quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Paul Cézanne, O negro cipião, 1867

Viva o desenho animado brasileiro!!!
Entre 2009 e 2010, a TV Brasil e o Ministério da Cultura (MinC) lançaram o programa ANIMATV em que foram produzidos 17 episódios pilotos de animações inéditas e brasileiras. Para quem está cansado do padrão Disney/DreamWorks de animações fica o convite para conhecer, abaixo, estes trabalhos saborosos.

P.S.: No portal do ANIMATV há a indicação da faixa-etária do público-alvo de cada animação. Resolvi não apontar idade nenhuma aqui, pois às vezes é bom lembrar-se do mote romântico que diz “a boa arte não tem idade”.

P.S 2.: Cada animação tem apenas 11 minutos de duração.

Piratas x Ninjas x Robôs x Caubóis (Dir.: João Penna): A Esponja do Poder leva a uma grande batalha, estilo fliperama, entre heróis clássicos com um visual que lembra as animações do Genndy Tartakovsky (Samurai Jack; O Laboratório de Dexter; As Meninas Super-Poderosas).

Vivi Viravento (Dir.: Alê Abreu): A simpática Vivi e a sua procura por Viravento – o lugar onde nascem as ideias. Estimulada nessa busca por sua avó, a escritora Rosa Rara, acompanham Vivi, pela Amazônia, os personagens Mochilão e Lanterninha. Realmente, Vivi, é muito bom ouvir com os olhos... 

Scratch (Dir.: Fred Luz): Ed, Led e Stive são três baratas que vivem no porta-luvas do carro do detetive Larry. Não muito competente, são elas que solucionam os casos investigados por ele. É o que ocorre neste “A Morte do Sr. Ming”. Mais baratas assim é o que nos falta para melhorar a Segurança Pública no Brasil.

Vai Dar Samba (Dir.: Humberto Avelar): Assinamos em baixo o manifesto do Clube Secreto Vai Dar Samba. 

Pausa para a Música da Semana
Clementina de JesusMarinheiro Só (1982): Em homenagem ao Clube Vai Dar Samba!

A Princesa do Coração Gelado 
(Dir.: Antonio Navarro, Deca Furtado, Zu Escobar): Como descongelar um coração”? Pergunta-se a Princesa do Coração Gelado. “Como congelar um coração”? Pergunta-se o Doutor do Mal.

Wilbor (Dir.: Clewerson Saremba, Rodrigo Gava): Este é Wilbor. O primeiro Wilbor. Direto da Pré-História para a imaginação do narrador.

Abílio e Traquitana (Dir.: Henrique Barone, Fernanda Ribeiro): Agora sabemos por que os vaga-lumes piscam; a diferença entre as lâmpadas incandescentes e as fluorescentes; e a origem do cinema – de certo modo, uma parceria entre Thomas Edson e os Irmãos Lumière.

Zica e os Camaleões (Dir.: Ari Nicolosi): 
O mundo pelos olhos da adolescente Zica; e de seus amigos imaginários, os Camaleões.

Platz na Cidade (Dir.: Animatório e Paulo Miyada): Entregar uma pizza em 10 minutos pode ser uma das tarefas mais difíceis do mundo na Cidade Grande – ainda mais quando se é um trabalhador autônomo como Platz.

Bolota e Chumbrega (Dir.: Frederico Pinto): Todo cachorro adora arroz de carreteiro! Bolota não é diferente. E junto de Chumbrega e de Vonvon, voando pelos céus num guarda-chuva multicolorido, ele encontrará uma chácara onde a matilha se empanturra com tal iguaria.

Hiperion (Dir.: Bruno Vidigal): Agora com Cadu, o Hiperion, já não mais precisamos de Ben 10, Mega Man e Peter Parker para salvar o mundo. Ah! E o vilão Hyrus é bem estiloso!

Historietas Assombradas para Crianças Malcriadas (Dir.: Victor-Hugo Borges): Essa Vovó é demais! Mete medo, mas diverte. Ainda mais ao contar a história de “Alphonsinho, o Inventor”, dentre outras coisas, do primeiro mp3 player da História. Ah! E ele ainda se apaixonou por uma cigana, ou melhor, por uma bruxa, que mantinha a juventude sugando a energia dos homens, presos por seu feitiço em corpos de gato.

