segunda-feira, 30 de junho de 2014

Greve

Ed Kienholz, Memorial de Guerra Portátil, 1968


No “Dicionário de Política” (1983) do Norberto Bobbio lê-se, por Marino Regini:
         [...] De acordo com uma importante linha teórica, a Greve é essencialmente uma forma de "protesto” operário; ela, portanto, seria explicada através das condições que provocam ou impedem o protesto. Uma outra linha teórica, hoje prevalecente na literatura, considera, porém, a greve como um "instrumento tático" que os sindicatos usam se e quando lhes é conveniente; ela se explicaria, portanto, através daqueles fatores que fazem aumentar a sua utilidade ou diminuir os riscos que pode comportar para as organizações sindicais. Voltando à tipologia das Greves analisada no parágrafo anterior, é fácil reparar que nos sistemas de relações industriais maduras estes dois aspectos estão presentes. As limitações interpretativas das pesquisas sobre o andamento das greves estão provavelmente na heterogeneidade do fenômeno que pretendem explicar, posto que fenômenos sociais diferentes exigem também tipos diferentes de explicação.


No “Dicionário do século XXI” (1998) de Jacques Attali lê-se:
         [...] A reivindicação dos trabalhadores tomará outros caminhos: distorção do sentido do trabalho, obstrução das redes. Será mais eficiente desviar informações do que deixar de reproduzi-las ou de transmiti-las.
            Em compensação, as “greves” de desempregados, alunos, consumidores, usuários de serviços públicos, membros de associações, pais e até doentes exercerão uma real influência sobre as organizações, empresas ou instituições, dependendo de seus “clientes” mais do que de seu pessoal. Uma mediatização astuciosa desses movimentos será seu principal trunfo, desde que seus organizadores não esqueçam que os meios de comunicação, consumidores de atualidades, não gostam do que dura muito: também para eles, é preciso saber suspender uma greve.

TransmissorFotografia 3x4: Tributo a Belchior, “Ainda somos os mesmos”, do selo “Scream & Yell”. Mais detalhes aqui: http://screamyell.com.br/site/2014/03/26/download-ainda-somos-os-mesmos-belchior/

Belchior Não leve flores: Clássico do cantador cearense, do álbum “Alucinação” de 1976.


quinta-feira, 19 de junho de 2014

"Dissimulando o vazio" por Baby Chris

Dante Gabriel Rossetti, A Anunciação, 1850

            Para dissimular o vazio (e o frio!!!) com poesia e música, esta semana a postagem ficou a cargo da poetisa, blogueira, administradora de empresas, fã de hard rock, colorada, bebedora de Norteña, moça que a cada aniversário celebra única e exclusivamente 20 anos: Chrisellen Vieira, ou simplesmente, Baby Chris:
P.S.: Para mais Baby Chrishttp://dissimulandonovazio.blogspot.com.br/


Poemas dela:

1 – REFUGIAR
que todos tenham
em algum lugar

um lugar 
para se refugiar

um sol que aquece
mais do que nos
outros céus

um companheiro
com palavras mudas
e outro com presença
mansa

e que nenhum tenha pressa
de ir a lugar algum
porque suas companhias solitárias 
se bastam

2 –
mediante um luar
de palavras efêmeras
por vozes estelares

- calei a galáxia em
um único suspiro

3 – IMATURIDADE
- enquanto você se lasca

eu
me
acho

4-
quem sabe a paz
de um ponto final

não permite a ilusão
das reticências

5 – ACORDEI LIBERTA
quis tanto provar o gosto da liberdade
abrir os braços sem algemas
não ter horários pro meu sono
ver a vaidade subir em meu rosto

quis tanto tocar no mar sem perguntar tua opinião
beijar a boca de outro por opção
fazer prece com as mãos sem ter o que pedir

quis tanto o gosto da tua ausência
a leveza de não ser controlada
não ser mais julgada

então hoje acordei assim:

livre

6 –
poesia noturna:

tem verso
tem meia lua
tem corpo nu

Trilha sonora dela:

MutantesBabyEsta sugestão na real é minha mesmo: para quando a Baby Chris precisar saber da piscina, margarina, Carolina, gasolina, de mim, que é assim, tomar sorvete na lanchonete, andar com a gente, ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto, aprender inglês, do que eu sei, do que eu não sei mais...

Journey Separate ways


Poemas sugeridos por ela:

1 -
sonho com a casa
- e eu sei -
a casa sou eu!

passava por reformas,
estava vazia,

ainda assim eu me preocupava com as portas abertas
- e se me roubassem o vazio?

(Líria Porto)

2 -
Os tolos pensam que a passagem do tempo é pura perda; que só os jovens e os belos têm direito de amar plenamente.

