sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Pequena Gaulesa

Amazona do Vento e Leco Brown, Vejo estrelas numa Cabeça de Vento, Iemanjá de 2014


CoVPequena Gaulesa:

1.     Foi nalgum dia de 2005 que este Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, compôs “Pequena Gaulesa”. Tentou ele refletir sobre os diferentes significados que os homens atribuem à beleza feminina: sensualidade e lirismo; desejo carnal e passividade; ciúmes; indiferença. Não. Indiferença, não.
Em fevereiro de 2012 esta versão da música foi gravada, no Estúdio Cigano do Albani, o único com o selo “Laboratório do Vento”. Era uma tarde tão quente que o ouvinte mais atento perceberá o crepitar do fogo entre um acorde e outro.

2.    Já no verão de 2014, entre a sombra dos pinheiros e o mar de chocolate da Praia de Baunilha, o Ventoso Inventor contou com a ajuda de três camaradas para a produção do videoclipe:
    - Rodrigo Blume (o DJ Drigo), que, com 13 anos de experiência em guerrinhas de capim, quando o destino do mundo dependia da vitória do capim mocinho contra o capim malvado, assumiu então, sem o hesitar deste Inventor, a função de principal animador dos fantoches de luz e sombra;
    - Gabriel Blume (o Bibi), que, apesar de sua garbosa e indefectível camisa amarela, ainda não experimentou do veneno remédio que corresponde à beleza feminina, mas que logo entrará nessa dança, inevitavelmente; ele operou o som e ajudou o DJ quando duas mãos não bastaram diante da parede;
    - Alex Albani (o Leco Brown), autêntico anjo desasado que anda por essa terra do Deus dará a que chamamos mundo. Triste destino o seu: animou a aldeia em ruínas e o enforcado.

3.    O jegue do músico chama-se Nivaldo; o músico costuma atender, quando procuram, por Tremenda Luz; o que ele leva em mãos é uma viola caipira de 10 cordas, não um violão; se usa chapéu de abas largas em plena Antiguidade é porque sua sina é viajar no Tempo: sempre em busca de novos contos pra cantar.
Alguns dizem que Nivaldo, o jegue, é quem sabe o truque pra viajar pelas eras. Outros protestam dizendo que o segredo está na afinação da viola que o músico leva consigo.
Eu vos digo que Tremenda Luz, debaixo daquele chapelão imenso, tem uma cabeça bem imaginativa mesmo.



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Praia de Baunilha, ao Sul de Moçambique

Amazona do Vento, Poema na Perna, Natal de 2013

Música inédita!
CoV Praia de Baunilha (Ao Sul de Moçambique)
Esta música surgiu de um exercício de adaptação musical e poética do Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, sobre a canção “Capão da Canoa” de Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha (1927-1985), gravada originalmente em 1973.

A proposta era cantar e poetar sobre Cidrilha, a Praia de Baunilha, que fica no extremo Sul da costa de Moçambique.

O curioso é que todas as ruas, esquinas, praças, padarias e açougues de lá têm os mesmos nomes e a mesma arquitetura das ruas, esquinas, praças, padarias e açougues de Balneário Pinhal e Cidreira, no litoral Norte do RS.

Antigas valsinhas sopram forte no verão da Praia de Baunilha. Tanto que os turistas sentimentais vivem tentando exorcizá-las do peito com sorrisos e brincadeiras, propensos às paixões descaradas e intrigas de folhetim.


Poemas
Dupla dinâmica ataca novamente

1.
Cai o Pano
(Nátali da Silva Sarmento*)
A cortina fecha, o pano cai
O que você faz agora?
Nem sabe ao certo onde vai.
Mil amigos numa rede social
Enquanto todos riem, você chora.
Percebe agora o mundo real?
Ninguém liga pro seu status. 
Cego na sua "vida perfeita" 
Nunca ligou pros fatos.
A verdade está na espreita. 
A beleza então se esvai.
A cortina se fecha, e o pano cai


2.
A Natureza e o Vento
(Nátali da Silva Sarmento e Mariana Pereira Gama**)

''Quão bela és tu, natureza
A quem devemos agradecer
Por dar ao vento sua sabedoria
Feliz quem o pode entender.

