quinta-feira, 26 de julho de 2012

Violeta Parra, Carmen Luisa, 1964

Violeta se fue a los cielos
Precursora da música folk latinoamericana e uma das grandes artistas do século XX / Violeta foi para o céu / Em 1967 / Tendo nascido no Chile / No ano de 1917 / Filha de um professor e músico com uma costureira / Perdeu o pai ainda menininha / E passou a viver cantando e se apresentando com as irmãs / Chile afora / Nos anos 1950 / Levou a música folclórica / E a canção de protesto de seu país / Para a Europa / Onde viveu vários anos / Ergueu, em plena Cordilheira dos Andes / A Universidade do Folclore / Uma grande tenda cultural / Viveu também / Um intenso amor / Com Gilberto Favre / Músico suíço / Mais jovem que ela / E amigo de seu filho / Ángel Parra / Autor do livro / Em que se baseia o longa-metragem de Andrés Wood
(Albani da Silva, 25.07.2012)

Violeta foi para o céu (Trailer, Dir.: Andrés Wood, 2011): 

Violeta Parra Que pena siente el alma (s/d): 


Violeta ParraMaldigo del alto cielo (2011): 

Victor JaraTe recuerdo, Amanda (s/d): Impossível falar de Violeta sem mencionar outro mestre da música chilena – Victor Jara (1932-1973), brutalmente assassinado junto de milhares de militantes de Esquerda durante o Golpe militar do General Augusto Pinochet (1915-2006) em 1973. Porém, “a vida pode ser eterna em cinco minutos, Amanda”:

O Machismo
          E no clima libertário de Violeta Parra e Victor Jara, aproveitamos para publicar o seguinte texto de Munik S. Manfrin dos Santos, estudante de 8ª série da EMEF Alberto Pasqualini, Gravataí/RS:
                O machismo ainda existe e está explícito em muitas relações. Por exemplo, em empresas, e outros locais de trabalho, o machismo é responsável por muitas hierarquias. O homem fala e a mulher obedece.
                Existe um senso comum em que o homem, para se sentir “homem”, exige submissão e disponibilidade da mulher e algumas mulheres, por sua vez, em troca de supostas “proteção” e “segurança”, aceitam este papel.
               Ainda bem que nem todas as pessoas se conformam, tendo coragem de questionar o que é imposto pela sociedade. Digo coragem, pois é isso mesmo que é necessário. É mais fácil aceitar o que está pronto e “mastigado”, do que se constituir de forma a mais original possível. 
(Munik S. Manfrin dos Santos, 03.07.2012)
               
Bebe La Bicha (2009): E canta a espanhola Bebe, provocando a todos os machões de plantão – “não subestime esta mocinha, embora seja magrinha”...

 Technicolor FabricsFénix (2011): 


Fábulas Latinoamericanas
Relendo “A ovelha negra e outras fábulas(1969) do guatemalteco Augusto Monterroso (1921-2003):

1) O raio que caiu duas vezes no mesmo lugar
Era uma vez um Raio que caiu duas vezes no mesmo lugar; mas descobriu que a primeira queda havia causado tanto dano, que já não era necessário e se deprimiu muito.

 2) Monólogo do Bem
As coisas não são tão simples”, pensava naquela tarde o Bem, “como crêem algumas crianças e a maioria dos adultos”.

“Todos sabem que em certas ocasiões eu me oculto atrás do Mal, como quando adoeces e não podes tomar um avião e o avião cai e não se salva nem Deus; e que às vezes ocorre o contrário, o Mal se esconde atrás de mim, como aquele dia em que o hipócrita Abel se deixou matar por seu irmão Caim para que este ficasse mal com todo o mundo não podendo se retratar jamais”.

As coisas não são tão simples”.

3) O Paraíso Imperfeito
- É certo – disse melancolicamente o homem, sem tirar a vista das chamas que ardiam na lareira naquela noite de inverno -; no Paraíso há amigos, música, alguns livros; o único mal de ir pro Céu é que de lá não se vê o céu. 
(A Cigarra, 26.07.42 a.C)

PedropiedraInteligencia dormida (2009): 


Perotá ChingóInes (2012): 

4) A Ovelha Negra
Em um país distante existiu faz anos uma Ovelha Negra.

Foi fuzilada.

Um século depois, o rebanho arrependido ergueu-lhe uma estátua equestre que caiu muito bem no parque.

