Gustave Caillebote, Dia Chuvoso,
1877
Onde
tudo era proibido
E novamente me encontrei
andando pelas ruas de Gravataí e Cachoeirinha num velho FIAT Uno. Ao meu lado, Italo Calvino (1923-1985) contava algumas histórias que eu já conhecia de seu “Um general na biblioteca” (1993). Ele as contava mais ou menos assim:
“Havia um país em que tudo era proibido / A única coisa não proibida era
jogar bola / Os cidadãos se reuniam num campo atrás da vila / E ali passavam os
dias jogando bola / Tudo tinha sido proibido aos poucos / Sempre com motivos
justificados / Não havia ninguém que pudesse reclamar / Que não soubesse se
adaptar / Passaram-se anos / Um dia, o governo viu que não tinha mais razão
para que tudo fosse proibido / E anunciaram que os cidadãos podiam fazer o que
quisessem / Mensageiros foram aos lugares frequentados pelos cidadãos / “Saibam”,
anunciaram, “nada mais é proibido”. / E eles continuaram jogando bola / “Entenderam”?,
os mensageiros insistiram. “Estão livres para fazer o que quiserem”. / “Muito
bem”, responderam os cidadãos, “Nós jogamos bola”. / O governo fez campanha
publicitária para recordar-lhes quantas coisas belas e úteis havia / Às quais
eles tinham se dedicado no passado e poderiam voltar a se dedicar / Ninguém
prestou atenção e continuaram a jogar bola / Chuta que chuta / Gol e gol / O
governo decidiu então / “Nem uma, nem duas”, disseram os governantes, “Proibamos
o futebol” / Aí o povo fez uma revolução e matou a todos governantes / Depois,
sem perder tempo, voltaram a jogar bola". (Italo da Silva, 21.06.2012)
Caetano Veloso – É Proibido Proibir (s/d):
Ladrões...
Havia um país onde todos eram ladrões / À noite, cada cidadão saía para arrombar a
casa do vizinho / Ao voltar, carregados, encontravam a sua casa roubada / E
assim todos viviam em paz e sem prejuízo / Um roubava o outro / E este, um
terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o
primeiro / Não
se sabe bem como / Ocorre que no país / Apareceu um homem honesto / À noite,
em vez de sair com o saco e a lanterna / Ficava em casa, fumando e lendo
romances / Vinham os ladrões, viam a luz acesa e não subiam / Isso durou algum
tempo / Até que convenceram o homem honesto que / Se quisesse / Viver sem fazer
nada demais / Não era essa boa razão para não deixar os outros fazerem / Cada
noite que ele passava em casa / Era uma família que não comia no dia seguinte /
Sem argumentos / O homem começou a sair de noite, voltando de madrugada / Mas
não ia roubar / Era honesto, não havia nada a fazer / Ia até a ponte olhar a
água passar / Voltava pra casa, e a encontrava roubada / Em uma semana o homem honesto ficou sem um
tostão / Sem comida / Com a casa vazia / Mas até aí tudo bem, era
culpa sua / Mas seu comportamento criou uma grande confusão / Lhe roubavam tudo
/ E ele não roubava ninguém / Algum ladrão voltava pra casa e a achava intacta
/ Exatamente a casa que o homem honesto deveria ter roubado / O fato é que,
pouco depois, os que não eram roubados acabaram ficando mais ricos / Não
querendo mais roubar / E os que vinham roubar a casa do homem honesto / Sempre
a encontravam vazia / Assim, ficavam mais pobres / E os que enricaram pegaram o
costume, eles também, de ir à noite ver a água do rio / Isso só fez aumentar a
confusão / Pois muitos outros ficaram ricos / E muitos outros ficaram pobres /
Os ricos entenderam que indo até a ponte / Mais tarde ficariam pobres / E
pensaram: “Contratemos
os pobres para irem roubar por nós” / Definiram salários, comissões
/ Como eram ladrões / Procuravam enganar-se uns aos outros / Mas, como
acontece, os ricos tornavam-se cada vez mais ricos / E os pobres cada vez mais
pobres / Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e mandavam roubar
os pobres para continuarem ricos / Mas se parassem de roubar, eram roubados
pelos pobres / Então
pagaram aos mais pobres dos pobres para defenderem as suas coisas /
Contra outros pobres / Assim criaram a polícia e ergueram prisões /
Poucos anos após o episódio do homem honesto / Não se falava mais em roubar ou
ser roubado / Mas só de ricos e pobres / E no entanto todos continuavam a ser pobres.
/ Honesto só tinha
havido aquele sujeito, e morrera logo, de fome. (Albani Calvino, 21.06.2012)
Leonard Cohen – Suzanne (1970): E
Jesus era um marinheiro / Quando andou sobre a água / Ele ficou muito tempo
apenas observando / De sua solitária torre de madeira / E quando soube com
certeza (que) / Apenas os afogados podiam enxergá-lo / Ele disse "Então
todos os homens serão marinheiros / Até o mar libertá-los".
Os
Livros Mais Vendidos da Semana (De acordo com a Revista Olhe)
Ficção
1º - Cavalgando
o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - Querido
João (Nicolas Fagulhas);
3º - O
Filho da Mãe (Rique Raiordan);
4º - A
Guerra dos Tontos (Jorge Martin Pescador);
5º - Jogos
Sem-Graça (Suzana Colos e todo o Campeonato Brasileiro).
Wilco – Born Alone (2011):
Não-Ficção
1º - Cavalgando
o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - Para
sempre, mas só enquanto durar (Bilharda e Críquete Carpinteiros);
3º - Guia
Politicamente Incorreto de Gravataí e Cachoeirinha (Leonardo
Moloch);
4º - Estevão
Empregos. Uma biografia. (Válter Isaquisson);
5º - A
cozinha morosa de Anne Marie Bragui-Lhá (Anne Marie Bragui-Lhá).
Autoajuda
e esoterismo
1º - Cavalgando
o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - H. Pinho.
O amiguinho fiel (Padre Marcos Vermelho);
3º - Desperte
o pobretão que há em você (Marcos Feiticeiro Martin Pescador);
4º - O
sábio druida e o C.E.O (Tiago Caçador);
5º - Nietzsche
para Bobocas (Alain Delon).
Echo and the Bunnymen – The Killing Moon
(1984):
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