terça-feira, 30 de abril de 2019

O DIREITO À PREGUIÇA



O DIREITO À PREGUIÇA

Já vivemos o pleno emprego, o desemprego, o subemprego. menos de 150 anos a escravidão era legal, autorizada e permitida no Brasil. Ela foi abolida em 13/05 de 1888, na primeira grande mobilização nacional do país, mesmo assim, nenhuma compensação foi concedida aos escravos que ficaram até o século XXI sem-terra, sem escola, com fome e, muitas vezes, com raiva de trabalhar porque em troca receberam chicote no lombo por 350 anos. Nesse tempo todo, os economistas, por sua vez, falam em câmbio, bolo crescer, juros, ações, taxas, reformas, superavit primário, secundário, terciário e jurássico. Mas eu gostaria de falar é da preguiça. E se reduzíssemos a jornada laboral de 44h para 30h semanais, sem perda salarial?

Alguns empresários e conservadores empedernidos alegam que isso é impossível, pois além dos “custos de produção” o que os assalariados fariam com mais tempo livre? Bobagens, na certa, dizem eles. Ainda que a depender da própria burguesia a gente deva mesmo é gastar mais um pouco do nosso salário (ou melhor, do nosso tempo de vida) com bugiganga pop, badulaques eletroeletrônicos, com bebida, pornografia e entretenimento (fútil?). Ora, e se lembrarmos do ensinamento marxista de que as máquinas, a tecnologia e a ciência devem nos servir e não nós servirmos a elas? Taí, leitor, porque alguns que detestam os livros marxistas. O pior: Carlito Marx também perguntou isso lá em 1848: qual a herança do capital, ou seja, quem é dono das terras, das máquinas, dos bancos? E perguntou igualmente qual a herança de quem só tem o salário, ou melhor, o tempo de sua vida, para sobreviver e deixar para os filhos?

Há 10 mil anos a humanidade conhece o trabalho agrícola e artesanal (familiar ou escravo). Desde 1800 as fábricas capitalistas tomaram conta do mundo com as suas máquinas automáticas e revoluções industriais. Para cada novo operário moderno de macacão azul que veio do campo para viver com muita graxa na cidade, um outro assalariado veio para um escritório de colarinho branco, para um comércio. Tem ainda o trabalhador do serviço público: educadores, médicos, artistas, profissões tão velhas quanto o vinho, a poesia e a religião. Mas o Brasil só foi conhecer sindicatos e uma greve de verdade depois de 1917! Assim como, nossa Carteira de Trabalho (CLT) pintou só em 1943 no morde e assopra do presidente Getúlio Vargas, napoleão de São Borja que se matou em 1954 de vergonha da vergonha que é a burguesia brasileira.

Pois bem, o meu amigo, o jornalista espírita Almada Alves, em recente sessão mediúnica, recebeu a alma do saudoso pensador Paul Lafargue (1842-1911) autor do livro “O direito à preguiça” (1880). O velho sábio, e um tanto quanto satírico, foi casado com Laura Marx (1845-1911), filha de Karl Marx (1818-1883), ele comentou sobre o Brasil contemporâneo: “Camaradas brasileiros, vocês continuam trabalhando, com ou sem carteira assinada, feito burros de carga. E a maioria de vocês em profissões que não lhes agrada. Então o que mudou da minha época pra cá? Agora, mesmo nas horas de folga, em seu tempo 'livre', cada vez menor, todos estão sempre ‘naquela correria’ e a burguesia lhes diverte com pão e circo pop-tecnológico-fofoqueiro, quando vê com baixaria mesmo, eu diria. Muitas pessoas acham isso o máximo, porque não tem como ser diferente, dizem elas, querendo mais do mesmo, querendo ser que nem nos EUA... Falando em EUA, o próprio escritor americano do norte Edmund Wilson escreveu em 1940, num livrinho irado (“Rumo à Estação Finlândia”) sobre as ideias que fizeram a cabeça do mundo, desde a Revolução Francesa de 1789 contra os reis, até a Revolução Russa de 1917, disse o Edmundo naquele livro que, aumentando um pouco o salário, com muita briga sindical e greve e o escambau, o operário já sai comprando carro a prestação, geladeira, micro-ondas, paga aluguel e casa na praia. Até aí, nenhum problema, só que nessa vida à prestação que vai levando, começa a sentir uma coceira de que os direitos trabalhistas conquistados na marra e com paciência de Jó viraram coisas eternas, muito embora não tenha nada além do salário no fim do mês, ele concluiu também que virou gente da classe média. Uau! Daí vem o medo da pobreza, ou melhor, dos pobres que lhe arrodeiam: os herdeiros da escravidão e do racismo machista, ou seja, aquelas pessoas das favelas e vilas que não viraram classe média, ou pior, que, ainda por cima, viraram bandidos, na melhor das hipóteses, viraram vagabundos... Daí vem uma grande dose do conservadorismo político e de toda a tremenda falta de consciência de classe entre os assalariados”.

