quarta-feira, 31 de maio de 2017

Cheirinho do Livro VI dos “Contos Pra Cantar”

Quatro registros da canção “VERÔNICA” do Livro VI dos “Contos Pra Cantar” - Se for religioso, duvidar da existência do deusi: versão Recital Pimenta Pink; versão para piano e voz do Vento; versão sertão; versão ao vivo em Ocupação da estudantada.

VERÔNICA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Ela já não pensa em marido
Ela já deixou o seu partido
E agora já não segue nenhum deus

Ela largou o clube feminino
Ela chamou o patrão de cretino
Já não torce mais pro time que torceu

Ela já não gosta de vestidos
Ela já não limpa os ouvidos
Não espera mais por um príncipe que nunca nasceu

Ai, ai, Verônica
Só encontrou alegria
Quando deixou de fazer
As coisas que sempre fazia

Ela não depila mais as pernas
Nem almeja mais a vida eterna
E agora cospe no prato que comeu

Esqueceu qual era sua causa
E só come sorvete em cauda
Coloriu todos os livros que leu

Ela já não sente mais saudade
Largou a sua velha faculdade
E queimou todos os diplomas que a vida lhe deu

Sua cor favorita era rosa
Mas agora muda a cada lua nova
E o amor tem um sabor de hortelã

Ai, ai, Verônica
Só encontrou alegria
Quando deixou de fazer
As coisas que sempre fazia

Parou de pensar sobre si mesma
Esqueceu até de sua magreza
E deixou a cara do jeito que acordou pela manhã

Trocou o celular por um carteiro
Perdeu o interesse pelo alheio
E a coisa mais bonita que disse foi “Bom Dia”

Tirou o carro da garagem
Mas preferiu fazer com as próprias pernas
Um caminho por um mapa que ela mesma desenhou





sexta-feira, 26 de maio de 2017

Cheirinho do Livro V dos “Contos Pra Cantar”



O PRÍNCIPE SAPO

(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

É difícil chegar / a qualquer lugar / sem ter de lutar
É difícil vencer / sem ter de perder pra aprender

Veja a donzela tão distante esperando o beijo do amado
O príncipe encantado / pode ser / eu ou você!

É difícil sonhar / sem ter de acordar / pra trabalhar
É difícil crer / sem poder ver...
Eu ouvi isso em algum lugar!

Veja a donzela tão distante esperando o beijo do amado
O príncipe sapo / pode ser / eu ou você!
(Livro V dos “Contos Pra Cantar do Inventor do Vento” – Exigir aumento do patrão)

*Gravada no Laboratório de Sons do Vento em Maio de 2017.
Foto por: Jujuba Negreiros

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cheirinho do Livro IV dos "Contos Pra Cantar"



IMORTAL AQUILES

(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Foi um dia tão difícil, amor
Parecia não passar
Mas como tudo, na vida,
Passou

Foi um dia tão tristonho, amor
Só restava chorar
Mas não se faz chuva com as lágrimas
De um só

Foi um dia tão comum, amor
Pra quem não pode se ocupar
E ver o que tinha nele
De diferente

Foi um dia tão comum, no ar
O teu perfume a me embriagar
E você tão
Indiferente

Hoje foi um dia tão comum
Como qualquer dos outros dias
Hoje foi um dia tão comum
Como um dia qualquer que ainda não teve

Você vai ter que me desculpar, amor
Por tudo aquilo que eu não pude ser
E você tanto
Queria

Há alguma coisa a me incomodar
Há tanta gente em tanto lugar
Mas as casas estão todas
Vazias

O velho homem a desvanecer
E a amante que não pude ter
Dançam nesta mesma e irônica
Melodia

O amor padece deste mesmo mal
Oh! Aquiles fora imortal
Somente enquanto
Ele vivia

Hoje foi um dia tão comum...

