quinta-feira, 28 de março de 2013

Augusto dos Anjos, Hip-Hop


Caravaggio, Amor Vitorioso, 1601

Vandalismo
(Augusto dos Anjos, 1912, “Eu”)

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

João BoscoBandalhismo (1980): Neste samba de Aldir Blanc, João Bosco canta, com a ajuda de Paulinho da Viola, uma paródia do famoso poema acima.


GOGBrasil com “P” (2008): No início do século XX o professor Augusto dos Anjos (1884-1914) cantava em sua poesia temas como a morte, decomposição (social?) e as fatalidades da vida. Problemas semelhantes são cantados, de outro modo, pelo Movimento Hip Hop no Tempo Presente:



Do Augusto dos Anjos
Que poeta, este. Nascido em 1884. O autor dos Versos Íntimos. Preciso homenageá-lo. Afinal não é qualquer um que homenageia um morcego em seus versos: Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. / Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: / Na bruta ardência orgânica da sede, / Morde-me a goela, ígneo e escaldante molho. / "Vou mandar levantar outra parede..." /— Digo. Ergo-me a tremer.  Fecho o ferrolho / E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, / Circularmente sobre a minha rede! / Pego de um pau. Esforços faço. Chego / A tocá-lo. Minh’alma se concentra. / Que ventre produziu tão feio parto?! / A Consciência Humana é este morcego! / Por mais que a gente faça, à noite, ele entra / Imperceptivelmente em nosso quarto!Que realismo! Que teatralidade. Isto é Augusto dos Anjos. Preciso homenageá-lo e com um morcego. Mas como fazê-lo? Normalmente dou o exercício ao meu cérebro e aguardo que ele se manifeste, no momento em que ele achar prudente, e me dá os versos de lambuja. Mas para o Augusto terei que suar mais. E os dias passam e a homenagem não vem. O primeiro poeta que vi declamar estes versos foi o Roberto dos Santos, e isto faz tanto tempo, com teatralidade, com jogo de mãos, com suspense. Foi possível a platéia ver o tal morcego em seus voos cegos, rasantes e certeiros.
E o verso surge quando me lembro do último verão, quando um morcego caiu pela chaminé da lareira e adentrou na sala. Era o espírito do Augusto dos Anjos, tenho certeza. Então lá vai o verso: O morcego / Entrou pela janela aberta / Do meu quarto / Fez alguns malabarismos / E seguiu para a sala. / Penso que buscava / Encontrar a lareira / Com suas paredes / Aconchegantes e encarvoadas. / Mas voou com destreza / Desviando dos móveis / E do grande lustre central. / Por fim pousou / Num canto qualquer / Uma tela tétrica e sem moldura / Na penumbra de minhas visitas. / Mais parecia um anjo do céu / Do que uma criatura das cavernas / O mais augusto dos anjos / Desses que visitam a terra / A cada cem anos ou mais / E chegam no resplendor das manhãs / E derramam sua marca / Sobre nossas crenças pagãs. Acho que consegui! Acho que consegui! Aí está a homenagem: as paredes aconchegantes e encarvoadas simbolizam muito bem o poeta paraibano que morreu tão jovem, com apenas um livro de poemas publicado, e de forma artesanal. Mas que se perpetuou ao longo dos anos. E a expressão o mais augusto dos anjos não ficou o máximo? O nome do homenageado ficou disfarçado dentro do verso. De onde meu cérebro tirou isso? Que mecanismo desencadeou neste verso? Mas o importante é que consegui o meu intento. Este aí é o resultado final. Joguei fora todo o exercício de trocar palavras, mudar versos, pontuação, até chegar neste resultado. Joguei fora aquela coisa gostosa que provoca suor e bons versos. Melhor assim. Desta forma não ficou sabendo o mistério e o suor que resulta em versos.
(Crônica gentilmente enviada por Borges Netto, escritor do Clube Literário de Gravataí/RS)

Versos Íntimos
(Augusto dos Anjos, 1912, “Eu”)

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

MC Leonardo e MC JúniorTá tudo errado (s/d): Outro exemplo da decadência como tema poético.