“As reclamações, continua o fantasma de Lafargue, de um consumidor insatisfeito vão na proporção inversa da consciência da classe trabalhadora. Mas mesmo se achando outra coisa, que não totalmente um pobre (porque agora classe média), muito menos um rico (pois que não é famoso, embora também deseje ostentar grandezas; pois que não consegue sonegar o imposto de renda, embora bata panelas contra a corrupção), apesar disso tudo, vivem deprimidos, os trabalhadores heroicamente mutantes da classe média, humildemente pobres na hora de se lamentar da política, mas grosseiramente ricos nos desejos de consumo, vivendo deprimidos, para não dizer paranoicos, em fábricas, escolas e escritórios. Talvez menos nas sextas-feiras e feriados nacionais pois que daí não pega bem estar por baixo”. Eita.

E quanto à redução da jornada diária de trabalho? Paul Lafargue é totalmente a favor. Haveria mais emprego, entenda-se, renda para todos. Mas todos, ao mesmo tempo, dividiriam mais os seus fardos desta condição inventada que é viver para trabalhar. Assim como, teríamos mais tempo longe do trabalho para tentarmos sair da caixinha que vamos todos encaixotados. Afinal, as máquinas estão aí para produzirem a quase tudo o que precisamos, não é mesmo?
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Um herói da classe trabalhadora



Assim que tu nasces tu te sentes pequeno
Sem chance de reagir
A dor fica tão grande até uma total indiferença

Machucado em casa, abatido na escola
É desagradável ser inteligente, o negócio é ser um bobalhão
Até tu te enlouquecer e largar de mão essas regras todas

Depois das feridas e das cicatrizes acumuladas por 20 anos
Querem que você se agarre a uma carreira brilhante
Tu não te encaixa direito e o medo prevalece

Dopado com a religião, com o sexo e a TV
Daí você se acha esperto, descolado, livre
Mas você continua sendo um caboclo desgraçado

Mesmo assim há um lugar na elite para a gente
Só depois de aprender a sorrir enquanto matar
Se você assim quiser, se igualará aos donos da montanha

Um herói da classe trabalhadora é uma necessidade
Um herói da classe trabalhadora é inevitável
Siga-me, se quiser.
(Livre tradução de Working Class Hero, Lennon John, 1970)



