Me
faltavam dólares, mulheres, drogas e empresários corruptos
Mas
eu tinha 3 amigos mais roqueiros do que eu ao lado
Uma
gaita de boca emprestada do avô deles
Uma
guitarra elétrica sempre meio desafinada
(Que
me foi roubada!)
Uma
mente cheia de bobagens
A
voz pronta para o grito primal da ADOLESCÊNCIA.
Ouça
esta composição que fiz pra banda Madame Satã, gravada do jeito
que deu, ao vivo, em um ensaio de 2001, em Gravataó/RS. No baixo o
Tiagão, na guita o Mick, na batera o Alemão.
OS
OLHOS NÃO MENTEM: Mais um pouco e você se vai / Mais um pouco e nós
iremos / Assim como os anjos do Inferno / Nós estamos envoltos num
mesmo terno / Pois se você é a minha vida / Sem você eu preciso de
uma bebida / Você me deixou numa estação de trem / Só eu e minha
gaita e mais ninguém / Você me trocou por um cara rico e bonito /
Dinheiro, luxúria e algumas joias / Eu fico com meus jeans rasgados
/ E você com seus carros importados / Eu não tenho uma amante na
cama / Mas eu tenho paz de espírito / Você tem todas essas suas
joias / Mas não tem o mesmo brilho no olhar...
Assim
eram as tardes de verão numa segunda-feira de 2002 em que Madame
Satã refrescava o calorão ficando só de sutiã, enquanto
desenvolvia estudos no campo da linguística aplicada e se confundia
entre tantos amores na COHAB de Gravataó/RS.
Banda
Madame Satã:
Carlos Casara, o Adriano: Voz, guitarra, letra e
música
Mick Oliveira: Guitarra solo
Tiagão Oliveira:
Baixo
Alemão Cristiano: Bateria
Fotografia de 2004, em
Guaíba.
Áudio de 2002, em Gravataó/RS.
O
“Blues do Cachorro Magro” surgiu às 2h15 da madrugada, num verão
da Praia de Baunilha, flutuando nos Ares dos Mares do RS, bem
provavelmente, fevereiro de 2002. A Mamica dormia o sono dos justos
no quarto ao lado e o Inventor do Vento dava seus primeiros mergulhos
nas ideias da Modernidade, sentado com o violão e livros na mesa da
cozinha.
Esse
blues canta de uma maneira impressionista (coisas da razão juvenil,
evidentemente) e embaralha conceitos revolucionários para um
nascente coração entre o anarquismo e o comunismo.
No
mínimo, um coração simpatizante das promessas dos Iluministas que
inventaram, no século XVIII, a maior de todas as invenções humanas
que é o sonho utópico da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade.
O
embalo da canção foi num blues roqueiro mesmo, pois afinal, a
rebeldia irreverente e romântica do rock tal qual a negritude do
blues um dia fizeram o mundo dançar e isto, por um lado, deu que o
sistema capitalista também devorou todas as guitarras, gritos,
tambores e piadas roqueiras cuspindo mais uma nova praga-mercadoria
(a música pop), envelhecendo, talvez precocemente, essa manifestação
musical; por outro lado, porém, o rock - filho do blues das
encruzilhadas - despertou lá algumas consciências-cacholas mundo
afora, semeando fagulhas críticas & pensativas…
O
“Blues do Cachorro Magro” foi parar, em 2016, no capítulo XI dos
“Contos Pra Cantar”, páginas 54 e 55.
Oh
yeaaaaah!
O
BLUES DO CACHORRO MAGRO
(C.
A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Nada
de políticos, nada de tribunais
Nada
de polícia, finanças ou capitais
Não
importa se você é ateu ou é cristão
Não
importa se você é um profeta ou um cagalhão
Não
importa a sua cor, a sua dor, o seu nome
Chega
de barreiras, chega de fronteiras, arrã!
A
lei é uma só, só existe uma lei
O
mundo é da gente e não pertence a nenhum rei
Não
importa se você é hétero ou é gay
Faça
a sua vontade e que a vontade faça o bem, arrã!
Reze
para deus, reze para mim
Só
não fique aí parado esperando que o mato cresça
Um
tempo de mudança está solto no ar
Então
é bom que a gente comece a pensar
Pense
um pouco, um pouco diferente
E
veja que o mundo, o mundo é da gente
Esqueça
a tevê, esqueça o jornal
E
veja as estrelas lá no alto a brilhar! IéIé!
Preste
atençãoà
voz do coração
E
veja se você érealmente
o patrão
Preste
atenção eolhe
muito bem
Qual
é o seu direito de querer mandar em alguém?
Sem
essa de clonagem
Já
basta sermos um
Pra
que viver pra sempre sem chegar a lugar algum?
O
homem mal sabe viver uma vida só
Imagine
a eternidade, ah, tenha dó!
-
O Homem é um bicho tão esquisito! Tá sempre procurando por
respostas, mas não sabe nem por onde começar as perguntas! –
Mãe
Nana falou: “Num é assim
um Rolling Stone, mai mininu, tu já inventô bocadinhu de blues desde piá. E
bem que ocê pudia bolá uma pleilista ae no youtúbio pra módi nóis se adiverti um
poko nesses dia tão infame que ocorre”.
Sempre obedecendo aos caprichos de Mãe Nana, escolhi 07
blues numa retrospectiva artesanal, que começa lá na banda Madame Satã, quando
este cantador nem sabia aparar os bigodes, vai até a dupla lunática Barata
Atômica & Formiga Nuclear, chegando aos atualmentes do Cavalgando o Vento
(CoV).
*(Notas por Prof. Linduarte Cantor)
Sukie Jones:
O adolescente deve de ser um primitivo, expressionando-se, por vezes, no
gritedo das suas músicas. Foi assim com a ópera-rock “Pornô Cor de Rosa”, da
banda Madame Satã, em 2002.
Pelos cinco mil
alto-falantes: Garota, rua, uísque e violão: os segredos de um bom blues,
existencialista. 2004.
O blues do cachorro magro:
O anarquismo é a última salva-guarda da utopia. 2004.
Só quem me ama é a minha
mãe: Uma homenagem da banda Madame Satã, Gravataí/RS, em 2004, a
uma das mães do blues: Alberta Hunter
(1895 a 1984).
Vocês vão ter que me aturar:
Existem por aí muitos tricksters:
Hermes no lombo do vento grego; Exu Legba mamando nas tetas da Mãe África; a
Lebre e a aranha Anansi na savana dos leões depois que passa o Saara; o Rei
Macaco voador de nuvens nas montanhas da China antiga; Tanuki, o guaxinim por
dentro da túnica das gueixas japonesas; o Corvo, o Coiote procurados sem
recompensa no velho Oeste pelo gaudério Pedro Malasartes. 2004.
Nana (Blues): Mãe Nana é a que teve 140 filhos e determinou o
destino de cada um deles quando que os ia parindo ao som do blues do samba e do
brega, suas paixões de toda uma vida, bem comprida, aliás. 2011.
História do
Bugio na Selva de Pedra: Registro ao vivoem festival de
cantadores que caminham sobre as águas e rolam no lodo dos
rios Mississipi, Gravatahy e Guayba: Canções que nascem do barro. 2016.