Da GuedesDr. Destino (2009): Precursores do Hip Hop em Porto Alegre nos anos 1990.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Liberdades


Jorge Alio, O Beijo, 2010

A liberdade em 4 momentos históricos
1.     Pessach – A Páscoa judaica e a liberdade dos hebreus
E quando Moisés chegou ao deserto olhou para o povo hebreu pensando “após séculos de cativeiro no Egito viveremos 40 anos livres nas areias do Sinai”.

2.     Um primo de Musashi se liberta no Japão feudal
O samurai se olhava no espelho da lâmina de sua katana. Foi quando imaginou o fio da espada lhe perfurando as vísceras, conforme fizera por décadas com os adversários, em intermináveis duelos. Lançou a espada ao rio e dedicou-se desde então à jardinagem.

Mariene de Castro Ponto de Nanã (2012): Nanã – orixá do fundo dos rios, da lama; da fertilidade, mas mortal. Sendo a mais velha, devemos-lhe respeito.



Vampire WeekendCousins (2009): Em homenagem ao leitor Edgar Gomes que nos escreveu falando de um primo seu, vampiro aos finais de semana.


3.     A liberdade chega ao Novo Mundo (para uma concubina, ao menos)
Cortés beijou as mãos delicadas da índia Marina e, finalmente, pediu a moça em casamento. Conduzia assim mais uma de suas artimanhas para derrotar o Império asteca. Marina, na plena impaciência dos seus 16 anos, aceitou o pedido, declamando ao conquistador de novos mundos e belas raparigas uma oração de amor em nahuatl, maia e espanhol. Há muito, Marina temia acabar se casando com um homem triste, refinado e vaidoso como Montezuma. Cortés coçou a barba: trazia um sorriso banguela e um bafo de alho.

4.     Mariana guiando o povo
Eugene Delacroix deu a última pincelada em sua tela “A Liberdade guiando o povo” em 1830. Ele já adquirira então tantas habilidades técnicas que, ao pintar um homem caindo da janela, concluiu a obra antes mesmo daquele chegar ao chão. Entretanto, mesmo com tamanha dedicação ao trabalho ele não teve como conter o alívio ao guardar a paleta, entregar a Liberdade, junto do povo, para a História e ir saborear um cheiroso café brasileiro numa das ruas de Paris.

Trupe Chá de BoldoBárbaro (2011): Neste vídeo a Trupe Chá de Boldo presta homenagem a alguns clássicos do cinema.



Socorro LiraDelicado (2012): Um singelo tratado sobre a delicadeza. Ao vivo no “Sr. Brasil” do mestre Rolando Boldrin.



Public Enemy I shall not be moved (2012): Precursores do Hip Hop ainda na ativa.


quinta-feira, 14 de março de 2013

Juventudes


Vladimir Kush, African Sonata, s/d

Inventando a democracia no Brasil
     Servindo-se, conforme Mário Quintana (1906-1994), da “preguiça como método de trabalho”, sempre que possível, ou necessário ou estimulante ou simplesmente quando der na telha, estaremos invocando uma nova coluna aqui no CoV. “Inventando a democracia no Brasil” se propõe a trazer singelos sopros de Vento para pensarmos o país em que vivemos desde o fim da Ditadura Militar, em 1985. A proposta Ventosa é reconhecer os avanços sociais e democráticos dos últimos 28 anos no país dos Bruzundangas. Ainda muito forte no nosso imaginário popular, sobretudo ao falarmos em democracia, o “complexo de vira-latas” serve a alguns interesses. Sem dúvida não aos comprometidos com a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
(Fonte: “Retrato do Brasil” – 2007)

- Em vigor desde 1990 e previsto pela Constituição de 1988;

- Antes do ECA havia o “Código do Menor”, lançado em 1927 – precursor ao criar juizados específicos para crianças; inspirado parcialmente na “Declaração dos Direitos da Criança” inventada em Genebra em 1924;

- Para o ECA a família ainda é o melhor lugar para a formação do jovem, portanto, o Estado se compromete a assegurar uma renda mínima aos trabalhadores;

- Programas assistenciais a nível federal, desde a Era FHC até o vigoroso Bolsa Família, nos últimos 10 anos, surgiram, em parte, para atender a essas conquistas legais da Constituição de 1988, minimizando assim misérias e, mais recentemente, aquecendo o mercado interno;

- O ECA criou instituições como os “Conselhos Tutelares”, eleitos livremente por voto popular nos municípios a cada 3 anos;

