro.
E atenção, que a promoção com o kit do Inventor do Vento (3 livros + CD) continua, pra você presentear os amigos neste fim de ano. Peça o seu direto com o autor!
E como diz o amigo, e editor, Borges Netto, qual vai ser o próximo livro, Albani?
Vendo tanta gente querida e reunida assim por causa da minha literatura, das músicas, poesias e ficções, já estou doido para publicar o próximo mesmo.
Teatro? Romance? Crônica? Mais música? Aguardem porque vamos sempre CAVALGANDO O VENTO!
Vuuuush







































sábado, 9 de novembro de 2019

20º FESTIL – Esquete “Por dentro da ampulheta”


20º FESTIL – Esquete “Por dentro da ampulheta”

Hoje vou te contar um causinho sobre o RECOMEÇO.

Estou contribuindo com o Festil (Festival de Teatro Estudantil de Gravataí/RS) desde seu recomeço, em 2014. E, em 2019, o festival chegou à sua 20ª edição, sendo o festival de teatro estudantil mais antigo do Rio Grande do Sul, e é ali na escola, onde, geralmente, essa arte começa.

Porém, a minha sensação, a cada ano, é sempre a de RECOMEÇO. Partimos do zero, todo ano, lá por volta do mês de maio, rumo a algo imprevisível, misterioso, grandioso e, ao mesmo tempo, tão minúsculo, porque trabalho de formiguinha, que é se apresentar no Festil em novembro.

Embora dirigindo e escrevendo esquetes que mantêm uma linha autoral já reconhecida pelo público, entre o cômico, o filosófico, um tiquinho de poesia e trilhas sonoras inteiramente ao vivo, cada ano, tudo, ou quase tudo, parece novidade. Os erros e os acertos. Começando pelas oficinas para a seleção de atores, que nunca são competitivas, são sempre inclusivas: pois não importam as dificuldades de expressão ou de leitura da gurizada, o que precisa é ter gana pra encarar o palco, disposição pra respeitar a plateia, cabeça aberta e criatividade, tentando com isso eu mesmo aprender e tentando com isso eu mesmo ensinar um pouco pra eles sobre os fundamentos da linguagem teatral.

O recomeço prossegue nos intermináveis ensaios. Onde a repetição e a criatividade são coisas que, curiosamente, se misturam, e parece que nunca terminamos de ter novas ideias para enriquecer uma cena e um movimento. E parece que nunca conseguimos realizar todas as cenas e movimentos com a precisão idealizada.

O recomeço é ainda mais forte durante a dúzia de apresentações que fizemos antes do Festil, dentro da escola e fora, em outras escolas da cidade. Veja só, mesmo em 2019 eu tendo dirigido, pelo segundo ano consecutivo, um grupo de jovens que foi formado exclusivamente por alunos das TURMAS de ACELERAÇÃO da escola Alberto Pasqualini (do bairro Morada do Vale 2, onde trabalho há uma década), projeto este, a Aceleração de Estudos, em que os estudantes, com idade de Ensino Médio, ainda buscam recuperar suas defasagens, repetências e dificuldades nos anos finais do Ensino Fundamental, tudo, tudinho, me pareceu novidade e muito diferente do ano anterior. Em 2018 formamos o grupo de Teatro A Milhão, que apresentou a esquete “História do Bugio na Selva de Pedra”. Em 2019, formamos o Grupo de Saturno e os Cronólogos, bolando a peça “Por dentro da ampulheta”, mas não restando ninguém do grupo anterior, exceto quem viu a peça do ano passado e estava doido pra fazer teatro também pela primeira vez.

Porque são cerca de 4 meses de trabalho, em geral, dentro dos meus períodos de Ciências Humanas (História e Geografia) em que, a cada ano, como já disse, todo o elenco muda, os alunos se formam e se vão, raramente um ou dois ficando pro ano seguinte. Por isso, cada grupo tem uma nova identidade, um novo nome e um novo texto inédito e escrito, em grande parte, em cima do perfil do próprio grupo, e tem sido assim desde 2014. Então é sempre um eterno recomeço. E isso é bem trabalhoso, mas extremamente pedagógico e muito lindo também, eu diria.

