terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Férias I


Craig ThompsonDodola Sfayi, 2011            
                                        
POSTAGEM DE FÉRIAS I
Leitoras e leitores do Vento,

durante as férias escolares, o blog será abastecido mensalmente. A partir de 25/02 retomamos nossos Ventiladores musicais e literários toda semana. 
Que venha 2013 e seu Inferno geral!!!!!!

Amores de praia não sobem a serra?
Começamos o ano fazendo esta pergunta a Cecília Meireles (1901-1964) que nos respondeu com três poemas e meio:

1)   Beira-Mar
(Cecília Meireles, do livro “Mar Absoluto e outros poemas, 1945)

Sou moradora das areias,
de altas espumas: os navios
passam pelas minhas janelas
como o sangue nas minhas veias,
como os peixinhos nos rios...

Não têm velas e têm velas;
e o mar tem e não tem sereias;
e eu navego e estou parada,
vejo mundos e estou cega,
porque isto é mal de família,
ser de areia, de água, de ilha...
E até sem barco navega
quem para o mar foi fadada.

Deus te proteja, Cecília,
que tudo é mar – e mais nada.

Júnio BarretoSetembro (2011): Um corpo que luava ouro, num Jardim Elétrico. Pena que era setembro, primavera, e não verão... Em Pernambuco é sempre verão.

Devendra BanhartBaby (2010): Conhecer por dentro o seu amor.

Karina BuhrNão me ame tanto (2011): Isto deveria estar estampado na testa de cada mulher por que nos apaixonamos...
  

2)  Sobre as muralhas do mar
(Cecília Meireles, do livro “Poemas de Viagens, 1940 a 1964)

Sobre as muralhas do mar
conversaremos.

Sobre as muralhas do mar, entre areias,
Espumas, colunas,
o que passa e o que perdura.
Conversaremos.
Conversaremos de um tempo
que imaginamos.
Que não houve: azuis e verdes
caminhos, destinos, glórias.

Conversaremos.

Os muros do mar são altos.
E esquecemos.
E as perguntas ficam intactas,
não mudadas em respostas.

Como é o som das palavras sobre as ondas?
E um riso de asas, de brisas
de uma alegria selvagem escutaremos.
No longínquo mar das almas.

Não conversaremos.
Los Angeles, 1959
Céu – Retrovisor (2012): Caravana Sereia Bloom.

Bárbara Eugênia O Tempo (2011): Motivos escondidos no coração. Coisas tolas e perdidas. Viver tanto tempo, desilusão. Já não ser mais o menino. Mas o tempo é um amigo precioso que fica sempre observando aquele instante em que alguém tentou se aproximar.



Devendra BanhartFür Hildegard von Bingen (2013): Para Hildegard von Bingen. Mas poderia ser para Juliana da Silva. Janaína de Souza. Mariana Müller etc etc.
 

3)  19
(Cecília Meireles, do livro “Morena, pena de amor, 1939)

Por todos os lados,
o mar me rodeia;
me deixa recados
escritos na areia.

Das águas sou filha:
nasci de um beijo de espuma
em redor de alguma
silenciosa ilha.

Maravilha, maravilha
da espuma em pedra serena:
a água nos meus olhos brilha,
da pedra é que sou morena.

3.5)  20
(Não me digas nada:
deixa-me cantar.
Aprendi minha toada
no fundo do mar.)

Karina BuhrNassiria e Najaf (2010): 
Canção de ninar em tempos de guerra. Qualquer guerra: do Iraque, dos Farrapos, com a ex-namorada, com o patrão, com Deus, com os pais, consigo mesmo, com o cachorro que mijou todo tênis tênis todo...

 Céu Lenda (2008): Também vale para as princesas, Maria do Céu?


Estranhas histórias de amor – alimentadas pelo verão?

Habibi” (2011) – de Craig Thompson
(Resumo albanesco da graphic novel)

Aqui trecho de “Habibi” em .pdf.

               Em uma Arábia simultaneamente moderna e medieval / Dodola, uma criança de 09 anos / É vendida pelos pais em tempos de seca / Quem lhe compra / Também lhe desposa / Sendo o homem um escriba / Que lhe ensina as letras / Após três anos / O escriba-marido é assassinado / Dodola é roubada pelos criminosos / Ela tinha então 12 anos / Consegue fugir do cativeiro imposto pelos ladrões / Levando consigo um menino / Negro / Órfão / De 3 aninhos – Cam / Rebatizado por Dodola como Zam / Mas também chamado Habibi (meu amor) / É que o menino / Encontrou fonte de água / Assim como Ismael / Na Bíblia e no Corão / Em pleno deserto / Onde ele e Dodola moravam, dentro dum barco encalhado / Em leito de rio que secou / Distantes da Civilização.
         Viveram os dois, por sete anos / Como irmãos / Como mãe e filho / Como amigos – ele seguia buscando água / Ela trocando os encantos de seu corpo / Por alimentos / Com as caravanas de comerciantes que pelo deserto passavam / Habibi não sabia disso...
         Dodola alfabetizou Habibi / Em árabe / Contava-lhe histórias / Bíblicas e do Corão / Para fazê-lo dormir; para se aproximar; para estimular sua imaginação; para distraí-lo da fome; para incentivá-lo a ajudar em casa; para ensinar lições de moral; para mostrar que a vida é mais complexa do que as lições de moral levam a crer; para distraí-lo dos estudos; e ainda versões mal-disfarçadas da sua própria vida / Zam se acalmava com as histórias.
         Quando ele tinha 12 anos / E ela 21 / Separaram-se.
         Habibi se apaixonava por Dodola / Mas quem não se apaixonaria, Craig Thompson? / Quando descobriu que ela se prostituía / E ainda por cima / Havia sido estuprada / Fugiu Habibi / Desesperançada em encontrá-lo / Dodola, perdida mundo afora / Foi aprisionada / Pelo sultão / Sendo levada / Ao seu harém / Enquanto tentava lhe agradar por / 70 noites / Com a promessa de liberdade / Se assim o fizesse.
         Habibi / Gurizão / Desamparado na cidade / Entrega-se a uma seita / Mendicante / De eunucos - castrando-se, obviamente.
         Dodola engravida do sultão / É maltratada por ele / Enquanto isso / Habibi também acaba levado ao palácio do rei / Como um servo / O casal / Finalmente / Reencontra-se / Foge do castelo /  Abrigando-se em uma favela / Na casa de um pescador / Enlouquecido pela poluição / Dodola sobrevive à fuga por um triz.
         Parte o casal / Ao Dodola se recuperar / E fazem moradia / Então / Num prédio abandonado / Zam arruma emprego / Na barragem de Vanatólia / Propriedade de quem? / De quem? / Hein? / Do sultão / Mas isso já não tem mais importância na história / O que importa é como completar o amor entre Dodola e Habibi / Agora que ele era estéril / E Dodola queria ser mãe / Seu filho com o sultão morreu bebê / E Habibi, outrora filho adotivo, é, na verdade, seu grande amor...
         Zam/Habibi tenta o suicídio.
         Mas a saudade de Dodola lhe acossa antes mesmo da pena capital / Os dois ficam juntos em definitivo / E adotam / Um pequeno rapaz / Vendido numa feira de escravos / Para ser-lhes / O filho / Que o destino assim quis.

Karina BuhrCara Palavra (2011): 
Mais uma em clima muçulmano; trilha sonora para ler “Habibi”.