quarta-feira, 25 de março de 2015

Sarau "Pimenta Cor de Rosa" (final)

Johannes Vermeer, A leiteira, c. 1658


Nosso sarau sobre as mulheres no tempo chega ao seu bloco derradeiro de canções com:
     1)     Capitu (de Luiz Tatit, SP): Pra cantar a mais famosa personagem da literatura brasileira, a “morena dos olhos de ressaca”, Maria Capitolina Santiago, a Capitu, do livro “Dom Casmurro” (1899), de Machado de Assis (1839-1908);


     2)     Verônica (do C. A. Albani da Silva, este Inventor de Ventos): Pra cantar a história da incrível virada de mesa da desconhecida Verônica, na versão para piano e voz do Vento, claro, com a participação do Mick Oliveira arrepiando nos teclados;


     3)     Show das Poderosas (de Larissa Machado ou Anitta): Pra cantar a ousadia de muitas moças pós-modernas numa versão 1001 noites árabes com Vento!!!

segunda-feira, 16 de março de 2015

É de Maria que falo é pra Maria que canto

Mamica, Mãe do Inventor do Vento, c. de 1974



Esta é uma postagem extraordinária. Mas não é uma postagem de luto. Esta canção surgiu como uma resposta poética e histórica à impotência e à indignação, ainda durante a luta pela vida e pela saúde. Voltar ao seio da natureza é sair do nosso atabalhoado tempo histórico para entrar na serenidade do tempo infinito. Além do que, não há doença que possa ser maior do que a VIDA. Por isso é pra MARIA que canto!

É de Maria que falo é pra Maria que canto
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Se for segunda o bife é à milanesa
Ferve a lentilha que espanta a fome e a tristeza
Foi-se o domingo que começou na Cachoeirinha
Ou lá na barra do Tramandaí
Na tela o Silvio antes de um beijo de boa noite
A casa limpa pra receber a luz do sol
E colorir de artesanato o chão, a mesa
Pano de prato e o banheiro, com certeza
Ainda menina, cabelo ao vento, encaracolado
De campo e mata e de cascatas em Santo Antônio
Os 15 irmãos, o bergamasco com os pais e as tias
Tem pés na sanga e um medo louco de temporal
Desceu do morro pra esse vale cheio de indústrias
Seus olhos verdes viram a luz da noite elétrica
Aos 11 anos deixou a escola pra faxinar
A tantas casas que só a ela coube limpar

É de Maria que falo
É pra Maria que canto

Aos 19 foi operária de bola e latas
Para o azeite e a árvore dos Natais
Chegada a hora, na domingueira da Jovem Guarda
Um cara magro pegou seu braço e a levou pro altar
Corria rápido o mês nove de ´76
A ditadura rolando solta aqui outra vez
E a Maria, recém-casada, peregrinava
Atrás do lar que o manto da Virgem abençoava
Viriam logo os primeiros dias pela COHAB
Hoje incontáveis quanto os verões lá de Baunilha
Plenos de vento, de chocolate e maresia
Secreto amigo e de lambari, as pescarias
O primeiro filho veio no tempo das vacas magras
Isso que o esposo as madrugadas ele varava
Fazendo bombas e geringonças na metalúrgica
Ainda assim curaram a asma do pequenino
Em 09 anos chegava ao mundo o seu caçula
Naquele outono, 22, de utopia
Levá-los todos para o colégio de mãos dadas
É a merenda, feita com esmero, pra criançada
A história vai pro “digodieime”, pro futebol
Pintou o rock e outras formas de fantasia
Com namoradas, na faculdade, era sempre a Maria
A esperar, vigilante, pelo portão
Às vezes braba: fazer dos jovens homens feitos
Só pra sentir falta da infância deles depois
Mas não importa, o cafuné continuará
Nos pés, na alma, sempre que a gente precisar

É de Maria que falo
É pra Maria que canto

Teu amor é a flor do quintal
Tu és a flor do nosso quintal
Não há dor que murche o jardim
Pois o nosso amor não tem mais fim

É de Maria que falo
É pra Maria o meu canto



quarta-feira, 4 de março de 2015

Sarau "Pimenta Cor de Rosa" II: Deusa dos Orixás & Colar


Oyá Iansã, que rege tempestades e relâmpagos com vento, fogo e paixões do rio Níger

            Seguimos o ventoso sarau “Pimenta Cor de Rosa” em homenagem às mulheres no tempo. Nas canções abaixo, a sensualidade das e o amor pelas mulheres. Primeiramente, na releitura do ponto de terreira, “A Deusa dos Orixás”, imortalizado pela voz de Clara Nunes e revisitado no acústico maresia, Navegantes de 2014, pelo CoV, cantamos sobre um triângulo amoroso: retire os nomes de santos e ponha Ana, Marcelo e Adriano e a história será a mesma. Triângulos amorosos de verdade possuem a fórmula 2v + 1d = 2 x 0: dois varões mais uma dama = um casal feliz vezes um solitário chupando dedo na falta de coisa melhor, como manga, por exemplo. Segundamemente, a balada “Colar”, escrita pelo Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, em 2011, e terceira faixa do disco do CoV, lançado em 2013: poesia lírica para a beleza barroca duma brejeira rapariga de verão.