Assim, na sequência, cada vez que apareciam ovelhas negras eram rapidamente passadas nas armas para que as futuras gerações de ovelhas comuns e modernas pudessem exercitar-se também na escultura.

5) A mosca que sonhava que era uma águia
Era uma vez uma mosca que todas as noites sonhava que era uma Águia e que se encontrava voando pelos Alpes e pelos Andes.

Nos primeiros momentos isto a deixava louca de felicidade; mas passado um tempo lhe causava uma sensação de angústia, pois achava as asas demasiado grandes, o corpo demasiado pesado, o bico demasiado duro e as garras demasiado fortes; bom que todo esse grande aparato a impedia pousar à vontade sobre os ricos pastéis ou sobre as imundícies humanas, assim como despertar a consciência batendo-se contra os vidros de seu quarto.

Na realidade não queria andar nas grandes alturas, ou nos espaços livres, nem muito menos.

Mas quando voltava a si lamentava com toda a alma não ser uma Águia para subir montanhas, e se sentia muito triste por ser uma Mosca, e por isto voava tanto, e estava tão inquieta, e dava tantas voltas, até que lentamente, à noite, voltava a por a cabeça no travesseiro.    

6) A Barata Sonhadora
Era uma vez uma Barata chamada Gregório Samsa que sonhava que era uma Barata chamada Franz Kafka que sonhava que era um escritor que escrevia sobre um empregado chamado Gregório Samsa que sonhava que era uma Barata. 
(A Formiga, 26.07.201 d.C)

Quando acordou, o dinossauro não estava lá (7
O resto é silêncio.


Ikira Barú El Reloj (2012): 



quinta-feira, 19 de julho de 2012


Pieter Bruegel, A parábola do cego, 1568

Alegria
Isaac Bashevis Singer (1904-1991) nasceu na Polônia, mas fez carreira literária nos EUA, quando pra lá imigrou em 1935. Judeu ashkenazim, ou seja, da Europa central e do Leste, I. B. Singer conquistou o Prêmio Nobel de Literatura em 1978. Sua obra foi profundamente inspirada pelo folclore e pela literatura judaica, afinal, os inventores do monoteísmo moralista são conhecidos também como o povo dos livros (Torá, Bíblia hebraica, Talmude, Midrashim). Originalmente os textos de I. B. Singer eram escritos em iídiche, dialeto judaico - mistura de hebraico, alemão e russo - e só depois vertidos para o inglês. Trecho de um de seus 47 Contos (1982):
O rabino escolheu a pergunta de por que a lua é escura no Rosh Hashanah. A resposta é que no Rosh Hashanah se reza pela vida, e vida significa livre-arbítrio, e liberdade é Mistério. Se alguém soubesse a verdade, como podia haver liberdade? Se o céu e o paraíso fossem no meio da praça do mercado, todo mundo seria santo”. (Albani da Silva, 19.07.2012)


R.E.M.Losing my religion (1991): 

Os Mistérios da Bíblia
Um dos 1001 Livros para ler antes de morrer é “O livro de Daniel” do escritor estadunidense E.L. Doctorow (1931). É que para Doctorow poucos livros do Antigo Testamento têm tantos mistérios quanto o Livro de Daniel”. (Albani da Silva, 19.07.2012)

O Livro de Daniel
O Livro do Profeta Daniel, no Antigo Testamento bíblico, se passa no exílio babilônico dos judeus. Daniel era um cortesão do último rei de Judá – o rei Joaquim, quando o reino hebraico foi conquistado pela Babilônia em 598 a.C, então governada por Nabucodonosor. Em 587 a.C este mesmo imperador destruiu o Templo de Salomão. Daniel, entre outros membros da elite judaica, foi levado como servo a Babel. E foi lá que Daniel, rebatizado como Beltessazar, pelos caldeus, viveu suas histórias.  (Albani da Silva, 19.07.2012)

Nirvana Heart-Shaped Box (1993)

Daniel decifra o 1º sonho: Num certo dia, Nabucodonosor acordou intrigado com um sonho que teve. Sendo assim, convocou todos os astrólogos, sábios, profetas e feiticeiros da corte, desafiando-os a não só interpretarem o seu sonho misterioso, mas também a adivinhá-lo. Todos consideraram a missão impossível. Menos Daniel. O Profeta explicou a estátua do sonho com cabeça de ouro, peito de prata, barriga de bronze, pernas de ferro e pés de barro, destruída por uma rocha que desce morro abaixo, simboliza a fragilidade dos seres humanos frente ao infinito (Deus?). Por mais poderoso que sejam os impérios, eles um dia também acabarão. (Albani da Silva, 19.07.2012)

