Antônio
Berni (1905 a 1981),
Juanito Laguna
Livro
XVI / Contos Pra Cantar / Estudar sobre a política / p. 79
RECEITA
PRA SE FAZER MÃO DE OBRA BARATA
(C.
A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Esta
não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta
não é a receita pra se fazer um herói
Esta
é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra
se fazer baratas baratas
Pegue
uma menina aos 15 e acrescente um rapaz sedutor
Coloque-os
na escola e mexa bem
De
molho vai a periferia e um pai violento
Mais
uma Dona Maria e a televisão
Esta
não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta
não é a receita pra se fazer um herói
Esta
é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra
se fazer baratas baratas
Cozinhe
nove meses e terás um pequeno aperitivo que
Chora
e mama e chama “Mamãe”
Repita
o procedimento 4, 5, 6 vezes
E
o banquete começa a ser servido
Esta
não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta
não é a receita pra se fazer um herói
Esta
é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra
se fazer baratas baratas
O
rapaz sedutor virou uma mera assombração
E
a menina bonita, farrapo humano
Sua
avó traz do campo mil santos e uma fé sem igual
E
também vai pra Igreja pentecostal
Só
não entende que o amor é um doce veneno
E
o sexo é bom
Mas
já não tem mais escola com um filho nas mãos
Esta
não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta
não é a receita pra se fazer um herói
Esta
é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra
se fazer baratas baratas
Filhos
acolhidos, adotados, criados pela rua madrasta
Onde
a liberdade é uma cela sem grades
Carol
leve a sina da mãe na sua barriga
Carregando,
em breve, um novo Dudu
Mas
já não tem mais escola com um filho nas mãos
Mão-de-obra
barata
Baratas
e ratos
Esta
não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta
não é a receita pra se fazer um herói
Esta
é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra
se fazer baratas baratas
E
o Dudu vai pra obra erguer Shopping Center
E
o Dudu vai montar carro pra multinacional
E
o Dudu vai limpar a sola suja do sapato de algum advogado
E
o Dudu rouba a velha no centro
E
o Dudu vai em cana
É
o Brasil que devora seus filhos e cospe no prato
(Gravada
em Julho de 2015 no Laboratório de Sons do Vento, escrita
originalmente em 2010)
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