sexta-feira, 29 de junho de 2012


Carlos Scliar, Sesta IV, 1955

A festa no mar
O Paraguai por Delfina Acosta (1956) - extraído da Antologia Pan-Americana (2010) de Stéphane Chao:
“[...] E agora todos entramos no baile, esquecendo as tristes horas que passamos enjaulados nesta pátria miserável, sem mar, sem exército de marinha, sem entardeceres de salitre que golpeiem levemente os jasmins das sacadas, todo mundo metido no último vagão da casa, respirando o vapor crescente dos móveis velhos, dos armários de madeira de mogno e da centenária arca familiar, todo mundo na cozinha, ordenhando a vaca que se colocamos aqui não nos permite caber ali, que se colocamos onde quer que seja não nos deixa passar, porque o recinto ficou pequeno depois da última remodelação da ordenhadeira automática”. (Albani da Silva, 28.06.2012)

PélicoNaquela casa (2009):

O Novo Golpe no Paraguai e as veias abertas da América Latina...
Na sexta-feira / 22 de junho de 2012 / Mais um triste capítulo / Na História da América Latina / Sucedeu que / O Senado paraguaio / Impediu, sem direito a ampla defesa / O presidente eleito por voto popular em 2008 / Fernando Lugo. / Assumiu o cargo / Seu vice / O conservador Federico Franco / Lugo foi eleito / Coligado com o Partido Liberal / Um partido de centro-direita tradicional no Paraguai / Mas Lugo, ex-padre / Representou uma inédita guinada à esquerda / No país vizinho / Acompanhando as mudanças políticas / Que se desencadearam na América Latina / Desde a eleição de Hugo Chávez na Venezuela / Em 1997 / E a criação de seu / Socialismo bolivariano / Passando pela ascensão de novas lideranças de centro-esquerda / Nos anos 2000 / Em países como / Uruguai, Equador, Brasil, Bolívia / Todos esses políticos foram eleitos como alternativas-protestos aos prejuízos sociais / Causados pela hegemonia do capitalismo neoliberal na região / Ao longo dos anos 1990. / Prejuízos tais /Como a / Estagnação econômica / O aumento da desigualdade e da violência urbana. / Fernando Lugo fez carreira política / Atuando junto aos movimentos de camponeses e sem-terra / No Paraguai / Vinculando-se / Ao movimento da Teologia da Libertação / Corrente de esquerda / Surgida dentro da Igreja Católica / E que prega a conciliação entre cristianismo e marxismo / Porém, Lugo vinha perdendo popularidade após alguns escândalos de filhos bastardos / Enquanto padre / E estava enrolado / Num impasse / Em como / Realizar a prometida / Reforma Agrária em seu país / Destacadamente agrícola / E marcado pela concentração fundiária = 80% das terras estão na mão de 2% da população / E cerca de 40% dos paraguaios vive abaixo da linha de pobreza / A grande mídia comercial paraguaia / Apoiou a velha oligarquia dos fazendeiros do agronegócio financeiro / E tramaram o Golpe “branco” / Portanto, desta vez / Sem armas no Paraguai. / O estopim / Foram as recentes e crescentes ocupações de fazendas pelos sem-terra / Entre elas / A de uma fazenda de 10 mil ha em Curuguaty / Que resultou na morte de 17 pessoas / 11 sem-terra / 6 policiais. / No final de 2012 / Ocorrem novas eleições presidenciais / Mas novamente / o Paraguai / Vê-se envolvido / Por Golpes / Após tantos e tantos / Regimes ditatoriais e oligárquicos / Que mandaram e desmandaram no país / Desde a Guerra da Tríplice Aliança / No século 19 / Até hoje.   