Daniel decifra o 2º sonho: Já consagrado, ficou mais fácil para Daniel decifrar o 2º sonho misterioso de Nabucodonosor. Uma árvore gigantesca, que abrigava animais, alimentava e sombreava o mundo. Até que um anjo determinou que cortassem a árvore, deixando-a somente o toco. Daniel explicou que, conforme o sonho, o poderoso, mas arrogante, Nabucodonosor seria desterrado por sete anos, vivendo desconhecido e miserável como um mendigo até reconhecer o poder de Jeová, retornando assim ao trono. Dito e feito (ao menos na Bíblia, pois os historiadores e arqueólogos desconhecem esse sumiço do rei dos caldeus). (Albani da Silva, 19.07.2012)

Manu ChaoBongo Bong (2009): 


Daniel decifra o grafite na parede do salão: Já no governo do filho de Nabucodonosor, Belsazar, Daniel foi chamado para decifrar o que dizia a pichação que apareceu na parede branca do salão, durante um banquete real. MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. Em resumo: o tempo de conquistas dos babilônicos havia passado, seu grande império sucumbiria à derrota frente aos novos donos do Oriente Médio Antigo – os Persas, dos reis Ciro, Dario, Xerxes e Artaxerxes
(Albani da Silva, 19.07.2012)

Daniel na cova dos leões: E foi o persa Dario quem mandou Daniel ser devorado pelos leões. É que ao assumir o controle da Mesopotâmia e da Palestina, os persas dividiram seu império em 120 províncias, fiscalizadas por três ministros. Um desses ministros era Daniel. Porém, honesto e ponderado, os invejosos da corte decidiram “puxar o tapete” do profeta e denunciaram o rapaz a Dario, afirmando que, devido a sua fé judaica, ele era o único que não rezava pelo (e para) o rei. Daniel não foi devorado por leão algum, pois um anjo veio em seu socorro, amansando as feras. Ao saber da santidade do homem, Dario mandou para o covil dos bichanos aqueles fuxiqueiros que tramaram contra Daniel. E como uma boa história bíblica, eles foram devorados, claro.
(Albani da Silva, 19.07.2012)

Legião UrbanaDaniel na cova dos leões (1986)

1ª Visão de Daniel: Num turbulento e, em parte, sombrio, sonho, Daniel prevê aquilo que o Novo Testamento de São João Evangelista chama de Apocalipse – quatro monstros horrendos devorando a humanidade. Até que Jeová e um homem (Cristo?) descem dos céus e acabam com a festa das bestas.
 (Albani da Silva, 19.07.2012)

2ª Visão de Daniel: Sentindo-se às margens do rio Ulai, na capital da Pérsia, Susa, Daniel vê uma cena bizarra: um carneiro e um bode de chifres estranhos lutando ferozmente. Com a ajuda do Anjo Gabriel, Daniel entende que, nesta visão, Deus lhe mostra a guerra violenta que logo explodirá entre gregos e persas. Assim como, a visão diz respeito ao sofrimento do povo judeu; à reconstrução do Templo em Jerusalém; sua segunda destruição, séculos mais tarde; e à vinda do líder hebraico (Messias?) e sua morte injusta. (Albani da Silva, 19.07.2012)

Paulinho MoskaAinda (2011):  

3ª Visão de Daniel: Às margens do rio Tigre, Daniel vislumbrou um anjo “vestido com roupas de linho e usando um cinto de ouro puro. O seu corpo brilhava como pedras preciosas, o rosto parecia um relâmpago, os olhos eram como tochas acesas, os braços e as pernas brilhavam como bronze polido, e a voz como o barulho de uma multidão”. Ele falou de mais guerras a assolar a Palestina – gregos, persas, sírios e egípcios digladiando-se. E disse também o anjo a Daniel: “Os maus continuarão na sua maldade, e nenhum deles entenderá o que está acontecendo, mas os sábios entenderão”. (Albani da Silva, 19.07.2012)

Artic MonkeysFluorescent Adolescent (2007): 