KAMKWAMBA e a LUZ ELÉTRICA de VENTO



KAMKWAMBA e a LUZ ELÉTRICA de VENTO
O jovem engenheiro eletricista William Kamkwamba nasceu no Malawi em 1987. E aos 21 anos publicou autobiografia pela editora HarperCollins, a quatro mãos com o repórter, rodado em África, Bryan Mealer. No meio de uma seca desgraçada, com a fome matando sua aldeia, pois não sobrou uma espiga de milho em pé, o menino Kamkwamba encontrou alimento ao domar o vento africano para fazer a luz, que não havia, na sua casa sertaneja. Como ele disse, a humanidade vive em luta contra a escuridão e a fome…
Kamkwamba virou palestrante global do projeto TED (Tecnologia, Entretenimento e Desenho) da Fundação Sapling, na ativa desde 1984 nos EUA e no mundo, com seu moinho de vento artesanal, mas antes disso foi recebido com ceticismo pelos pais e pelo povoado Wimbe onde cresceu. Curiosamente, e Kamkwamba aborda gentilmente isso por todo o seu livro, o mesmo povo que era cético com o moinho de um garoto, era também bastante crente com as suas lendas antigas e com o poder mágico do vodu de seus feiticeiros, assim como, bastante crente com as igrejas cristãs plantadas no Malawi por colonizadores portugueses em 1600 e por missionários ingleses em 1889.
Se você especular o mapa do Malawi verás que o país fica na trifuca da África que vai do centro ao leste do continente mãe de todos os outros continentes. As terras baixas dos banhados, onde prevalecem meia dúzia de povos diferentes, penetram por entre o Moçambique; já as terras altas é onde fica o enorme lago Malawi e onde nasce o rio Shire, ladeado pelas montanhas Dowa. Na parte Norte é de onde veio nosso herói, e onde os Chewa são o povo principal, que já tiveram incontáveis tretas com os vizinhos do povo Yao, povo africano adepto do islamismo. O Cristo tirou o Papa(i) de Kamkwamba das bebedeiras e das brigas de bar.
Só para constar, colônia inglesa até 1964, o Malawi e seus quase 20 milhões de malauianos foram governados pelo presidente perpétuo Hastings Banda que governou entre 1966 e 1994. Um homem bruto, um minerador também formado médico, que dava uns safanões na oposição, porém subsidiava bastante a agricultura local. E o Malawi, incluindo a capital, Lilongwe, é país agrícola: das espigas de milho e dos rolos de fumo do tabaco. Os pais de Kamkwamba até se meteram a vendedores nas feiras do lago que dá nome ao país, na juventude, ou na crise de fome, durante a seca de 2001, mas eles são lavradores desde sempre. Kamkwamba, único menino entre muitas irmãs, pegou do cabo da enxada e isso ele relata muito bem trazendo os calos do trabalho milenar no campo. Durante o inverno, arar a terra, limpar o solo. Entre dezembro e janeiro, com as chuvas de verão, vem o plantio. Em maio, a colheita. O que não aconteceu com a seca catastrófica de 2001. Enquanto isso, o presidente da época, Bakili Muluzi, pareceu não levar tão a sério o drama da falta das chuvas e o seu governo, por omissão, favoreceu a desgraceira da fome. E da cólera que veio com a fome e as águas infectadas.
Se vocês me perguntarem qual música se escuta no Malawi eu diria o reggae, na voz de Robert Fumulani, e o pop, na voz de Billy Kaunda (que também é político)! Assim como, eles comem um churrasco, chamado kanyenya, embora a carne seja um luxo de Natal; tanto que, para aplacar a fome de carne, Kamkwamba caçava com seu cão os passarinhos na mata de eucaliptos; o feijão e arroz do Malawi é um tipo de polenta, a nsima; tocam tambores chiwoda; jogam bawo nos tabuleiros do mercado e ouvem bastante rádio, sendo as duas maiores estações de rádio, propriedade do governo. A comunidade de Kamkwamba não tem um prefeito, mas um chefe, um sábio conselheiro e líder que, aliás, quando foi pedir ajuda, num comício do presidente eleito, após três décadas do reinado de Banda, o chefe da aldeia saiu surrado pela milícia do magnata...
Mas como é que o Kamkwamba virou engenheiro, tão novinho? Ora, homem prático, aprendeu os princípios da eletrônica e da elétrica desmontando rádios velhos. E perguntando a motoristas e caminhoneiros como funciona um motor ou até um aparelho leitor de CD´s! Porém, o seu pulo do gato, sua eureka científica, foi conhecer o dínamo da bicicleta para acender faróis. Numa crise, nos ensina Kamkwamba, precisamos de um milagre ou de uma boa ideia. A crise estava dada com a seca e a fome; a fuga de uma irmã para se casar com o professor e diminuir o número de bocas da família faminta; a boa ideia também estava dada: era a luz elétrica. Aliás, um aparte pessoal nesta croniquinha: minha Mamica sempre contava de quando saiu da roça em Caraá e Santo Antônio da Patrulha da emoção vendo a cidade de Porto Alegre acesa à noite pela luz elétrica. Seus olhos verdes nunca esqueceram da beleza da noite elétrica de uma cidade que se industrializava em 1966. Fim do aparte.
Os capítulos da seca e da fome nos entortam a consciência e lembram de livros brasileiros como O Quinze de Rachel de Queiroz (escrito quando ela tinha 20 aninhos também) ou Vidas Secas de Graciliano Ramos. Desgraçadas e tristes são as cenas em que Kamkwamba sacrifica seu cusquinho desnutrido assim como quando Fabiano mira a espingarda e acaba com os sofrimentos da cadela Baleia nas Alagoas de 1938…
Para chegar na escola secundária mais próxima, o herói Kamkwamba tem de caminhar 40 minutos. Mesmo assim, ele fica pouco tempo nesse colégio, pois seu pai não tem grana para pagar as mensalidades. Além do que, era exigido exame admissional para cursar o ensino médio. Bem, entre o cabo da enxada e os sonhos da luz elétrica, Kamkwamba descobriu a biblioteca da escola primária, explicando melhor, uma biblioteca social ou comunitária, mas que ficava no prédio do coleginho. Ali estudou os raios solares de Arquimedes refletidos para queimar os barcos romanos em Siracusa, na Grécia Antiga, e principalmente, estudou os ímãs, o eletromagnetismo, os fios, as bobinas, os circuitos, transformadores, disjuntores, correntes alternadas, correntes contínuas, bombas hidráulicas. No ferro velho, ao lado da escola secundária, encontrou a matéria-prima para seu artesanato feito de ventos, faíscas, choques, tudo em busca da claridade. Os mecenas para arranjar os parafusos, arruelas, anilhas e porcas foram os dois melhores amigos: Gilbert, filho do chefe da aldeia; Geoffrey, um primo, filho do tio John, que faleceu e apresentou os silêncios da morte a Kamkwamba antes mesmo da vinda da seca.
Sim, o guri conseguiu fazer a luz alumiar o seu quarto, para ler depois das 19h e poupar o dinheiro gasto pelos pais na querosene das lamparinas. Depois ele montou um esboço de moinho no pátio da escola e virou notícia na imprensa do país. Alguns homens sem viseiras que atuavam no serviço público do Malawi identificaram seu talento e o levaram para o TED na Tanzânia e, depois de suas entrevistas e palestras por lá, ele espalhou lâmpadas através da energia eólica pelo seu bairro. Até implantou um poço com bombas elétricas para irrigar a roça do pai duas vezes por ano. Foi viajar pelos EUA (Nova York, Los Angeles e Las Vegas). Se perdeu na biblioteca da imaginação humana de Jay Walker que, entre livros raros, e milhares de obras consagradas, guarda como lustre o satélite Sputnik dos russos e um computador Enigma de Alan Turing, que ajudou a derrotar os nazistas em 1945.
O livro se encerra com Kamkwamba numa fazenda de ventos no sul da Califórnia. Vou convidá-lo para ir visitar os cataventos de Osório, Palmares, Cidreira e Tramandaí. Torço para que ele encontre algum tempo na sua agenda. Nossos ventos assobiam tristezas parecidas com as do Malawi.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)


