quinta-feira, 27 de junho de 2019

MAKINANDO o MAKINÉ



A HORA e a VEZ de GUIMARÃES ROSA

Acordei com a matraca na frente de casa embarulhando tudo. E não era vendedor de casquinha. Foi a hora e a vez do nhô Augusto Matraga que se achegou para ouvir a minha nova composição: MAKINANDO o MAKINÉ, escrita no janeiro de 2019. Estive nas cascatas do Garapiá e da Forqueta naquele verão. Ou em uma das duas, sei mais não. Nem me alembro em qual. Nessa impossibilidade de viajar até Cordisburgo, no sertão das Minas Gerais, e conhecer, em pessoa, com os olhos da cara, a Gruta do Maquiné que tem lá, me contentei em ver a água cair nas grutas furadas de goteiras (que é o significado de MAKINÉ em tupi-guarani) aqui mesmo no grande Rio Grande do Sul.

Augusto Matraga veio ouvir minha composição, gravada com viola caipira, contrabaixo, pandeiro e criatividade no Laboratório de Sons do Vento, conforme segue abaixo o áudio (ou acima, só depende do ponto de vista do leitor) a mando de um Bruxo chamado JOÃO GUIMARÃES ROSA (1908-1967).

Em 1930, num jornal carioca simplesmente O JORNAL, Guimarães floresceu uma mirabolante história de heróis, espadas e magia. Um grupo de aventureiros FENÍCIOS, com seus barcos a remo, forrados de escravos caldeus, egípcios e israelitas, chegou ao Brasil nos Antigamentes da Antiguidade para brigar com os índios TUPINAMBÁS locais que protegiam as riquezas e tesouros de uma gruta encantada do Maquiné. Eu é que fiquei encantado com esse conto maluco e compus então a nova canção ventosa: MAKINANDO o MAKINÉ.

Compartilho a canção e essa leitura rosiana em meio às FESTAS JUNINAS que, enquanto acendem às suas fogueias para espantar o frio do inverno em suas longas noites, celebram também a vida rural brasileira com seus santos bíblicos (São João Batista – em 24/06, São Pedro Apóstolo – em 29/06) e seus santos medievais (Santo Antônio de Lisboa – em 13/06) trazidos nos barcos não os dos fenícios, mas pelos barcos da fúria religiosa e da ganância capitalista dos colonizadores europeus de 1500.

João Rosa foi, na opinião do fazendeiro Nhô Augusto Matraga que, antes de me visitar, renunciou ao seu poder de ter terras, gados e gentes após sofrer algumas humilhações na vida (depois de tanto humilhar os outros, porém), dizia eu que o Matraga me disse que o maior autor brasileiro a fazer a ficção da vida rurar nos sertões do país foi o Rosa João esse.

Estudioso das línguas do mundo (Rosa lia e falava umas 10, entre as línguas derivadas do latim romano até as línguas germânicas e eslavas da Europa). Além disso, ele fez bruxaria com a fala e o cantar caipira dos caboclos do rio Urucuia, região sertaneja onde Rosa nasceu. O cara era autêntico gostador de inventar palavras e verdadeiro apanhador de nomes pelo mundo.

Formado em médico, filho do dono do armazém local, que era chamado Seu Fulô que era casado com Sua Chiquitinha, Rosa exerceu a profissão de curador de doenças por uns quatro anos, no lombo do seu cavalo pelo sertão campo geral. Anos poucos mas suficientes para aprender o aprendido que expressou em seus livros sobre o sertão.

Bateu perna pelo cosmos global como diplomata em Hamburgo na Alemanha, em Paris na França e em Bogotá na Colômbia. Foi secretário de um dos políticos mais poderosos da Era Getúlio Vargas, o ministro gaúcho criado a leite de vacas da Cachoeira do Sul: JOÃO NEVES da FONTOURA (1887-1963). Aliás, o discurso de posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras é um fascinante texto em homenagem ao falecido amigo. Tão denso, íntimo, biográfico e poético, que, três dias depois, o imortal João Rosa morreu também.

João Rosa, além do conto MAKINÉ, escreveu um ousado (mas menosprezado) livro de poemas em 1936. O livro se chamou MAGMA e os originais foram premiados em concurso literário, mas sendo lançado só postumamente, por desdém, em vida, do autor. Lá se encontram um arco-íris de poemas (chamados VERMELHO, ALARANJADO, AMARELO, VERDE, AZUL, ANIL e ROXO).Talvez porque esses poemas levantem suspeitas de ambiguidade sexual nos machos machões de plantão como quando o jagunço RIOBALDO, em pleno sertão sertanejo, se apaixonou por outro pistola pistoleiro, o DIADORIM, em GRANDE SERTÃO: VEREDAS (1956).

