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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Um caso de família

Bartolomé Estebán Murillo, Crianças comendo melão e uvas, século XVII


     Quando o colorido dos cabelos de Anna gerou polêmica na pacata família Oliveira...

Cores Vivas
Alexia Aguilheira de Menezes*
           
                A casa da família Oliveira sempre foi calma e tranquila. 
            Sra. Oliveira estava sentada em uma poltrona, folheando uma revista comprada há pouco. Sr. Oliveira lia o jornal atentamente, conferindo o resultado do último jogo de seu time. David, o filho, estava atirado sobre o sofá, assistindo a um seriado qualquer na televisão.
         - Onde tá a Anna? – David perguntou aos pais. Dera falta da irmã mais nova, pois ela sempre estava perto da família.
         - Saiu. Disse que ia fazer uma coisa muito impor... – a fala do Sr. Oliveira foi cortada pela porta se abrindo, revelando uma garota vestida com um visual rockeiro: jeans rasgado, camiseta preta dos Ramones, tênis All-Star vermelho desbotado, piercing no nariz. Os cabelos que antigamente eram loiros platinados estavam repicados acima dos ombros e com três cores espalhadas entre as mechas: verde, vermelho e branco.
         Levou dois décimos de segundo para a Sra. Oliveira soltar um grito aterrorizado ao reconhecer sua preciosa filha vestida feito uma “suicida”, assim ela costumava falar das rockeiras.
         - An-Ann-Anna?! Filha... O quê? – A mulher gaguejou enquanto soltava um grito histérico e caía sobre os braços do marido em um desmaio pouco convincente.
         - Sabe... Acho que vermelho não ficou legal, não! Eu colocava amarelo! – O garoto comentou intrigado, com o indicador sobre o queixo e o cenho franzido.
         - David! – Sr. Oliveira urrou para o filho enquanto, em vão, tentava amparar a mulher. – Não põe mais lenha na fogueira, pelo amor de Deus! – Ele voltou o olhar para a garota, que mexia distraidamente no celular. – Anna, explique-se!
         Um tsic saiu dos lábios da garota, que preferiu criar tensão antes de responder, bloqueou o celular e guardou o aparelho no bolso, então se jogou no sofá ao lado do irmão mais velho e encarou os pais.
         - Virei rockeira! – Anunciou alegremente, quase pulando de emoção. – Cansei de ser patricinha, usar rosa e vestidinhos. Resolvi virar rockeira!
         Outro grito agudo cortou o ar, mais uma vez Sra. Oliveira havia feito um de seus famosos DMF – Desmaios Mal Fingidos – era como David chamava.
         - Marta! Recomponha-se! – Sr. Oliveira berrou, o queixo tremendo levemente. – Anna, quem lhe deu o direito de fazer isso com você mesma? Temos uma imagem a zelar nessa família!
         - Ah, papai... Sabe como é... Agora sou rockeira, rockeiras são imprevisíveis! Yeep!
         - Tá mais pra louca... – David murmurou ainda concentrado em seu seriado. Como ele conseguia prestar atenção na discussão e no seriado ao mesmo tempo era um mistério.
         - Cala boca, ôh imprestável! – Uma almofada foi de encontro ao rosto de David que começou a desfiar o rosário de tanto que reclamou.
         - ...E ainda por cima é violenta! – Sua última frase saiu alta e clara, devido ao silêncio que reinava na sala.
         Sra. Oliveira olhava bobamente para o filho; Sr. Oliveira incrédulo; e Anna com um olhar homicida.
         - Tu corre, peste, por que se eu te pegar te dou pro meu poodle comer! – Anna jogou-se sobre o irmão sem nem dar tempo do mesmo fugir. Do sofá para o chão os dois rolaram, Anna a todo custo tentando ao menos marcar a cara do irmão com suas unhas e o irmão tentando proteger seu rosto, ou cartão de visitas, como costumava chamar.
         - CHEGA! – O Sr. Oliveira devia ter gritado mais alto, pois os vizinhos chineses do outro lado do mundo ainda não o ouviam. – Olha aqui, vocês dois parem agora mesmo! Marta, chega de se lamentar! Se Anna quer ser rockeira, deixa ela!
         - Mas... mas...
         - Sem mas! – E o martelo estava batido. A palavra final era sempre do chefe da casa.
         O lar voltaria à paz antiga. Sra. Oliveira folheando suas revistas de fofocas e assistindo a suas novelas; Sr. Oliveira vendo jogo de futebol na TV e lendo jornal, também sobre os jogos; David dando uma de garoto: sem fazer nada o dia todo, comendo besteiras e aprontando por aí. E Anna seria a mais nova rockeira da casa.
[ ... ]
         - Anna e suas escapulidas! – Dois dias após a garota chegar em casa, totalmente transformada, e o irmão já dava a falta dela novamente. Os pais já não se importavam tanto, talvez aquilo virasse rotina, certo?
        - Ah, que ótimo dia! Como estão, meus doces familiares? – A garota que entrara pela porta definitivamente não era mais rockeira. Ela tinha agora dreads loiros e negros pelo cabelo, usava uma saia que caía até os pés nas cores do reggae, uma blusa com o símbolo da paz em preto e um sorriso contagiante no rosto.
           - Anna... – David sussurrou aterrorizado.
         - Oh! – Mais uma vez Marta foi aos braços do marido, que a essa altura tinha os olhos vermelhos em um olhar assassino.

