Amazona do Vento e Leco Brown, Vejo estrelas numa Cabeça de Vento, Iemanjá de 2014
CoV – Pequena Gaulesa:
1.Foi nalgum dia de 2005 que este
Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, compôs “Pequena Gaulesa”. Tentou ele refletir sobre os
diferentes significados que os homens atribuem à beleza feminina: sensualidade
e lirismo; desejo carnal e passividade; ciúmes; indiferença. Não. Indiferença,
não.
Em
fevereiro de 2012 esta versão da música foi gravada, no Estúdio Cigano do Albani, o único com o
selo “Laboratório do Vento”.
Era uma tarde tão quente que o ouvinte mais atento perceberá o crepitar do fogo
entre um acorde e outro.
2.Já no verão de 2014, entre a sombra
dos pinheiros e o mar de chocolate da Praia de Baunilha, o Ventoso Inventor contou com a
ajuda de três camaradas para a produção do videoclipe:
- Rodrigo Blume (o DJ Drigo), que, com 13 anos de experiência em
guerrinhas de capim, quando o destino do mundo dependia da vitória do capim
mocinho contra o capim malvado, assumiu então, sem o hesitar deste Inventor, a
função de principal animador dos fantoches de luz e sombra;
- Gabriel Blume (o Bibi),
que, apesar de sua garbosa e indefectível camisa amarela, ainda não
experimentou do veneno remédio que corresponde à beleza feminina, mas que logo
entrará nessa dança, inevitavelmente; ele operou o som e ajudou o DJ quando
duas mãos não bastaram diante da parede;
- Alex Albani (o Leco
Brown), autêntico anjo desasado que anda por essa terra do Deus dará a que
chamamos mundo. Triste destino o seu: animou a aldeia em ruínas e o enforcado.
3.O jegue do músico chama-se Nivaldo; o músico costuma atender, quando procuram,
por Tremenda Luz; o
que ele leva em mãos é uma viola
caipirade10 cordas, não um violão;
se usa chapéu de abas largas em plena Antiguidade é porque sua sina é viajar no Tempo:
sempre em busca de novos contos pra cantar.
Alguns
dizem que Nivaldo, o jegue, é quem sabe o truque pra viajar pelas eras. Outros protestam
dizendo que o segredo está na afinação da viola que o músico leva consigo.
Eu
vos digo que Tremenda Luz, debaixo daquele chapelão imenso, tem uma cabeça bem imaginativa
mesmo.
CoV– Praia
de Baunilha (Ao Sul de Moçambique): Esta
música surgiu de um exercício de adaptação musical e poética do Inventor do Vento, C.
A. Albani da Silva, sobre a canção “Capão da Canoa” de
Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha
(1927-1985), gravada originalmente em 1973.
A proposta era cantar e poetar sobre
Cidrilha, a Praia de Baunilha, que fica no extremo Sul da costa de Moçambique.
O curioso é que todas as ruas,
esquinas, praças, padarias e açougues de lá têm os mesmos nomes e a mesma
arquitetura das ruas, esquinas, praças, padarias e açougues de Balneário Pinhal
e Cidreira, no litoral Norte do RS.
Antigas valsinhas sopram forte
no verão da Praia de Baunilha. Tanto que os turistas sentimentais vivem
tentando exorcizá-las do peito com sorrisos e brincadeiras, propensos às paixões descaradas e intrigas de folhetim.
Poemas
Dupla
dinâmica ataca novamente
1.
Cai o Pano
(Nátali da Silva Sarmento*)
A cortina
fecha, o pano cai
O que você faz agora?
Nem sabe ao certo onde vai.
Mil amigos numa rede social
Enquanto todos riem, você chora.
Percebe agora o mundo real?
Ninguém liga pro seu status.
Cego na sua "vida perfeita"
Nunca ligou pros fatos.
A verdade está na espreita.
A beleza então se esvai.
A cortina se fecha, e o pano cai
2.
