quarta-feira, 28 de junho de 2017

Diga Cá: Cheirinho do Livro X dos "Contos Pra Cantar"



DIGA CÁ
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
* Livro X dos "Contos Pra Cantar" – 
Escutar músicas em outras línguas que não o inglês (p. 51)

Me diga cá, senhora LAVADEIRA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será o presidente? Será a empresa? Será a igreja? Será a terreira?

Me diga cá, senhora FAXINEIRA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será a escola? Será a televisão? Será a universidade? Ou toda gente trabalhadeira?

Me diga cá, mocinha ESTUDANTE,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será o exército? Será o índio? Será o negro? Será o mestiço?

Me diga cá, querida JORNALISTA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será a natureza? Será a mulher? Será o Silviossantos? Será a Grobo?

Me diga cá, querida JOGADORA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será o dinheiro? Será a fé? Será a ciência? Ou a influência? 
A Independência? A Inconfidência? A paciência?
(Haja paciência, meu irmão!)



quinta-feira, 22 de junho de 2017

MorenAmor



MorenAmor
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

*Para Jujuba

Nem azul / Nem rosa
Nem triste / Nem trago
Nem trapézio / Ou trampolim
Assim / Assim / Assado

MorenAmor / Ao meu lado

Com chuva / Com sol
Com reforma / Golpe / Dragão
Com trema / Tremendo temer

MorenAmor / Para viver

Pra lá / Pra cá
Além de Bagdá
Noite escura / Menos para o vagalume
Vagabundo / Vagamundo /
Vasto mundo / Viralata

MorenAmor / É amor acrobata
É pluma / Clarão / E perfume
(Laboratório de Sons do Vento, Junho de 2017)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Cheirinho do Livro IX – E Só


E SÓ
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

No rádio tocando Carmem Miranda
Nas mãos um livro sobre Van Gogh
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Joan Baez
No bolso a grana apertada do fim do mês
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Dorival Caymmi
Nas mãos um livro sobre Goya
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Mercedes Sosa
Nas mãos um livro sobre Ghandi
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Rolling Stones
Nas mãos um livro do Che (Guevara)
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Victor Jara
Nas mãos um livro de Machado de Assis
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Raul Seixas
Nas mãos um volume de Dom Quixote
Ao lado um velho violão desafinado
E Só

No rádio tocando Jackson do Pandeiro
Nas mãos um livro de Lima Barreto
E no papel versos não escritos de um poema
E Só

No rádio tocando Gelson Oliveira
Nas mãos um livro de Alejo Carpentier
No peito um tolo coração desafinado
E Só

No rádio tocando Lupicínio Rodrigues
Nas mãos um livro de Karl Marx
No coração uma menina morena
E Só

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Livro VIII - O amor é gostoso que nem pastel com ovo (p.39)



No século três os romanos prenderam o Valentino por livrar os jovens da guerra, casando eles. / Atrás das grades, o Valentino encafifou de gostar da filha do carcereiro. / Todo dia ele escrevia cartinhas de amor para ela, tipo assim:

Vem que tem, meu caramelozinho sem glúten:
tem amor bandido, que nem a Bonnie e o Clyde, coladinhos, dando tiro em poliça;
tem casal pacifista que nem John & Yoko, deitando na cama pela paz;
tem casal enfeitiçado que nem Isolda e Tristão;
tem prova de amor do tamanho dum palácio indiano,
embora na real seja uma tumba indiana, a da Mahal do Shah;
tem casal homo, como a Elizabeth Poeteira Bishop e a Lota arquiteta;
tem Santo Antão do Deserto e Atalanta casados com a misoginia;
tem casal gay, feito os cowboys Diadorim e Riobaldo;
tem amante idoso lentamente caminhando na praia;
tem amor platônico de coroa tipo o Gustavo pelo jovem Tadeu em Veneza;
tem prostituta que de tanto amor virou santa, a Maria do Egito;
tem casamento na roça, amores de verão que no frio não sobem a serra pelados, tem amor sem futuro e sem passado – o primeiro amor / tem amor interessado – em carro zero e cartão de crédito, tem amor de adolescência com ou sem espinhas que até vira casamento no cartório e tudo, tem amor brega e amor punk brega em três acordes e com muita bateção de cabeça, tem amor de tudo que é jeito jeitinho e jeitão porque...

...o amor é gostoso que nem pastel com ovo: uns se lambuzam outros passam fome na rodoviária”.
Do teu Valentino.
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento, p. 39 dos Contos Pra Cantar)

terça-feira, 6 de junho de 2017

Cheirinho do Livro VII dos “Contos Pra Cantar”



REFRESCOS DA ALMA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Não prometa a Pandora o que não se pode cumprir
Não menospreze a sabedoria daquele que não sabe ler
Nem Maomé, nem Jesus, nem Buda, nem Sócrates
Rabiscaram um bilhete só

Dia desses encontrei-me com a última das deusas
Astreia, a Virgem, cantou docemente para mim
Mandei-lhe presentes e um abraço apertado
Por sua mãe, a Justiça

Por muito pouco ela não entendeu a cabala
Mas se esqueceu dos burocratas de terno, gravata, sorriso e mala

Ela trouxe um prato de comida requentada
Para um Prometeu acorrentado

Não explique a Arjuna aquilo que nem você entende
Os tempos são duros, mas ainda podem piorar
Nem Conselheiro, nem Sepé, nem Zumbi, nem Prestes
Desistiram de causas perdidas

Noite dessas encontrei-me ouvindo velhas serestas
Nesta cidade bastam sete cordas para uma canção
Voar livre como um pássaro

Por muito pouco ele não perdeu a novela
E se lembrou que para cada meia-noite há uma Cinderela

Ele trouxe uma caixa de sapatos usada
Não cabiam muitas coisas, afinal,
ele não precisava
(Livro VII – Se for ateu, rezar, p. 38)