sábado, 7 de maio de 2016

Júlio Alves: Concerto feito de ex-tragos



"a poesia do júlio alves
está na cabeça
do século XXI
breve como os
zap zaps
da gurizada
mas muito mais criativa:
bem humorada
sacana e libertina
como poucas
atualmente conseguem ser
- pra falar de amor
(em dias de moralistas verdeamarelos)
[ou de oportunistas pornógrafos vendilhões]"
C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento

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o que sei do sol
é o douro de tua pele

o que sei do mar
é o sal da tua pele

em tua pele
um amar
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num zaz
o treco
de amar
enguiçou
por falta de uso
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flutua uma lua em teu umbigo
outros astros são chamados
pela gravidade

lambidelas chicoteiam
o céu da boca

luz escorre em estrelas
o encontro é perder-se

pare de correr
vire nuvem
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tenho um mau humor
que me faz feliz

essa ditadura de estar alegre
não me prende

há dias que acordo feliz
certas noites festivas
entristeço

bem solto
rio
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se for
que fodas

se voltar
que gozes

somos
movimento
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acordei
num dia sonso

meio
sei lá
sem sal

tu
toda apimentada
queimou muitas calorias

teu corpo fervendo
derreteu minhas
gordurinhas

escorremos
mel
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avestruz

mais me entrego ao esconder-me
abunda, a bunda gorda, projeta-se

qual lua cheia, branca, em breu
alumia noite, escondendo estrelas

quanto mais ao solo reclino-me
fausta reluz, e, ao sol, ela branca
abunda, a bunda
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fdp

mamães não digam sempre
meu filho é o mais lindo

pois eles crescem
e partem para o mundo

e este mundo
tá cheio


(O livro “Concerto feito de ex-tragos”, de Júlio Alves, foi publicado pela editora Gente de Palavra em 2015, coleção Cadernos de Poemas, com apoio do Fumproarte de Porto Alegre/RS)

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