A Natureza e o Vento
(Nátali da Silva
Sarmento e Mariana Pereira Gama**)
''Quão bela és
tu, natureza
A quem devemos agradecer
Por dar ao vento sua sabedoria
Feliz quem o pode entender.
Sábio quem ouve os murmúrios do vento...
Quem não tem a preocupação de bagunçar o cabelo.
Para saber se ele sopra turbulento,
Basta ter a vontade de compreendê-lo
Basta acompanhar seus assovios
Derrubando folhas, movendo moinhos
Deixar-se levar pela corrente de ar
Moldando sonhos, projetando caminhos
Seus suspiros podem levar minha inspiração
Mas certo dia ela virá, mesmo que a passo lento.
Olhar pela janela faz acelerar o coração
Pois lá vem ela, cavalgando o vento.''
(* e ** são estudantes do Ensino
Médio público, Naath e Mari: esta recentemente descobriu uma banda chamada The
Black Crowes e seu disco “The Southern Harmony and Musical Companion” e agora,
sim, pode dizer que ouve Rock n´ Roll; aquela cuida bem do sono pra manter a
beleza e a inteligência sempre em dia).
Vento
(Lila
Ripoll, 1905 a 1967, do livro “Ilha difícil", 1987)
Poema
carinhosamente enviado pela Profa. Taís Castro, da rede pública
de Porto Alegre.
O vento trança seus dedos de vento em meus
cabelos. Trança cabelos e
vento e me leva pra longe.
Sou barco, levado
barco, com enfunado
vestido, cabelos cheios de
vento, rosto de vento
batido.
trançando vento e
cabelos com dedos fortes de
vento, enfuna de vento e
vento meu leve e claro
vestido. Há um cheiro de
maresia em tuas cordas de
vento, vento de rio e de
mar.
Sou barco. Que o
mar me leve se o vento não me
levar. Com dedos de vento,
o vento balança barcos e
mar.
Mar e vento. Vento
e barco. Quero as cordas
desatar.
Que o mar me leve
de leve se o vento não me
levar.
Mais música
Clara
Nunes
– A Deusa dos Orixás(1975):
A
mais bela das canções de amor que se passa na praia.
Diálogos na Praia de Baunilha ou
Do picolezeiro de Cidrilha
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
1.Ele estava de cara
amarrada.
Eu, vermelho que nem
um peru.
“Que foi,
picolezeiro?”
“Esta praia já foi
melhor! Tem mais carro do que gente por aqui. E carro não compra picolé”.
“Falando nisso, me vê
um cremoso, por favor”.
Devagarzinho, um
Chevrolet rebaixado passou ao nosso lado com 3 barbados dentro: ouviam a todo
volume o disco do CoV.
Por Deus, nunca
revelei ao meu amigo picolezeiro que aquelas músicas fossem minhas. Pena que os ganhos sejam muito poucos para os artistas devido a uma pesada taxa cobrada pelo Governo para manter o Comitê da Censura, justamente quem define o que é bom ou ruim em arte e o que pode fazer sucesso ou não em Cidrilha...
E nem por isso (pela poesia), sinto lhes dizer, que os
moçambicanos de Baunilha são melhores ou piores que nós.
2.Logo que saiu a Beldade
com o Sansão, ela chupando um picolé de milho verde, ele com um de morango, o
picolezeiro falou:
“As mulheres ainda
preferem os pré-históricos: peito cabeludo, porrete na mão direita e nada na
cabeça”.
“As beldades, você
quer dizer”? Perguntei.
“Especialmente”.
Respondeu.
“Sunguinha azul e
tatuagem de Jesus Cristo ou dragão”. Acrescentei.
“Estamos fritos,
camarada. Eu não passo de um medieval banguela e você, Inventor, um romântico
do século XIX”.
Assenti com a cabeça.
Pedi meu costumeiro picolé de limão, sinal dos tempos azedos em Moçambique, e
parti. Não pude deixar de reparar num biquíni azul e branco, de lacinho: o meu
favorito.