O teatro me parece a mais efêmera das artes. No sentido de que ela se desvanece no ar quando encerra o espetáculo para só se materializar novamente em outra apresentação na semana seguinte. Diferente da música que ouvimos centenas de vezes uma gravação a qualquer hora ou lugar, ou os livros que, apesar de seus muitos inimigos, estão aí, conosco, resistindo, até hoje, desde as primeiras plaquinhas de barro de 3000 mil anos atrás dos iraquianos antigos.

Cada apresentação teatral é um novo recomeço, repito com gosto. É que as reações da plateia são sempre novas, a energia do dia ou do lugar transformado em palco se renova e precisa ser construída meticulosamente para atrair para nossa história a atenção de professores, crianças e adolescentes que, muitas vezes, está alheia ao nosso enredo, aos nossos propósitos, perrengues e incapacidades, como toda plateia só quer ver uma boa peça e pronto. Isso que apresentando em salas de aula e auditórios, construímos encenações e narrativas que, geralmente, pelas limitações técnicas, dispensam iluminação, cenários sofisticados, mesmo um palco, cortina e tablados. Entretanto, é esse clima de teatro mambembe, uma anárquica e rudimentar companhia saltimbanco é o que mais me agrada no fazer do teatro estudantil em escola pública a cada ano, que nunca se repete do mesmo jeito.

O sentimento dos próprios atores que dão vida aos personagens oscila e se renova semanalmente também. A máscara de cena que é tão bacana pra um, para outro, pode ser inconveniente, pois que esconde o rosto do ator. A piada que leva uns às gargalhadas, para outro, é boba ou até mesmo desnecessária. A trilha que é muito criativa, às vezes sai confusa ou parece fraca para outro espectador. Uns acham o texto genial porque doido, sem propor respostas logo de cara ao público. Outro detesta isso, porque não se entende nada.

Isso quando não pecamos pelo excesso de empolgação e euforia, esquecendo marcações e rubricas, mastigando o texto, perdendo o volume de voz. Ás vezes simplesmente travamos pela timidez, mesmo com dezenas de repetições, apresentações, exercícios, até yoga fizemos, mesmo com motivação tanto no coletivo quanto ao pé do ouvido, a cada roda de conversa após todos os espetáculos. Claro que nisso tudo entram as minhas falhas como diretor e professor que, a cada ano, se renovam sempre e mais também.

Mas a cada sessão com plateia é um outro tremendo recomeço. Se foi incrível, o desafio é repetir no mesmo nível de qualidade e intensidade, o que raramente acontece. Se foi fraco, temos que elevar a grandeza da encenação, conduzindo a plateia por momentos de sonho, fantasia, imaginação, riso e emoção, tudo ao vivo, numa atmosfera artesanal que só o teatro pode proporcionar.

Por fim, encerro destacando a renovação proposta pelos avaliadores (jurados) deste ano. Não sendo mais um festival competitivo, como já foi, o que eu acho muito melhor e correto para não desmotivar ninguém (ainda mais que outros motivos para desmotivar nunca faltam), todos os grupos participantes ganham troféus de destaque (além de diplomas e medalhas para cada aluno). Mas este ano, talvez identificando os grandes desníveis entre os diferentes grupos (e foram 25 se não me engano), envolvendo desde grupos mequetrefes e anárquicos, de escola, e falo, obviamente, do meu grupo, até grupos de escolas de teatro ou com teatro consolidado no currículo, com os melhores professores da cidade, nessa área, ou ainda grupos maravilhosos que se formaram em escola mas se estabeleceram como companhias independentes e que vêm amadurecendo juntos ano a ano, os avaliadores procuraram salientar muito mais a sensibilidade de cada espetáculo levada pro palco do SESC, enalteceram isso muito mais do que as questões técnicas (figurino, trilha, cenário, melhor ator, melhor direção etc).

