DESPETALADA
ROSA
(C.
A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Eu
vi a rainha da bateria da escola de samba
E
vi o cigano bailando e tocando tambor
Eu
vi a criança que fazia castelos na areia
E
a alegria estampada no rosto do menino que
salvava
o
seu
chinelo do mar
Eu
vi um pescador que pescava seus próprios pensamentos
E
vi dois amantes idosos lentamente a caminhar
Eu
vi o burguês que exibia seus inúteis talentos
E
vi o vira-lata sarnento deixando
seus
rastros na areia
Eu
vi a despetalada rosa oferecida à Iemanjá
E
vi a garrafa vazia de cerveja jogada na praia
Eu
vi conchas brancas que suplicavam teu nome
E
vi senhoras discursando sobre homens
na
mesa do bar
Alcancei
acalantos e cigarros ao pobre servo
E
vi tristes traves vazias da goleira onde costumávamos brincar
Senti
a tua doce presença na brisa que tocou em meus lábios
E
me disse que esse mês de janeiro só
restava agora
em
nossos corações
*
Livro II – Saudade duma
coisa saudosa, “Contos Pra Cantar”, p. 13.
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