Sábio quem ouve os murmúrios do vento... 
Quem não tem a preocupação de bagunçar o cabelo.
Para saber se ele sopra turbulento,
Basta ter a vontade de compreendê-lo

Basta acompanhar seus assovios
Derrubando folhas, movendo moinhos 
Deixar-se levar pela corrente de ar
Moldando sonhos, projetando caminhos  

Seus suspiros podem levar minha inspiração
Mas certo dia ela virá, mesmo que a passo lento.
Olhar pela janela faz acelerar o coração
Pois lá vem ela, cavalgando o vento.''
(* e ** são estudantes do Ensino Médio público, Naath e Mari: esta recentemente descobriu uma banda chamada The Black Crowes e seu disco “The Southern Harmony and Musical Companion” e agora, sim, pode dizer que ouve Rock n´ Roll; aquela cuida bem do sono pra manter a beleza e a inteligência sempre em dia).

Vento
(Lila Ripoll, 1905 a 1967, do livro “Ilha difícil", 1987)
Poema carinhosamente enviado pela Profa. Taís Castro, da rede pública de Porto Alegre.

O vento trança seus dedos 
de vento em meus cabelos.
Trança cabelos e vento
e me leva pra longe.

Sou barco, levado barco,
com enfunado vestido,
cabelos cheios de vento,
rosto de vento batido.

Vento invadindo porões
esquecidos da memória.
Vento folheando cadernos
desfolheando malmequeres

Ai! Vento vento de agora
trançando vento e cabelos 
com dedos fortes de vento,
enfuna de vento e vento
meu leve e claro vestido.
Há um cheiro de maresia
em tuas cordas de vento,
vento de rio e de mar.

Sou barco. Que o mar me leve
se o vento não me levar.
Com dedos de vento, o vento
balança barcos e mar.

Mar e vento. Vento e barco.
Quero as cordas desatar.

Que o mar me leve de leve
se o vento não me levar.

Mais música
Clara NunesA Deusa dos Orixás (1975): A mais bela das canções de amor que se passa na praia.


Diálogos na Praia de Baunilha ou
Do picolezeiro de Cidrilha
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

1.  Ele estava de cara amarrada.
Eu, vermelho que nem um peru.
“Que foi, picolezeiro?”
“Esta praia já foi melhor! Tem mais carro do que gente por aqui. E carro não compra picolé”.
“Falando nisso, me vê um cremoso, por favor”.
Devagarzinho, um Chevrolet rebaixado passou ao nosso lado com 3 barbados dentro: ouviam a todo volume o disco do CoV.
Por Deus, nunca revelei ao meu amigo picolezeiro que aquelas músicas fossem minhas.
Pena que os ganhos sejam muito poucos para os artistas devido a uma pesada taxa cobrada pelo Governo para manter o Comitê da Censura, justamente quem define o que é bom ou ruim em arte e o que pode fazer sucesso ou não em Cidrilha...

E nem por isso (pela poesia), sinto lhes dizer, que os moçambicanos de Baunilha são melhores ou piores que nós.

2.  Logo que saiu a Beldade com o Sansão, ela chupando um picolé de milho verde, ele com um de morango, o picolezeiro falou:
“As mulheres ainda preferem os pré-históricos: peito cabeludo, porrete na mão direita e nada na cabeça”.
“As beldades, você quer dizer”? Perguntei.
“Especialmente”. Respondeu.
“Sunguinha azul e tatuagem de Jesus Cristo ou dragão”. Acrescentei.
“Estamos fritos, camarada. Eu não passo de um medieval banguela e você, Inventor, um romântico do século XIX”.
Assenti com a cabeça. Pedi meu costumeiro picolé de limão, sinal dos tempos azedos em Moçambique, e parti. Não pude deixar de reparar num biquíni azul e branco, de lacinho: o meu favorito.