O Grupo de Saturno e seus Cronólogos foi reconhecido pela DETERMINAÇÃO em cena. O que é muito lindo! Tremenda aprendizagem pros atores aprendizes, que, determinados podem mudar qualquer realidade, seja de tristeza, de injustiça, de pobreza, de desigualdade, sei lá, o que for, determinados, e claro, unidos. Além disso, um dos nossos protagonistas, o Luan, mesmo há mais de mês atuando com o braço quebrado, não faltou a nenhum ensaio sequer, caminhando boas pernadas pra chegar na escola. Ainda por cima, emendamos uma piada certeira depois que o braço quebrou: quando ele é atropelado pela atriz Letícia, futura namorada (em cena): “quebrou o cóccix, moço?”. “Não! Quebrei o braço, não tá vendo?”…

Assim como, mesmo chovendo rios, o grupo não deixou de estar às 08h em ponto na escola, prontinhos da silva e doidos de pedra pra se apresentar no Rincão da Madalena, no Morro do Côco e se tivéssemos conseguido transporte e tempo, no Alasca.

Pra acabar, os agradecimentos são muitos e sempre falta agradecer a alguém nessa jornada coletiva, solidária e cooperativa que é o teatro. Mas hoje agradeço a quatro pessoas em especial: a minha companheira Juliana Negreiros, também egressa do teatro estudantil, que meteu a mão e fez as máscaras do elenco, um desejo meu antigo para homenagear as máscaras gregas onde o teatro começou inventado pelo deus maluco chamado Dioniso; e, claro, para resolver os problemas da narrativa (Felipes jovens e velhos que se encontram e se embaralham no sonho da trama). Embora cética com minha ideia, em um primeiro momento, foi ela quem customizou as mesmas, encontradas ao acaso num bazar em Balneário Pinhal e no número exato que precisávamos, quinze máscaras; agradecer ao prof. Dionatan Rosa, que viu a peça duas vezes, nos ensinou bastante e propôs muitas melhorias ao espetáculo; à Izabel Cristina, que coordena o Festil desde 2014 sempre com a postura altiva e nobre da jovem dama do teatro que ela é; e à Viviane Juguero, uma das três avaliadoras e que, bicho, me presenteou com seu livro LACATUMBA. Então ´bora estudar, ler e aprender que ano que vem recomeça tudo de novo outra vez!

Dedico este texto aos Cronólogos: Letícia (Lelê), Bruno (galã), Cauan, Daniel, Eric, João, Júlia, Luan, Matheus, Yorran.

As fotos são da Prefeitura de GVI, da Juliana Nunes e da Janice Soares.

Vuuuush






































terça-feira, 29 de outubro de 2019

FRANQUEZA (UM PAPO RETO COM FRANK)



MONSTROS, VILÕES E MEDOS HISTÓRICOS

c. a. albani da silva, o inventor do vento
Monstro Móide olhou no calendário e lembrou que a virada do mês de outubro para novembro é um período especial para os seres sobrenaturais como ele. Feitos de ficção, fantasia e de medo, esses seres também têm uma longa história bem real.

Dia 31/10 é o Halloween, dia das bruxas, dos monstros, dos fantasmas e outras feras. Dia 01/11 é o Dia de Todos os Santos. Se os monstros geralmente são os vilões e bandidos das histórias, santos são aqueles seres perfeitos e sem pecados, ou seja, tipo sagrado de heróis. O dia 02/11 é o Dia de Finados, no Brasil, temos um dia de luto e de saudade de quem já faleceu e agora dorme o sono eterno nos cemitérios do país. No México, como todos sabem, há um carnaval de caveiras e esqueletos, misturando o catolicismo com a cultura dos índios astecas, porque mesmo morto há que se festejar quem veio antes de nós, acreditavam os índios ancestrais.

Para o Monstro Móide, a Idade Antiga muito contribuiu para a história dos monstros, vilões e medos que nos precedem. Não só porque foi nessa época que pintou o primeiro herói do mundo, Gilgamesh, lá na Mesopotâmia. E pintou também toda a mitologia grega e romana, rica de heróis e de monstros. Mas os deuses pagãos, desde o Monte Olimpo da Grécia antiga até os Orixás da África negra são todos eles bons e maus ao mesmo tempo, cheios de poderes e de fraquezas, eternamente se batendo entre os ciúmes e as paixões. Um não se dá com o outro, mas alguns deuses montam até suas próprias panelinhas.

