sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

#9 NHEENGATU (viva o povo brasileiro)


PLAYLIST DO LIVRO
CONTOS PRA CANTAR DO INVENTOR DO VENTO
#9 NHEENGATU (viva o povo brasileiro)


Não sou patriota / Muito menos nacionalista
E não, não me ufano de meu país
Como o conde Afonso Celso fazia em 1900
Agora, não me venham com o / Complexo de vira-latas
Conceito do dramaturgo Nelson Rodrigues
Que pintou depois de 1950
E trata da nossa mania de dizer que
Nada presta por aqui
No lugar, temos que morrer de amores
Pelo que vem de fora:
Europa sobretudo EUA!
Santo de casa não faz milagre
Dirá outro ditado, este, sim, bastante sábio
Me alongo, mas é que veja o ridículo desse complexo
Tem fulano que despreza o Brasil
Porque aqui nunca teve guerra!
Bah! E as guerras da colonização ibérica?
- Atrás de terras, ouro e prata, riquezas tropicais!
E as guerras do Império dos Bragança (1822 a 1889)?
- Atrás de terras, ouro e prata, riquezas tropicais!
E as guerras republicanas (1889 a 2018)?
- Atrás de terras, ouro e prata, riquezas tropicais!
Ou as guerras contra tudo isso?
Dos quilombos aos sem-terra
De Canudos à Constituição de 1988!
Essas guerras plantaram / Infinitas fazendas
Caçando índios / Escravizando africanos por 350 anos
Formando uma herança gloriosa de
Submissão às grandes empresas globais
Superioridade do macho branco
Fanatismo cristão / Militarismo
Ostentação capitalista (Mesmo entre os pobres)
Mas justamente por ser
Especialista em História do Brasil
Não me ufano de nada
Muito menos acho que vivo no pior dos países
Bem capaz!
Penso e vejo / Percevejo
Não falo / Mas não calo: Embaralho!
*
Não trocaria nada desta letrinha de 2005
Escrita na ascensão vigorosa da Era Lula
Ou melhor, trocaria uma palavrinha da estrofe 5:
Iansã, já votei em populista
Agora meu voto é PETISTA
(Agora meu voto é FASCISTA: ficaria em 2018)
Mas amanhã num sei mais”…
P.S.: Dois anos depois de compor NHEENGATU
Achei o livro do João Ubaldo Ribeiro:
VIVA O POVO BRASILEIRO (1984)
E recomendo demais a leitura!
Um voo rasante: emocionante & satírico
Por três séculos de Brasil
Em sucessivas reencarnações Da Fé (De Maria)
Desde o ataque holandês no Nordeste em 1647
(E no Brasil nunca teve guerra…)
Até a Ditadura Militar em 1977
(E no Brasil nunca teve guerra…)
P.S. 2: O que diabos significa NHEENGATU?
Foi a língua-geral ou língua boa
Do Brasil Colônia (até 1750 + ou -)
Mistura da fala tupi dos índios milenares
Com a leitura dos colonizadores europeus
Dessa mesma fala
Depois que desceram das caravelas.
Vuuuuush
*
NHEENGATU
(Viva o povo brasileiro)
c. a. albani da silva, o inventor do vento


Nheengatu, eu não falo inglês
Mal escrevo em português
E o que mais você quer de mim, nego?


Itacolomi, pra que lado fica o norte?
O meu santo é forte
E leio a Bíblia também


Mandinga, não tenho os dentes da frente
Mas reboco paredes
E danço maxixe lá no bailão


Baião, levanto com o sol
Beijo a boca da pequena
E vou pra parada pegar lotação


Iansã, já votei em populista
Agora o meu voto é petista
Mas amanhã já num sei mais


Domingo, tem clássico Grenal
Escuto no meu radinho
Que vem chegando o temporal


Tellevisa, avisa lá a Rede Grobo,
Pra não me fazer de bobo
Com comédia, drama e esporte