*Alexia Aguilheira de Menezes
         Nascida no ano de 1997, em Porto Alegre, Alexia agora reside em Gravataí e é estudante da EMEF Alberto Pasqualini. Fã de Guns N’ Roses e One Direction, amante de games, como os da série Resident Evil e God Of War, entre outros. Sonha em ser Zoóloga, mas enquanto isso, Alexia continua com outras funções que adora exercer, que é escrever e desenhar. Já escreveu um livro de terror chamado “Fique Acordado”, aguardando publicação.


RamonesI don´t want to grow up (1995): Esta vai a pedidos da Anna Oliveira, fã de Ramones até conhecer o Bob Marley.


Nirvana –  Smells like teen spirit (1991): Hino da juventude classe média globalizada pós-moderna buscando diversão fugindo do tédio.


Guns n´RosesGarden of Eden (1992): Heróis da juventude classe média globalizada pós-moderna buscando diversão fugindo do tédio.


 The White StripesSeven Nation Army (2003): Ãh! (Ãh! Ãh! Ãh! Ãh! Ãh) Ãaaah! Ãh! 


The StrokesLast Night (2001): A pedidos do Ventoso Leitor Jorge Pereira, eletricista, jogador de xadrez e que ainda escreve cartas para as namoradas.


SOJA Rest of my life (2008): Soldiers of Jah Army.





quinta-feira, 2 de agosto de 2012



David Hockney, Autoestrada das Flores de Pêra, 1986

Confira o Vídeo Inédito do CoV!!!
Cavalgando o VentoO Esqueleto (C. A. Albani da Silva): Cavalgando o Vento canta e interpreta, de maneira bem-humorada e irônica, uma história de solidão e traição. Afinal, quem já não se encontrou (e ainda vai se encontrar de novo, óbvio) desamparado como o Esqueleto?

Os Vinte Anos de Poesia de Amaro Flores Castilhos
Entre 1984 e 2004, o poeta de Cachoeirinha/RS Amaro Flores Castilhos escreveu dezenas de poemas, reunidos no seu livro “Vinte Anos de Poesia” (2004). Na Introdução do livro ele nos explica a vigília constante do artista: “Bem antes de ler e conhecer o grande poeta Vladimir Maiakovski (1893-1930), eu já fazia o que ele pregava: ‘Todo poeta precisa estar sempre com uma caneta e um pedaço de papel no bolso, pois o poema pode surgir a qualquer momento, qualquer situação, qualquer lugar ou hora’. Se o poeta não anotar, acaba esquecendo e lá se foi talvez um grande poema”.

Alma, Coração e Cérebro
E Amaro disse também, nessa mesma Introdução: “A ousadia, a fuga do marasmo poético, a criatividade e a constante busca são elementos cotidianos do meu trabalho. [...] Mas eu vejo três coisas como básicas na construção de um bom poema (pelo menos sempre foi assim comigo): alma, coração e cérebro. Com a alma, o poeta percebe e capta o início de um poema que chega pelas ondas da inspiração. A alma é a nossa maior sensibilidade em contato com o invisível que nos rodeia. O coração é quem dá harmonia, vida, cor e luz ao poema. Carrega o poema com as coisas da vida, da terra. Põe sentido humano no poema. E o cérebro é quem organiza tudo, elimina excessos, inclui o que acha necessário e dá o toque final, sem sentimentalismo ou misticismo. O cérebro é o último componente, mas o mais frio e direto”.