terça-feira, 23 de abril de 2019

Ogum virou Jorge que ainda é Ogum


Carybé, Ogum, s/d

RODOPIOS da CULTURA: Ogum virou Jorge que ainda é Ogum

        Veja como a cultura rodopia pelos séculos, disse o cantador Tremenda Luz ao seu jegue de estimação, o Nick Nivaldo. Na Capadócia, Turquia do século III, havia um cavaleiro chamado Jorge. Ele matou o dragão que devorava as ovelhas, donzelas e camponeses na região. Mas o rei de Roma, que dominava a Palestina de cabo a rabo, e se chamava Diocleciano, cortou a cabeça de Jorge da Capadócia por seguir o Cristo quando esta religião era proibida no Império Romano. Mais tarde, os romanos também adorariam a Cruz.
     Mil anos depois de Jorge perder a cabeça (em 287), já no afã das Cruzadas medievais, quando reis e cavaleiros dos feudos e dos castelos europeus queriam tomar, na porrada, Jerusalém dos árabes muçulmanos, os fanáticos do lado ocidental do mundo invocaram Jorge para suas guerras e contra os seus novos dragões. A melhor crônica do herói, nessa época, foi escrita pelo italiano Jacopo de Varazze no livro Legenda Áurea: Vidas de Santos. Assim, em 1387, sob influência dos ingleses e dessas leituras, Dom João I de Portugal escolheu o santo como o grande herói dos guerreiros portugueses.
      Do outro lado do oceano Atlântico, desde a Antiguidade do rio Níger, na negra África dos reinos Daomé e Oyó, Ogum apareceu, espírito de algum antepassado, negro herói fundador de povoados, como a divindade iorubá do ferro, das enxadas para a lavoura, das espadas para as brigas de guerreiros sempre tão cheios de virilidade quanto vazios de compreensão. Desde 1440, as Cruzadas dos portugueses e de outros reinos europeus eram justamente contra os africanos. Já em terras brasileiras, no ano de 1549, o padre Manuel da Nóbrega assistiu à primeira procissão ao corpo de Cristo e a São Jorge na colônia portuguesa da América do Sul.
        Para redimir os pecados dos deuses pagãos, venerados na terreira africana, foram impostos castigos como quatrocentos anos de escravidão, na maior, sagradamente falando, tremenda, cara de pau, por reis, padres e outros colonizadores: literalmente ferrados, os africanos do povo jeje e nagô foram para a América como escravos, amontoados em navios negreiros. Eles chegaram na Bahia e no Rio de Janeiro para trabalhar até a morte e até a conquista dos céus, nas usinas de açúcar do Pernambuco, nas charqueadas do Rio Grande, nas minas de ouro das Geraes, nos cafezais cariocas e paulistas.
      Tremenda Luz, tirando a viola de 10 cordas da capa surrada que lhe acompanha pelas eras, nas suas viagens no tempo, concluiu: em Gana, uma das maiores fortalezas escravocratas da África colonial era dedicada a Jorge. Foi a Fortaleza de São Jorge da Mina, erguida em 1482!
       Nick Nivaldo, muito triste com isso tudo, ou seja, com a intolerância religiosa, com o racismo e os preconceitos, mas encantado com as volteadas que a cultura dá, inclusive no assunto religioso, pelos séculos, afirmou então que isto tudo não foi o suficiente para calar os tambores dos orixás e dos voduns que se disfarçaram nos santos dos católicos do Brasil, quando colônia portuguesa. São Jorge virou o disfarce perfeito para Ogum Rompe-Mato Xoroquê. E acrescentou, cantando agora a canção Lua Bonita (1953), do Zé do Norte, ainda por cima, São Jorge e o Dragão foram parar na Lua, aqui na imaginação dos brasileiros, sendo, como quase todo o guerreiro, um mau marido. Assim como, rebateu Tremenda Luz, na música da sambista Clara Nunes, A deusa dos orixás (1971), Ogum perdeu Yansã para Xangô. O deus da guerra tomou uma ruim no triângulo amoroso para outro deus, digamos, assim, mais culto e mais sedutor de deusas.
       Pouco afeitos a arroubos religiosos de qualquer tipo, Tremenda Luz e Nick Nivaldo partiram para a taberna mais próxima, tomar um vinho para espantar o frio que se achegava e anotar outras histórias para poderem passar os dias ruminando, digo, contando e cantando.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