Pau-Brasil, se o sonho acabou
É porque o povo adormeceu
Adormeceu e não sonhou
Adormeceu e não sonhou
Adorme... Uaaaaá!
E não sonhou
A-dor-me-ceu e não so-nhou
Zzzzzzzzzzzzzzzzz
Roooooooooooooonc!
*
Voz por Aline Albani
Tambores uruguayos por Alemão
Todo o resto por Eu Mesmo
Lab de Sons do Vento, 2017.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

#8 O PRÍNCIPE SAPO


PLAYLIST DO LIVRO 
CONTOS PRA CANTAR DO INVENTOR DO VENTO
#8 O PRÍNCIPE SAPO

Outra canção
Da safra 2005:
Neste ano dei início
A fuzéu
À minha biblioteca
Hoje ela vai pra mais de 1000 livros
Dentre os primeiros
OS CONTOS DE GRIMM
Jacob e Wilhelm que
Anotaram, reinventaram
Montes de causos
De uma Alemanha que rapidamente
Abandonava o feudalismo rural em 1855
Pra adentrar na indústria urbana capitalista
E as fábulas dos bosques
Envolta de fogões a lenha
Me inspiraram
Sobretudo aquela do príncipe que virou sapo
Só com o amor voltou a ser gente!
Interessante é que nessa época
Entre uma leitura e outra
Das 06h às 07h da madrugada
(Porque o escritório estava vazio)
Eu trabalhava de operador de
Fotocopiadora
Na fábrica de automóveis
Da General Motors
Made In Vruuum Vruuum U.S.A Bi Bi Fon Fon
Só observando os peões descascando ferro
E os burocratas vivendo em outros mundos
Que ainda desconheço
Tudo isso pra pagar a faculdade de História
Com os poucos pilas que entravam.
Em 2006 eu seria demitido
Junto com a máquina colorida de e da xerox
Misturei minhas fábulas dos Irmãos Grimm
Com meus êxodos rurais de Gravataí
Vuuuuush
*******
O PRÍNCIPE SAPO
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

É difícil chegar / a qualquer lugar / sem ter de lutar
É difícil vencer / sem ter de perder pra aprender

Veja a donzela tão distante esperando o beijo do amado
O príncipe encantado / pode ser / eu ou você!

É difícil sonhar / sem ter de acordar / pra trabalhar
É difícil crer / sem poder ver...
Eu ouvi isso em algum lugar!

Veja a donzela tão distante esperando o beijo do amado
O príncipe sapo / pode ser / eu ou você!

(Capítulo V dos “Contos Pra Cantar” - Exigir aumento do patrão)