- O ECA, além de badalado pela ONU, virou referência legislativa para 15 países diferentes;

- Atualmente considera-se jovem, no Brasil, a faixa etária de 15 a 29 anos; já adolescente é quem tem de 12 a 18 anos;

- Para alguns, o ECA falha ao ser permissivo e protetor demais; assim como, certos setores da sociedade brasileira, à direita na política, reivindicam a redução da maioridade penal (dos 18 para 16 anos?), o que interferiria diretamente no ECA;

- Todavia, para críticos de esquerda, o sistema FEBEM/FASE (estadualizado) de punição ao menor infrator seria uma herança do Regime Militar, autoritário e ineficaz, pouco inclusivo socialmente, muito menos transformador;

- O ECA também é um dos responsáveis pela garantia legal da universalização de creches e do Ensino Fundamental no país;

- Isto fez com que muitas ações individuais e coletivas chegassem ao Ministério Público reivindicando creches públicas para mães da classe trabalhadora;

- Assim como, a frequência escolar tornou-se pré-requisito para programas sociais governamentais, como o já citado Bolsa Família;

- Outra dessas políticas públicas é o PETI (Programa para Erradicação do Trabalho Infantil) que, simplificando, consiste em acompanhamento especializado e uma bolsa-auxílio para famílias com jovens de até 16 anos se afastarem do trabalho infantil; foi criado em 1997;

- No início do século XXI, 10 milhões de crianças e adolescentes, sobretudo meninas, trabalhavam forçadas em empregos domésticos no mundo; essa situação é recorrente principalmente no campo e o Brasil estava então em segundo lugar nesse ranking;

- Trabalho para o tráfico de drogas e violência sexual são outros dos nós a serem desatados no que diz respeito ao trabalho infantil: pobreza familiar, turismo sexual e abandono escolar só fazem crescer esses dois problemas;

- O ECA e a Constituição ainda são amplamente desconhecidos no Brasil.

Pequeno CidadãoO Sol e a Lua (2010): 

Pequeno CidadãoPequeno Cidadão (2010): Esta toca até na “Carrossel”.


A Juventude na Literatura

Oliver Twist (1833) – Este livro de Charles Dickens (1812-1870) é um dos primeiros a ter como protagonista uma criança. O menino Oliver Twist se vê maltratado em um reformatório e depara-se com as trapaças de Fagin até ser adotado por um senhor de classe média, isto por intermédio da prostituta Nancy que paga com a vida pela ousadia de ajudar um menor de rua nos tempos da primeira Revolução Industrial.

Capitães da Areia (1937): O mais famoso dos “romances proletários” do comunista Jorge Amado (1912-2001). O livro narra a história de Pedro Bala, cicatrizado adolescente, filho de um sindicalista assassinado, que lidera uma gangue juvenil de ladrões pelas ruas de Salvador nos anos 1930. Censurada pelo Estado Novo de Getúlio Vargas a obra é contundente com os poderosos (sobretudo os do Estado oligárquico brasileiro) e afetuosa com os injustiçados. Foi adaptada para o cinema em 1969 e 2011.

O apanhador no campo de centeio (1951) – Clássico sobre a formação juvenil escrito por J.D. Salinger (1919-2010) em que o protogonista Holden Caulfield é um jovem rebelado contra as falsidades do mundo. Se todos são ridículos para Holden, ele, e sua língua ferina, também acabam sendo ridículos. Implicação decorrente de ser sempre do contra.

O senhor das moscas (1954) – O inglês William Golding (1911-1993) isolou um grupo de adolescentes numa ilha tropical após uma queda de avião. E lá, em busca da sobrevivência, duas facções se formaram: a de Ralph, rapaz sensível e democrático; e a de Jack, voraz, carismático e comandante das caçadas. Há supostamente um monstro na ilha, e contra este monstro (imaginário?) o grupo de Jack articula-se através do terror e da violência. Virou um baita filme em 1963.

Pixote – Infância dos Mortos (1977): Livro de José Louzeiro (1932) que inspirou o premiado filme de Hector Babenco lançado em 1981: “Pixote – A lei do mais fraco”. O romance-reportagem antecipou o tema dos menores abandonados pelas ruas e a repressão fascista contra os mesmos, antes do massacre nas escadarias da Igreja da Candelária (1993) no RJ.