Para mais informações sobre o Judaísmo é só reler a postagem de 24/05/2012 aqui no CoV: 24/05/2012 - Guia Prático Para Não Dormir à Noite, Arrepiar os Cabelos e Tomar Sustos - Literatura de Terror 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Jean-Michel Basquiat, Cabeza, 1982

3 Poetas da Modernidade

1)       Whalt Whitman (1819-1892): O poeta que ajudou a inventar os EUA / E os EUA, por sua vez, ajudaram a inventar a Modernidade / Desde sua Revolução burguesa pela Independência / Em 1776 / Quando deram um corridão / No Rei da Inglaterra / Passando por sua Guerra Civil de 1860 a 1865 – um dos estopins da II Revolução Industrial / Chegando à hegemonia global presente / Iniciada após a participação / Tardia / Mas decisiva / Na I Guerra Mundial (1914-1918) / E / Consolidada / Após a II Guerra Mundial (1939-1945) / Mas / Sobretudo mesmo / Após o fim da Guerra Fria (1991) / Ainda que marcada por imperialismos, crises / Bushes / Tiros em Columbine / A história dos EUA / Está / Profundamente associada / À busca / Incessante / Senão religiosa / De um “destino manifesto” / Ou seja / Das invenções e conquistas básicas do Mundo Moderno e Contemporâneo / E foram estes  os símbolos / Revolucionários /  Cantados pioneira e intensamente na poesia livre e metafórica / De Whitman / Em seu célebre / Folhas na relva – Leaves of Grass (1855): Liberdade – Natureza – Democracia – Individualidade / Autodidata e professor / Whitman publicou com recursos próprios / A 1ª edição / De seu clássico.
(Albani da Silva, 12.07.2012, com uma baita ajuda do Harold Bloom e seu “O Cânone Ocidental” – 1994)

Uma clara meia-noite
Walt Whitman
Esta é tua hora, ó Alma, teu vôo livre no sem palavras,
Longe dos livros, longe da arte, o dia apagado,
         A lição feita.
Emerges inteiramente, silenciosa, contemplando, meditando
         Os temas que mais amas,
Noite, sono, morte e as estrelas.

Canção de mim mesmo – parte 38
Walt Whitman
Em vão me trespassaram cravos nas mãos.
Lembro-me de minha crucificação e sangrenta coroação
Lembro-me dos zombadores e das bofetadas insultantes
O sepulcro e o linho branco me devolveram
Estou vivo em Nova York e San Francisco,
De novo ando pelas ruas dois mil anos depois.
Nem todas as tradições do mundo podem dar vitalidade às igrejas
Elas não estão vivas, são fria argamassa e tijolo,
Posso facilmente erguer outras tantas, e também o podes tu: - Os livros não são homens -.

Cruzando a balsa do Brooklyn
Walt Whitman
Não só sobre ti caem as manchas escuras,
também sobre mim lançou a escuridão suas manchas
O melhor do que eu fizera me pareceu vazio e suspeito,
minhas grandes ideias, como eu as supunha, não eram na verdade fracas?
Nem é só tu quem sabe o que é ser mau,
Também eu atei o velho nó da discórdia.

Quando os lilases floriram pela última vez no jardim da frente
Walt Whitman
No jardinzinho à frente de uma velha casa de fazenda, perto da cerca caiada,
Ergue-se alto o pé de lilases, as folhas em forma de coração, o verde exuberante,
Muitas flores pontiagudas desabrocham delicadas, o forte perfume que adoro,
Cada folha, um milagre – e desse pé no jardinzinho da frente,
Com suas flores de cores delicadas, suas folhas em forma de coração de um verde exuberante,
Um raminho eu faço. 

José Saramago A Flor Mais Grande do Mundo (2010)


BeckLoser (1993): 