P.S.: Infelizmente / Golpes de Estado contra governos de esquerda eleitos pelo voto popular / Continuam ocorrendo na América Latina / Como se já não bastassem / As brutais Ditaduras Militares dos anos 1960, 1970 e 1980, em meio à Guerra Fria - No próprio Paraguai e também na Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai, Brasil. / Em 2009, José Manuel Zelaya foi expulso, pelo Exército e pelo Congresso, da presidência de Honduras ao se aproximar de Hugo Chávez e propor mudanças na Constituição de seu país / Em 2010, foi a vez da Polícia Federal tentar derrubar Rafael Côrrea do Equador / Mas a intensa mobilização popular / E o apoio de outros setores sociais / Sustentaram o presidente / Assim como ocorreu com Hugo Chávez, na Venezuela, em 2002.

* Clica ali para mais informações sobre o Gabinete paralelo do presidente deposto do Paraguai, Fernando LugoGabinete paralelo de Fernando Lugo

Secos e MolhadosRosa de Hiroshima (1972)


T-RexHot Love (1971): 

 Guia Cavalgando o Vento para entender melhor o Paraguai:
Augusto Roa Bastos (1917-2005): O mais famoso escritor paraguaio no século XX. É um símbolo da própria maldição do país, tendo passado 40 anos longe de casa como exilado político, devido às ditaduras que marcaram sua pátria. E foi analisando a formação do Paraguai e a colonização europeia na América que sua obra se concentrou. Misturando vocabulário guarani e lirismo, Roa Bastos escreveu grandes e premiados livros como Yo El Supremo (1974) e Vigilia del Almirante (1992).

Barões de Itaipu: Burocracia aburguesada surgida após a instalação da hidrelétrica de Itaipu no Paraguai. Tem tido bastante influência nos rumos políticos do país desde então e atuado fortemente no Partido Colorado e na Ditadura de Stroessner.

Brasiguaios: Fazendeiros brasileiros com terras no Paraguai, geralmente ligados ao agronegócio (soja, gado, algodão, maconha, coca) e interessados na destituição de Fernando Lugo.

Camponeses: O mais significativo grupo dentro da classe trabalhadora paraguaia. Quase 40% dos paraguaios são agricultores, sendo a maioria deles mestiços de brancos de origem hispânica com índios da etnia guarani. Não à toa, além do espanhol, o Paraguai fala, oficialmente, o guarani.

Caudilhos: O termo específico, na América Latina, para oligarca. Geralmente um grande fazendeiro (latifundiário) respaldado ou pelas Forças Armadas ou por mercenários particulares que exercem, com violência e clientelismo, sua influência política e econômica na sociedade e governos. Apesar disso tudo, muitos caudilhos desfrutam de imensa popularidade e carisma junto às classes oprimidas.

General Alfredo Stroessner (1912-2006): Unificou as oligarquias rurais que disputavam o controle político do Paraguai, desde o século 19, a partir de seu Golpe de Estado, concretizado em 04 de maio de 1954. Atrelou o Partido Colorado ao Exército paraguaio e negociou Itaipu com o ditador brasileiro Emílio Garrastazu Médici nos anos 1970. Alternou brutal repressão aos movimentos camponeses, de sem-terra, operários, comunistas, sindicais, estudantis, artísticos e católicos com períodos de “fachada” democrática, inclusive com processos eleitorais fraudulentos e excludentes. Seu governo durou cerca de 35 anos, sendo derrubado, ironicamente, por um novo Golpe militar em fevereiro de 1989.

General Andrés Rodríguez (1923-1997): Liderou o Golpe contra a reeleição do veterano ditador Stroessner, em 1989. Propunha uma “redemocratização” negociada e controlada pela elite oligárquica (agrária e estrangeira), coibindo assim a mobilização social e o fortalecimento de forças de esquerda no Paraguai dos anos 1990.

General Lino Oviedo (1943): Um dos mentores do Golpe contra Stroessner. Foi também o mentor do primeiro presidente civil paraguaio após longas ditaduras, o empresário Juan Carlos Wasmosy, porém, Oviedo acabou entrando em conflito com seu pupilo. Supostamente, também apoiou o recente golpe a Fernando Lugo. Foi acusado de ter planejado o assassinato de Luis María Argaña (1933-1999) então vice-presidente paraguaio e dirigente histórico do Partido Colorado.

Golpe de Estado: Troca violenta de governantes através do impedimento parlamentar de algum mandatário (presidente, primeiro-ministro) ou através de intervenção das Forças Armadas.

Guerra do Chaco: Entre 1932 e 1935, Paraguai e Bolívia enfrentaram-se violentamente pelo controle do Pantanal, mais conhecido como Chaco naqueles países. Por trás do embate, as petroleiras Shell (da Grã-Bretanha) e Standard Oil (EUA) que financiaram e armaram os países beligerantes. Na primeira metade do século 20, eram fortes as suspeitas de imensas jazidas de petróleo no Pantanal. Inclusive o escritor brasileiro Monteiro Lobato (1882-1948) defendeu a prospecção do “ouro negro” no Mato Grosso.


Pausa para refrescar o cérebro (com música, claro!):
PixiesWhere is my mind (1988): 


Ufa…

Guerra do Paraguai (1865-1870): Chamada também de Guerra da Tríplice Aliança, pois uniu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai. A maior guerra da América do Sul, que matou cerca de 600 mil pessoas, ainda hoje gera polêmica entre os historiadores. Uma das interpretações mais fortes do embate afirma que a Guerra foi estimulada por bancos, mercadores e governantes ingleses que lucraram armando e financiando os países em guerra. Assim como, a toda poderosa Inglaterra, então senhora da Revolução Industrial, não aceitou a tentativa da jovem República Paraguaia, sob o comando do presidente Solano López, de se desenvolver autonomamente. E isso quer dizer: sem depender das tecnologias, produtos e capitais de Manchester e Liverpool. No que os historiadores concordam é que a devastação do Paraguai foi tão grande que, até hoje, ele se ressente e padece de pobreza e subdesenvolvimento, em grande parte, devido à Guerra.  

Itaipu: Essa gigantesca usina hidrelétrica construída entre 1971 e 1981 surgiu da parceria entre a Ditadura Militar brasileira e a Ditadura do General Alfredo Stroessner do Paraguai. Situada entre o Paraná (Foz do Iguaçu) e Ciudad del Leste, a hidrelétrica somente perde em gigantismo para a de Três Gargantas na China. Sua construção custou mais de $ 16 bilhões de dólares, tendo sido orçada em menos de $ 2 bi e pôs fim a catarata das Sete Quedas. A energia elétrica ali produzida é repartida meio a meio entre os dois países sócios. Sendo assim, 22% da energia brasileira de lá vem e 95% da paraguaia. Os excedentes paraguaios são vendidos ao Brasil, até o governo Lugo, a preço de custo, após, novos valores foram negociados entre Lula e o presidente deposto.

Josefina Plá (1909-1999): Outra grande artista, poeta, jornalista e dramaturga, pertencente à Geração dos 40 que sacudiu as artes paraguaias. Parceira de Roa Bastos, Plá nasceu na Espanha e veio para a América aos 18 anos com o marido, um artesão 21 anos mais velho do que ela. Talvez por isso escrevesse em Tiempo y tiniebla (1982):o vestido que veio demasiado cedo, que jamais caiu bem, o vestido, que chegou já tarde, para ir à festa, quando já tinha adormecido”.

Juan Carlos Wasmosy (1938): Primeiro presidente civil do Paraguai, eleito por voto popular em 1993. Desde 1811 um presidente paraguaio não era eleito por voto popular, ainda assim Wasmosy foi “tutelado” pelo Exército e seu Partido Colorado.

Latifúndio: Imensa propriedade agrícola, geralmente voltada para a monocultura de exportação (algodão, soja, drogas, gado) amplamente mecanizada e dependente de agrotóxicos para a produção em larga escala. Os latifúndios estão sempre concentrados na propriedade de poucas famílias e/ou empresas.

Missões Jesuíticas: Durante a América Colonial (1492 ao século 19), os padres da Companhia de Jesus, ou seja, os padres jesuítas, foram a vanguarda da Igreja Católica na tentativa de converter os povos originários (indígenas) ao cristianismo. Para isso, tais padres fundaram centenas de Missões ou Reduções acolhendo índios, criando verdadeiras cidades-Estado mestiças por toda a América. Aqui no Rio Grande do Sul, destacaram-se os Sete Povos, entre o fim do século 17 e o século 18, no Oeste do Estado, em que até hoje resistem as Ruínas de São Miguel. Outro pólo importantíssimo dessas Missões foi o atual Paraguai, durante o século 17, às margens do rio Paraná.

Nicanor Duarte Frutos (1956): Ex-presidente e liderança colorada, comandou o Paraguai no mandato anterior ao do governo Lugo. Apontado como um dos articuladores do Golpe “branco” de 2012.

Oligarquia: Grupo político, geralmente da elite (fazendeiros, banqueiros, industriais, governantes), que pratica um governo excludente, ou seja, “um governo de poucos e para poucos”.

Partido Colorado: Grande instituição política da elite paraguaia (oligarcas fazendeiros e “barões de Itaipu”) desde 1887. Atrelado ao Exército a partir da ditadura de Stroessner, em 1954, controla o país através de regimes ditatoriais ou democracias “de fachada”.

Partido Liberal: Partido de centro-direita paraguaio, considerado a segunda força eleitoral do país, atrás do Partido Colorado. Estava coligado com Lugo até a intensificação dos conflitos no campo paraguaio e a tentativa do presidente de unir-se aos colorados. Resultado: Lugo deposto, colorados e liberais unidos.

Rio Paraguai: É um dos grandes afluentes do Rio da Prata. Ao lado do Uruguai e da Argentina, o Paraguai integra a Bacia do Prata, aqui na América do Sul.

Teologia da Libertação: A partir da formação de Comunidades Eclesiais de Base em bairros pobres, alfabetizando os trabalhadores através da Bíblia e dos métodos pedagógicos do brasileiro Paulo Freire (1921-1997), os teólogos da libertação propunham: “um meio de originar um governo que alimente os famintos, vista os despidos, ensine os ignorantes e ponha em prática obras de caridade e o amor fraternal”. O padre colombiano Camilo Torres (1929-1966) foi um desses Teólogos da Libertação. Porém, o Papa João Paulo II (1920-2005) não gostou da idéia de conciliar cristianismo com marxismo e perseguiu este movimento político surgido dentro da Igreja.
(Albani da Silva, 28.06.2012, com uma ajudinha providencial da Enciclopédia Latinoamericana, organizada por Emir Sader e Ivana Jinkings em 2006).
 
Lô BorgesPaisagem da Janela (2010):  

Gotye Somebody that I used to know (2011): 



quinta-feira, 21 de junho de 2012


Gustave Caillebote, Dia Chuvoso, 1877

Onde tudo era proibido
E novamente me encontrei andando pelas ruas de Gravataí e Cachoeirinha num velho FIAT Uno. Ao meu lado, Italo Calvino (1923-1985) contava algumas histórias que eu já conhecia de seu “Um general na biblioteca(1993). Ele as contava mais ou menos assim:
Havia um país em que tudo era proibido / A única coisa não proibida era jogar bola / Os cidadãos se reuniam num campo atrás da vila / E ali passavam os dias jogando bola / Tudo tinha sido proibido aos poucos / Sempre com motivos justificados / Não havia ninguém que pudesse reclamar / Que não soubesse se adaptar / Passaram-se anos / Um dia, o governo viu que não tinha mais razão para que tudo fosse proibido / E anunciaram que os cidadãos podiam fazer o que quisessem / Mensageiros foram aos lugares frequentados pelos cidadãos / “Saibam”, anunciaram, “nada mais é proibido”. / E eles continuaram jogando bola / “Entenderam”?, os mensageiros insistiram. “Estão livres para fazer o que quiserem”. / “Muito bem”, responderam os cidadãos, “Nós jogamos bola”. / O governo fez campanha publicitária para recordar-lhes quantas coisas belas e úteis havia / Às quais eles tinham se dedicado no passado e poderiam voltar a se dedicar / Ninguém prestou atenção e continuaram a jogar bola / Chuta que chuta / Gol e gol / O governo decidiu então / “Nem uma, nem duas”, disseram os governantes, “Proibamos o futebol” / Aí o povo fez uma revolução e matou a todos governantes / Depois, sem perder tempo, voltaram a jogar bola". (Italo da Silva, 21.06.2012)

Caetano VelosoÉ Proibido Proibir (s/d):

Ladrões...
Havia um país onde todos eram ladrões / À noite, cada cidadão saía para arrombar a casa do vizinho / Ao voltar, carregados, encontravam a sua casa roubada / E assim todos viviam em paz e sem prejuízo / Um roubava o outro / E este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o primeiro / Não se sabe bem como / Ocorre que no país / Apareceu um homem honesto / À noite, em vez de sair com o saco e a lanterna / Ficava em casa, fumando e lendo romances / Vinham os ladrões, viam a luz acesa e não subiam / Isso durou algum tempo / Até que convenceram o homem honesto que / Se quisesse / Viver sem fazer nada demais / Não era essa boa razão para não deixar os outros fazerem / Cada noite que ele passava em casa / Era uma família que não comia no dia seguinte / Sem argumentos / O homem começou a sair de noite, voltando de madrugada / Mas não ia roubar / Era honesto, não havia nada a fazer / Ia até a ponte olhar a água passar / Voltava pra casa, e a encontrava roubada / Em uma semana o homem honesto ficou sem um tostão / Sem comida / Com a casa vazia / Mas até aí tudo bem, era culpa sua / Mas seu comportamento criou uma grande confusão / Lhe roubavam tudo / E ele não roubava ninguém / Algum ladrão voltava pra casa e a achava intacta / Exatamente a casa que o homem honesto deveria ter roubado / O fato é que, pouco depois, os que não eram roubados acabaram ficando mais ricos / Não querendo mais roubar / E os que vinham roubar a casa do homem honesto / Sempre a encontravam vazia / Assim, ficavam mais pobres / E os que enricaram pegaram o costume, eles também, de ir à noite ver a água do rio / Isso só fez aumentar a confusão / Pois muitos outros ficaram ricos / E muitos outros ficaram pobres / Os ricos entenderam que indo até a ponte / Mais tarde ficariam pobres / E pensaram: “Contratemos os pobres para irem roubar por nós” / Definiram salários, comissões / Como eram ladrões / Procuravam enganar-se uns aos outros / Mas, como acontece, os ricos tornavam-se cada vez mais ricos / E os pobres cada vez mais pobres / Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e mandavam roubar os pobres para continuarem ricos / Mas se parassem de roubar, eram roubados pelos pobres / Então pagaram aos mais pobres dos pobres para defenderem as suas coisas / Contra outros pobres / Assim criaram a polícia e ergueram prisões / Poucos anos após o episódio do homem honesto / Não se falava mais em roubar ou ser roubado / Mas só de ricos e pobres / E no entanto todos continuavam a ser pobres.
/ Honesto só tinha havido aquele sujeito, e morrera logo, de fome. (Albani Calvino, 21.06.2012)


Leonard Cohen Suzanne (1970): E Jesus era um marinheiro / Quando andou sobre a água / Ele ficou muito tempo apenas observando / De sua solitária torre de madeira / E quando soube com certeza (que) / Apenas os afogados podiam enxergá-lo / Ele disse "Então todos os homens serão marinheiros / Até o mar libertá-los". 

Os Livros Mais Vendidos da Semana (De acordo com a Revista Olhe)

 Ficção
1º - Cavalgando o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - Querido João (Nicolas Fagulhas);
3º - O Filho da Mãe (Rique Raiordan);
4º - A Guerra dos Tontos (Jorge Martin Pescador);
5º - Jogos Sem-Graça (Suzana Colos e todo o Campeonato Brasileiro).

WilcoBorn Alone (2011): 
Não-Ficção
1º - Cavalgando o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - Para sempre, mas só enquanto durar (Bilharda e Críquete Carpinteiros);
3º - Guia Politicamente Incorreto de Gravataí e Cachoeirinha (Leonardo Moloch);
4º - Estevão Empregos. Uma biografia. (Válter Isaquisson);
5º - A cozinha morosa de Anne Marie Bragui-Lhá (Anne Marie Bragui-Lhá).

Cordel do Fogo EncantadoPreta (2006):

Autoajuda e esoterismo
1º - Cavalgando o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - H. Pinho. O amiguinho fiel (Padre Marcos Vermelho);
3º - Desperte o pobretão que há em você (Marcos Feiticeiro Martin Pescador);
4º - O sábio druida e o C.E.O (Tiago Caçador);
5º - Nietzsche para Bobocas (Alain Delon).

Echo and the BunnymenThe Killing Moon (1984): 





quinta-feira, 14 de junho de 2012

Johannes Vermeer, Moça com brinco de pérola, c. 1665

Diálogo sobre relacionamentos I
O professor Moses E. Herzog (1964), de Saul Bellow (1915-2005), conversava com Phoebe Gersbach, esposa de seu "amigo", o radialista Valentine Gersbach - o mesmo que acabou conquistando a segunda mulher de Herzog, a jovem Madeleine Pontritter:
“Talvez você ache que eu vou embora mais depressa se você não se sentar. Venha, Phoebe, sente-se. Prometo que não vim aqui fazer uma cena. Só tenho um propósito aqui, além de querer ver uma velha amiga...”
“Na verdade não somos velhos amigos.”
“Não pelos anos do calendário. Mas éramos tão próximos em Ludeyville. Isso é verdade. Você tem que pensar na duração. Algumas pessoas são condenadas a certos relacionamentos. Talvez cada relacionamento seja ou uma alegria ou uma condenação”. (Albani da Silva, 12.06.2012)

Fito PaezTiempo al tiempo (2010):

Diálogo sobre relacionamentos II
Agora o Professor Herzog conversa com seu colega de universidade, o biólogo Lucas Asphalter:
“Sim, mas você lida com seres humanos. O que eu tenho para mostrar? Rocco (meu macaquinho de estimação que morreu há pouco)”?
“Mas vamos nos ater ao que interessa. Eu acredito de fato que a fraternidade é o que torna um homem humano. Se devo a Deus uma vida humana, é aqui que eu fracasso. ‘O homem não vive só de si mesmo, mas no rosto do seu irmão... Cada um contemplará o Pai Eterno e o amor e a alegria abundarão(citação do poeta inglês William Blake (1757-1827). Quando os apóstolos do temor lhe dizem que os outros só servem para distraí-lo da liberdade metafísica, está na hora de você deixá-los falando sozinhos. A questão verdadeira e essencial é a da nossa serventia para outros seres humanos e da serventia deles para nós. Sem essa serventia você nunca teme a morte, você a cultiva. E a consciência, quando não compreende claramente para que viver, para que morrer, só pode agredir e ridicularizar a si própria. Como você faz com a ajuda de Rocco e de Tina Zokóly (escritora de autoajuda), como eu faço ao escrever cartas impertinentes... Estou meio tonto. Onde está aquela garrafa de Cutty Sark? Preciso de um trago”.
“Você precisa dormir. Parece prestes a capotar”. (Carlos Adriano, 12.06.2012)

Joaquín Sabina Contigo (2006): 

Uma moça bonita afirmou, então a gente acredita mesmo, que William Blake escreveu em algum lugar:
A ave constrói o ninho; a aranha, a teia; o homem, a amizade”. (Anônima moça bonita, 39.13.2012)

O silencioso leitor
Certamente foi Alberto Manguel (1948) quem escreveu, em seu “A biblioteca à noite(2006):
Em Ouadane (deserto de Adrar, Mauritânia), conta-se a história de um mendigo que, no começo do século XV, apareceu diante dos portões da cidade, famélico e andrajoso. Foi levado à mesquita, alimentado e vestido, mas ninguém conseguiu fazê-lo revelar seu nome ou sua cidade natal. O homem não parecia querer outra coisa senão passar longas horas junto aos livros de Ouadane, lendo em completo silêncio. Por fim, após meses de comportamento misterioso, o imã perdeu a paciência e disse ao mendigo: Está escrito que aquele que guarda o conhecimento para si não será bem vindo no Reino dos Céus. Cada leitor é apenas um capítulo na vida do livro, e quando não passa adiante seus conhecimentos condena o livro a ser enterrado em vida, por assim dizer. Você quer um tal destino para os livros que lhe serviram tão bem?´. Ao ouvir essas palavras, o homem abriu a boca e comentou longa e maravilhosamente o texto sagrado que por acaso tinha diante de si. O imã percebeu que o visitante era um certo estudioso, homem célebre que, desesperado com a surdez do mundo, prometera ficar calado enquanto não chegasse a um lugar em que o conhecimento fosse verdadeiramente prezado.  (Albani da Silva, 12.06.2012)

Adoniran Barbosa Samba do Arnesto (c. 1976):  
Ainda sobre os Namorados – a ausência da seresta
O fantasma de Cartola (1908-1980) veio me visitar no Dia dos Namorados, indignado com o fato destes Cavaleiros do Vento não terem mencionado a seresta ou samba-canção ou ainda samba-de-inverno, junto do blues e da milonga, ao falarmos das paixões fracassadas, na semana passada. Então lá vai, Cartola, canção sua na voz de: (Albani da Silva, 12.06.2012)

Roberta Sá e Ney MatogrossoPeito Vazio (2009):

O Arraial de Canudos lá do Tenessi
O Haiti é aqui / Mas o Tenessi também / Aqui no coração / Na Califórnia / No Tennesse / Na cachola-mente-aberta-espírito-livre / Em Gravataí / Cachoeirinha / Açu do Livramento / Buenos Aires / Comala / Santa María / É uma / FRATERNIDADE / Um ritual de Lua Cheia / Porta-mágica / Novo movimento surrealista / Em Sol Maior / Canudos / Em Tenessi / É a fraternidade CR / Adocicadamente falando / Claro. (Albani da Silva, 12.06.2012)

Chris Robinson Brotherhood Sugaree (Grateful Dead, s/d):

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Edward Hopper, Autômato, 1927

Corpus Christi – O corpo de Cristo
Eis a festa católica que celebra / o ritual da Eucaristia = A hóstia e o vinho / Nos cultos e Missas / Para lembrar aos esquecidos, tontos e infiéis da crucificação de Cristo. / No ano de 1243 / Em Liège, na Bélgica / A freira Juliana de Cornion / Conversou / Pessoalmente / Com Cristo / E este salientou / A importância que deveria ter / o ritual eucarístico / Assim em 1264 / O Papa Urbano IV / Consolidou a cerimônia / Entre toda a cristandade / Inclusive com data comemorativa – onze dias após o Domingo de Pentecostes / Quem escreveu / a liturgia / da Missa / de Corpus / Christi / Usada até hoje / Foi o famoso filósofo Santo Tomás de Aquino (1225-1274) / É a Idade Média / Ainda no encalço / Do / Mundo / Moderno. (Albani da Silva, 06.06.2012)

Garantiram pra mim que foi Santo Tomás de Aquino quem disse:
O ato mais específico da fortaleza, mais do que atacar, é aguentar, isto é, manter-se imóvel em face do perigo”. 
(Santo Tomás de Aquino, 30/05/1265)


Frazey FordOne more cup of coffee (Bob Dylan): Imóvel em face do perigo’ manteve-se Bob Dylan ao compor esta canção em 1976. Nela há uma poética descrição da beleza fascinante e singular de uma moça. Consegue isso, o poeta, sem sentir amor ou gratidão. Talvez porque ela nunca aprendeu a ler e a escrever / Não há livros em sua estante. (Albani da Silva, 06.06.2012)

Jorge Ben JorAssim falou Santo Tomás de Aquino: Ele falou muitas coisas mais, esse Tomás, lá de Aquino, na Itália.   

Dia dos Namorados é Dia de São Valentim. Mas qual São Valentim?!?
Quase todos os povos celebram / o casamento / o amor / a fertilidade / Os romanos antigos / louvavam / anualmente / Juno ou Hera / Na data em questão / Sorteava-se raparigas aos rapazes (?!?) / Já a Igreja Católica inventou / a sua / festa do amor / em 496 / quando / o Papa / Gelásio I / Instituiu o dia / 14 de fevereiro / em homenagem a São Valentim / O problema / é que / já naquela época / haviam / canonizado / diversos / Valentins / Todos viventes do século III d.C. / Um desses santos Valentins / foi um padre / que decidiu continuar realizando / matrimônios / mesmo depois de o / Imperador / ter proibido / casamentos / devido à guerra / Acabou / Morto. Outro Valentim / padre / também / foi preso / por seguir / o Cristianismo / quando esta / era religião proibida / pelo Império Romano / Este Valentim, ainda que preso / Embestou / De se apaixonar / pela filha / do carcereiro / E acabou / sendo / executado / Não sem antes / escrever / dezenas / de cartas / de / amor / em que assinava “do teu Valentim” (from your Valentine). / No Brasil, o 12 de junho é mais celebrado pelas lojas, comerciantes e amantes – do que o 14.02 / Mas até a Igreja / Desistiu de saber / De qual Valentim santificado estamos falando / E / Em que dia / O dito cujo / morreu. (Cupido, 06.06.2012)

The Rolling StonesSaint of me: 50 anos de Stones em 2012 / Desculpa esfarrapada / para Cavalgar o Vento / Com eles / Novamente / É que / nunca / farão / deles / uns santos / Ainda que João Batista / O Mártir / Atice / o ódio / de Herodes / E este atenda / Aos desejos / de Salomé / Servindo / Numa bandeja / A cabeça / Mal-passada / de / João. (Albani da Silva, 06.06.2012).
Milonga e Blues no Dia dos Sãos Valentins
É que enquanto houver paixões fracassadas, simplificando, paixões, o blues e a milonga sobreviverão em nossos corações:

Bebeco GarciaMeu coração não suporta mais:

Vitor RamilQuerência:

Bebeco GarciaEu já sei:
As duas desgraças do amor por Juan Carlos Onetti
Risso disse que sim e naquela noite, mirando até de manhã a luz do lampião da rua no teto do quarto, compreendeu que a segunda desgraça, a vingança, era essencialmente menos grave do que a primeira, a traição, mas também muito menos suportável. Sentia seu longo corpo exposto como um nervo à dor do ar, sem amparo, sem poder inventar-se um alívio”. (J. C. Onetti em “O Inferno tão temido”, nalgum dia entre 1933 e 1993).

05/06 – Dia Mundial do Meio Ambiente
Em 2000, a Bolívia parou quando as nações originárias quéchua e aimará tomaram as ruas de Cochabamba reivindicando seu direito à preservação da água como um bem público. Existem coisas que não podem virar mercadoria! A Avó Grilo nos conta esta história assim:

Avó GriloO mito da dona da água:

Cenair MaicáBalaio, lança e taquara: Acabaram com a indiada / Mas ninguém vai conseguir / Tirar do mapa / Da Geografia do Brasil / O nome dos rios, dos lugares que os índios batizaram / E também / A alma do índio continua viva / Seus costumes / Nós, os gaúchos, temos muitas heranças / O Brasil todo / E eu vou cantar o índio esse / Que anda pelas estradas / Vendendo balaio / E ele que construiu os Sete Povos Missioneiros. (Cenair Maicá, 1947-1989)

* E domando o Minuano que chega, enveredamos rumo ao Tenessi, sempre em busca de outro Arraial tipo Canudos!!!! Até Breve!!!! (Cavaleiros do Vento, 07.06.2012)