Thomas Gainsborough, George
Venable Vernon, [seria o rapaz ou o cão?], 1767
“Numa extremidade da gôndola, indiferente aos que iam e
vinham pelo tombadilho, batendo de vez em quando a cauda de modo expressivo
contra as tábuas do assoalho, o focinho enterrado nas páginas de um volume do Sr. Henry James,
um cão de nenhuma raça em particular parecia absorto no texto à sua frente.
Desde o dia em que os Amigos
(do Acaso), no decorrer de uma missão na capital da nação (ver Os Amigos do Acaso e o pateta perverso),
salvaram Pugnax, na
época ainda um mero filhote, de um conflito furioso, à sombra do Monumento a
Washington, entre duas
matilhas rivais de cães sem dono, ele tinha o hábito de perscrutar as
páginas de qualquer material impresso que porventura encontrasse a bordo do Inconveniência, desde abordagens teóricas das artes
aeronáuticas até leituras bem menos apropriadas, como folhetins sensacionalistas
– embora, ao que parecia, ele gostasse mais de narrativas sentimentais a respeito
de sua própria espécie do que de histórias que destacassem os extremos do comportamento humano, que
lhes pareciam um tanto extravagantes. Ele aprendera, com aquela facilidade
característica dos cães, a virar as páginas do modo mais delicado, utilizando o
focinho ou as patas, e todo aquele que o visse entretido dessa forma não podia
deixar de perceber as
mudanças de expressão em seu rosto, em particular as sobrancelhas
excepcionalmente articuladas, que contribuíam para o efeito geral de interesse,
envolvimento e – impossível evitar a conclusão – compreensão”.
(Thomas Pynchon, Contra o dia, 2006, tradução de
Paulo Henriques Britto)
Sugestão de trilha sonora para ler Thomas Pynchon>
Thelonious Monk – Blue Monk:
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