Porém, todo mundo considera seu primeiro grande livro o SAGARANA de 1946. Depois o clássico CORPO de BAILE (1956) e o resto não é resto é quase Prêmio Nobel (só não foi porque Guimarães Rosa se foi assim num piscar de olhos e do nada).

A terra natal de Rosa, o arraial de Cordisburgo, era lugar de passagem de muitos boiadeiros que tangem o boi enquanto gemem ABOIOS. E o boteco do pai era um centro de reunião de muitos contadores de causos e cantadores acompanhados de viola. O próprio João Rosa subiu no lombo do pangaré e, em 1952, acompanhou os vaqueiros da fazenda de um primo, desde as margens do rio São Francisco até o sertão profundo.

Assim como, dois vaqueiros e contadores de histórias famosos da sua cidade foram parar em seus livros: MANUELZÃO e JOCA BANANEIRA.

Em 1938, João Rosa saiu do Brasil para diplomatar. Entretido com os negócios da diplomacia internacional, ele precisava se vestir de aristocracia com terno, gravata, inté cartola. Aderiu à gravata borboleta porque assim não precisava dar nó. Boa maneira que João Rosa inventou para desatar os nós da vida: não atá-los.

Como um estudioso escreveu: os personagens de Rosa formam suas personalidades quando se confrontam ou são acuados pelo AMOR, pela DOENÇA, pela MORTE, por VINGANÇA. Acho que foi isso que Paulo Rónai escreveu num prefácio para a editora José Olympio. Se não foi, corra atrás e leia com seus próprios olhos, menina.

Ah! E como a ordem e a desordem andam sempre do mesmo lado, Nhô Augusto Matraga veio me acordar matraqueando e acompanhado do assassino profissional Joãozinho Bem-Bem. Mostrou suas armas, o Joãozinho. Não tive medo. Só tive pena. Mas ele não me fez mal. Ouviu a nossa conversa e a tudo calado, pensando em suas vinganças sanguinolentas, creio eu.

Ou pensava que João Rosa fazia aniversário em 27/06, vai saber. Mais um canceriano sob o signo da constelação do Caranguejo era esse João Guimarães Rosa, o Bruxo sertanejo.
Vuuuush
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)


MAKINANDO o MAKINÉ
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

*Para João Guimarães Rosa, 1908 a 1967

Ele sabe bem o que quer:
Com a cabeça em Makiné
Na cobiça dos verdes diamantes
Dos vermelhos tupinambás
Sua galera do oriente fenício
Remou e alcançou o além-mar

Ele sabe bem o que quer:
Com a cabeça em Makiné
É a história de Kartpheq, o feiticeiro
Rabiscada em papiro brejeiro
Que o João Rosa canta
Conto de israelitas, egípcios, escravos caldeus
Adoradores do deus Baal-Jeová

Ele sabe bem o que quer:
Com a cabeça em Makiné
O velho escriba com sangue inocente
Escreveu um desejo indecente
De só ganhar e ganhar
Mas havia outros vícios tinhosos
No calor dos tristes trópicos antes do português chegar

É a fé é que move as montanhas
E o dinheiro as compra e vende
Só o amor derruba as cavernas
Das pedras de Sumé
Dentro do peito da gente

sexta-feira, 21 de junho de 2019

180 anos de Machado de Assis



180 anos de Machado de Assis

E o solstício do INVERNO brasileiro trouxe o escritor MACHADO de ASSIS ao universo. O Bruxo do Cosme Velho nasceu em 21 de junho de 1839 e é o nosso maior escritor. Mas, na sua época, sendo que ele faleceu onde sempre viveu, no Rio de Janeiro, em 1908, muita gente achava que lhe faltava NACIONALISMO nos livros! Em 1888 o professor SÍLVIO ROMERO (1851-1914) lhe sentou o sarrafo literário por causa disso. Em 1908, o mesmo Sílvio acabou se retratando…


Machado foi filho de um pintor de paredes negro com uma lavadeira que era imigrante portuguesa. Mas foi criado mesmo por uma madrasta doceira no Morro do Livramento, RJ. Já a madrinha que não era doceira, mas patroa dos pais, foi quem se casou com um brigadeiro (das forças armadas).