Precisamos falar sobre o Kevin (2003) – A estadunidense Lionel Shriver (1957) é a autora deste romance em que uma mãe escreve cartas ao marido omisso sobre o filho, Kevin, que promove um massacre numa escola. A pergunta que fica é: onde foi que eu errei?  Em 2011 saiu uma adaptação cinematográfica do romance que, como diz na “orelha” do livro, não indaga apenas quem matou, mas quem e o que morreu em meio a mais uma tragédia moderna.

Na colônia penal (1914) – Neste conto surreal, Franz Kafka (1883-1924) narra a inspeção de um viajante a uma colônia prisional em que a execução da pena de morte ao condenado se dá por uma máquina que inscreve no corpo da pessoa sua sentença. O texto não aborda a juventude, mas levanta a discussão da pena capital: da Lei de Talião (olho por olho, dente por dente) e de como os sistemas judiciários podem ser brutais, sendo os Direitos Humanos uma invenção recente da humanidade e, indispensável, para se combater a barbárie.

Pato FuPrimavera (2010): 


Pato FuLive and let die (2010): 







sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulheres, Hugo Chávez


Carolina Tiemi (Chi), A Papisa, 2011

Curiosidades sobre a história do cristianismo
Parte 2 – As mulheres nas igrejas primitivas
(Ainda com o apoio do livro “Uma breve história do cristianismo”, 2011, de Geoffrey Blainey)

        Historicamente / As religiões monoteístas / Judaísmo, Cristianismo e Islamismo / Inovadoras / Ao se estruturarem a partir de códigos morais / Teologicamente / Mais importantes / Para elas / Do que os rituais / Têm culpado as mulheres / Pelos pecados do mundo / A sensualidade e a beleza femininas / Seriam diabólicas / Assim / Ao menos / Apresenta-se / A mulher / No Gênesis bíblico / Sendo Eva / Quem atrai Adão / Para o mau caminho / Do livre-arbítrio / Assim também / Eram representadas / As bruxas / Mulheres não totalmente submissas aos homens / Portanto / Demonizadas / E queimadas em fogueiras / Acesas pela Igreja Católica / Nos mil anos da Idade Média europeia / Mas também / Nos tribunais da Inquisição / Moderna / Sobretudo em Portugal e Espanha / Já nas correntes do / Fundamentalismo islâmico / As moças têm de tapar / Até o dedão do pé.
            Mas nem sempre foi assim / Na Antiguidade / Mulheres influenciaram bastante os rumos do cristianismo / Então iniciante / Para além de Maria Madalena e da Virgem Maria:

Priscila – Líder cristã de Corinto, na Grécia, professora de Apolo: um famoso estudioso judeu das Sagradas Escrituras que era rival de Pedro, o apóstolo;
Lídia – Rica comerciante de púrpura, na Macedônia: financiou várias congregações cristãs pioneiras na região;
Porfírio – Opa! Este era homem, filósofo pagão dos anos 300. Preocupado com a manutenção do machismo predominante na sociedade agrária da Roma Antiga, acusava as mulheres de atrapalhar o cristianismo. Ou seja, sinal de que elas eram protagonistas mesmo nos primeiros dias da, atualmente, maior religião da humanidade.
    P.S.: Sobre o Dia Internacional das Mulheres, releia a postagem de 08/03/2012.


O Terno66 (2012): A síntese da angústia “Pós-Moderna” para quem cria cultura no século XXI:

DuSoutoCretino (2012): O leitor Ronnie Wood afirma “a pegada mais próxima dos Rolling Stones que já ouvi nos últimos anos”!