Nave Sub-D (Dir.: Coletivo Manada): Bom demais também. O dia a dia dos tripulantes de uma nave intergaláctica subdesenvolvida.
Tromba Trem (Dir.: Maurício Maia): Ganjah, o elefante indiano; Eduarda Tamanduá Bandeira da Silva; Mestre Urubu e um Trem de Cupins andam atrás de um dirigível (ou balãozinho, diria a Duda; nave-mãe, diria a Rainha dos Cupins) que os leve para a Índia ou para Varginha.

Jajá Arara Rara (Dir.: Chico Zullo): Todas as araras contra o Seu Jailson, contrabandista de aves silvestres na floresta amazônica. Guardemos as sábias palavras de Salomão, a arara-azul com 3 metros de altura: “A individualidade do todo do um é o que possibilita a totalidade do um no todo”.

Carrapatos e Catapultas (Dir.: Almir Correia): Surrealismo animado.

Miúda e o Guarda-Chuva (Dir.: Amadeu Alban e Jorge Alencar): Gosto de sentar naquele banco por horas a fio. Olhando de lá tudo se abre em perspectiva”. Plena de poesia, esta animação é de uma delicadeza requintada em diálogo franco com a literatura – do Absurdo.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012


João Baptista Mottini, Negrinho do Pastoreio, s/d

Modernos Causos Fantásticos
            Em plena Semana Farroupilha, os estudantes de 8ª série da EMEF Alberto Pasqualini, Gravataí/RS, foram desafiados a trazer para o mundo contemporâneo alguns dos personagens do folclore regional. No centenário de publicação da obra “Contos Gauchescos” de Simões Lopes Neto (1865-1916) a gurizada invocou Blau Nunes para contar histórias assim:


Os Três Profetas (ou o Surrealismo da Literatura Fantástica)
Leandro Silva Bagolin – pesquisa oral, argumento e texto
C. A. Albani da Silva – edição do poema

Há duas semanas / Um grupo de Profetas / Vagava / De pago em pago / Rumando / Ao seu caminho / Sem Rumo.
Eles resolveram parar / Debaixo de uma árvore / Sem galhos / Sem sombra.
Era mais ou menos / Meia-Noite / Em meio às trevas / De um dia claro / E um Negro careca / Penteava sua cabeleira / Loura.
Sentado num toco / De pedra / Feito de madeira / Um cego / Lia jornal / Com letras de perna pra cima.
A vaca assobiava / Enquanto / O passarinho mugia / Falando, mudo:
“Prefiro morrer a perder a vida”.
“E os 4 Profetas do Mundo são só 3: Moisés e Elias”.