Começou no mundo das letras de mansinho, estudando a língua francesa com Madame Gallot e seu esposo, um padeiro. Depois seu grande mestre foi o mulato Francisco de PAULA BRITO (1809-1861) que foi empregado da Livraria Plancher e, em 1851, fundou sua própria livraria e editora carioca. Dali, o jovem Machado foi parar na Tipografia Nacional. Quando um alcaguete dedurou que Machado fazia corpo mole para ficar lendo no serviço, o chefe deles na gráfica, o escritor MANUEL ANTÔNIO de ALMEIDA (1830-1861) ficou doido de faceiro e incentivou os escritos do Machado.


Metido em livros e editoras, Machado aprendeu o latim, a mãe de todas as grandes línguas modernas (português, espanhol, francês, italiano e um pouco do inglês) com o padre SILVEIRA SARMENTO (quando morreu e nasceu, não descobri). Além disso, entrou para um coletivo de autores chamado IRMÃOS PETALÓGICOS ao lado de gente como JOSÉ de ALENCAR (1829-1877) - o grande autor do século XIX brasileiro; JOAQUIM MANUEL de MACEDO (1820-1882): primeiro autor a lançar um livro de grande sucesso de vendagens no país - A MORENINHA (1844); o poeta romântico CASIMIRO de ABREU (1839-1860); o pintor e poeta gaúcho Manuel de ARAÚJO PORTO-ALEGRE (1806-1879). Todos estavam reunidos para estudar a mentira, o causo, a lorota, nessa sociedade.


Escreveu crônicas para jornal, ensaios, peças de teatro, até chegar ao primeiro livro de poemas CRISÁLIDAS (1864). Com menos de 30 anos, recebeu o ainda mais precoce poeta baiano CASTRO ALVES (1847-1871), no RJ, como um mestre recebe ao seu aprendiz de feiticeiro.


Machado se engraçou com a irmã do poeta português FAUSTINO XAVIER de NOVAIS (1820-1869), começando assim seu longo casamento com a sempre primeira leitora de seus romances: DONA CAROLINA. Outros irmãos de Carolina, encharcados de racismo, não gostaram da mana portuguesa e encalhada (tinha mais de 30 anos quando casou e era cinco anos mais velha que Machado) casando com um escritor negro com crises de gagueira e epilepsia.


Mas, como sabemos, o que é proibido fica ainda melhor e os dois se casaram, a gosto ou a contragosto da família da noiva, em 1869. Curiosamente, Machado, que escreveu centenas de cartas a tanta gente importante, como MÁRIO de ALENCAR (1872-1925), filho do José e último discípulo de Machado, ou mesmo a JOAQUIM NABUCO (1849-1910), uma das grandes cabeças da ABOLIÇÃO da ESCRAVIDÃO (1888), pois bem, das cartas de Machado com a esposa, só restaram duas! Todas as outras Machado mandou queimar pouco antes de morrer, já viúvo.


Pela poderosa LIVRARIA GARNIER do RJ, ele lançou o seu primeiro romance: RESSURREIÇÃO (1872). Como outros tantos gênios, Machado não conseguia pagar as contas com sua arte, e foi do Ministério da Agricultura da onde veio o salário para o pão e o leite e o resto era imaginação.


Escreveu mais de 200 contos, mas foi em 1881 que pintou seu primeiro clássico: MEMÓRIAS PÓSTUMAS de BRÁS CUBAS. A mediocridade de um malandro classe média; a mesquinharia das ambições de quem sonha em ser da elite social; a estupidez da elite social brasileira. É disso que trata o livro numa conversa entre Brás Cubas, morto, e seus vermes no caixão.


No mesmo ano, escreveu uma peça sobre os 300 anos da morte do poeta português LUÍS de CAMÕES (1524-1580).


Em 1899, aparecem os “olhos de ressaca” de Maria CAPITU, a mais famosa personagem dos livros brasileiros. Traiu com o amigo Escobar ou não traiu o seu amor de infância Bentinho, depois de velho, chamado DOM CASMURRO, como o mesmo nome do livro que ele protagoniza? Eu acho que não e você?


Em 1897, com o pessoal da REVISTA BRASILEIRA, entre eles JOSÉ VERÍSSIMO (1857-1916) e JOSÉ do PATROCÍNIO (1853-1905), Machado fundou e liderou, por anos, a Academia Brasileira de Letras (ABL) que bem poderia ser também a academia dos Zé e dos Joaquim… A depender do nome de seus mentores!