O engano é não entender que a juventude, bela e gloriosa, é também o período de grandes aflições, que muitas vezes nos impõe o amor superficial e apressado, olhando mais para os lados (os outros como estão me vendo?) ou para o espelho (como estarei?) e não para a pessoa amada.

O tempo depura, não destrói.
O tempo é mestre, não carrasco.
A não ser que a gente só saiba olhar para o outro buscando nosso próprio reflexo: aí, sim, o amor nem vale a pena de ser buscado.

Pois seremos apenas embrulho de pele recobrindo carne, e ossos, e vazio.

(Lya Luft)


Tempestt Enemy in You


StratovariusYears Go By

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Ghiggia x Barbosa e a Canção Pra Todo Mundo

Maracanaço, Copa do Mundo de 1950


1) Introdução
É sabido que a Copa de ‘50 foi no Brasil
E que depois de altos e baixos
O Brasil chegou à final
200 mil pessoas no Maraca
Esperando receber a taça Jules Rimet do próprio Jules Rimet
1 x 0 Brasil: golo do Friaça
1 x 1: Uruguai empata com Juan Alberto Schiaffino, o sortudo
Quando então:
Corre, Ghiggia, aproxima-se do gol do Brasil e atira”...
Narrou Ary Barroso, o sambista, pela Rádio Nacional
2 x 1: Moacir Barbosa, o goleiro da Seleção, busca até hoje, no fundo da rede, a bola fatal de Alcides Ghiggia
Uruguai bicampeão
"Foi casualidade" disse o capitão Obdulio Varela

O Brasil abandonava o uniforme branco
Para sempre.

[...]

2) Canção Pra Todo Mundo
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Participação especial: Francisco Castro

Esta vai pro senhor que vê estrelas em testas alheias
Esta vai pra senhora que acredita que demônios vagueiam na Terra
Mas esta vai pro comunista que diz que o capitalismo exterminou
até com os demônios

Esta vai pra morena que passa e com seu perfume me seduz
Esta vai pro carteiro que leva tantas cartas e não recebe nenhuma
Mas esta vai para os analfabetos que estão livres
das mentiras dos jornais

Esta vai pro capataz da obra que por fraudes não foi concluída
Esta vai pro moleque que joga bola esperando uma morada
Enquanto melhores condições de vida não vêm
Ele grita gol, ele grita gol, ele grita


Ficha técnica:
C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento: Letra e música, voz e harmônica
Francisco Castro: Vocais
Mick Oliveira, o Profeta do Vento: Violões e guitarra
Daniel "San": Bateria, baixo, teclados e programação
Luan Henrique: Técnico de som
Cleiton Amorim: Produção

Gravado e mixado no Estúdio LACOS, Cachoeirinha/RS, entre julho de 2012 e agosto de 2013.


3) Curta-metragem

Barbosa"
(Dir.: Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado, 1988)




sexta-feira, 6 de junho de 2014

O som do silêncio

Marcus Patrick P.*, O silêncio das ruas, 2014


*Marcus Patrick P. é blogueiro e publica seus poemas no “Penso, logo escrevo(http://www.pensamentosdemarcuspatrick.blogspot.com.br/)

[...]
Clara, que clareia a vida com seu sorriso e um par de olhos lamparina verde, disse-me que quando o barulho do dia fica insuportável, ela tenta escutar o som do silêncio...

O Som do Silêncio
(Simon and Garfunkel)

Tradução livre: Inventor do Vento

Escuridão velha amiga
Aqui estou eu
Tive uma visão um pouco assustadora
Semeada enquanto dormia
E esta visão que deitou raízes em minha cabeça
Permanece em meio ao som do silêncio

Em sonhos agitados eu andei sozinho
Por ruas estreitas de paralelepípedos
Sob o halo da lamparina da rua
Levantei a lapela contra o frio e a umidade

Foi quando meus olhos foram apunhalados
Pelo brilho de uma luz neon
Que cindiu a noite
E tocou o som do silêncio

Nessa luz transparente eu vi
Dez mil pessoas, talvez mais
Gente conversando sem falar
Gente ouvindo sem escutar

Gente escrevendo canções
Que vozes nunca compartilharam
E ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio

“Tolos”, falei, “vocês não sabem
O silêncio cresce como um câncer
Ouça as palavras que posso lhes ensinar
Aceite os braços que posso lhes estender”
Mas minhas palavras caíram como gotas silenciosas de chuva
E ecoaram no poço do silêncio

Teve gente que se curvou e rezou
Ao deus de neon que elas mesmas criaram
E a placa faiscou seu aviso
Nas palavras que formava

A placa dizia
“As palavras dos profetas
Estão escritas nos muros do metrô
E no corredor das casas
Sussurradas ao som do silêncio”.



*Para mais profecias, sobretudo do Livro de Daniel, releia a postagem de 19/07/2012