Amor de Santo (Um conto do Negrinho do Pastoreio)
Angélica Andrade Reis
           
            O Negrinho do Pastoreio nunca foi esquecido pela população de Gravataí. Ele, menino bom – Santo Protetor -, sempre esteve disposto a ajudar a todos que precisassem encontrar algo. Bastava acender uma vela e o chamar que ele aparecia, concentrado apenas na procura do que fosse perdido. O Negrinho nunca falhara.
           Certo dia, estava passeando pelo céu com seus cavalos, como de costume, quando ouviu o choro de uma garota. Não pensou duas vezes e foi ver o que estava acontecendo. A menina estava sentada no meio-fio de uma rua vazia. Com a cabeça baixa, escondia seu rosto coberto de lágrimas. Negrinho se aproximou.
            - O que aconteceu? – Perguntou o Santo, sem jeito. – Posso ajudá-la?
            A menina levantou sua cabeça lentamente, enxugando seu rosto.
            - Quem é você? – Ela quis saber.
            - Sou o Ne... isto é... Nicolas. – Mentiu. Não sabia por que, mas mentiu.
          - Tudo bem. Se puder me ajudar, fico grata. É que perdi meu cachorrinho.
            Então o Negrinho, experiente em resgate de animais, começou a ajudá-la. Ficaram um bom tempo juntos procurando o cão perdido. Tiveram sucesso. A menina, chamada Dora, ficou muito grata pela ajuda e agradeceu. Mas o Negrinho não entendeu por que ela não tinha pedido ajuda a ele, do jeito que todos costumavam fazer. Será que ela não conhecia sua lenda?
            Ele não suportou a dúvida e perguntou a ela. Como tinha previsto, ela não conhecia o Negrinho do Pastoreio. Mas não quis contar a verdade a Dora, preferia estar com ela como menino, não como Santo. Despediram-se e Negrinho foi ajudar a outras pessoas.
            A partir disso, o menino, sempre que conseguia um tempo de folga, em meio a tantos milagres, ia se encontrar com a garota. Logo, criaram uma bela amizade, coisa que Negrinho nunca tinha experimentado em sua breve vida.
            Dias depois, o menino se apavorou consigo mesmo. Ele falhara pela primeira vez ao ajudar uma pessoa e, depois, de novo, seguidamente. Negrinho não compreendeu então foi pedir uma explicação para sua madrinha, Nossa Senhora.
            - Minha Senhora, o que está havendo comigo?
            - Pensei que você soubesse, Negrinho.
            O menino não disse nada, não sabia onde a madrinha queria chegar.
            - Negrinho, você não está mais se concentrando para ajudar aos outros, sua cabeça só tem espaço para a Dora.
            - Desculpe, minha Senhora. Mas não posso evitar.
        - Eu entendo, Negrinho. Mas é isso que você quer? Deixar tudo de lado devido a um sentimento que não te pertence mais?
            O garoto ficou quieto, perdido em pensamentos. Ele começou a lembrar de cada sorriso que conquistou após um milagre realizado. Não queria deixar de ajudar aos outros. Essa era a coisa que mais gostava de fazer, e era seu dever. Não podia parar com aquilo. Então disse:
            - Passei todo esse tempo focado em fazê-la feliz que acabei esquecendo o meu dever: ajudar a quem precisa! É isso que vou fazer, minha Senhora, vou voltar para ajudar a quem não consegui, não posso deixá-los assim, desapontados comigo, desamparados.
            - E a Dora? – Perguntou Nossa Senhora.
            - Contarei a verdade a ela e me afastarei.
            - Fico feliz que tenha entendido, meu afilhado.
           Então Negrinho cumpriu com o que disse e continuou a conquistar muitos sorrisos por dia.

MitoramaNegrinho do Pastoreio (2011): Versão musical e animada do mito original.

Pausa para as músicas da semana 

Maysa A Noite do Meu Bem (2009): Hoje estas velhas músicas são para os velhos. Mas há 50 anos eram música Pop. Veio o Rock, então, e deixou mais alegre até mesmo as desilusões amorosas. (Vídeo da minissérie global “Quando fala o coração” dirigida pelo filho de Maysa – Jayme Monjardim).

 Edith PiafRien de Rien (s/d): 

 MaysaMeu mundo caiu (1958): 


Edith PiafNe me quitte pas (s/d):



Retomando, em grande estilo, os causos modernos:
Homem da Corda
Mariana Pereira e Nátali Sarmento