Assim como, acredita o Monstro Móide que, se você viajar pelos livros do Extremo Oriente antigo, a Índia e a China, encontrará religiões mais racionais, ao menos aquelas religiões ligadas ao I Ching (O Livro das Mudanças) e ao Yin Yang, ideias estudadas pelo sábio Confúcio, pelo príncipe de luz Buda, entre outros, em que o bem e o mal parecem muito mais ficar dentro de nossas cabeças e de nossos corações do que realmente encarnados em deuses ou demônios…

Porém, Monstro Móide identifica as raízes da dualidade, senso comum de muita gente até hoje, lá na Pérsia antiga onde o Profeta Zoroastro, 1000 anos antes de Cristo, foi quem inspirou o livro Avesta e nele o universo vem dividido entre BEM X MAL. No caso, duas forças (deuses) que governam o mundo e se completam: Ahura Mazda e Arinam, uma força bondosa, criadora e amorosa, outra força destrutiva, furiosa, violenta. Ambas, envolvendo a humanidade, a natureza, o sobrenatural. Sendo possível, no máximo, um equilíbrio entre elas, não havendo um fim nessa disputa, porque sem o Bem não há Mal e vice-versa.

Entretanto, quando os judeus escreveram o Antigo Testamento da Bíblia, ou ao menos, o canonizaram, uns 100 anos depois de Cristo, isso já mudou de cara. Primeiro a ideia de um só povo, o hebreu, escolhido por Deus, agora Ele chamado Jeová. Pois o povo judeu ou hebraico é um povo superior aos demais povos antigos, pelo menos nas histórias da Bíblia. O mundo foi criado por Deus e esculhambado pelo Diabo, daí a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, o peso do trabalho, da doença, da gravidez e da morte na vida humana. Assim como, o mundo terá um fim, o Apocalipse, e nele o Bem vencerá o Mal, embora o Mal tente vencer o Bem desde que Lúcifer, o melhor dos anjos, se rebelou, caiu do Céu, inventou o Inferno e virou Satanás.

Porém, o Monstro Móide lembra que, nem nos 73 livros da Bíblia católica consagrada em 325 d.C., nem nos 66 livros da Bíblia evangélica de Martinho Lutero, original de 1534, o Livro de Enoque aparece. E foi esse escriba, antepassado de Noé, o herói do Dilúvio, que sonhou com a queda de Lúcifer, escrevendo o episódio mitológico que desagradou os padres e os pastores, fazendo eles deixarem a obra como um dos livros apócrifos, que são os textos que não entraram pra Bíblia porque não seriam sagrados, não seriam escritos pelo poder do Espírito Santo.

Mas ninguém entende os cagaços de hoje se não fizer que nem o Monstro Móide e olhar também para a influência da Idade Média em nossa imaginação. Foi o poeta Dante quem inventou o Céu e o Inferno, ou pelo menos, a geografia desses lugares do Além. Pouco se fala na Bíblia de como seria o Paraíso e menos ainda de como seria o Inferno. Isso até 1321, quando, atrás da alma de sua musa, Beatriz, falecida, precocemente, Dante andou e depois cantou os Nove Círculos do Inferno, a Montanha do Purgatório, os Sete Céus.

Nessa mesma época medieval, outro italiano, Jacopo Varazze, foi quem escreveu, nos idos de 1260, o livro mais famoso da vida dos santos cristãos: A Legenda Áurea. E nem todo santo, dentre 150 hagiografias de Jacopo, era pacifista e protetor da natureza como São Francisco de Assis foi. Veja o caso de São Jorge da Capadócia, soldado turco que arrancou a cabeça do dragão. Hoje sabemos que este dinossauro está extinto da fauna terrestre.

Na Terra, por 600 anos, a Igreja ergueu um Tribunal da Inquisição, perseguindo bruxas e pecadores, queimando livros e achando que tudo que não fosse certo era errado. Assim, muita gente inocente foi queimada na fogueira por bruxaria, que era não seguir a Igreja, torturada para expulsar demônios, castigada publicamente, humilhada, espionada em nome de deus.

Na Idade Moderna, a partir de 1500 e, principalmente, depois do poeta Goethe escrever sua versão mais famosa em 1829, o Doutor Johann Fausto se transformou no mais célebre homem a fazer um pacto com o demônio Mefistófeles, em troca de fama, poder, conhecimento, beleza, vida eterna, os motivos são muitos e os mais banais possíveis. Ou não? Uma vingança, a saudade da mulher amada também valem um pacto diabólico?

