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sexta-feira, 21 de junho de 2019

180 anos de Machado de Assis



180 anos de Machado de Assis

E o solstício do INVERNO brasileiro trouxe o escritor MACHADO de ASSIS ao universo. O Bruxo do Cosme Velho nasceu em 21 de junho de 1839 e é o nosso maior escritor. Mas, na sua época, sendo que ele faleceu onde sempre viveu, no Rio de Janeiro, em 1908, muita gente achava que lhe faltava NACIONALISMO nos livros! Em 1888 o professor SÍLVIO ROMERO (1851-1914) lhe sentou o sarrafo literário por causa disso. Em 1908, o mesmo Sílvio acabou se retratando…


Machado foi filho de um pintor de paredes negro com uma lavadeira que era imigrante portuguesa. Mas foi criado mesmo por uma madrasta doceira no Morro do Livramento, RJ. Já a madrinha que não era doceira, mas patroa dos pais, foi quem se casou com um brigadeiro (das forças armadas).


Começou no mundo das letras de mansinho, estudando a língua francesa com Madame Gallot e seu esposo, um padeiro. Depois seu grande mestre foi o mulato Francisco de PAULA BRITO (1809-1861) que foi empregado da Livraria Plancher e, em 1851, fundou sua própria livraria e editora carioca. Dali, o jovem Machado foi parar na Tipografia Nacional. Quando um alcaguete dedurou que Machado fazia corpo mole para ficar lendo no serviço, o chefe deles na gráfica, o escritor MANUEL ANTÔNIO de ALMEIDA (1830-1861) ficou doido de faceiro e incentivou os escritos do Machado.


Metido em livros e editoras, Machado aprendeu o latim, a mãe de todas as grandes línguas modernas (português, espanhol, francês, italiano e um pouco do inglês) com o padre SILVEIRA SARMENTO (quando morreu e nasceu, não descobri). Além disso, entrou para um coletivo de autores chamado IRMÃOS PETALÓGICOS ao lado de gente como JOSÉ de ALENCAR (1829-1877) - o grande autor do século XIX brasileiro; JOAQUIM MANUEL de MACEDO (1820-1882): primeiro autor a lançar um livro de grande sucesso de vendagens no país - A MORENINHA (1844); o poeta romântico CASIMIRO de ABREU (1839-1860); o pintor e poeta gaúcho Manuel de ARAÚJO PORTO-ALEGRE (1806-1879). Todos estavam reunidos para estudar a mentira, o causo, a lorota, nessa sociedade.


Escreveu crônicas para jornal, ensaios, peças de teatro, até chegar ao primeiro livro de poemas CRISÁLIDAS (1864). Com menos de 30 anos, recebeu o ainda mais precoce poeta baiano CASTRO ALVES (1847-1871), no RJ, como um mestre recebe ao seu aprendiz de feiticeiro.


Machado se engraçou com a irmã do poeta português FAUSTINO XAVIER de NOVAIS (1820-1869), começando assim seu longo casamento com a sempre primeira leitora de seus romances: DONA CAROLINA. Outros irmãos de Carolina, encharcados de racismo, não gostaram da mana portuguesa e encalhada (tinha mais de 30 anos quando casou e era cinco anos mais velha que Machado) casando com um escritor negro com crises de gagueira e epilepsia.


Mas, como sabemos, o que é proibido fica ainda melhor e os dois se casaram, a gosto ou a contragosto da família da noiva, em 1869. Curiosamente, Machado, que escreveu centenas de cartas a tanta gente importante, como MÁRIO de ALENCAR (1872-1925), filho do José e último discípulo de Machado, ou mesmo a JOAQUIM NABUCO (1849-1910), uma das grandes cabeças da ABOLIÇÃO da ESCRAVIDÃO (1888), pois bem, das cartas de Machado com a esposa, só restaram duas! Todas as outras Machado mandou queimar pouco antes de morrer, já viúvo.


Pela poderosa LIVRARIA GARNIER do RJ, ele lançou o seu primeiro romance: RESSURREIÇÃO (1872). Como outros tantos gênios, Machado não conseguia pagar as contas com sua arte, e foi do Ministério da Agricultura da onde veio o salário para o pão e o leite e o resto era imaginação.


Escreveu mais de 200 contos, mas foi em 1881 que pintou seu primeiro clássico: MEMÓRIAS PÓSTUMAS de BRÁS CUBAS. A mediocridade de um malandro classe média; a mesquinharia das ambições de quem sonha em ser da elite social; a estupidez da elite social brasileira. É disso que trata o livro numa conversa entre Brás Cubas, morto, e seus vermes no caixão.


No mesmo ano, escreveu uma peça sobre os 300 anos da morte do poeta português LUÍS de CAMÕES (1524-1580).


Em 1899, aparecem os “olhos de ressaca” de Maria CAPITU, a mais famosa personagem dos livros brasileiros. Traiu com o amigo Escobar ou não traiu o seu amor de infância Bentinho, depois de velho, chamado DOM CASMURRO, como o mesmo nome do livro que ele protagoniza? Eu acho que não e você?