2)       Charles Baudelaire (1821-1867): Filho de sacerdote / Criado por general / Baudelaire foi expulso / Do colégio / Interno / Em que estudava / Torrou a herança / Do pai / Na boemia de Paris / Inventor do movimento simbolista / Baudelaire e sua obra causaram escândalo / Sendo censurados / Mas passou / A modelo para as vanguardas artísticas / A partir do século XX / O escritor francês / Também foi um dos pioneiros / A conciliar inventividade artística / Com intelectualidade / Ou seja / Pensar e teorizar sobre a arte que se faz / Mas / Principalmente / Pensar e compreender cuidadosamente o mundo em que se vive / E debruçando-se sobre a “aventura da modernidade” / Na Cidade das Luzes / Baudelaire decidiu / Abordar a crise existencial / O sexo / O vício / O pecado / A morte / De maneira lírica / Poetou sobre a vida comum / E sobre a sordidez das grandes metrópoles / Contribuiu para a invenção dos versos sem rima / Fortalecendo a poesia em prosa modernista / Escreveu ensaios sobre a vida moderna / Concluindo que definir a modernidade não é nada fácil / Contraditório como o próprio mundo moderno / Primeiramente, Baudelaire elogiou a iniciativa burguesa / E o seu mundo capitalista, com todas suas possibilidades tecnológicas, futuristas e criativas / Por fim, alfinetou e cantou “As Flores do Mal” (1861) / Seu livro mais famoso de poesias / Morreu aos 46 anos / Num sanatório / Atordoado pela / Sífilis.
(Albani da Silva, 12.07.2012, com uma ajudona do Marshall Berman e seu “Tudo que é sólido desmancha no ar” – 1982)

O pintor da vida moderna
Charles Baudelaire
“Por ‘modernidade’ eu entendo o efêmero, o contingente, a metade da arte cuja outra metade é eterna e imutável”.


Spleen
Charles Baudelaire
Quando o céu plúmbeo e baixo pesa como tampa
Sobre o espírito exposto aos tédios e aos açoites,
E, ungindo toda a curva do horizonte, estampa
Um dia mais escuro e triste do que as noites;

Quando a terra se torna um calabouço horrendo,
Onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Sua asa tímida nos muros vai batendo
E a cabeça roçando o teto apodrecido;

Quando a chuva, a escorrer as tranças fugidias,
Imita as grades de uma lúgubre cadeia,
E a muda multidão das aranhas sombrias
Estende em nosso cérebro uma espessa teia,

Os sinos dobram, de repente, furibundos
E lançam contra o céu um uivo horripilante,
Como os espíritos sem pátria e vagabundos
Que se põem a gemer com voz recalcitrante

- Sem música ou tambor, desfila lentamente
Em minha alma uma esguia e fúnebre carreta;
Chora a Esperança, e a Angústia, atroz e prepotente,
Enterra-me no crânio uma bandeira preta.

Primal ScreamRocks (2008): 


Arnaldo Antunes Longe (2009):

3)       Federico García-Lorca (1898-1936): Formado em Direito / Educado num caldo de cultura campestre / Na Espanha do início do século XX / Lorca bebeu na fonte das narrativas folclóricas / Mitológicas / E na memória oral / Jogando essa ancestralidade poética / Em experiências surrealistas / Espiritualizadas / Tematizando a natureza / A infância / O amor / Diretor do grupo teatral La Barraca / Penetrou nos rincões de Espanha / Entre 1931 e 1936 / Levando clássicos literários a camponeses / Politizado, homossexual, produtor de teatro popular / Lorca foi assassinado por militantes fascistas / Ao explodir a Guerra Civil espanhola, de 1936 a 1939 / Prenúncio da II Guerra Mundial / Em Espanha / a Guerra Civil / Foi / Um confronto entre as forças anarco-comunistas / Que haviam proclamado a República / Em 1933 / E as forças da direita fascista / Entenda-se: / Clero / Militares / Fazendeiros / Até hoje / A poesia / Procura / Os restos mortais de Lorca. (Albani da Silva, 12.07.2012) 

O poeta pede a seu amor que lhe escreva
Federico García-Lorca
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Gazel I
Do amor imprevisto
Federico García-Lorca
Ninguém compreendia o perfume
da escura magnólia do teu ventre
Ninguém sabia que martirizavas
entre os dentes um colibri de amor

Mil cavalinhos persas dormiam
na praça com luar de tua fronte,
enquanto eu enlaçava quatro noites
tua cintura, inimiga da neve.

Entre gesso e jasmins, o teu olhar
em um pálido ramo de sementes.
Eu procurei, para dar-te, em meu peito
as letras de marfim que dizem sempre,

sempre, sempre: jardim de minha agonia,
teu corpo fugitivo para sempre,
o sangue de tuas veias em minha boca,
tua boca já sem luz para minha morte.