A literatura e a Venezuela
Rómulo Gallegos (1884-1969): Professor, escritor, ministro e presidente, Gallegos foi um dos fundadores da Acción Democrática (AD) um dos grandes partidos da Venezuela e, durante boa parte do século XX, o maior partido social-democrata da América do Sul. Atualmente, ao lado da democracia-cristã (Copei), representa a oposição eleitoral ao socialismo bolivariano de Hugo Chávez. Vale lembrar que, após o Pacto do Ponto Fixo, em 1969, que durou até 1998, os dois partidos se revezaram no poder venezuelano. Entre outras coisas, privatizaram de vez o petróleo do rio Orinoco, consolidando assim a dependência econômica do país, grande exportador desse produto, sobretudo aos EUA. Por outro lado, nesse processo, a agricultura e a pesca minguaram brutalmente e a maioria da população venezuelana ficou condenada à importação de alimentos, até hoje, entrando assim num ciclo de empobrecimento e miséria prolongado. Em 1929, Gallegos publicou o romance “Doña Bárbara”, que abordava criticamente a ditadura militar de Juan Vicente Gómez que governou a Venezuela de 1908 a 1935 de forma semelhante ao Ponto Fixo. Já em “Canaima” (1935) o escritor abordou o conflito cultural entre as ancestrais civilizações originárias e a brutal colonização modernizadora da Europa imperial na América.

O general em seu labirinto (1989): Romance histórico criado pelo Nobel de Literatura de 1982, o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927). Descreve literariamente a vida do general Simón Bolívar (1783-1830) – um dos mais ousados líderes da independência latino-americana. Entusiasta das ideias Iluministas, Bolívar defendia a criação de uma única pátria na América hispânica: a Grande Colômbia que, entre 1821 e 1830, uniu Venezuela, Equador e Colômbia. Sua imagem foi resgatada nos anos 1990, pelo coronel-paraquedista Hugo Chávez Frías líder da rebelião militar de 1992 que propunha um novo socialismo para a América Latina no século XXI – o socialismo bolivariano, sendo que este vinha em gestação desde o Caracazo de 1989. O Caracazo foi a primeira grande rebelião popular, reprimida militarmente pelo presidente de então, Carlos Andrés Pérez, da AD, contra a hegemonia neoliberal posterior à Guerra Fria.

Eloi Yagüe Jarque (1957): Autor nascido na Espanha, mas que vive desde a infância em Caracas. Escreveu uma novela noir chamada Quando ama deve partir”, ou seja, uma história policial, que, no caso, também adentra em temas políticos e que se passa no cenário histórico do Caracazo de 1989. Na novela, Castelmar, um repórter na casa dos 40 anos, poeta e militante da esquerda na juventude, sai da fossa pessoal ao engajar-se nos levantes populares desde as favelas de Caracas, assim como, apaixonando-se por uma jovem jornalista, também amada por seu chefe – W.C., triângulo amoroso este que termina em morte.

Ana Teresa Torres (1945): Esta escritora, também psicóloga e psicanalista, criou o conto “Onde está você, Ana Klein?”, recolhido junto à obra de Stéphane Chao Antologia do Conto Pan-Americano”: lá está escrito sobre Ana Klein, a psicóloga de família judia que, durante a II Guerra, emigrou para Buenos Aires, mas durante o regime militar argentino, exilou-se na Venezuela:
Sentia saudade de Caracas, mas não conseguia deixar de sentir ódio pela interrupção que os milicos tinham produzido em sua vida. Qualquer um poderia compreender, até a mulher das 7h20, se lhe explicasse no que consiste interromper a vida. Na verdade, ela havia interrompido a sua de novo quando voltou para Buenos Aires, mas esta é a característica das interrupções da vida. Uma vez interrompida, sempre interrompida”.

Abidoral JamacaruEla me disse (2008): E foi Ana Klein quem comentou, em uma de suas consultas, “a mais bela canção de amor que já ouvi nos últimos anos”!

LirinhaSidarta (2008):
Y

sexta-feira, 1 de março de 2013

Renúncia Papal


Artemisia Gentileschi, Susana e os Anciãos, 1622

Curiosidades sobre a história do cristianismo
Parte 1: Até a ascensão do islamismo
- Com o apoio do livro “Uma breve história do cristianismo” (2011) de Geoffrey Blainey -

Origens
- Provavelmente foi Paulo de Tarso, em Antióquia, quem criou o termo “cristão”;
- O mais antigo escrito do cristianismo encontrado até agora é a primeira epístola aos tessalônios, do mesmo Paulo de Tarso; manuscrito datado de cerca de 20 anos após a morte de Cristo;
- De acordo com os exegetas bíblicos, o evangelho mais antigo é o de São Marcos, provável amigo do apóstolo Pedro;
- O evangelho de Mateus, para muitos o mais claro e seguro, é considerado o mais famoso dos quatro evangelhos canonizados pela Igreja;
- Lucas, talvez médico e amigo de Paulo, provavelmente nunca tenha conhecido Jesus;
- João escreveu o mais recente dos evangelhos, em cerca de 90 d.C. Seu texto é, para muitos, o mais poético e diferenciado dos quatro depoimentos sobre Cristo;
- Outros evangelhos, não-reconhecidos pela Igreja, por isso apócrifos, pipocaram pelo Oriente Médio e Império Romano nos 300 anos iniciais de cristianismo, escritos, supostamente, por seguidores de apóstolos como Pedro; Tomé, Maria Madalena e até Judas Iscariotes.

