sexta-feira, 28 de abril de 2017

RECEITA PRA SE FAZER MÃO DE OBRA BARATA

Antônio Berni (1905 a 1981), Juanito Laguna



Livro XVI / Contos Pra Cantar / Estudar sobre a política / p. 79
RECEITA PRA SE FAZER MÃO DE OBRA BARATA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)


Esta não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta não é a receita pra se fazer um herói
Esta é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra se fazer baratas baratas


Pegue uma menina aos 15 e acrescente um rapaz sedutor
Coloque-os na escola e mexa bem
De molho vai a periferia e um pai violento
Mais uma Dona Maria e a televisão


Esta não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta não é a receita pra se fazer um herói
Esta é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra se fazer baratas baratas


Cozinhe nove meses e terás um pequeno aperitivo que
Chora e mama e chama “Mamãe”
Repita o procedimento 4, 5, 6 vezes
E o banquete começa a ser servido


Esta não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta não é a receita pra se fazer um herói
Esta é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra se fazer baratas baratas


O rapaz sedutor virou uma mera assombração
E a menina bonita, farrapo humano
Sua avó traz do campo mil santos e uma fé sem igual
E também vai pra Igreja pentecostal
Só não entende que o amor é um doce veneno
E o sexo é bom
Mas já não tem mais escola com um filho nas mãos


Esta não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta não é a receita pra se fazer um herói
Esta é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra se fazer baratas baratas


Filhos acolhidos, adotados, criados pela rua madrasta
Onde a liberdade é uma cela sem grades
Carol leve a sina da mãe na sua barriga
Carregando, em breve, um novo Dudu
Mas já não tem mais escola com um filho nas mãos
Mão-de-obra barata
Baratas e ratos


Esta não é a receita pra se matar um sem-terra
Esta não é a receita pra se fazer um herói
Esta é a receita pra se fazer mão-de-obra barata
Pra se fazer baratas baratas


E o Dudu vai pra obra erguer Shopping Center
E o Dudu vai montar carro pra multinacional
E o Dudu vai limpar a sola suja do sapato de algum advogado
E o Dudu rouba a velha no centro
E o Dudu vai em cana
É o Brasil que devora seus filhos e cospe no prato 
(Gravada em Julho de 2015 no Laboratório de Sons do Vento, escrita originalmente em 2010)


quarta-feira, 19 de abril de 2017

MPV - Música Popular do Vento


DESPETALADA ROSA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Eu vi a rainha da bateria da escola de samba
E vi o cigano bailando e tocando tambor
Eu vi a criança que fazia castelos na areia
E a alegria estampada no rosto do menino que
salvava o seu chinelo do mar

Eu vi um pescador que pescava seus próprios pensamentos
E vi dois amantes idosos lentamente a caminhar
Eu vi o burguês que exibia seus inúteis talentos
E vi o vira-lata sarnento deixando
seus rastros na areia

Eu vi a despetalada rosa oferecida à Iemanjá
E vi a garrafa vazia de cerveja jogada na praia
Eu vi conchas brancas que suplicavam teu nome
E vi senhoras discursando sobre homens
na mesa do bar

Alcancei acalantos e cigarros ao pobre servo
E vi tristes traves vazias da goleira onde costumávamos brincar
Senti a tua doce presença na brisa que tocou em meus lábios
E me disse que esse mês de janeiro só restava agora
em nossos corações

* Livro II – Saudade duma coisa saudosa, “Contos Pra Cantar”, p. 13.



segunda-feira, 10 de abril de 2017

Recital "Contos Pra Cantar" no Quiosque da Cultura


Confere aí os retratos de um lambe-lambe que venta no recital de lançamento do livro “Contos Pra Cantar”, Quiosque da CulturaGravataí-RS, 05/04/2017.

Com:
Albani, o Inventor do Vento: Livro, letras e músicas, voz, violão e harmônica
Antonio Ramos: Flautas
Marcos Delfino: Percuteria
Mick Oliveira: Guitarra e melódica
Brayan Ramos: O Esqueleto
Jujuba Negreiros: Maquiagem e apoio

Perdeu o show?
Ouça a playlist aqui: com o melhor da MPV - Música Popular do Vento!