Cesária ÉvoraSodade (2004): 


Xutos e PontapésQuem é quem? (2009): 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Houria Niati, Calma, Beleza, Voluptuosidade, 1992


O Bem, o Mal, os Sonhos
Nas “Noites das Mil e Uma Noites(1982) foi a vez do egípcio Naguib Mahfouz (1911-2006) contar algumas histórias que Scherazade não contou ao Sultão Shahriar:
1.
O DJIN (gênio, demônio, fantasma) Sanjam disse ao chefe da guarda persa:
- Se chamados a fazer o bem, vocês se dizem incapazes. Se chamados a fazer o mal, a ele se prestam em nome do dever.

2.
Nuredin  estremeceu diante da menção de um sonho. Disse a seus amigos Hassan e Fadel:
- Não há nada mais impressionante na vida das pessoas que o sonho. – E ouviu uma voz comentando:
- Você tem razão no que está dizendo, meu filho...
Voltou-se para a poltrona ao lado e viu Sahlul, o comerciante de bricabraque, que olhava atentamente para ele e sorria.
- Você é sábio e experiente, senhor.
- Aquele que domina os sonhos, domina o amanhã – disse Sahlul.
Nuredin se entregou inteiramente à conversa, mas Fadel, lembrando o que lhe havia dito seu amigo ausente, Abdala, o carregador, discretamente o cutucou com o cotovelo e murmurou em seu ouvido:
- Pare de falar com ele.
- Mas ele não é um homem experiente? – Perguntou Nuredin.
- É também tão misterioso quanto o sonho – disse Fadel Sanaan, sussurrando.
(Albani da Silva, 05.07.2012)

CalexicoTwo Silver Trees (2008)


CalexicoCrystal Frontier (2000): 

Cisnes Selvagens – Hong
“Você sabe, tem uma expressão de Confúcio (551 a.C a 479 a.C): ‘Jiang-xin-bi-xin’- Imagine que meu coração fosse o seu!
Foi o que disse a avó da escritora Jung Chang (1952), conforme seu Cisnes Selvagens – Três filhas da China”, de 1991, a uma amiga em algum dia num distante 1933. 
(Albani da Silva, 05.07.2012)

Lucas SanttanaCira, Regina e Nana (2010): 


Led ZeppelinBlack Dog (1971)

Invocação
Conforme Pepetela (1941), em Parábola do Cágado Velho (1997), os povos bantus de Angola assim evocavam seus deuses relapsos em meio à guerra de libertação nacional angolana entre 1971 e 1976:
           Suku-Nzambi criou aquele mundo. Aquele e outros, todos os mundos.
          Suku-Nzambi, cansado, se pôs a dormir. E os homens saíram da Grande Mãe Serpente, a que engole a própria cauda.
            Feti, o primeiro, no Centro foi gerado pela serpente de água e da água saiu. Nambalisita, no Sul, do ovo saiu, partindo a própria casca. Namutu e Samutu, os dois gêmeos de sexo diferente, pais dos homens do país lunda, da serpente mãe directamente saíram.
            A obra de Suku-Nzambi estava completa. Mas nunca se interessou por ela. E a obra de Suku-Nzambi parecia esquecida de viver.
            Até hoje os homens, parados, atônitos, estão à espera de Suku-Nzambi. Aprenderão um dia a viver? Ou aquilo que vão fazendo, gerar filhos e mais filhos, produzir comida para outros, se matarem por desígnios insondáveis, sempre à espera da palavra salvadora de Suku-Nzambi, aquilo mesmo é a vida? (Albani da Silva, 05.07.2012)

Marcelo JeneciPra sonhar (2009):


Souad MassiHouria (2010):

O cabelo do Profeta
Oriente-se, rapaz, com Salman Rushdie (1947) em seu Oriente, Ocidente (1994):
Todo colecionador tem que partilhar seus tesouros com um outro ser humano, e Hashim chamou o único filho, Atta, e contou para ele. Atta ficou profundamente perturbado, mas, tendo jurado fazer segredo, só abriu a boca quando os problemas se tornaram terríveis demais para suportar.
       O rapaz se desculpou e deixou o pai sozinho, na aglomerada solidão de suas coleções. Hashim estava sentado ereto numa dura cadeira de costas retas, fitando o belo frasco.
       Alguém arrisca adivinhar qual terrível relíquia guardada em um belo frasco Hashim fitava? Deixe seu comentário aqui ou escreva para cavalgandoovento@gmail.com
(Albani da Silva, 05.07.2012)

Gilberto Gil Oriente (1979):