Simbologia
- O domingo é o dia sagrado de quase todo o cristão, pois foi nesse dia da semana que Cristo ressuscitou;
- Somente em 525 a Páscoa cristã foi atrelada sistematicamente ao Pessach judeu;
- Em 246 a ideia de celebrar o nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro partiu dos patriarcas de Constantinopla, Alexandria e Antióquia, tomando-se como base o solstício de inverno no Hemisfério Norte: ou seja, o momento em que os dias começam a ficar longos novamente, assim como, aproveitando-se do antigo culto ao sol dos romanos;
- Maria, a mãe de Cristo, não teria morrido: ascendeu aos céus para o lado do filho. Assim ratificou o bispo Gregório de Tours em 594.

Kátia B – Só deixo meu coração na mão de quem pode (2011)

Sombrero LuminosoSintonia fina (2012)

Marcelo Jeneci e Laura LavieriFelicidade (2011):

Como se espalhou pelo mundo?
- Os cristãos souberam se aproveitar, em nome do universalismo de sua crença, da significativa unidade política/territorial construída pelo Império romano;
- O cristianismo disseminou-se primeiramente nas comunidades judaicas, por ser uma dissidência desse credo;
- Talvez tenha se beneficiado também da caridade e ajuda mútua em situações de crise (fome, epidemias) atraindo novos fiéis urbanos; como de costume, o campo resistiu mais às mudanças;
- A habilidade política de Constantino agilizou esse processo de expansão, considerando o cristianismo a religião adequada para os tempos de desagregação do Império romano no século 4, institucionalizando assim a mesma.

Primeiras Polêmicas
- Antes disso, porém, outros imperadores romanos condenaram o culto cristão: Nero, em 64; Décio, em 250; entre outros;
- Para o pregador egípcio Ário, que viveu nos anos 300, Deus e Cristo não eram a mesma coisa: Deus era uma entidade superior ao homem "quase divino" que foi Jesus. A heresia ariana foi duramente combatida pelo Concílio de Niceia (325);
- O bispo africano Santo Agostinho enfatizou a predestinação: nosso destino estaria traçado por Deus desde o nascimento;
- Helena, a mãe do imperador Constantino, pode ter sido a primeira peregrina cristã, visitando Jerusalém e abrindo o caminho para outros peregrinos com o destino de Belém e do rio Jordão;
- Já a primeira grande ordem de monges, a dos beneditinos, foi cria do eremita italiano São Bento: pretendia domar os males do corpo para que a alma triunfasse;
- Beda, o Venerável, monge beneditino britânico, descreveu, em 728, a passagem de duas “tochas incandescentes” (dois cometas) durante duas semanas pelos céus da Grã-Bretanha. Mensageiros de más notícias, para os cristãos, os cometas anunciavam a conquista do Oriente Médio pelos árabes-muçulmanos?

Na literatura
            Dois bons livros que abordam a vida de Cristo são: “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), do português José Saramago (1922-2010), em que Cristo é humanizado em seus dramas, sobretudo o encargo de ser o Messias e o peso dos crimes cometidos ao longo da história contra ou a favor de seu nome; e “A Última Tentação de Cristo” (1955) do grego Nikos Kazantzákis (1883-1957) em que Cristo, crucificado, sonha ser resgatado por um anjo, casando-se e vivendo uma vida pacata, sonho este ardil do demônio.

A Última Tentação de Cristo (1988)Dir.: Martin Scorsese (Trailer): 

Katia B e Charles GavinSeis vidas (2012): 

Cidadão InstigadoO tempo (s/d):


Engenheiros do Hawaii O Papa é Pop (2004): Já ia me esquecendo de que o Papa é Pop...