Sem Dona Carolina, que faleceu em 1904, por medicamentos errados que lhe receitaram na farmácia (tomou veneno, praticamente), Machado lançou os últimos livros: ESAÚ e JACÓ e MEMORIAL de AIRES. Em 1908 ele se apagou, moído pelo tempo, mas graúdo pela ficção.


Retratou a indignidade da escravidão e sua herança macabra: pobres contra pobres (leia o conto “PAI contra MÃE” pra ver o que é uma história de terror). Como já dito, a mediocridade da burguesia nacional: em BRÁS CUBAS, QUINCAS BORBA (1891) e mesmo DOM CASMURRO com a vileza machista do Casmurro narrador.


Machado tratou assim da modernidade torta e colonizada dos países colonizados. Tratou dos sentimentos humanos no meio disso tudo. Do amargo ciúme à melancolia elegante.


Curiosamente um dos primeiros caras a ler o Machado como gênio e gênio do HUMOR foi o autor gaúcho ALCIDES MAYA (1878-1944): “Era um humorista. Impressionara-o a cultura das grandes nações; adquirira uma concepção geral do mundo, da vida e da história; ocidentalizara o seu gênio”.


P.S.: Agradeço aos professores Massaud Moisés, Roberto Schwarz e Silviano Santiago pelas lições machadianas em seus livros malucos.
P.S. 2: A melhor música que já ouvi inspirado em Machado é CAPITU do compositor LUIZ TATIT. Acima, um ensaio da mesma música no Acústico da Maresia, realizado pelo CoV no verão de 2014.
P.S. 3: Vuuuush!
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

quarta-feira, 19 de junho de 2019

CORPUS CHRISTI: Uma introdução ao canibalismo



1. CORPUS CHRISTI – O corpo de Cristo
Uma introdução ao canibalismo

CORPUS CHRISTI é a festa católica que celebra o ritual da EUCARISTIA e que foi inventado na Última Ceia. Esta ceia aconteceu quando Jesus jantou pela última vez com os seus 12 apóstolos. Portanto, é a HÓSTIA (pão) e o VINHO dos cultos (pois também as Igrejas protestantes devoram o corpo de Cristo, sim!) e das Missas católicas, claro.

Esse ritual serve para lembrar aos esquecidos, aos tontos e aos infiéis da crucificação de Jesus. A história mais famosa do mundo: A PAIXÃO de CRISTO na Pessach hebraica. A última oferenda que o deus judaico-cristão propôs para acabar com todas as outras oferendas de todas as outras religiões e propor uma salvação para a Humanidade... O próprio deus que virou gente e foi bastante maltratado por sacerdotes judeus, soldados e fazendeiros romanos há dois mil anos.

Assim, em 1243, na cidade de Liège, na Bélgica, a freira Juliana de Cornion conversou pessoalmente com Cristo e este salientou a importância que deveria ter o ritual eucarístico. em 1264, o Papa Urbano IV foi quem consolidou a cerimônia entre toda a cristandade. Inclusive a data comemorativa acontece onze dias após o Domingo de Pentecostes. E quem escreveu a liturgia da Missa de Corpus Christi, usada até hoje, foi o famoso filósofo Santo Tomás de Aquino (1225-1274).

É a Idade Média, querido leitor, ainda no encalço do mundo moderno. Por isso vamos acompanhar agora uma tremenda polêmica que aconteceu na América a partir de 1500, quando começou a MODERNIDADE, e por causa dessa festa de Corpus Christi. Desde 1961 um sagrado feriado brasileiro para a ainda mais sagrada preguiça do povo trabalhador. Tudo começou foi quando os europeus atravessaram o mar atrás de ouro e de terras. Eles chegaram com seus barcos para colonizarem e escravizarem o nosso continente inteiro. Além de eles buscarem o lucro capitalista com isso, os europeus trouxeram essa história do CORPO de CRISTO para cá, pois queriam obrigar a todo o mundo a seguir a sua fé religiosa.

Tive a honra de conversar, na mesa de um bar em Gravataí, com algumas pessoas que viveram essa confusão desde o começo. Comíamos à la minuta e bebemos coca-cola.

A polêmica é CANIBALISMO. Quem foi mais canibal então: os ÍNDIOS antigos ou os CRISTÃOS comendo seu próprio deus?


