sexta-feira, 30 de maio de 2014

Pobres Moços – 100 anos da “dor de cotovelo” (minimetragem estudantil em homenagem ao Lupi!)

Cristian Ramos, Lupi, 2014

            
           Nos 100 anos do compositor portoalegrense Lupicínio Rodrigues (1914-1974) o Núcleo de Cinema da EMEF Alberto Pasqualini, Gravataí/RS, prestou uma singela homenagem ao “criador da dor de cotovelo” e fera do samba-canção, da seresta, do samba de inverno, enfim, da música que vem do fuuuuundo d´alma.



Ficha técnica
Minimetragem/videoclipe (c. de 1 min.)

Equipe

Estudantes
Amanda Alves
Cristian Ramos
Juliano Maciel
Larissa Medeiros
Ricardo Berlitz

Professores Responsáveis
Carlos Albani (o Inventor do Vento)
Luciano Kussler (Dom Lucky Luciano)

Trilha Sonora
Releitura de “Esses Moços” (Lupicínio Rodrigues) por: Cavalgando o Vento + Núcleo de Cinema EMEF Alberto Pasqualini 2014.

ESSES MOÇOS
(Lupi)
Esses moços, pobres moços
Ah! Se soubessem o que eu sei
Não amavam, não passavam
Aquilo que já passei
Por meu olhos, por meus sonhos
Por meu sangue, tudo enfim
É que peço
A esses moços
Que acreditem em mim

Se eles julgam que a um lindo futuro
Só o amor nesta vida conduz
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno à procura de luz
Eu também tive nos meus belos dias
Essa
mania e muito me custou
Pois são
mágoas que trago hoje em dia
E estas rugas o amor me deixou

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Dia Nublado (Versão II – Laboratório de Sons do Vento)

Takashi Murakami, 727, 1996


Tarde dum domingo de Inverno em 2005:
Frio, chuva e melancolia
Raul Seixas cantou
Tinha visita estranha na sala!
Não passei a vista no jornal
Mas me tranquei no quarto mesmo assim
Pra não precisar fingir estar alegre quando estava triste
Ou triste quando estava alegre
Dá no mesmo...

O Irmão do Vento
Havia se casado há pouco
E deixou algumas de suas boas tralhas na casa dos pais, do irmão mais novo
Aquário; peixes dentro do aquário; quadro de um Jaguar preto: o carro anglo-hindu, não a onça das américas
A melhor das tralhas
Uma máquina de escrever Olivetti, ainda com fita vermelha - a preta tinha acabado...
Máquina-símbolo: das últimas representantes da fortuna de empresários do escritório antes da fortuna de empresários da computação
(Oh! Oh! Oh! João, técnico em computação...)
Dei de bater uns poemas bestas chamados “A poesia de um louco”
Devo ter criado umas 50 dessas poesias pra louco
Tive a sabedoria de logo em seguida jogá-las todas fora

Mas nesse exercício de criatividade
Tal qual o poeta Amaro Flores Castilhos
De Cachoeirinha/RS
Que ainda compõe seus versos ao som do tec-tec de uma Olivetti
Datilografei as 20 estrofes
De “O dia vai ser nublado”
O lixo não levou estas estrofes
Pois gostei delas
Como gostei de muitas meninas
Desde então
Desde sempre

Em Agosto de 2010 tentei transformar essas 20 estrofes do poema em música
Um samba na guitarra
Bah! Era como se uma cadeirante tivesse sido escolhida para globeleza
Haja visto a falta de molejo daqueles acordes
Ainda assim arrisquei uma gravação caseira – tão deficiente quanto o arranjo original do som
É que faria dali uns dias a minha primeira viagem de avião
Se o pássaro de metal se esborrachasse no chão, ou nalguma nuvem enganadoramente frágil e branca, mas pétrea como muitos corações, ou se algum anjo mal intencionado ou urubu mesmo nos abatesse em pleno voo
A canção poderia sobreviver frente ao Tempo inclemente e à ausência

Em 2013
5773 anos desde o engano divino que gerou o mundo, conforme os hebreus
Publiquei as 20 estrofes de “O dia vai ser nublado” numa coletânea literária, lançada na Feira do Livro de Gravataí
Na mesma época
Tocando no “1º Sarau ‘Ray Bradbury’ da Canção Cósmica”, em Tyrr - planeta mais conhecido pelos terráqueos como Marte -
gravei, ao vivo, com os Sci Fi Boys (Verne, Orwell, Huxley, Asimov, Dick, Clark) uma versão psicodélica da canção

Nesta semana de Maio de 2014
Lua Minguante lá em cima a nos olhar de esguelha
28 anos depois
Da tarde divina
Em que Maria
Deu à luz
Não a um Jesus
Mas a este Inventor de Ventos
Revisito àquele “Dia Nublado” de 2005
Ao menos nublado na minha imaginação
Pois que chovia, água, frio e melancolia 
No mundo lá fora: de concreto, asfalto e outros que tais chamados, em síntese, realidade.


O Dia Vai Ser Nublado
(C. A. Albani da Silva)

O João levantava tão cedo que não era mais preciso dormir
Ele que acordava o galo para o galo cantar
O João por causa disso nem conseguia mais sonhar
O que era um problema, pois ganhava dinheiro e não sabia onde gastar

João
Meu irmão

O João tinha um velho amigo que se chamava José
O José pretendia estudar filosofia
Tomou um empréstimo do banco para pagar a faculdade
E logo aprendeu que no mundo não há apenas uma verdade

José
Filósofo

O José tinha uma namorada que se chamava Maria
Tão meiga quanto uma flor seja de noite ou de dia
Num fim de semana qualquer em que José estudava a sociedade
Maria saiu com Marcelo e acabou aprontando algumas sacanagens

Maria
Mamãe

Na casa da Maria trabalhava um pedreiro que costumava contar umas histórias
Dizia que havia viajado pros EUA
Lá ganhava muita grana trabalhando de frentista num posto
Mas ele abandonou o Tio Sam porque sentia saudades do nosso café

Café
No bule

O pedreiro tinha uma irmã que frequentava uma comunidade espírita
A irmã dizia reencarnar a Luíza Mahin
Esta, por sua vez, reencarnava a Cleópatra
Sua sina era lutar pela liberdade sem fim

Abaixo com os grilhões
Ponham isso nas Constituições

A irmã do pedreiro tinha um namorado chamado Leandro
Ponta esquerda do time da loja de sapatos
Na final do campeonato de várzea num domingo ensolarado
O Léo bateu a falta no ângulo e correu pro abraço

Leandro
Campeão

O Leandro era sobrinho de um metalúrgico de esquerda
Líder de um sindicato da categoria
Certa empresa se negava a dar uma cesta e um peru de Natal
Alegando que a crise era grande no mercado internacional

Tio do Leandro
Greve geral

O tio do Leandro era neto do Seu Mathias
Seu Mathias se lembrava saudoso dos tempos de Getúlio Vargas
Contava que esteve presente na inauguração da Petrobrás
E acreditava que Getúlio tinha sido assassinado

Seu Mathias
Bons tempos que não voltam mais

A segunda esposa do Seu Mathias era descendente de italianos
O avô dela chegou por aqui em 1875
Dona Irene conheceu Seu Mathias num terreiro de umbanda
Casaram-se abençoados por Xangô

Xangô
Iansã

Um dos padrinhos do casamento de Irene era advogado
Especialista em Direito familiar
Todos os filhos de Dr. Antônio também seguiram a advocacia
Era uma grande família de homens da Lei

Vossa Excelência
Doutor

Dr. Antônio teve uma bisneta que não conheceu
A Camila era filha do seu neto mais moço
Ela mandou pro espaço todo esse papo de legislação
E foi embora pra São Paulo estudar teatro

Vitupério
Desgosto pro velho

A Camila teve uma professora chamada Otília
Ela sempre incentivava os seus dotes artísticos
“Sora” Otília havia nascido em Manaus, Amazonas
Sonhava em casar com um francês e ir morar em Paris

Tout comprendre
C´est tout pardonner

“Sora” Otília tinha um irmão que enfiou na cabeça que ia ser cineasta
O Irajara vendeu o seu carro e comprou uma câmera
Tentou fazer uns filmes “cabeça”, mas não obteve nenhum sucesso
Até que alugou um barraco apertado e montou uma empresa de filmes “pornô”

Filmes “cabeça”
Sussurros e gemidos

A Marlene trabalhou por dez anos na “Ira - Prazeres e Produções”
Depois que largou a carreira de atriz fundou uma creche
Aplicou boa parte das suas finanças em obras de caridade
Desfilou nua na rua em protesto pelas Diretas Já

Marlene
José Sarney

A Marlene costumava almoçar e jantar no restaurante do Paulo
O Paulão tocava teclado na paróquia do bairro
Seguido sentia saudades da Juventude Católica
E sempre comentava aos amigos que lá conheceu a mulher

Nossa Senhora do Rosário
Este mundo não tem mais solução

O Paulão não gostava muito do emprego do primo
Pois Luciano era pastor neopentecostal
Também havia se filiado ao Partido dos Trabalhadores
E estava de viagem marcada pra uma reunião do Comitê Regional

Pastor Luciano
Almoço grátis no Paulão

Pastor Luciano era sogro do Pedro
O Pedro era policial militar
Pastor Luciano não gostava nenhum pouco disso
E vivia dizendo pro genro virar guarda municipal

Estimado Pedro
Jesus é o Senhor, Ordem é Progresso

Tenente Pedro era pai do jovem André
O André tocava guitarra numa banda de rock
Apesar do Tenente insistir que música boa era samba e vaneira
Pro André música de verdade era com o Led Zeppelin

André
Stairway to Heaven

O André estava gamado na colega Elisa
A Elisa era a coisa mais linda que ele já tinha visto
Quando Isa passava na escola era como se o mundo inteiro parasse
E a única coisa que se restasse movendo fosse o coração do André

Elisa
Nos pensamentos do André

A Elisa era vizinha do incansável João
Aquele que acordava o galo para o galo cantar
Isa tinha cinco cachorros e uns nove gatos que
Viviam sujando o pátio e roubando as roupas no varal do João

João
Técnico em computação
João
O dia vai ser nublado deu no jornal


Não há início melhor do que um ponto final.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Se eu quiser falar com Deus

R. Sanzio, Santo Enterro, 1507


SE EU QUISER FALAR COM DEUS
Gilberto Gil
1980


Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar

Elis ReginaSe eu quiser falar com Deus (1982):



quarta-feira, 7 de maio de 2014

O maior encontro da galáxia: banda Madame Satã em 2014

João Francisco dos Santos Sant´Anna, Madame Satã, 1900 a 1976


O maior encontro da galáxia...

...foi a reunião da banda Madame Satã, a mais grande banda da galáxia desde 2001!, do Gravataí/RS para o Cosmos infinito, em Maio de 2014, relembrando hinos roqueiros da adolescência escritos por eles mesmos quando adolescentes!


Agradecimentos especiais:
Ademir "Delfin" - que cedeu seu atelier/estúdio para a Madame e ainda tocou os teclados;

Lilian Galarraga: que teve a paciência de filmar todo o ensaio até acabarem as pilhas, baterias e reatores nucleares das câmeras.

Para conhecer a história da banda "Madame Satã" leia a postagem de 20.07.2013: http://cavalgandoovento.blogspot.com.br/2013/07/madame-sata.html

E para ouvir outras sonzeiras: http://soundcloud.com/madamesata

Já para conhecer o personagem histórico, homônimo do grupo de rock, leia o artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional:



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Simplício, Salviati e Sagredo conversam

Lunações, Galileu Galilei, século XVII


 Giovanni Francesco Sagredo fala da vida do universo e o homem:

            Não posso, sem grande admiração, e direi mesmo, grande repugnância no meu intelecto, ouvir atribuir como grande nobreza e perfeição aos corpos naturais e integrantes do universo, esse ser impassível, imutável, inalterável, etc., e inversamente considerar grande imperfeição o ser alterável, gerável, mutável, etc. Quando a mim, considero a Terra nobilíssima e admirável pelas tão numerosas e diversas alterações, mutações, gerações, etc., que nela incessantemente se fazem, e se acaso, sem estar sujeita a qualquer mudança, ela fosse toda uma vasta solidão de areia, ou uma massa de jaspe, ou se no tempo do Dilúvio, gelando-se as águas que a cobriam, tivesse permanecido um imenso globo de cristal, onde nunca nascesse ou se alterasse ou mudasse alguma coisa, eu considerá-la-ia então um corpo inútil no Mundo, cheio de inércia e, em resumo, supérfluo e como se não existisse na natureza; e faria aquela mesma diferença que há entre o animal vivo e o morto; e o mesmo digo da Lua, de Júpiter e de todos os outros globos mundanos. Mas quanto mais me embrenho em considerar a estultícia dos discursos populares, tanto mais levianos e estultos os acho: e que maior tolice se pode imaginar que aquela que chama coisas preciosas às jóias, à prata e ao ouro, e coisas vis à terra e ao lodo? E como é que não ocorre a esses tais que se houvesse tanta escassez de terra como a que há de jóias ou de metais mais preciosos, não haveria príncipe algum que de bom grado não despendesse uma soma de diamantes e de rubis, e quatro quilates de outro, para ter apenas a terra necessária para plantar num pequeno vaso um pequeno jasmim, ou semear lá uma laranjeira da China, para vê-la nascer, crescer e produzir tão belas folhas, flores tão odoríferas e tão aprazível fruto? É portanto a penúria e a abundância que dão maior ou menor valor às coisas junto do vulgo, o qual dirá depois ser aquele um belíssimo diamante, porque se assemelha à água pura, e depois não o trocaria por dez pipas de água. Esses que tanto exaltam a incorruptibilidade, a inalterabilidade, etc., creio que se limitem a dizer essas coisas pelo grande desejo de viver longamente e pelo terror que têm da morte; e não consideram que se os homens fossem imortais, eles não teriam vindo ao Mundo. Esses mereceriam topar casualmente com uma cabeça de Medusa, que os transformasse em estátuas de jaspe ou de diamante, para se tornarem mais perfeitos do que são.

(Galileu Galilei publicou os “Diálogos sobre os dois máximos sistemas de mundo – Ptolomaico e Copernicano” em 1632 a pedidos do papa Urbano VIII...)


CoV  Quando o Vento sorri : No Dia do Trabalhador foi o Vento que sorriu no Sul do Brasil...