sexta-feira, 19 de abril de 2019

O ELIXIR DO PAJÉ


O ELIXIR DO PAJÉ
Nesse dia dos povos indígenas
O amigo Bernardo Guimarães
Me lembrou que
Em 1875
Esteve numa comunidade indígena
De Goiás
Ele ia atrás dos remédios da mata
Voltou curado, faceiro
De cabeça erguida!

Alegre com a alegria do meu amigo
Eu lhe disse:
Há muito tempo
O povo da floresta
Sabe muito mais
Muito mais do que a gente!


quinta-feira, 18 de abril de 2019

UMA PÁSCOA MULTICULTURAL


UMA PÁSCOA MULTICULTURAL

       O Prof. Linduarte Cantor deu um almoço de Páscoa na sua casa. Ele me chamou para ajudar, acabei fritando a peixada, assando pão da Síria e trazendo um barril de vinho. A primeira convidada a chegar foi Ostara. E, rapaz, ela não é mole, não! Um mulherão. Não consegui entender de que país ela vinha, se era Dinamarca, Noruega, Suécia ou Alemanha, mas entendi que a moça é vegetariana. Não come bicho morto de jeito nenhum. Se apresentou como a deusa das primaveras e do equinócio, quando a luz do dia empata com as trevas da noite. Ela também ficou um pouco confusa, pois não sabia que em Gravataí, por estarmos no hemisfério sul do planeta Terra, nosso equinócio pascal era o de outono, não o de primavera como lá no Norte gelado, no meio das florestas germânicas e da península escandinava de onde ela veio. Pra bem-dizer a verdade, vi a moça comentando ao prof. Linduarte Cantor que ela acreditava que a terra era plana e que ela ia averiguar com os outros deuses de Asgard, e com os velhos marinheiros vikings, medievais, se conferia mesmo esse papo dos gravataienses modernos, como o Prof. Linduarte Cantor, e eu, de afirmarem que o mundo é como uma bola de futebol, redondo, ou melhor, pensei eu, que é redondo que nem os peitos da própria Ostara. Ela me deixou um bilhete dentro do ovinho de galinha que trouxe todo pintado com muitas cores alegres de lá da Europa. Antes de eu lhe alcançar a sobremesa, abri, sem quebrar, o meu presente e li o que estava anotado “a vida é um eterno recomeço. Na primavera as plantas renascem depois de um longo inverno. Trago a fertilidade para os homens do campo e para a mulher barriguda. Comigo por perto os passarinhos voltam a cantar. P. S.: Gostei de você. Te vejo em setembro”. Imediatamente já me senti revivido e pronto para lavar a louça do banquete do meu amado Professor.
      O segundo convidado que chegou foi o Moisés. Estupidamente eu não sabia que ele era gago. “Claro, né! Todo judeu sabe disso”, falou o Linduarte. E me explicou que ele, o Profeta Moisés, é gago desde menino, pois queimara a sua língua numa prova de fogo inventada por um conselheiro malvado que trabalhava pro faraó. O conselheiro desconfiou, não sem razão, que a filha do faraó tinha adotado o piá Moisés justamente dentre os escravos hebreus, que andavam querendo uma rebelião contra o rei egípcio e em nome da liberdade, afinal, os hebreus estavam escravizados na África há muito tempo. O preconceito, comentei, é coisa de antigos mesmo…
     Moisés chegou falando de como há milênios andava chateado, porque Jesus havia simplificado os seus 10 mandamentos do Antigo Testamento da Bíblia resumido-os em apenas 2 mandamentos, num famoso sermão narrado por São Mateus no Novo Testamento bíblico. Foram 40 anos perdidos no deserto, insistia o Moisés, numa treta sem fim entre as 12 tribos de Israel; mais as tropas do Egito no encalço dos hebreus; raios e trovões ameaçadores no topo do Monte Sinai, pois Jeová não poderia escrever uma lista de regras tão importante sem um estardalhaço cósmico; tudo isso para um dia pintar um jovem carpinteiro pacifista, chamado Jesus de Nazaré, encurtando o roteiro da salvação nas suas palestras. Reparei que Moisés trancou bem em salvação: sá sassá, sá sassassá ção sassá salvação acudiu o Prof. Linduarte. Fiquei um pouco besta com esse papo de advogado do Profeta Moisés, tratando de leis. Estranhei elas serem tão importantes na Antiguidade, onde quase ninguém sabia ler e escrever, mas fiquei quieto, até porque Linduarte leu meus pensamentos e falou ao pé do meu ouvido: “Você nunca conheceu antes um advogado que atravessou o Mar Vermelho de a pé”! Tive que concordar, mas me deu uma vontade louca de pedir pro Moisés cantar alguma coisa, só pra ver se ele confirmava aquela lenda de que gago não gagueja cantando… Olhei na prateleira da biblioteca do Linduarte e vi o livrinho de cantos hebraicos, chamado Hagadá, que reúne as músicas da Pessach (a Páscoa judaica que comemora a fuga do Egito) e quase lhe alcancei a Moisés, solicitando-lhe que puxasse em Lá menor o hino “Avadim Hayinu”. Não haveria desculpa de esquecer as letras ali com o livrinho em mãos, mas bem nessa hora chegou o terceiro convidado do Professor.