2. Montaigne aprofunda a polêmica

Escrevi sobre o assunto em 1580, em meus “Ensaios”, mais precisamente no capítulo “Sobre os canibais”, por isso, recomendo aos leitores, antes de tudo, procurarem pela obra original. Mas a pedidos do Albani resumo aqui a polêmica da semana, que trato em meu livro há tantos séculos, e ele no blog do “CoV”: os europeus exterminaram e escravizaram milhões de índios americanos e nações africanas na aventura da modernidade: em busca da riqueza, mas também em nome da (sua) civilização e da (sua) “verdadeira” fé – a cristã (importada do Oriente pelo Império romano). Consideraram um pecado diabólico os sacrifícios humanos dos astecas; assim como, execraram os rituais antropófagos realizados nas guerras dos índios brasileiros e da América Central – o canibalismo seria exemplo da barbárie em que viviam os índios: seres subumanos, por isso escravizados!

Mas acredito que o próprio ritual eucarístico, conforme inspirado pela Última Ceia entre Jesus e os apóstolos, descrita nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, corresponde a um gesto canibal! Além disso, quantas outras vezes nós impomos nossas crenças e valores, incluindo aí a Eucaristia, de forma autoritária e violenta aos povos estrangeiros?

Pois bem, conheci pessoalmente um índio Tupinambá no porto de Rouen em 1562, sendo que simultaneamente eu acompanhava, atentamente, os piores anos das guerras religiosas entre católicos e huguenotes (ou seja, evangélicos) na França do século 16: reafirmo então que devorar a carne humana assada, após o falecimento, num banquete festivo, conforme meu amigo Tupinambá fazia na França Antártica, ou no Brasil Colônia, como os portugueses chamavam seu território na América, pode ser menos pior do que torturar, machucar, ofender e maltratar como, por vezes, os civilizados cristãos europeus fizeram (para além das guerras religiosas entre os próprios cristãos): contra os hereges durante a Inquisição; contra os muçulmanos nas Cruzadas; contra os judeus na II Guerra; enfim, contra os próprios indígenas na América colonial como dizia acima. Claudiano escreveu “Victoria nulla est / Quam quae confessos animo quoque subjugat hostes”. E eu escrevo “O bárbaro é apenas o desconhecido”...


3. Hernán Cortés não se convence e continua acusando os índios de bárbaros

Leitores do “CoV”, não concordo com esse discurso humanitário do Prefeito acima. Montaigne nasceu em berço de ouro, me informa minha assessoria de imprensa, sendo ele neto e filho de comerciante e político rico, respectivamente. Sendo assim, é fácil sentir compaixão pelos canibais vivendo de leituras, aposentado, desde os 38 anos de idade, como ele viveu. Eu estive em Ténochtitlán, hoje Cidade do México. Eu encarei o imperador Montezuma (ah! e amei a pequena Marina, sua concubina...). Nós civilizamos os índios! Sem nós eles ainda estariam na Pré-História, no Mesolítico ou qualquer porcaria assim... E passado os séculos agora ouço um insolente Neil Young a me chamar de “O Assassinonuma música sua rebelde como esse barulhento rock and roll já foi! Li sua crônica, Albani, sobre o festival de Woodstock e sobre o rock. Não entendi muita coisa, mas gostei.

Porém falávamos da América Colonial. Eu não dizimei sozinho 25 milhões de índios nas Américas durante o período Colonial. Outros conquistadores antes, durante e depois de mim também foram cruéis – numa guerra não é possível ser delicado (exceto com Marina, doce Marina, a indiazinha que roubei de Montezuma...). Eu, a gripe, as armas de fogo e outros colonizadores europeus talvez não tenhamos sido tão maus assim em comparação aos astecas, que viviam também num Império escravocrata: nós só substituímos de cabeça a Coroa real – de Montezuma para Carlos V; estou convicto: os astecas foram muito piores do que nós, sacrificando crianças e virgens (ah! minha pequena Marina, eu a salvei da degola) em rituais pagãos aos seus deuses asquerosos. Entretanto, gosto do Neil Young quando ele diz que eu “vim dançando pelas águas” em minha caravela...