Você vai ter que me desculpar, amor
Por tudo aquilo que eu não pude ser
E você tanto
Insistia

Há muita coisa a nos incomodar
Pouca mente em nenhum lugar:
As cabeças estão todas
Vazias

O jovem homem a adormecer
E a amante que vai me conhecer
Dançam nesta mesma e irônica
Sinfonia
O amor padece deste mesmo mal:
Gilgamesh fora imortal
Somente enquanto
Ele sorria
(Livro IV – Tomar um gol no futebol, p. 22)

terça-feira, 16 de maio de 2017

Cheirinho do Livro III dos “Contos Pra Cantar”



Canção Pra Todo Mundo
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Esta vai pro senhor que vê estrelas em testas alheias
Esta vai pra senhora que acredita que demônios vagueiam na Terra
Mas esta vai pro comunista que diz que o capitalismo exterminou
até com os demônios

Esta vai pra morena que passa e com seu perfume me seduz
Esta vai pro carteiro que leva tantas cartas e não recebe nenhuma
Mas esta vai para os analfabetos que estão livres
das mentiras dos jornais

Esta vai pro capataz da obra que por fraudes não foi concluída
Esta vai pro moleque que joga bola esperando uma morada
Enquanto melhores condições de vida não vêm
Ele grita gol, ele grita gol, ele grita
(Livro III – Fazer um gol no futebol, p. 17)


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Cheirinho do Livro II dos “Contos Pra Cantar”


DESPETALADA ROSA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Eu vi a rainha da bateria da escola de samba
E vi o cigano bailando e tocando tambor
Eu vi a criança que fazia castelos na areia
E a alegria estampada no rosto do menino que
salvava o seu chinelo do mar

Eu vi um pescador que pescava seus próprios pensamentos
E vi dois amantes idosos lentamente a caminhar
Eu vi o burguês que exibia seus inúteis talentos
E vi o vira-lata sarnento deixando
seus rastros na areia

Eu vi a despetalada rosa oferecida à Iemanjá
E vi a garrafa vazia de cerveja jogada na praia
Eu vi conchas brancas que suplicavam teu nome
E vi senhoras discursando sobre homens
na mesa do bar

Alcancei acalantos e cigarros ao pobre servo
E vi tristes traves vazias da goleira onde costumávamos brincar
Senti a tua doce presença na brisa que tocou em meus lábios
E me disse que esse mês de janeiro só restava agora
em nossos corações

* Livro II – Saudade duma coisa saudosa, “Contos Pra Cantar”, p. 13.

Cheirinho do Livro I dos “Contos Pra Cantar”


Dia Fora do Tempo (Pra Cavalgar o Vento)
- Letra, música, poema, voz & viola caipira: C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento -

Hey garota vê se dança o bugio
Hey garota vê se agarra uma nuvem
Para o vento cavalgar

Hey garota todos têm os seus pecados
E garota um dia nós vamos pagar
Veja quanta incerteza no jeito desse povo olhar

Toque o toque da vida
Ligue o transistor da mente
Eleve o pensamento e seja contente
Toda mundo aqui é feliz
Se cada um cuidar do seu nariz

Hey garota veja o horizonte
É lá que eu ainda espero chegar
Segunda é sempre o melhor dia
Pra se ocupar em vadiar

Hey garota vamos decretar feriado
E deitar na grama pra se amar
Transformo tua beleza em melodia
E você belamente vai gostar

Toque o toque da vida
Ligue o transistor da mente
Eleve o pensamento e seja contente
Toda mundo aqui é feliz
Se cada um cuidar do seu nariz

Poema incidental – “Encantamento para dias sem vento”
Levanta a saia da vida – moça bonita, mas tão traiçoeira
Sopra as barbas do tempo: matá-lo antes que ele nos mate
Descabela a peruca da riqueza
(Exceto se for a riqueza de espírito)

Afaga o rosto das crianças e sorri com elas e chora também
Quando a fome bater, em noites sem Vento, e se sentir sozinho
Ladra com os cães
Pois
Não só no ar está a força divina

Pergunta sem medo:
É a ave quem se deixa levar pelo Vento ou é por causa dela que ele sopra?
Brisa assim o amor logo que deixarem a janela aberta
Roda o mundo
No bafo de menta da jovem na escola

Não há abrigo para qualquer tempestade que não esteja na própria tempestade!

Pois então sopra quando o Vento sorrir
Para cavalgar o vento – No dia fora do tempo
E ventila assim o inferno geral
em que
estamos
metidos.

(Gravada em Setembro de 2015, Laboratório de Sons do Vento)