Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto
E é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa
quinta-feira, 17 de maio de 2012
John Sell
Cotman, Tempestade na praia de Yarmouth, c. 1831
O Senso do Ridículo
Wislawa
Szymborska(lê-se Vissáuva
Chembórska, 1923 - 2012) faturou o Prêmio Nobel de Literatura em 1996. Mas
sua relação com as Letras era marcada
por Leituras Não-Obrigatórias,
conforme a coluna de resenhas e crônicas que publicou durante décadas em
revistas e jornais poloneses. Em seu poema “Possibilidades”
(1987)
do livro “Gente na ponte”, Wislawa refletiu sobre o senso do
ridículo: “Prefiro
o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não escrevê-los”. (Albani da Silva, 15.05.2012)
Rir,
chorar ou entender?
Já Baruch Spinoza(1632-1677)
filosofava que “não é rir, nem chorar,
mas entender” – isso de acordo com Cathy
Fox, personagem de Tariq Ali(1943)
em Redenção(1990). Para Ezra Einstein, outro personagem de Ali, e do mesmo livro,“o comportamento é muito claro. Por trás de cada razão de
desespero, temos de descobrir uma razão de esperança. As pessoas voltaram-se
para a religião porque o mundo secular se identificara com as crueldades
associadas na Idade Média à religião”. (Albani da Silva,
15.05.2012)
NUVENS
Para descrever as nuvens
eu necessitaria ser muito rápida –
numa fração de segundo
deixam de ser estas, tornam-se outras.
É próprio delas
não se repetir nunca
nas formas, matizes, poses e composição.
Sem o peso de nenhuma lembrança
flutuam sem esforço sobre os fatos.
Elas lá podem ser testemunhas de alguma coisa –
logo se dispersam para todos os lados.
Comparada com as nuvens
a vida parece muito sólida,
quase perene, praticamente eterna.
Perante as nuvens
até a pedra parece uma irmã
em quem se pode confiar,
já elas – são primas distantes e inconstantes.
Que as pessoas vivam, se quiserem,
e em sequencia que cada uma morra,
as nuvens nada têm a ver
com toda essa coisa
muito estranha.
Sobre a tua vida inteira
e a minha, ainda incompleta,
elas passam pomposas como sempre passaram.
Não têm obrigação de conosco findar.
Não precisam ser vistas para navegar.
(Wislawa
Szymborska, Instante (2002), tradução de Regina Przybycien)
LENINE – É o que me interessa(2009): Taí um dos nossos problemas, só corremos atrás do que nos
interessa...
DICAS
PARA A SAÚDE DO NENÊ: O aleitamento materno
não deve passar dos 35 anos. Caso contrário, o nenê corre o risco de nunca
arranjar um emprego. (Albani da Silva,
15.05.2012)
DICAS
PARA O MERCADO DE TRABALHO:Em uma entrevista de
emprego, evite os erros de português: responda a todas as perguntas in english. (Albani da Silva,
15.05.2012)
NAÇÃO
ZUMBI– A ilha(2007): A carne é fraca / E o corpo / É uma ilha / À procura / Do sol –
Felizmente o historiador Carlo Ginzburg(1939) nos
lembra que “nenhuma
ilha é uma ilha”(2000):
Em busca
de novos Arraiais de Canudos
Cavalgando o Vento segue sua busca quixotesca
por novos Arraiais de Canudos. Antônios
nãos nos faltam; Conselheiros, porém, rareiam. Não, não, ainda, assim, não
desistiremos! Embora não tenhamos
aprendido a rezar direito – continuaremos a tentar longe de igrejas e
supermercados. E mesmo que os corações estejam secos como o
Ceará / Nossos ventos são ventos de chuva, tal qual na tempestade de Sell
Cotman e sua praia de Yarmouth. (Albani da Silva,
15.05.2012)
O Arraial
de Canudos
Em
1897 / O Exército / Da República brasileira / Recém-proclamada / Mas já
controlada pelos fazendeiros de sempre / Os barões do café / Destruiu / O Arraial de Canudos / Chamado também de / Belo Monte / No sertão / Da Bahia / Lá / Quem plantava /
Colhia / E comia / Repartindo / O suor / E o fruto do suor / Num clima /
Místico / Esperando pelo fim dos tempos / Pela volta de Dom Sebastião / Ou / Pela
volta de Cristo / O que dá no mesmo / Pro cristão / Antônio
Conselheiro / Liderou / Esta / Fascinante / Experiência / Socialista
/ Em que o caboclo / E a cabocla / Chocolate e mel / Deixaram / De ser / Servo &
Escrava / Pra virar gente / Ainda que humilde / Mas gente.(Albani da Silva, 15.05.2012)
O Rappa– Súplica
Cearense(2008):
WADO– A
reforma agrária do ar(2009)
-Contra o artista mudo / Contra o ouvinte
surdo / Contra o latifúndio / Das ondas do rádio:
Adaíltom Percival da Silva
De acordo com o leitor Adaíltom Percival da Silva(1955), pedreiro,
observador de estrelas, eclipses e vaga-lumes – novos arraiais de
Canudos precisarão de guerreiros meninos – nada a ver com falcões do
tráfico, pistoleiros e outros valentões, mas, sim, homens que também choram:
Gonzaguinha– Guerreiro
Menino(1976):
Antes de mais nada
Adaíltom Percival da Silva também alerta, em sua missiva, que é
indispensável para o sucesso dos novos
Arraiais a presença de meninas bonitas:
Pedro Luís e a Parede – Menina
Bonita(2011):
Até
Breve
Enquanto
procuramos/construímos/inventamos
novos Arraiais de Canudos, os Cavaleiros do Vento lhes desejam um até
breve, ou seja, até a semana que vem!!!
CAVALGANDO o VENTO – Até Breve(Albani da Silva, 2012) – O
artesanato de transformar sentimentos, sonhos e experiências em canção: compor,
ensaiar, gravar, divulgar...