4. Frei Bartolomé de Las Casas defende os índios

Fico ao lado de Montaigne, apesar de sua religiosidade ambígua, nesse bate-boca contra um monstro ao qual à História chamou de “conquistador”: Hernán Cortés – só se foi conquistador de indiazinhas, como aquela traidora da Doña Marina. Pois eu (e todo colonizador moderno) é que fui um canibal, um antropófago! Sou filho de nobres espanhóis e cheguei à América, no que hoje é a Venezuela, sendo proprietário de uma “encomienda(grande fazenda), em 1502. E até 1515 devorei a carne indígena na minha propriedade, nas minhas minas de ouro. Porém, milagrosamente, converti-me e adentrei na Ordem Dominicana da Igreja, pois entendi então que não poderia ajudar os nativos lutando entre eles, mas sim, subvertendo as diretrizes, crenças e ideologias dos próprios europeus colonizadores e sua Igreja. Discordo apenas do sábio de Montaigne quanto ao canibalismo da eucaristia – ora, que bobagem, o cristianismo também tem sido deturpado ao longo do tempo em nome da cobiça humana. Confesso que cheguei a acreditar que a escravidão negra fosse aceitável, mas logo percebi que era tão brutal quanto à indígena e foi a fé na Ordem Dominicana e em Nosso Senhor que abriu os meus olhos cegos pela riqueza. Sendo assim, minhas maiores conquistas pessoais foram a forte influência de minhas palestras, pregações e panfletos denunciando a violência espanhola atrás de ouro e prata na América o que inclusive levou o Papa, em 1537, a definir os índios como seres humanos, e não mais bichos, ou seja, eles viraram gente como os brancos. O meu livro “Um breve relato da destruição das Índias”, lançado em 1552, até hoje, inspira movimentos progressistas na Igreja Católica. Falando nisso, aproveito a oportunidade aqui no “CoV” e desejo boa sorte ao Papa Francisco contra os herdeiros de Cortés dentro e fora da Igreja! Boa sorte, Francisco!!!

5. Caeté que participou da cerimônia antropofágica que devorou o Bispo Sardinha e outros 90 navegantes portugueses nas Alagoas em 1556 esclarece um mal-entendido histórico

A História sempre é uma grande confusão. Pobre dos historiadores que querem botar um sentido nos fatos da existência humana. Mas por mais talentosos que sejam, eles ainda levarão algum tempo até compreender que o mais famoso incidente canibal do Brasil Colônia, na verdade, foi o primeiro grande ato da conversão tupi-guarani ao cristianismo. Ouvimos Pero Fernandes Sardinha, o Bispo Sardinha, falando sobre a eucaristia em seus sermões e pensamos que precisávamos devorar o padre para absorver o espírito redentor de Jesus Cristo. Fazíamos isso há milênios com nossos adversários em sinal de respeito aos seus poderes mágicos e dons divinos. Pensamos então que estávamos agradando...

6. Santo Tomás de Aquino foge da raia

O que tinha para falar quanto à Eucaristia coloquei na liturgia da Missa. Sendo assim, respondo a Montaigne e a todos os detratores da Civilização Ocidental (ateus e pagãos em geral) com as mesmas palavras que enviei ao Albani em sua postagem de Corpus Christi em 2012 (07/06): “O ato mais específico da fortaleza, mais do que atacar, é aguentar, isto é, manter-se imóvel em face do perigo”.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

a CHINA ANTIGA no PENSAMENTO de CONFÚCIO


a CHINA ANTIGA no PENSAMENTO de CONFÚCIO
1. CONFÚCIO, em chinês, KUNG FUTZU, foi o admirável mestre Kung e viveu entre 551 a. C. e 479 a. C.
2. Viveu durante o reinado da família ZHOU na China Antiga.
3. Seus pais eram nobres, mas foram perseguidos por causa de desentendimentos políticos.
4. Por 10 anos, Confúcio viajou pelos feudos (fazendas) da China.
5. Ao retornar, já idoso, para sua terra natal, ele enfrentou a morte do filho e do aluno favorito, YEN HUI, ambos muito jovens!
6. Sua filosofia era inspirada na busca (TAO) da virtude (TE), ou seja, em como viver em paz e se conhecer bem sem apelar à religião, magia, misticismo, espíritos, deuses e demônios!
7. Seu livro mais famoso se chama ANALECTOS e está dividido em 22 capítulos.
8. Ele é inspirado em outro livro chinês mais antigo o I CHING (1500 a. C.): o LIVRO das MUDANÇAS!
9. Para o sábio chinês o mundo está dividido entre duas forças, o YIN e o YANG, ou seja, tudo tem dois lados!
10. Confúcio desprezava o LUCRO, achava que o mundo não tinha fim nem começo. Ele acreditava também que para cada COVARDE e MENTIROSO devíamos responder com BONDADE. Ele desafiou a tentar viver dignamente mesmo no meio da DESORDEM!!
(c. a. albani da silva, o xing-ling do vento)