          Fomos surpreendidos pois que veio acompanhado. Jesus e Judas chegaram na paz dos humildes. Moisés é que fechou a cara. Depois deles chegarem, mal abriu a boca para comentar de seus pés de oliveira em Canaã, morrendo também na mesma hora o assunto das leis divinas, afinal, com o filho do Chefe ninguém brinca. Curiosamente Judas foi quem falou o tempo todo. Não sei se para impressionar a linda Ostara, mas inclusive deu uma palestra vivamente acompanhada pelo Linduarte, sobre a necessidade de todo o líder e herói ter um canalha traidor e alcaguete por perto. Se nosso destino já vem traçado desde o nascimento, pelas estrelas e pelos deuses imortais, sem nenhum erro de ortografia, mesmo entre tanta linha torta, Judas e Jesus já estavam de acordo do beijo e da traição desde sempre e pra sempre nas alturas do Céu. Linduarte falou para mim: “Já li isso naqueles evangelhos apócrifos, que ficaram de fora da Bíblia, porque foram escritos por cristãos gnósticos”, eu disse “o quê?”, ele disse, “cristãos místicos, Carlos, cristãos místicos, em que a traição de Judas era bem descrita assim, como um mal necessário para a Paixão de Cristo mudar o mundo”.
      Prof. Linduarte ofereceu a Jesus que almoçássemos ouvindo um disco gospel. E lhe perguntou qual cantor ou cantora seria de seu agrado, que puxávamos o disco no YouTube, mas Jesus, simpático e muito calmo, disse não lhe agradar o repertório gospel. Achava pouco criativo e, por demais, apelativo. “Veja, meu filho”, disse algo assim, o Cristo, “nunca fui de falar muito claro em meus sermões e agora vem este povo e escreve panfletos em meu nome”. Todavia, sempre apaziguador e respeitoso das diferenças, aliás como nenhum outro herói que passou pela casa ou pela biblioteca do Prof. Linduarte Cantor, Jesus arrematou pedindo: “toque o disco do Woody Guthrie. Este cantor americano fez uma música gospel que talvez seja a melhor”! Prestei bastante atenção na letra de 1940, afinal era uma mensagem divina, e senti que Woody representava bem ao Jesus que tinha em minha frente, com sua música falando das pessoas com quem Jesus pode contar há 2000 anos atrás – pobres e trabalhadores, e sobre quem quis vê-lo dependurado numa brutal e triste cruz – sacerdotes, fazendeiros, soldados e banqueiros.
    Chegando diretamente de Miami, com duas coelhinhas, capa de revista americana, nosso último convidado a dar o ar da graça foi o Coelho da Páscoa. Ofereceu-nos cortesias de seus novos produtos feitos em Gramado. Fumava charutos caribenhos e disse que o vinho só beberia se fosse do Porto de Portugal, pois ficava com dor de cabeça, com esses vinhos fuleiros do Brasil. Gostava mesmo era dos espumantes da Champagne, na França, disse também. Mal falou sobre a Páscoa. Não citou renascimento nenhum, sequer a ressurreição de ninguém importante. Mas sabia tudo sobre carros importados, sobre o preço do chocolate na bolsa de valores, apoiava a reforma da previdência proposta pelos bancos para os idosos, e achava que se o Natal continuasse vermelho, por causa do Noel, seria um prejuízo enorme para os comerciantes, pois isso era um estímulo à corrupção. Mostrava uma pança avantajada e disse que tinha pressa, que ia inaugurar uma nova fábrica de doces logo mais, no distrito industrial de Gravataí, inclusive com a presença de padres e pastores, pois a fé fazia muito bem para quem é empreendedor. Olhou nos meus olhos e disse: “Ninguém prospera sem fé no seu próprio negócio, rapaz”. Reparei que em nenhum momento o Coelho reparou na mais ilustre de nossas presenças. Muito menos lhe dirigiu a palavra. Jesus, por sua vez, há muito, tinha ido pro pátio dos fundos, estava brincando, preguiçosamente, com os gatos, cachorros e com os dois filhos do prof. Linduarte Cantor, ambos trazendo beiços lambuzados de chocolate.
          Quando todos foram embora, e eu terminei de lavar a louça, peguei do velho violão e cantei o seguinte poema:

VENTOS de PÁSCOA
Que os teus hebreus estejam libertos do cativeiro do Egito
Que o teu Cristo tenha renascido outra vez e de novo e de novo –
A despeito de todas as Cruzes do mundo;
Que os teus pagãos ponham o arado na terra, pois é tempo de plantar
E que façam uso de suas foices, já que também pode ser tempo de colher:
Isto só depende da lavoura de cada um;
Que as tuas crianças demorem a limpar os beiços sujos lambuzados do chocolate
(tão cheio de surpresas quanto o restante da vida)
E que o Coelho lhes cobre, em troca, apenas o equinócio de um sorriso de outono.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)


sábado, 13 de abril de 2019

PAI dos BURROS



Humberto Werneck dando uma força:

-E-

ECO: Encontrar eco / Só o eco responde
ECONOMIA: A economia é a base da porcaria / O motor da economia / Parcas economias
EDIFÍCIO: Edifício majestoso
EDIL: Nobre edil
EFEITO: Efeito cascata / Surtir efeito
EFERVESCÊNCIA: Efervescência cultural
ÉGIDE: Sob a égide de
EIRA: Sem eira nem beira
ELEFANTE: Ser dose para elefante / Ser um elefante branco / Ter sutileza de elefante
ELEGÂNCIA: Árbitro da elegância / Elegância de maneiras / Elegância descuidada / Elegância discreta / Elegância impecável / Fina flor da elegância
ELEMENTO: A polícia prendeu o elemento / Estar no seu elemento.
(O pai dos burros - dicionário de lugares-comuns e frases feitas, Arquipélago, 2014).


quinta-feira, 11 de abril de 2019

Bachelard científico



"É imensa a distância entre o livro impresso e o livro lido, entre o livro lido e o livro compreendido, assimilado, sabido! Mesmo na mente lúcida, há zonas obscuras, cavernas onde ainda vivem sombras. Mesmo no novo homem, permanecem vestígios do homem velho. Em nós, o século XVIII prossegue sua vida latente; infelizmente, pode até voltar. Não vemos nisso, como Meyerson, uma prova da permanência e da fixidez da razão humana, mas antes uma prova da sonolência do saber, prova da avareza do homem erudito que vive ruminando o mesmo conhecimento adquirido, a mesma cultura, e que se torna, como todo avarento, vítima do ouro acariciado".
(GASTON BACHELARD, p. 10, A formação do espírito científico, 1938, na tradução de Estela dos Santos Abreu, Ed. Contraponto)

quarta-feira, 10 de abril de 2019

#24 DIGA CÁ



PLAYLIST do LIVRO
CONTOS pra CANTAR do INVENTOR do VENTO
#24 DIGA CÁ

Gostaria que o século XXI fosse feminino.
Então perguntei a uma lavadeira, a uma faxineira, a uma estudante,
a uma jornalista, a uma jogadora, quem manda no Brasil?
Aguardo as respostas.

DIGA CÁ
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Me diga cá, senhora LAVADEIRA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será o presidente? Será a empresa? Será a igreja? Será a terreira?

Me diga cá, senhora FAXINEIRA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será a escola? Será a televisão? Será a universidade? Ou toda gente trabalhadeira?

Me diga cá, mocinha ESTUDANTE,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será o exército? Será o índio? Será o negro? Será o mestiço?

Me diga cá, querida JORNALISTA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será a natureza? Será a mulher? Será o Silviossantos? Será a Grobo?

Me diga cá, querida JOGADORA,
o que faz a diferença neste Brasil?
Será o dinheiro? Será a fé? Será a ciência? Ou a influência? A
Independência? A Inconfidência? A paciência?
(Haja paciência, meu irmão!)


terça-feira, 9 de abril de 2019

GRAVATAÍ – entre dois aniversários, uma meia festa, arrumamos as gravatas



GRAVATAÍ – entre dois aniversários, uma meia festa, arrumamos as gravatas

      Nasci, moro e trabalho numa cidade que tem dois aniversários e uma meia festa. Assim, o povoado colonial, chamado Aldeia dos Anjos, no dito pelo não dito dos historiadores, se fala que foi fundado em 08/04 de 1763. Mas foi em 23/10 de 1880 que inventaram o município moderno com nome de rio, Major Bernardo pra lá, Cel. Fonseca pra cá, flores de gravatá no meio dos governamentos ilustres que seguem desde então. Ainda temos, ou melhor, os católicos têm, como eram meus avós, a festa da padroeira: Nossa Senhora dos Anjos em 02/08, padroeira também da Costa Rica na América Central e de Los Angeles, logo ali na Califórnia, EUA, me informam dois demônios que esperam ônibus na parada e gostam de ler sobre geografia e as coisas do céu. A seguir o roteiro do povoado fundado no século XVIII, podemos arrotar entre a gauchada que estamos assim assim entre a meia dúzia de cidades mais veteranas do Rio Grande do Sul! Algo como: Rio Grande (1737), Santo Antônio da Patrulha (1743), Viamão (1747), Triunfo (1754), Porto Alegre dos Casais (1772): ops, a capital surgiu depois de nós! Caceta! Mas isso é polêmico como o sexo dos anjos, ainda por cima morando na terra deles. Então me calo.