3.  O picolezeiro andava preocupado com a política.
“Não é que eu goste de política. Pelo contrário, desconfio de todos que dizem gostar, pois quem de bom coração vai gostar de uma coisa tão perversa?”
“Os politiqueiros é que gostam de intrigas e vaidades”. Interrompi.
“Exato, Ventoso! Só eles gostam mesmo. Mas às vezes a política se torna inevitável. Pois a vida é feita de escolhas, forças de tamanhos diferentes que se chocam. É preciso tomar partido, escolher um lado. Ainda que nada seja muito definitivo. É mais ou menos que nem meus picolés, por mais gostosos que sejam sempre acabam – e quando não tem o nosso favorito é preciso escolher o menos pior. Vais votar em quem, Ventoso, para presidente?”
“Mais do que a República, me preocupo agora com as futuras eleições escolares, picolezeiro. Sempre parto do menor para o maior. Meu método de análise. Mas confesso que, há alguns anos atrás, já cheguei a pensar que o voto em branco fosse a melhor opção. Como se abrir mão de minha própria voz fosse um protesto... Mas um tio meu me demonstrou que se posso escolher entre um picolé de limão e outro de uva, por que deixar que o picolezeiro escolha por mim? Falando nisso, camarada, me vê um bem azedo de limão”.
“Esse seu tio só pode ser comunista. Daqueles em que as únicas coisas que não se pode compartilhar são a escova de dente e a mulher”.
“Eu não sei o que é mais difícil, picolezeiro: compartilhar o conhecimento, o poder e a riqueza ou escovar a língua”.

4.  Batíamos bola na beira-mar da Praia de Baunilha.
Eu e o picolezeiro.
“Donde já se viu chamarem o Gauchão de 'charmoso'... Coisa do Grupo Errebesse mesmo, e daquele narrador sem emoção”...
“Tem um tio meu que jogou bola na Serra, pelo Caxias e  Juventude. Eu ia ver esse meu tio jogar. Até meados dos anos 1990, quando o Campeonato Gaúcho terminava no inverno, os campos eram de lodo e o futebol não passava de um autêntico quebra-canelas”.
“Hehe. A bola era apenas mais um desses mistérios da vida a ser decifrado por 22 marmanjos não muito propensos à filosofia”.
“Curiosamente após largar a carreira de futebol por um problema no joelho, meu tio cursou Filosofia na UFRGS. Charmoso é como chamam o Cariocão”.
A essa altura da prosa já estávamos sentados na areia. O picolezeiro sentia falta de ar: fumante inveterado não concatenava direito dominar, chutar e passar enquanto conversávamos.
“Vá lá: o RJ ainda preserva um ar aristocrático. Veja as novelas das 9. Os clubes grandes de lá têm origem na elite social, na virada do século XIX pro XX. Além de a Cidade Maravilhosa ter sido capital do Brasil de 1763 a 1960”.
“Pra mulato jogar tinha que passar pó de arroz na cara, veja o Friedenreich”.
“Até o racismo pode ser charmoso”.
“O nosso Gauchão vem dos anos 1930”.
“Mas Gauchão mesmo, desde os 60. Antes era por região, tipo um Gauchinho”.
“Conversar com historiador é sempre bom e chato ao mesmo tempo: sabem tudo”.
“Já conversar com picolezeiro é difícil: estamos sempre numa gelada. Aliás, podias começar a vender cerveja nesse teu carrinho”.
“Sou muçulmano. Nada de álcool. Apenas ki suco. Acho que, hoje, com essa grana pesada da TV, dos patrocinadores, os gramados do Interior ficaram bem legais. Mas o Gauchão ficou alguma coisa assim entre o insosso e o fastio: para atletas e torcedores”.
“Eu ainda gosto de ir a um estádio ou ao bar acompanhado de velhos boleiros que lembram daquele Brasil de Pelotas e Grêmio lá de ´62, ou quando o São Paulo de Rio Grande bateu o Inter de Falcão, Carpegianni, Manga e Figueroa, mais as trombetas de Jericó, em pleno Beira-Rio”.
“Não frequento CTG´s. E há tempos troquei meu cavalo por um Fiat Uno. Mas acho que o falecido cronista esportivo Cláudio Quintana Cabral (1940-2012) foi quem inventou a alcunha perfeita pro Gauchão": ‘entrevero pampeano’.
“O Mestre”.
“Meu pai gostava muito dele”.
Disse o picolezeiro, enquanto limpava a areia da mão pra alcançar o troco ao menino que já estava todo lambuzado com um de laranja.

Alexander Petrov - O Velho e o Mar (1999): Animação em curta-metragem baseada no romance homônimo de Ernest Hemingway (1899-1961). Têm momentos em que a alma fica tal qual o pescador Santiago: velha e alquebrada. Entretanto sair para o mar infestado de tubarões em busca do peixe-espada gigante pode ser a única coisa a se fazer.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Ventosos Momentos - Lançamento do CD (Estúdio LACOS Bar, 14/12/2013)

Nara L. de Oliveira, Ilustração sobre a música “Colar” (C. A. Albani da Silva), quase verão de 2013


CoV Lançamento CDVentosos momentos no Estúdio LACOS Bar, 14/12/2013.