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

#7 IMORTAL AQUILES


PLAYLIST DO LIVRO
CONTOS PRA CANTAR DO INVENTOR DO VENTO
#7 IMORTAL AQUILES

Canção original de 2005 que
Quase se extraviou no meio do meu cancioneiro
Seu esboço surgiu misturando três coisas:
1) Era pra ser um poema manuscrito
Numa carta dessas feitas à mão e enviadas por correio
(Sim, era só o começo da era do e-mail
Antes da ditadura das redes sociais)
Poema manuscrito dizia eu
Para impressionar uma amiga
Amizade colorida que eu me esforcei
Pra ter mais cores na sua paleta do que teve
2) Foi no auge das minhas pesquisas sobre a obra
Do maior cantador do século XX, o Bob Dylan
Quando eu chegava a tocar todas as músicas do Dylan
Usando sempre os mesmos acordes
(Hoje não toco a sério nenhuma música dele)
[Ah talvez uma que outra do DESIRE, não é Aline Albani?]
Portanto, não podia faltar gaita de boca
Desde a primeira versão de IMORTAL AQUILES
3) A estupidez geral do heroísmo!
Por algum motivo ainda obscuro
Desde que saí da infância
Passei a desconfiar dos heróis
(Na infância eu amava muitos heróis, japoneses, sobretudo)
[Na adolescência, alguns anti-heróis:
roqueiros e gente dos quadrinhos]
Ou melhor, passei a acreditar, depois de bigodudo
Que heróis são realmente aceitáveis
Só na infância!
E gostaria de acrescentar que
Isto para mim não significa nenhum tipo de
Pessimismo!
Na música, cito dois heróis então:
GILGAMESH, o herói mais antigo da humanidade
Cupincha do Enkidu e que
Ao perder o parceiro se meteu a buscar nos confins da terra
O poder da ressurreição
Ou, ao menos, o da imortalidade...
Numa história decifrada nas plaquinhas de barro
Dos antigos iraquianos (babilônios e mesopotâmicos)
[Há 3000 anos]
E AQUILES, que vai já no título da canção
Todo mundo sabe que ele foi O VALENTÃO
Na Guerra de Troia
Teve lá seus atritos com os reis gregos
Mas enfezado pelos troianos terem matado seu amiguxo
Ele trucidou o herói rival, Heitor
No fim, morreu com uma flechada no seu famoso calcanhar
O calcanhar de Aquiles…
Lembro aqui da pensadora Simone Weil (1909 a 1943)
(Muito interessante pensadora cristã)
[Jesus é, há 1000 anos, o maior super-herói de todos]
{Embora bem mais pacífico do que esses dois que canto}
Quem disse (a Simone)
No ensaio “ILÍADA, ou POEMA DA FORÇA”:
Uma das condições da força bruta é
Você receber de volta todo o medo e violência que
Você infligiu aos inimigos
E isso é batata! Não tem escapatória numa guerra…
Qualquer guerra.
Bueno, passado um tempo
Releguei IMORTAL AQUILES ao limbo das canções ruins
Até que em 2012
No meio da gravação do álbum do CoV
O velho escudeiro Mick Oliveira
Foi lá futricar no baú de sons e veio dizer
Carlitos, essa música é tri”.
Reescrevi assim, a pedidos, o tema
Preservando os versos básicos
E reinventando totalmente o refrão
Claro, devolvi a gentileza sugerindo que
Ele cantasse a música
Arqueólogo do Vento que se mostrou
Mais de uma vez
Competente.
Vuuuuush
-----
IMORTAL AQUILES
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Foi um dia tão difícil, amor
Parecia não passar
Mas como tudo, na vida,
Passou

Foi um dia tão tristonho, amor
Só restava chorar
Mas não se faz chuva com as lágrimas
De um só

Foi um dia tão comum, amor
Pra quem não pode se ocupar
E ver o que tinha nele
De diferente

Foi um dia tão comum, no ar
O teu perfume a me embriagar
E você tão
Indiferente

Hoje foi um dia tão comum
Como qualquer dos outros dias
Hoje foi um dia tão comum
Como um dia qualquer que ainda não teve

Você vai ter que me desculpar, amor
Por tudo aquilo que eu não pude ser
E você tanto
Queria

Há alguma coisa a me incomodar
Há tanta gente em tanto lugar
Mas as casas estão todas
Vazias

O velho homem a desvanecer
E a amante que não pude ter
Dançam nesta mesma e irônica
Melodia

O amor padece deste mesmo mal
Oh! Aquiles fora imortal
Somente enquanto
Ele vivia

Hoje foi um dia tão comum...

Você vai ter que me desculpar, amor
Por tudo aquilo que eu não pude ser
E você tanto
Insistia

Há muita coisa a nos incomodar
Pouca mente em nenhum lugar:
As cabeças estão todas
Vazias

O jovem homem a adormecer
E a amante que vai me conhecer
Dançam nesta mesma e irônica
Sinfonia
O amor padece deste mesmo mal:
Gilgamesh fora imortal
Somente enquanto
Ele sorria
(Capítulo IV do livro CONTOS pra CANTAR – Tomar um gol no futebol)