- É verdade, sim. Vi com meus próprios olhos. Ele estava lá, estou certo disso!
- Se tens tanta certeza, explique-me!
- Tudo bem. Vou contar-te...
         No meio do zum zum zum de Porto Alegre, gente amontoada por todos os lados, avistei aquele imenso índio perambulando sem rumo. Olhar perplexo, parecia um tanto confuso. Foi então que girou seu corpo em 180 graus, mirou-me profundamente nos olhos, começando a andar em minha direção a passos largos e firmes, até chegar tão perto que pude sentir sua respiração. Encarei-o, nervoso, e decidi questioná-lo:
- Onde comprastes este pala velho?
 ***
- Não! Duvido que tu tenhas dito isto a Sepé! Ele arrancaria teus olhos.
- Te juro que falei, Joaquim.
 ***
        Por um momento, realmente pensei que Sepé Tiaraju arrancar-me-ia os olhos. Mas não, ele apenas balbuciou palavras sem nexo:
 - Onde se encontra o Homem da Corda?
    Fiquei sem ação. ‘’Homem da Corda’’? Barbaridade! Não acreditava naquilo. Será que ele estava se referindo ao André? Gurizinho magricela que brincava com barbantes na porta do bar, em dias de Gre-Nal?
- Acho que sei a quem tu te referes. Venha comigo, vou levar-te até o boteco do Piléu.
        O índio seguiu-me, sério e calado. Conforme andávamos, ele analisava a arquitetura da cidade; muitas vezes murmurando algumas poucas palavras, das quais não consegui compreender e até hoje não sei se eram elogios ou críticas. Enfim, chegamos. Chamei o guri dos barbantes, que veio voando às tranças, mas parou abruptamente com os olhos arregalados em direção ao índio, dizendo:
- Mas, cara! É você mesmo, Nightwolf? Do Mortal Kombat? Depois do Sub-Zero, você é meu favorito.
O índio, indiferente ao comentário, dirigiu-se à criatura:
- Sou Sepé Tiaraju, guerreiro de São Miguel. Onde está o Homem da Corda?
***
- Espere! Quem é esse maldito ‘’Homem da Corda’’?
- Tu não perdes por esperar, compadre Joaquim.
 ***
         Será que me enganei? Trouxe-o ao lugar errado? Resolvi me meter:
- Não era este “homem” que tu estavas a procurar, índio?  - apontei para o guri, que ainda admirava com os olhos vidrados Sepé.
- Isto não é nenhum homem! – disse Sepé. – É um curumim! Preciso do Homem da Corda, o Homem Cinza!
      Eu já estava tonto. Cada vez confundia-me mais. Que índio paspalho! Só sabia repetir as mesmas informações. Minha boa vontade já estava no limite.
        Foi aí que apareceu uma prenda formosa, cheia de si, tomando conta da situação. Com um sorrisinho maroto, sentou-se à mesa e, após ouvir boa parte da história, resolveu interferir:
- Não é possível que vocês não consigam ver. Está bem de baixo do bigode de vocês! Escutem: Porto Alegre... Homem da Corda... Cinza... Procurado por um índio! O que passa nas vossas cabeças?
- Que este índio é louco e deve voltar para o videogame! – interpelou o magricela.
- Ah, por favor - disse a prenda, levantando-se. - Será que não é óbvio? Ele está atrás d’O Laçador!
***
- Mas por que, diabos, Sepé estaria atrás do Laçador? O Laçador! Uma estátua!
- Acalma-te, a história ainda não terminou.
***
          Resolvi perguntar:
- Está procurando O Laçador? Um monumento de pedra, frio e sem vida?
- Acho que tu não conheces bem o Laçador – disse o índio. - Leve-me até onde ele está e estas tuas perguntas serão respondidas.
          Fomos todos até lá: o índio, a prenda, o magricela e eu, ainda atordoado. Ao chegarmos, o índio dirigiu-se aos pés da estátua, falando novamente palavras sem muito nexo. Congelei, pasmo, ao ver a cena que se desenrolou diante de mim:
- Nossa! Já estava ficando cansado. Havia tempos que não recebia uma visita. O que queres de mim, amigo?
        Esfreguei meus olhos e tentei entender. Só me restava prestar atenção na conversa entre o índio e a estátua.
- Nunca iria imaginar-te assim, plantado. Procurei-te em todos os campos, baias, em todo lugar!
- Mas vamos logo ao assunto, tchê! Por que estás aqui, a procurar-me?
- Lembra-te das ruínas da Catedral de São Miguel?
- É claro, triste história... Mas, e eu com isso?
- Nós a reformamos. Está tudo como novo! Vim convidar-te para a nossa inauguração, queres ir?
- Com certeza. Adoro festas!
      Ficamos todos estarrecidos, observando os dois caminhando lado a lado, conversando e dando boas gargalhadas em direção ao horizonte...
***
- ‘’Inauguração da Catedral’’? Essa foi boa...
- A pura verdade. Cheguei até a comparecer.
- Juras? Como foi?
- Ah! Daí é outro causo, meu amigo Joaquim...

Trailer HQ do Sepé Tiaraju (2010): Clica aqui e baixa a História em Quadrinhos sobre Sepé Tiaraju editada em 2010 pelo Câmara dos Deputados federais. Feito um bom mito, este trailer tem um tom épico. Afinal, foi Sepé quem disse: "Esta terra tem dono"... 