3.O picolezeiro andava
preocupado com a política.
“Não é que eu goste de
política. Pelo contrário, desconfio de todos que dizem gostar, pois quem de bom
coração vai gostar de uma coisa tão perversa?”
“Os politiqueiros é
que gostam de intrigas e vaidades”. Interrompi.
“Exato, Ventoso! Só
eles gostam mesmo. Mas às vezes a política se torna inevitável. Pois a vida é
feita de escolhas, forças de tamanhos diferentes que se chocam. É preciso tomar
partido, escolher um lado. Ainda que nada seja muito definitivo. É mais ou menos
que nem meus picolés, por mais gostosos que sejam sempre acabam – e quando não tem
o nosso favorito é preciso escolher o menos pior. Vais votar em quem, Ventoso,
para presidente?”
“Mais do que a
República, me preocupo agora com as futuras eleições escolares, picolezeiro. Sempre
parto do menor para o maior. Meu método de análise. Mas confesso que, há alguns
anos atrás, já cheguei a pensar que o voto em branco fosse a melhor opção. Como
se abrir mão de minha própria voz fosse um protesto... Mas um tio meu me
demonstrou que se posso escolher entre um picolé de limão e outro de uva, por
que deixar que o picolezeiro escolha por mim? Falando nisso, camarada, me vê um
bem azedo de limão”.
“Esse seu tio só pode
ser comunista. Daqueles em que as únicas coisas que não se pode compartilhar
são a escova de dente e a mulher”.
“Eu não sei o que é
mais difícil, picolezeiro: compartilhar o conhecimento, o poder e a riqueza ou escovar
a língua”.
4.Batíamos
bola na beira-mar da Praia de Baunilha.
Eu
e o picolezeiro.
“Donde
já se viu chamarem o Gauchão de 'charmoso'... Coisa do Grupo Errebesse mesmo, e
daquele narrador sem emoção”...
“Tem
um tio meu que jogou bola na Serra, pelo Caxias e Juventude. Eu ia ver esse meu tio jogar. Até
meados dos anos 1990, quando o Campeonato Gaúcho terminava no inverno, os campos eram de lodo e o futebol não passava de um
autêntico quebra-canelas”.
“Hehe.
A bola era apenas mais um desses mistérios da vida a ser decifrado por 22
marmanjos não muito propensos à filosofia”.
“Curiosamente
após largar a carreira de futebol por um problema no joelho, meu tio cursou
Filosofia na UFRGS. Charmoso é como chamam o Cariocão”.
A
essa altura da prosa já estávamos sentados na areia. O picolezeiro sentia falta
de ar: fumante inveterado não concatenava direito dominar, chutar e passar
enquanto conversávamos.
“Vá
lá: o RJ ainda preserva um ar aristocrático. Veja as novelas das 9. Os clubes
grandes de lá têm origem na elite social, na virada do século XIX pro XX. Além de a
Cidade Maravilhosa ter sido capital do Brasil de 1763 a 1960”.
“Pra
mulato jogar tinha que passar pó de arroz na cara, veja o Friedenreich”.
“Até
o racismo pode ser charmoso”.
“O
nosso Gauchão vem dos anos 1930”.
“Mas
Gauchão mesmo, desde os 60. Antes era por região, tipo um Gauchinho”.
“Conversar
com historiador é sempre bom e chato ao mesmo tempo: sabem tudo”.
“Já
conversar com picolezeiro é difícil: estamos sempre numa gelada. Aliás, podias
começar a vender cerveja nesse teu carrinho”.
“Sou
muçulmano. Nada de álcool. Apenas ki suco. Acho que, hoje, com essa grana
pesada da TV, dos patrocinadores, os gramados do Interior ficaram bem legais.
Mas o Gauchão ficou alguma coisa assim entre o insosso e o fastio: para atletas
e torcedores”.