* Para ver as fotos desta noite em que o Vento soprou forte, acesse nosso Feicebuques

* E para ajudar a manter viva as utopias, com mais músicas, vídeos, poemas, contos e ficções, encomende o seu CD do "CoV": cavalgandoovento@gmail.com / carlosadriano.albani@gmail.com 
(51) 9678 7681 


Por fim,
um poema e uma prosa pro Natal e pro Ano Novo – só não sei mais qual seria pro Natal e qual seria pro Ano Novo...
Jardim interior
(Mário Quintana, 1906 a 1994, do livro “A Cor do Invisível” - 1989)

Todos os jardins deviam ser fechados,
Com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.


Tia Júlia e o escrevinhador
Pensou que seria uma ocasião privilegiada para pôr à prova a norma moral que havia feito sua desde jovem e segundo a qual era preferível compreender do que julgar os homens. Não estava nem horrorizado, nem indignado, nem surpreso demais.
(Dr. Alberto de Quinteros, conforme Mario Vargas Llosa, 1977)


P.S.: Durante as férias escolares o Vento sopra mensalmente
Até Breve!


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

(Guajira) Para os novos tempos

Paul Cézanne, Natureza morta com cortina, jarro e fruteira, 1893 a 1894


(Guajira) Para Os Novos Tempos  
Versão “Natureza Morta”, 11.12.2013

C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento: Letra e música, voz e violão
Mick Oliveira: Guitarra
“Alemão” Cristiano: Cajón
Part. Esp.: Antônio Ramos – Flauta

Nesse mundo velho, medonho, maluco
Nem sempre é fácil achar explicação
Pra um sentimento que brota do nada
Pra desilusão com a menina amada
Pra demora em explodir outra revolução

Nesse mundo velho, medonho, biruta
Nem sempre é fácil achar solução
Pra indiferença e para o preconceito
Pra um coração vazio no peito
Pra o verniz na cara-de-pau do cínico

Nessa hora mal-dormida da madrugada
Nem sempre é fácil esquecer o próprio umbigo
E lembrar a juventude árabe
Tomando as ruas pela liberdade
Liberdade pra arriscar mudar sua Nação

Se um dia você se perder
E sentir falta só das coisas bobas
Então terá valido a pena viver?










quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ao vivo na lavanderia

Pierre-Cécile Puvis de Chavannes, Jovens gurias na praia, 1879


Sobre a arte de fazer arte nas lavanderias:
"Ao invés de lavar roupa suja, procuramos fazer poesia, isto não sendo possível, no mínimo, daí tentamos a música".
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)


CoV Até Breve (ao vivo na lavanderia - Parte 1): Em meio aos preparativos pro lançamento do disco do CoV, no Estúdio LACOS Bar (14/12), a Ventania vai soprando em vários lugares e com a participação mais que especial do Batera do Vento: Alemão Cristiano. 

CoVDiga Cá (ao vivo na lavanderia – Parte 0): O que faz a diferença no Brasil? Me diga cá, senhora...


Quem é o poeta
(Tadeusz Rózewicz*, 1921)

Poeta é aquele que escreve poemas
e aquele que não escreve poemas

poeta é aquele que arrebenta grilhões
e aquele que coloca grilhões em si próprio

poeta é aquele que crê
e aquele que não consegue crer

poeta é aquele que mentiu
e aquele que foi iludido

poeta é aquele que comeu da mão
e aquele que decepou as mãos

poeta é aquele que parte
é aquele que não consegue partir
(Da coletânea “Céu vazio” – 63 poetas eslavos, organização e tradução de Aleksandar Jovanovic)


* Adquira já o seu disco do “CoV”, com produção de Cleiton Amorim e apoio do FUCCA, ajudando assim a manter viva as utopias, garantindo também seu lugar no show de lançamento do dia 14/12 (a partir das 21h, no Estúdio LACOS Bar, Rua Dona Palmira, 234, Granja Esperança, Cachoeirinha/RS).

cavalgandoovento@gmail.com / (51) 9678 7681