           O povoamento colonial é mais ou menos assim: por volta de 08 de abril de 1763 o capitão Antônio Pinto Carneiro chegou ao Vale do Rio Gravataí com cerca de mil e um índios guarani vindos dos Sete Povos das Missões (as cidades barrocas entre São Borja e Santo Ângelo, vocês sabem). Depois das Guerras Guaraníticas (1753-1756) em que o índio Sepé Tiaraju (com seu lunar mágico à testa) se juntou com outros índios missioneiros putos dos cornos e de vários padres jesuítas putos também, mas mantendo o decoro pra não cometerem muitos pecados, botaram bravamente pra cima dos mandos e desmandos do Império de Portugal e da Espanha aqui no Sul do Brasil Colônia. Depois da guerra, perdida, como a maioria das guerras, dizia eu, o Rio das Bromélias (Gravataí) e o Morro Itacolomy (ou do Menino de Pedra) acolheram a essa gentarada cansada de briga. Não demoraria muito e a Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos receberia também famílias portuguesas vindas das nove ilhas de Açores, sacolejando heroicamente em naus catarinetas, sete anos e um dia no mar; trabalhadores africanos escravizados desde a Nigéria, Angola e Moçambique – e que aqui ergueram os seus quilombos (do Paredão, logo ali em Taquara; Manuel Barbosa, aqui mesmo, quase em Glorinha) para cultuarem os orixás e a distante Mama África do outro lado do mar Atlântico; muitos portugueses e espanhois aleatórios vieram cafungar aqui, atrás de índias, ouro e terra (se vê, quando acharam uma coisa, não acharam a outra); vários colonos alemães (a partir de 1824 foram branquejar germanices nas redondezas desde São Leopoldo e Novo Hamburgo no vale do Rio dos Sinos); italianos (a partir de 1875 na Serra gaúcha, um pouco em Sto. Antônio também, trazendo seus vinhedos cultivados aos gritedos de galinha com polenta); poloneses na polska Erechim e de lá pro cosmos pampa; japoneses (a partir de 1908 desde São Paulo, meu amor) que vieram se achegando. Para cada manso trabalhador em busca de mansidão, um sem fim de conflitos.

           Digo mais – para desespero dos gloriosos governamentos da Aldeia, foi a Gregória Rita Coelho de Mendonça, bem provável, a 1ª professora pública do RS, alfabetizando os guarani da Aldeia no século XVIII, suas crianças e idosos... Se ainda se usasse lista telefônica, sopra-me o demônio estudioso, no ouvido esquerdo, proveitoso seria eu procurar o número do ilustre carreteiro da Costa, o matadouro de gado do Fonseca, o tambo de leite do Gomes, passear pelo Passo das Canoas com o Pacheco, jogar o jogo do osso com o Maciel, espiar o arrozal do Rosa, e as cochas da filha do Rodrigues, o Sarmento e o Soares contando causo de assombração na botica da Rua de Baixo; entre outros bons momentos com os coroneis da farinha. Talvez embaralhei algum nome aí. Com a boca cheia de mandioca em pó, gargalharia pifado no carteado que eu não sei jogar...

             Deste município nasceram outros – Canoas (1939), Cachoeirinha (1966) e Glorinha (1988). Porém, uma velha amiga marxista (ou seria um demônio?) escreve-me atucanada, me alembrando temerosa de meus preguiçosos esquecimentos, antes que acabe esta croniquinha, que a rural Aldeia dos Anjos virou cidade mesmo somente entre os anos de 1968 e 1982 ao receber um Distrito Industrial. Distrito este sucedido no ano 2000 pela inauguração de uma montadora de automóveis multinacional com seu complexo industrial próprio (e muitas isenções fiscais).

         Nesse processo de modernização econômica surgiram os bairros operários (Moradas do Vale I, II e III; COHAB´S A, B e C), ademais bairros e comunidades suburbanas na periferia da cidade – que é o “povo das paradas” (de ônibus). Igualmente vieram os condomínios fechados e belos residenciais em que se dá oi, chegando ou partindo, a um guarda na portaria, seguramente, dos cumprimentos e dos ladrões. Na real, continuamos uma aldeia, só que agora global!
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)