“Eu
ainda gosto de ir a um estádio ou ao bar acompanhado de velhos boleiros que
lembram daquele Brasil de Pelotas e Grêmio lá de ´62, ou quando o São Paulo de
Rio Grande bateu o Inter de Falcão, Carpegianni, Manga e Figueroa, mais as
trombetas de Jericó, em pleno Beira-Rio”.
“Não
frequento CTG´s. E há tempos troquei meu cavalo por um Fiat Uno. Mas acho que o
falecido cronista esportivo Cláudio Quintana Cabral (1940-2012)
foi quem inventou a alcunha perfeita pro Gauchão": ‘entrevero pampeano’.
“O
Mestre”.
“Meu
pai gostava muito dele”.
Disse
o picolezeiro, enquanto limpava a areia da mão pra alcançar o troco ao menino
que já estava todo lambuzado com um de laranja.
Alexander Petrov - O Velho e o Mar(1999):Animação em
curta-metragem baseada no romance homônimo de Ernest Hemingway(1899-1961). Têm momentos em que a alma fica tal
qual o pescador Santiago: velha e
alquebrada. Entretanto sair para o mar infestado de tubarões em busca do
peixe-espada gigante pode ser a única coisa a se fazer.
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Por fim,
um poema e
uma prosa pro Natal e pro Ano Novo – só não sei mais qual seria pro Natal e
qual seria pro Ano Novo...
Jardim interior
(Mário Quintana, 1906 a 1994, do livro “A Cor do Invisível” - 1989)
Todos os
jardins deviam ser fechados,
Com altos
muros de um cinza muito pálido,
onde uma
fonte
pudesse
cantar
sozinha
entre o
vermelho dos cravos.
O que mata
um jardim não é mesmo
alguma
ausência
nem o
abandono...
O que mata
um jardim é esse olhar vazio
de quem
por eles passa indiferente.
Tia Júlia e o escrevinhador
Pensou que seria uma ocasião privilegiada para
pôr à prova a norma moral que havia feito sua desde jovem e segundo a qual era
preferível compreender do que julgar os homens. Não estava nem horrorizado, nem
indignado, nem surpreso demais.
(Dr. Alberto de Quinteros, conforme Mario
Vargas Llosa, 1977)
P.S.: Durante as férias
escolares o Vento sopra mensalmente!
Pierre-Cécile Puvis de Chavannes, Jovens gurias na praia, 1879
Sobre a arte de fazer arte
nas lavanderias:
"Ao
invés de lavar roupa suja, procuramos fazer poesia, isto não sendo possível, no
mínimo, daí tentamos a música".
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
CoV– Até
Breve (ao vivo na lavanderia - Parte 1): Em meio
aos preparativos pro lançamento do disco do CoV, no Estúdio LACOS Bar
(14/12), a Ventania vai soprando em vários lugares e com a participação mais
que especial do Batera do Vento: Alemão Cristiano.
CoV – Diga Cá (ao vivo na lavanderia – Parte 0): O que faz a diferença no Brasil? Me
diga cá, senhora...
Quem é o poeta
(Tadeusz Rózewicz*, 1921)
Poeta é aquele que escreve
poemas
e aquele que não escreve
poemas
poeta é aquele que arrebenta
grilhões
e aquele que coloca grilhões
em si próprio
poeta é aquele que crê
e aquele que não consegue
crer
poeta é aquele que mentiu
e aquele que foi iludido
poeta é aquele que comeu da
mão
e aquele que decepou as mãos
poeta é aquele que parte
é aquele que não consegue
partir
(Da
coletânea “Céu vazio” – 63 poetas eslavos, organização e tradução de Aleksandar
Jovanovic)
* Adquira já o seu disco do “CoV”,
com produção de Cleiton Amorim e apoio do FUCCA, ajudando assim a manter viva
as utopias, garantindo também seu lugar no show de lançamento do dia 14/12
(a partir das 21h, no Estúdio LACOS Bar, Rua Dona Palmira, 234, Granja Esperança, Cachoeirinha/RS).