quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Carnaval

Máscara Rangda (espírito maligno feminino lá do Bali), Roubei de um antropólogo durante um curso de extensão na USP, Até agora ele não percebeu, 2006.

Intro

        Josué, 39, engenheiro químico, meu amigo, contou certa vez que seus anos têm 361 dias agradáveis e quatro dias em que nada dá certo. Geralmente são os quatro dias de Carnaval. Ignorante quanto à astrologia, semiótica, psicanálise ou parapsicologia o que me restou foi escrever uma música: apenas pra sacanear o Josué - condenado a conquistar Canaã enquanto todos os hebreus festejam a saída do deserto.


Marchinha Alegre, Cantiga Triste

(C. A. Albani da Silva)

Refrão: Tentei fazer uma marchinha alegre
        Pra comemorar o Carnaval que vem
        Mas só saiu esta cantiga triste
        Repleta de mágoas, cheia de desdém

 Fechei as alas, pois ninguém passou
 E até o Zezé a cabeleira já cortou
 Botei água na minha cachaça, cachaça na água
 E ninguém tomou

Mãe, eu queria tanto a chupeta e fiquei querendo,
Pois ninguém me deu
Perdi de vez a hora da aurora, nem fui embora,
Nem o dia raiou

Minha espanhola nunca vira a Catalunha
Não tocava castanholas, nem pegava touro à unha
Cheguei tarde às touradas de Madri
Fecharam os portões, não pude assistir

Na minha terra têm palmeiras onde canta o sabiá
Mas aqui em casa só dá mesmo pardal e araçá
Atrás do trio elétrico eu fui andando a pé
Não é que o dito cujo ele deu a marcha à ré?

A canoa não virou, mas também não cheguei lá
O que é que a baiana tem?
Tem caroço no angu, tem tico-tico no fubá,
Muitas contas pra pagar

O Imperador do samba foi deposto
E o frevo rasgado por inteiro remendado
Até esqueci aquela serpentina que a colombina gorda
Havia jogado.




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Retorno às aulas

Antonio e Albani, Jornada Pedagógica, Teatro do SESC, 19.02.2014



Dicionário Ventoso para o ano letivo de 2014


Democracia

“Enfrentamos o terceiro milênio como o irlandês anônimo que, perguntado sobre o caminho para Ballynahinch, refletiu e disse:
‘Se eu fosse você, não começaria por aqui’.
Mas é por aqui que temos de começar”.
(Eric Hobsbawm, 1917-2012, “As perspectivas da democracia”, em “Globalização, democracia e terrorismo”, 2007)


Elogio do aprendizado
(Bertolt Brecht, 1898 a 1956)

Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda!
Não desanime! Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma!
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer!
Veja com os próprios olhos!
O que não sabe por conta própria, não sabe.
Verifique a conta É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: o que é isso?
Você tem que assumir o comando.


Utopia
Com quatro séculos de vida, um homem do futuro disse a Eduardo Acevedo, que tinha mais de dois mil livros em casa, e segurava em mãos a “Utopia” de Tomás Morus, impresso em 1518:
- Ninguém consegue ler dois mil livros. Nos quatro séculos que vivo não terei passado de meia dúzia. Além disso, não é importante ler, mas reler. A imprensa, agora abolida, foi um dos piores males do homem, já que tendeu a multiplicar até a vertigem textos desnecessários.
(“Utopia de um homem que está cansado” – Jorge Luis Borges (1899-1986), do “Livro de Areia” [1975]).



Igualdade

O que o homem já fez, os pequenos triunfos de sua condição atual, toda esta história que contamos, tudo é apenas o prelúdio das coisas que o homem precisa fazer”.
(H. G. Wells [1866-1946] – Uma breve história do mundo, 1922)



Liberdade

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
(Romanceiro da Inconfidência, 1953, Cecília Meireles, 1901 a 1964)


Mulheres

Em alguma página do Segundo Sexo (1949) Simone de Beauvoir (1908-1986) falou algo assim: “Não se nasce mulher, torna-se mulher ".



CoV – Diga Cá (ao vivo na lavanderia – Parte 0): O que faz a diferença no Brasil? Me diga cá, senhora...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Pequena Gaulesa

Amazona do Vento e Leco Brown, Vejo estrelas numa Cabeça de Vento, Iemanjá de 2014


CoVPequena Gaulesa:

1.     Foi nalgum dia de 2005 que este Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, compôs “Pequena Gaulesa”. Tentou ele refletir sobre os diferentes significados que os homens atribuem à beleza feminina: sensualidade e lirismo; desejo carnal e passividade; ciúmes; indiferença. Não. Indiferença, não.
Em fevereiro de 2012 esta versão da música foi gravada, no Estúdio Cigano do Albani, o único com o selo “Laboratório do Vento”. Era uma tarde tão quente que o ouvinte mais atento perceberá o crepitar do fogo entre um acorde e outro.

2.    Já no verão de 2014, entre a sombra dos pinheiros e o mar de chocolate da Praia de Baunilha, o Ventoso Inventor contou com a ajuda de três camaradas para a produção do videoclipe:
    - Rodrigo Blume (o DJ Drigo), que, com 13 anos de experiência em guerrinhas de capim, quando o destino do mundo dependia da vitória do capim mocinho contra o capim malvado, assumiu então, sem o hesitar deste Inventor, a função de principal animador dos fantoches de luz e sombra;
    - Gabriel Blume (o Bibi), que, apesar de sua garbosa e indefectível camisa amarela, ainda não experimentou do veneno remédio que corresponde à beleza feminina, mas que logo entrará nessa dança, inevitavelmente; ele operou o som e ajudou o DJ quando duas mãos não bastaram diante da parede;
    - Alex Albani (o Leco Brown), autêntico anjo desasado que anda por essa terra do Deus dará a que chamamos mundo. Triste destino o seu: animou a aldeia em ruínas e o enforcado.

3.    O jegue do músico chama-se Nivaldo; o músico costuma atender, quando procuram, por Tremenda Luz; o que ele leva em mãos é uma viola caipira de 10 cordas, não um violão; se usa chapéu de abas largas em plena Antiguidade é porque sua sina é viajar no Tempo: sempre em busca de novos contos pra cantar.
Alguns dizem que Nivaldo, o jegue, é quem sabe o truque pra viajar pelas eras. Outros protestam dizendo que o segredo está na afinação da viola que o músico leva consigo.
Eu vos digo que Tremenda Luz, debaixo daquele chapelão imenso, tem uma cabeça bem imaginativa mesmo.