Outro interlúdio musical
MaysaO Barquinho (1961):
Maysa Eu sei que vou te amar (2009): 

 Maria BethâniaSensível demais (2005): Isto é apenas um ensaio da Maria e sua banda. Eita!


Encerrando a postagem com um poema inédito
Quando o Vento sorri
C. A. Albani da Silva

Lá vem o Vento!
O Vento
Que arrasta
Descabela
Destelha
E destampa

Lá vem o Vento!
Nordeste – Quente e opressor
Sul – Melancólico e gelado
De Finados – Soprando na cara o pó que viraremos

Já vem o Vento!
Loas às Tempestades!
Glória aos Furacões!
Lembranças a Hermes
Mercúrio – Exu – E a toda a Ventania

Só não venham
Agora
As brisas mansas
Marolinhas
E outras
Calmarias

Já está aqui o Vento!
E que mais nada fique
De pé então
Nem as árvores, nem os postes, nem os deuses,
Nem o Amor
Nem os mastros das bandeiras
Nem as perucas das velhas
Nem as ideias de jerico

Sopra o Vento!
Voam pelos ares
Cadeiras
O lixo
Dança a
Sacola Plástica
A bola inalcançável
Já não faz mais a criança feliz
Nem o boné
Aperta os miolos
De mais uma Cabeça de Vento

Ri o Vento
Pois
Não
Nada Mais
Rebelde
Do
Que Ele.

(C. A. Albani da Silva, 19.09.2012)




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Gustave Courbet, Os Pedreiros, 1850

A Revolução Sexual em Marte
      Antes de partir desta para uma melhor o escritor norteamericano Ray Bradbury (1920-2012) me pediu, por e-mail, que indicasse um livro referente à Revolução Sexual dos anos 1960 para um amigo seu marciano. O simpático alienígena passou aqui em casa, e após algumas taças de café e chá, cheguei à conclusão de que o camarada extraterreno precisava ler o mais recente título do inglês Martin Amis (1949) – “A Viúva Grávida” (2010). O marciano explicou-me, em português correto, e sem emitir nenhum juízo de valor, que as marcianas têm tomado cada vez mais conta da sociedade no planeta Vermelho, assim como, cada vez mais marcianos se interessam por marcianos e não por marcianas. Empolgado com o assunto, o E.T. curioso nos enviou a seguinte mensagem telepática, após a atenta leitura do romance em questão:

A Revolução Sexual na Terra
            Por muito tempo / Houve / Na Terra / O conflito de classes / O conflito de raças / O conflito de sexos / Hoje resta apenas o / Conflito de Idades. / Um mundo dividido / Sobretudo / Entre Jovens / E Velhos / Mas quando isso começou? / Não! Não foi lendo o Martin Amis / Carinhosamente recomendado a mim / pelo / Amigo / Terráqueo / Albani / Que encontrei a resposta / Foi pesquisando / Na Wikipédia / E no Google / E nuns livros de História bem escritos / Que a verdade me foi / Revelada.
            A minissaia de Mary Quant / Em 1955 / Permitiu ao belo sexo / Botar as mangas de fora, digo, coxas / Mas, antes de tudo / Foi a Revolução Francesa em 1789 / Berrando “Igualdade, Liberdade, Fraternidade” / E a Revolução Industrial / Na mesma época / Enxotando / Milhões de camponeses / Para as cidades / Que / Criaram as burguesas charmosas / As sofridas operárias / Mudou-se a família desde então.
            Nas Guerras Mundiais – entre 1914 e 1945 / A Morte, onipresente nos campos de batalha, disse: “Virem-se, senhoras e meninas / Não há mais homens para amar – estão todos ocupados se matando / Pela Democracia / Pelo Nazismo / Pelo Comunismo”.
            Consequências dessas Guerras: 1) Mais direitos trabalhistas mundo afora; 2) Estabelecimento da sociedade de consumo para reerguer a economia dos países devastados; 2.1) Eletrodomésticos na casa do povão;  3) Bomba-atômica.
            Não esquecendo / Das feministas inteligentes / Clara Zetkin / Alexandra Kollontai / Todas comunistas / Manuelas de outrora / Simone de Beauvoir / Tantas, tantas / Luz Del Fuego / Pagu / Sufragistas / Votes for Women / Não se esquecendo delas.
        Mas tudo isso / Pode ser / Resumido / Em duas palavras / PÍLULA ANTICONCEPCIONAL / Repito / PÍLULA ANTICONCEPCIONAL.            
          Marciano reducionista, eu? / Conforme os marxistas vulgares de outrora? / Talvez / Mas a pílula / Lá em 1954 / Foi um tapa na cara / Dos religiosos moralistas / Judeus / Cristãos / Muçulmanos / “Sexo só para procriar?” / “No escurinho?” / “Chega do homem que vira as costas à gestante!” / Fala agora a PÍLULA, onipresente, ainda que não 100% eficiente / No lugar da Morte / E continua falando: / “Basta do homem que impune fica embuchando falenas” / “Basta da mulher que só / Gere / Pare / Amamenta / Educa / Limpa / Cozinha / Lava / Educa” = “Basta da Mulher Escrava do Mundo”!
            Com a PÍLULA / Ou PIRLA / Ou PÍRULA, tanto faz / O prazer carnal deixou de ser / Exclusividade / De barbados e bigodes / Não sendo mais a gravidez algo / Incontrolável / Mas continuando a economia incontrolável / E continuando, como continua, a mercadoria incontrolável / As mulheres viraram os homens do século XXI / Diria o terráqueo Chacrinha / Sábio palhaço da TV brasileira. 
           Prevalecendo a busca pela felicidade / Na cama / Ganhou força / E legitimidade / A luta homoafetiva.
            Muitas conquistas / Novos problemas / Dilemas / Dramas / Ironias / Gracejos / É Martin Amis quem cita o pensador francês do século Dezesseis, Michel Montaigne - mais precisamente, de 1575:
O homem (a mulher, o homoafetivo – acrescenta o marciano) que ocupa o trono mais elevado da Terra continua sentado em cima de sua bunda.