Na Idade Contemporânea, quando os reis começaram a perder a cabeça em nome da democracia de massas (eleições e leis), na França de 1789, e as disputas entre partidos políticos de esquerda e direita, estes apoiando, aqueles criticando, o capitalismo, nascido das máquinas e das indústrias inglesas de 1760, os monstros se renovaram e se misturaram.

Uns monstros ficaram com saudade da Idade Média, por isso foram chamados de góticos, agarraram-se como assombrações e maldições em lugares encapetados, desde o Castelo de Otranto, do escritor Horace Walpole, em 1764, até a Mansão Belasco, de 1971, de Richard Matheson. Passando pela poesia macabra de Edgar Allan Poe em O Corvo (1845), ave que sucedeu o seu pioneiro detetive Dupin, que é de 1841, a investigar assassinatos antes mesmo do Sherlock Holmes. O terror do mundo atual chegou até a ficção científica macabra de H. P. Lovecraft, mestre de todos os que vieram depois, e são muitos, digo e não cito nomes, o leitor pode bem montar a sua lista malvada pessoal, misturando ciência, ocultismo e magia negra em aventuras arqueológicas ou futuristas, ou até os dois.

Bram Stoker, com o livro Drácula de 1897, resgatou o velho senhor feudal da Romênia, Vladimir Tepes, o Dracul, falecido em 1476, e fez ele,  desde então, ser o rei nosferatu dos vampiros: monstros condenados a fugir da luz do Sol, a dormir em caixões e a chupar o sangue humano para viver eternamente.

Daniel Defoe, nos anos 1700, entre um negócio e outro, que o homem era um bom burguês britânico, escreveu reportagens, algumas inteiramente dedicadas a causos, reais ou de mentirinha, de aparições de fantasmas e espíritos. Até mestre Charles Dickens, 100 anos depois de Defoe, anotou histórias de fantasmas, geralmente, assombrando avarentos e gananciosos empresários nas noites de Natal, o que inspirou remorsos, penas e arrependimentos, depois de assombrados pelos mortos, em morrinhas como o Ebenezer Scrooge, em 1843.

Monstro Móide me acusa de omissão se, antes de terminar esta crônica, não lembrar de Robert Louis Stevenson que, no livro O Médico e o Monstro, de 1886, faz o monstro (Mr. Hyde) morar dentro, na dupla personalidade, do notável, famoso e respeitado homem de bem, o Dr. Jeckyl, ou seja, a pessoa que ninguém, na Escócia inteira, suspeitaria de tocar o terror na noite fria das ruas escocesas quando dominado pelo seu alter ego, seu duplo infernal. Antes desse terror psicológico, ligado a estados alterados de consciência, quando não o uso de drogas, as doenças psiquiátricas mesmo, tivemos o alemão E. T. A. Hoffmann que transformou o Homem de Areia, publicado em 1816, um bicho papão das  crianças germânicas como o culpado pelos recalques e traumas no jovem suicida Natanael.

No Brasil, o Monstro Móide gosta de ler os contos mórbidos de Álvares de Azevedo, autor da Noite na Taverna (1855) e Macário (1852), peça de teatro em que o personagem que dá título ao teatro se encontra com o capeta. Ou o conto A Dança dos Ossos, de Bernardo Guimarães, escrito 50 anos depois de Azevedo que, aliás, faleceu precocemente aos 21 anos de idade. Além desses românticos de 1800, Móide devora os precursores da ficção científica brasileira, como a Dinah Silveira de Queiroz que, em 1969, bolou a cigana Comba Malina, viajante no tempo, e o André Carneiro que fez, em 1963, o Diário da Nave Perdida.
Por fim, não menos monstruoso, mas entre a ficção científica e o estilo gótico, portanto também fantasmagórico, Monstro Móide te recomenda, bestial leitor, o livro Frankenstein (1818) de Mary Shelley. O livro que conta o drama do cientista Victor Frankenstein que, com choques elétricos e cadáveres costurados, criou um monstro em laboratório. Este monstro assustou a todo mundo, até mesmo o doutor que se arrependeu, mas o monstrengo começou a lhe atazanar a vida, a destruir a sua família, querendo que lhe oportunizasse uma companheira igualmente de laboratório. A criatura ficou enfurecida pelo ser grotesco que era, inclusive sem nome algum.