O Bibliotecário
Amaro Flores Castilhos
Me alimento de teoria ao meio dia,
à meia noite, consumo metáforas
e na cozinha
onde tempero versículos
meu ego ri de mim.

Sou um arqueólogo imponderável
escavo o túmulo do cronômetro
absorvo a química do tempo
e congrego axiomas enferrujados

Em poucas e aritméticas horas
Edifico jardins matemáticos
Com símbolos e outras alquimias
Roubadas de um velho manuscrito.

Em sânscrito;
            Desvendo parábolas
            mistérios de luz
            poemas da cruz
            signos de sal
            e outras religiões
            entre o bem e o mal.
                                               (primeiros poemas)

Cavalgando o Vento Até Breve (C. A. Albani da Silva): 
O artesanato de transformar sentimentos, sonhos e experiências em canção: compor, ensaiar, gravar, divulgar...

Cavalgando o VentoCanção Pra Todo Mundo (C. A. Albani da Silva): Fotomontagem produzida pelo amigo Francisco Castro, de Porto Alegre/RS - grande parceiro de saraus, poesia e boa música. Valeu, Chico, pelo carinho!!! 

Namoro moderno
Amaro Flores Castilhos
Tenho teus ossos
sobre os meus ossos
ringindo
e o arco-íris sete cores
de tua boca bem talhada
a iluminar o céu de minha boca
noturna.

Tenho teus dedos coloridos
de um violeta carnal
a romper minha vasta e intranqüila
cabeleira.

Tenho por ti um amor
cor de sêmen
Tu tens por mim um amor
duradouro
como dura
um orgasmo.

Francisco CastroFor No One (Lennon/McCartney): 
Nem sinal de amor por trás de lágrimas choradas para ninguém.

The BeatlesFor No One (1966): O áudio original da canção dos Beatles, do álbum Revolver...

Divórcio
Amaro Flores Castilhos
Parto
contigo não mais reparto
minha pessoa.

Comerei
o pó de todas as estradas
que são distância.

Sentarei
diante de um pôr de sol diferente
livre.

No mar
meus pés reencontrarão o caminho
de outrora.

Necessito
ancorar minha alma em outro porto
mais tranqüilo.

Urgente
contra a velocidade dos anos perdidos
gastos.

Parto
não comparto mais contigo sequer
um segundo.

Cavalgando o VentoOne More Cup of Coffee (Bob Dylan): Releitura, ao vivo no Sarau do Clube Literário de Gravataí/RS, deste clássico de Bob Dylan, lançado originalmente no álbum Desire (1976).

Cavalgando o VentoÉ o que me interessa (Lenine/Dudu Falcão): Como já dissemos, em outra ocasião, um dos  grandes problemas atuais é que só corremos atrás do que nos interessa...

Poema para quem não gosta de poema
Amaro Flores Castilhos
Dobro os versos
amasso-os com jeitinho
delicadamente
silenciosamente
para que adentrem
nem que seja pelos fundos
de teu duro coração.

Há de haver uma fresta
um pequeno orifício
uma porta mal fechada ou coisa parecida
que permita ao poema penetrar
e lá encontrar guarida.

Preparo-o com afeto.
Visto-o com esmero
dou-lhe cor e aroma
e um pouco de dinheiro
para o vinho e para o pão
que a jornada exige
rumo ao teu coração.

Como se abrem as flores
teu mundo há de se abrir,
seja no beijo de um crepúsculo
seja num rosário de dores.

Creio na sensibilidade humana
raramente
Minha alma se engana.
 (Dedicado a quem gosta, Armindo Trevisan)

DirigíveisNos dias que passei aqui (Mick Oliveira, 2011): Vídeo produzido pela dupla C. A. Albani da Silva e Mick Oliveira homenageando grandes mestres da história do cinema no embalo do Rock n´Roll amargo da banda gravataiense Dirigíveis.