Odair José Pare de tomar a pílula (1973): 

PapercutsPrimitive Future (2009): 

 Zeca Baleiro Heavy Metal do Senhor (2010): 

 O marciano recomenda
O marciano amigo curtiu mesmo a obra de Martin Amis. Sendo assim, o simpático verdinho extraterreno destaca outros trechos que dão o que pensar em “A Viúva Grávida”:

1.
E assim, mesmo no universo maluco do sono – a gente queria algo apaixonadamente, e aquilo acontecia, se tornava verdade. A gente acordava. E era a única hora em que aquilo acontecia de fato (pensou ele): era naquele sentido e apenas naquele sentido que os nossos sonhos alguma vez se tornavam realidade.

2.
Quando saía pelas ruas de Londres, ele tinha a sensação quase constante de que toda beleza havia desaparecido. E o que havia tomado seu lugar? Beleza é verdade, verdade é beleza. Aquilo era lindo, talvez. Mas como podia ser lindo? Não era verdadeiro. Da maneira como ele via. A beleza, essa coisa rara, tinha sumido. O que restara era a verdade. E havia um estoque interminável de verdade.


Brothers of a Feather Over the Hill (2007)

Brothers of a Feather Soul Singing (2007): 


3.
Nós somos para os deuses aquilo que são as moscas para meninos malvados, Lily. Eles nos torturam por diversão.

4.
Havia uma garota linda, chamada Echo, que se apaixonou por um rapaz lindo. Certo dia, quando estava caçando, o rapaz se perdeu de seus companheiros. Gritou chamando por eles: Onde vocês estão? Eu estou aqui. E Echo, olhando para ele de uma distância cautelosa, respondeu. Eu estou aqui. Eu estou aqui. Eu estou aqui. Eu estou aqui.
            Vou ficar aqui, disse ele. Venha até a mim.
         Venha até a mim. Até a mim, até a mim, até a mim.
            Fique aí!
           Fique aí!, disse ela, com lágrimas nos olhos. Fique aí, fique aí, fique aí.
            Ele parou e ficou escutando. Vamos nos encontrar no meio do caminho. Venha.
            Venha, disse ela. Venha, venha, venha.


VetiverWonder Why (2011): 

The WallflowersReboot the Mission (2012): 

Bom demais!!!
Tem link novo no “Visite” do CoV.
Não deixem de conferir o blog do quadrinista Laerte Coutinho (1951)Manual do Minotauro