Filha de um famoso escritor inglês do século 18, William Godwin, com uma das primeiras grandes autoras feministas da Europa, Mary Wollstonecraft, que morreu no parto da própria filha, Mary Shelley fugiu de casa aos 16 anos para viver com o poeta romântico Percy Shelley. Numa noite de tempestade tinhosa, ela e o esposo, desafiados por outro gênio maldito da poesia romântica, Lord Byron, tentaram compor histórias de terror. Não preciso nem dizer quem mandou melhor nesse desafio.

Nos duzentos anos do livro, em 2018, escrevi o sambinha que segue abaixo, auxiliado, claro, pela consultoria em assuntos horrendos do Monstro Móide, que desde piá me acompanha ao assombrar criancinhas ranhentas e primas bagunceiras, contando também a gente, nesta gravação no Laboratório de Sons do Vento, com o contrabaixo e o pandeiro do camarada Stanis Soares, dialogando assim os três num papo reto e franco com Frank, com a autora Mary, o poeta Percy, o Dr. Victor, o capitão Robert Walton e a sua irmã, a Margarete, a guria que recebeu as cartas que formam o romance original, todos personagens reais ou de mentirinha desse grande livro sobre o Prometeu moderno.

Inclusive, o Monstro Móide dedica este samba monstruoso ao monstro de Frankenstein, de cada um e do todo o dia.

FRANQUEZA (UM PAPO RETO COM FRANK)

Meu amigo Frank, preciso ser franco
Tem um monstro dentro de mim
Mas você não é o culpado

Minha amiga Mary, você é tão corajosa
Me ajude a compreender
Esta coisa monstruosa

Meu amigo Lord, na beira da lareira
Foram muitas as conversas
Sobre Darwin, a Bíblia e outras besteiras

Percy, amigo e amante
Vou te contar uma coisinha
Sua esposa também vive cheia de monstros
Melhor deixá-la um tempo sozinha

Cuidado, Capitão, com quem embarca em teu navio
O mal também nos cerca implorando caridade
Você já viu

Senhorita Margarete, não rasgue aquelas cartas
Apenas apague nelas as partes em que a verdade
Lhe parecer farta…

Anoto esses bilhetes
Em nome do Dr. Victor
E acrescento uma nota de cunho pessoal:

Não consumam seus remédios!
Nem receitem as suas receitas!

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

POIS É, CAPITALISMO


Dedico esta canção à reforma ULTRA CAPITALISTA da previdência
Proposta e aprovada pelo atual governo brasileiro VERDE (cor da grana que suas empresas e famílias acumulam) & AMARELO (cor do ouro que é a cor da sua religião)
Com apoio de ampla maioria no Congresso
Venderam aos bancos e à iniciativa privada a velhice da classe trabalhadora
Numa reforma inspirada no modelo chileno do ditador Pinochet
E celebrada também pelo presidente empresário do Chile, Piñera
Por isso as ruas chilenas pegam fogo em 2019
Nenhuma taxa ou imposto sobre os lucros e heranças
Que é a realidade da burguesia brasileira que não precisa se aposentar
Nenhum privilégio de militares e juízes e parlamentares foi tocado.
[...]
POIS É, CAPITALISMO
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
O agro é pop
Mas também pode ser trash
A bossa é nova
Mas também pode ser velha
Quando um protesto (da agenda de Esquerda)
- cresce por todo o país
A grande mídia vem e propõe outra pauta,
- debaixo do nosso nariz
E o que é comer papelão?
Ou morrer trabalhando?
Se ninguém vai lembrar depois
Só não deixar o historiador lecionando
Fique à vontade para nada saber
Isso não é feio, nem nunca vai ser…
Entre assar no fogo do Inferno
Ou congelado por 20 anos ficar!
A escolha é livre
É você quem decide
Na beira do abismo:
Pois é capitalismo!
O agro é pop
Mas também pode ser trash
A bossa é nova
Mas também pode ficar velha