Em 1897, com o pessoal da REVISTA BRASILEIRA, entre eles JOSÉ VERÍSSIMO (1857-1916) e JOSÉ do PATROCÍNIO (1853-1905), Machado fundou e liderou, por anos, a Academia Brasileira de Letras (ABL) que bem poderia ser também a academia dos Zé e dos Joaquim… A depender do nome de seus mentores!


Sem Dona Carolina, que faleceu em 1904, por medicamentos errados que lhe receitaram na farmácia (tomou veneno, praticamente), Machado lançou os últimos livros: ESAÚ e JACÓ e MEMORIAL de AIRES. Em 1908 ele se apagou, moído pelo tempo, mas graúdo pela ficção.


Retratou a indignidade da escravidão e sua herança macabra: pobres contra pobres (leia o conto “PAI contra MÃE” pra ver o que é uma história de terror). Como já dito, a mediocridade da burguesia nacional: em BRÁS CUBAS, QUINCAS BORBA (1891) e mesmo DOM CASMURRO com a vileza machista do Casmurro narrador.


Machado tratou assim da modernidade torta e colonizada dos países colonizados. Tratou dos sentimentos humanos no meio disso tudo. Do amargo ciúme à melancolia elegante.


Curiosamente um dos primeiros caras a ler o Machado como gênio e gênio do HUMOR foi o autor gaúcho ALCIDES MAYA (1878-1944): “Era um humorista. Impressionara-o a cultura das grandes nações; adquirira uma concepção geral do mundo, da vida e da história; ocidentalizara o seu gênio”.


P.S.: Agradeço aos professores Massaud Moisés, Roberto Schwarz e Silviano Santiago pelas lições machadianas em seus livros malucos.
P.S. 2: A melhor música que já ouvi inspirado em Machado é CAPITU do compositor LUIZ TATIT. Acima, um ensaio da mesma música no Acústico da Maresia, realizado pelo CoV no verão de 2014.
P.S. 3: Vuuuush!
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Edgar Degas, As lavadeiras, c. 1884.

Dom Casmurro vai às compras (no Uau! Marte)
Tentando parar um pouco de pensar em Capitu, Dom Casmurro foi ao Uau! Marte e comprou, à prestação, uma TV LCD 42”. Depois de meia-hora diante da telona vendo tantos comerciais, decidiu: Não bebo mais cerveja. Não entro mais em carro. Não falo mais inglês”. E saiu casmurreando os olhos pretos de Capitu. (Albani da Silva, 29.02.2012).

DICAS PARA A SUA SAÚDE: Evite o envelhecimento precoce: nasça em ano bissexto. (Albani da Silva, 29.02.2012).

Jorjamado (1912-2001)
Se vivo fosse, Jorjamado sopraria 100 velhinhas em 2012. Desconfia-se que soprando tanta vela assim, em tão avançada idade, ele não passaria mesmo dos 100. Jorjamado é o escritor brasileiro mais vendido fora do país (claro, depois de Paulo Coelho, 1947). Sua obra divide-se em pelo menos duas grandes fases. A primeira delas de engajamento político e crítica social (Jorjamado foi militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro): vide “Capitães da Areia” (1937, que virou filme em 2011) e “O Cavaleiro da Esperança” (1942, sobre o famoso comunista Luis Carlos Prestes – e que não virou filme ainda!); já em sua segunda fase, Jorjamado escreveu livros carregados de sensualidade e bom-humor, enfocando as particularidades da cultura popular brasileira, especialmente a baiana (culinária, religiosidade, etnias, sexualidade, política, cotidiano): vide “Tenda dos Milagres” (1969), “Tieta do Agreste” (1977), “Dona Flor e seus dois maridos” (1966) e “Gabriela, Cravo e Canela” (1958). Este transformado em telenovela pela Rede Grobo em 1975. Sônia Braga (1950) subiu no telhado e parou o país. Tem gente torcendo para que Juliana Paes (1979) faça o mesmo agora. (Albani da Silva, 30.02.2012)

P.S.: O cineasta Nelson Pereira dos Santos (1929) adaptou para o cinema Tenda dos Milagres em 1976 e Jubiabá em 1987.

Sônia Braga, a Gabriela, pegando a pipa (1975):



Trailer de "Capitães da Areia" (2011) - Dir.: Cecília Amado



Quintanares em canção
O músico catarinense Carlos Careqa (1961) se inspirou no famoso “Poeminho do Contra” escrito por Mário Quintana (1906-1994) na década de 1970 e fez música. A canção saiu no álbum “Tudo que respira quer comer” de 2009. (Albani da Silva, 29.02.2012).


Carlos Careqa - "Isso Passará" (ao vivo no SESC Vila Mariana - SP):

E agora o áudio em estúdio: