sexta-feira, 27 de maio de 2016

VERÔNICA


Henri Matisse, A dança, 1909


A história de Verônica, letra e música de C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento: moça quixotesca que chutou o balde e virou a mesa da cultura machista em que foi criada!

Ao vivo na Ocupação da Escola Padre Nunes, Gravataí/RS, Maio de 2016.
Versão FolkPunkSertaneja!

Vamos sempre Cavalgando o Vento!
Vuuuuuush!
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VERÔNICA
Ela já não pensa em marido
Ela já deixou o seu partido
E agora já não segue nenhum deus

Ela largou o clube feminino
Ela chamou o patrão de cretino
Já não torce mais pro time que torceu

Ela já não gosta de vestidos
Ela já não limpa os ouvidos
Não espera mais por um príncipe que nunca nasceu

Ai, ai, Verônica
Só encontrou alegria
Quando deixou de fazer
As coisas que sempre fazia

Ela não depila mais as pernas
Nem almeja mais a vida eterna
E agora cospe no prato que comeu

Esqueceu qual era sua causa
E só come sorvete em cauda
Coloriu todos os livros que leu

Ela já não sente mais saudade
Largou a sua velha faculdade
E queimou todos os diplomas que a vida lhe deu

Sua cor favorita era rosa
Mas agora muda a cada lua nova
E o amor tem um sabor de hortelã

Ai, ai, Verônica
Só encontrou alegria
Quando deixou de fazer
As coisas que sempre fazia

Parou de pensar sobre si mesma
Esqueceu até de sua magreza
E deixou a cara do jeito que acordou pela manhã

Trocou o celular por um carteiro
Perdeu o interesse pelo alheio
E a coisa mais bonita que disse foi “Bom Dia”

Tirou o carro da garagem
Mas preferiu fazer com as próprias pernas
Um caminho por um mapa que ela mesma desenhou

sábado, 21 de maio de 2016

COISAS DE HERÓI: GILGAMESH



COISAS DE HERÓI: GILGAMESH
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
A primeira lenda escrita pela humanidade
Em plaquinhas de argila rabiscadas cuneiformes
Pelo povo sumério
Lá na antiga Mesopotâmia, hoje Iraque
É o seguinte:
O rei Gilgamesh em 2700 a.C
Fundou a cidade de Uruk
Depois de ter viajado o mundo
Conhecido suas origens: até o fundo dos mares
Só que nosso herói (primeiro herói!)
Também sabia ser malvado
E obrigou seu povo a erguer uma muralha
Tijolo por tijolo
Em volta de Uruk
O povo apavorado com a idéia da escravidão
Suplicou à deusa Ishtar
(Senhora das águas lamacentas do Tigre, do Eufrates)
E ela mandou o guerreiro Enkidu
Guerreiro das florestas de cedro
Pra ajudar os sumérios contra a escravidão
Contra o mandonismo do rei
Enkidu encarou Gilgamesh
Mas após incansáveis batalhas: não houve vencedor
O empate os fez amiguinhos
E parceiros se meteram em aventuras juntos
Destruíram monstros / pacificaram o mundo (na porrada!)
Daí disseram que ninguém mais ia erguer muro nenhum
O amor correspondido nos faz bonzinhos
Só que Ishtar ficou com ciúmes de Enkidu
Seu protegido agora só queria saber
De Gilga pra cá
Gilga pra lá
Assim a deusa rogou uma praga e após 12 dias
Enkidu morreu!
Gilgamesh pirou na batatinha e resolveu correr mundo
Procurando magia que ressuscitasse o amigo
Mas só encontrou o homem mais velho de todos
Utnapishtin, que os hebreus chamavam Noé
Ele, como todo bom velhinho
Sempre contava as mesmas histórias
E a dele era a do Dilúvio
Da arca que fez, a pedido dos deuses
Pra salvar sua família abençoada e os animais
No passado
Oriente inteiro foi alagado e os homens punidos
Por aborrecerem os deuses
Com queixas, barulhos e arrogância
Noé, digo, Utna contou que a punição ia além
Pois condenaram a nova humanidade ao
Trabalho doença
Morte fome
Gilga, teimoso, seguiu atrás do milagre da imortalidade
Mergulhou no Mar Mediterrâneo
Até achou uma planta mágica lá
Mas a perdeu de forma besta
Numa onda que passou (e a levou)
Foi quando o fantasma de Enkidu
O guerreiro das florestas de cedro
Lhe apareceu
Nu em pelo
Contando das coisas do além
Falando da saudade
E dizendo a verdade somente a verdade:
 - Imortais só os deuses mesmo! Podes chorar ou viver...


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Música pras crianças no BR

Wilhelm BuschJuca e Chico, c. 1865


            Dos discos de música pras crianças no Brasil, assim modernos, o primeirão bem que pode ser a “Arca de Noé”: Juntando um time de craques pra cantar sobre os bichinhos que Noé reuniu em seu barco salvando-os da enchente bíblica de há 5000 anos: Vinicius de Moraes poetando (que faleceu poucos meses antes do lançamento do álbum, em 1980), Toquinho produzindo e tocando, Fernando Faro produzindo também, Rogério Duprat arranjando. Quanto às participações? Jesus, Maria e José (só faltou eles mesmo!): Chico Buarque e Milton Nascimento, MPB4, Alceu Valença, Bebel Gilberto, Frenéticas, Boca Livre, Moraes Moreira, Ney Mattogrosso, Walter Franco, Marina...

Boca LivreA Casa


            Das cantadoras & contadores de histórias, uma das precursoras a unir o pensamento mágico da arte com a pesquisa acadêmica foi a moça Bia Bedran:

Bia BedranPedalinho


            Dos musicais comerciais para a infância que proliferaram com a TV e sua indústria cultural nos anos 1980, saudaremos o Maluco Beleza, Raul Seixas, que não deixou barato e, em plena Rede Grobo, no especial “Plunct Plact Zuuum” (1983), cantou o anarquismo para os pimpolhos em “Carimbador Maluco”:

Raul SeixasCarimbador Maluco:


         Aberta a vereda da música infantil para adultos, outro maluco, desta vez, o catarinense, Carlos Careqa gravou o álbum “Palavrão Cantado” (2014):

Carlos CareqaRap do Peido:

Carlos CareqaMeleca:

         E como no sul do Sul do Brasil também temos crianças e compositores geniais, chegamos ao Claudio Levitan que, dentre outros trabalhos, como a “Opereta Pé de Pilão”, sobre poemas do Mário Quintana, gravou, mais recentemente, o “Porto Alegre das Crianças Perdidas”:


       Outro mestre sulino é o Gelson Oliveira que acertou em cheio com o tema do programa “Pandorga”, infantil que está no ar na TVE/RS desde 1988. O mais recente trabalho do Gelson, Prêmio Açorianos de Música em 2015, “O Ônibus do Sobe e Desce”, retomou essa canção trazendo outras tantas inéditas pra falar com os pimpolhos desse mundo velho medonho maluco:
        
Gelson Oliveira  Papagaio, pandorga:

      Vira e mexe, o CoV também apronta suas criancices:
CoV  O Esqueleto:



 CoV  Para quando Alice acordar:


sábado, 7 de maio de 2016

Júlio Alves: Concerto feito de ex-tragos



"a poesia do júlio alves
está na cabeça
do século XXI
breve como os
zap zaps
da gurizada
mas muito mais criativa:
bem humorada
sacana e libertina
como poucas
atualmente conseguem ser
- pra falar de amor
(em dias de moralistas verdeamarelos)
[ou de oportunistas pornógrafos vendilhões]"
C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento

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o que sei do sol
é o douro de tua pele

o que sei do mar
é o sal da tua pele

em tua pele
um amar
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num zaz
o treco
de amar
enguiçou
por falta de uso
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flutua uma lua em teu umbigo
outros astros são chamados
pela gravidade

lambidelas chicoteiam
o céu da boca

luz escorre em estrelas
o encontro é perder-se

pare de correr
vire nuvem
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tenho um mau humor
que me faz feliz

essa ditadura de estar alegre
não me prende

há dias que acordo feliz
certas noites festivas
entristeço

bem solto
rio
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se for
que fodas

se voltar
que gozes

somos
movimento
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acordei
num dia sonso

meio
sei lá
sem sal

tu
toda apimentada
queimou muitas calorias

teu corpo fervendo
derreteu minhas
gordurinhas

escorremos
mel
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avestruz

mais me entrego ao esconder-me
abunda, a bunda gorda, projeta-se

qual lua cheia, branca, em breu
alumia noite, escondendo estrelas

quanto mais ao solo reclino-me
fausta reluz, e, ao sol, ela branca
abunda, a bunda
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fdp

mamães não digam sempre
meu filho é o mais lindo

pois eles crescem
e partem para o mundo

e este mundo
tá cheio


(O livro “Concerto feito de ex-tragos”, de Júlio Alves, foi publicado pela editora Gente de Palavra em 2015, coleção Cadernos de Poemas, com apoio do Fumproarte de Porto Alegre/RS)