quinta-feira, 29 de agosto de 2013

15 Haicais

Osamu Tezuka, Buda, 1972 a 1983

Origens do haicai num haicai imperfeito
(Inventor do Vento)

Poesia que veio do Japão
Com sonoridade própria, em resumo, três versinhos
Para se compor quando o poeta se sentir sozinho?

Mestres do haicai noutro haicai imperfeito
(Inventor do Vento)

Eles inventaram poemas não tão sérios
Os mestres japoneses Bashô, Buson, Issa e Shiki
E aqui inspiraram Peixoto, Almeida, Millôr e Leminski

Matsuo Bashô (1644 a 1694)

Doente da viagem
Meus sonhos perambulam
Pelo campo seco

Arte de Resumir
(Afrânio Peixoto – 1876 a 1947)

O ipê florido,
Perdendo todas as folhas,
Fez-se uma flor só.

Yosa Buson (1716 a 1783)

Uma pipa
No mesmo lugar
Do céu de ontem

Infância
(Guilherme de Almeida – 1890 a 1969)

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se “Agora”.

Kobayashi Issa (1763 a 1827)

A quem me visita
O perfume da ameixeira
E a taça lascada

Paulo Leminski (1944 a 1988)

passa e volta
a cada gole
uma revolta

amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o

Masaoka Shiki (1867 a 1902)

Um dia inteiro
Lavrando o campo
No mesmo lugar

 

Millôr Fernandes (1923 a 2012)

 

Esnobar

É exigir café fervendo

E deixar esfriar

 

[Poemeu efemérico]

Viva o Brasil

Onde o ano inteiro

É primeiro de abril

 

 

3 haicais de estudantes*

 

1)      Amor

(Josiane Miranda)

 

Amor rima

Com dor

Porque machuca o coração

 

2)    Amizade

(Luiza Lopes Brum Padilha e Bruna Perez)

 

Para encontrar a verdadeira amizade

É preciso lavar as mãos

Com o fogo das estrelas

 

3)    Família

(Josiane Miranda, Yuri Menger, Raquel Melo)

 

Família é o lar

Onde eu posso morar

Até minha vida acabar

 

 

·        Josi, Yuri, Raquel, Luiza e Bruna são estudantes da EMEF Alberto Pasqualini, Gravataí/RS, e escreveram estes haicais numa rápida viagem ao Japão durante a 1ª Gincana Jovem da escola. 



CoV - Guria (Chuva Caindo)NÃO DEIXE DE COMPARTILHAR O NOVO VÍDEO DO COV!!!


CoV - Até Breve: E os antigos também!!!


CoV - O Esqueleto











quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O dia em que os homens se esquecerão do machismo

Marcel Duchamp, Nu descendo a escada, 1912


1) Cinco depoimentos sobre o machismo

Marilyn Monroe (1926 a 1962) “Penso que mulher bonita não sofre discriminação. Há muito tempo eu não sei o que é machismo. Desde quando fui para Hollywood todos os homens só me paparicaram, cortejaram, adularam como se eu fosse a última rainha do mundo! E igualzinho ocorre agora no Paraíso. Ainda assim me sinto tão triste e insegura”...


Princesa Isabel (1846 a 1921)“Quantas belas moças negras foram escravizadas? E mesmo as forras eu vi sendo humilhadas, ofendidas, mal-tratadas, seviciadas durante o século XIX no Brasil Império. Não foi uma nem duas: foram muitas! Muitas! Muitas! E continua assim, não continua, cara leitora do Vento?”


Yoko Ono (1933) Woman is the nigger of the world. A mulher é o escravo do mundo. Nós a fizemos pintar o rosto e dançar. Nós a insultamos todo dia na TV. A mulher é a escrava dos escravos. Fazer os homens se esquecer do machismo não é a questão principal, mas sim fazer as mulheres reagir ao machismo: de objetos sexuais a indivíduos pensantes e políticos, este continua sendo o desafio”.

Joana D´Arc (1412 a 1431)– “Assim como me passei por homem para lutar pela França, os homens todos deveriam se transformar um diazinho sequer em mulher. Só provando do próprio veneno é que eles darão valor ao regaço materno, à ternura do coração da amada, ao companheirismo da irmã, à experiência da avó. Mas acuda-nos o Todo Poderoso para que quando este dia chegar não chegue para todos os homens ao mesmo tempo. Primeiro uma metade, depois a outra. Se todos virarem mulher no mesmo instante, eles não aprenderão nada”.


Maga Patalógika (1961) – Só com feitiço, bruxaria pesada, para que os homens se esqueçam do machismo. Há um livro de sortilégios, guardado num baú por bruxas napolitanas, há séculos, em que se lê que a poção mágica, seja ela qual for, deve começar com o seguinte encantamento: eu desconfio do diabo a quatro desde nascença, menos do meu marido, do meu pai e do meu irmão, pois eu sei que todo homem de agora em diante ama, respeita e pede licença”.


2) Quatro músicas para pensar sobre o tema

CoV - Diga CáNeste baião, perguntamos às mulheres, protagonistas do século XXI, sobre o que faz do brasil, Brasil?



CoV - Pequena Gaulesa – O sentido lírico que alguns homens atribuem às mulheres ao mesmo tempo em que outros atribuem truculência e brutalidade no seu afeto.



CoV - Lucy não se esqueça de mim Às vezes, a amizade entre o homem e a mulher é impossível. Espécie de jogo de soma zero tudo ou nada amor ou distância adeus não estou atrasado mas preciso ir.


CoV - Até Breve – “Só pela mulher há beleza no mundo” (André Breton – 1896 a 1966).



3) E uma crônica feminina para encerrar

Ana e Paulo, antes e depois de casados

*Joyce Rafaella Ataíde da Silva

            Ana trabalhava num consultório médico, até que um dia conheceu Paulo: foi amor à primeira vista. Ele era jovem e atuava na mesma área que Ana, cuidando dos papéis da clínica e agendando as consultas dos pacientes.
            Os dois começaram a sair, em seguida começaram a namorar e por fim, pouco depois, se casaram. Ana e Paulo eram muito felizes antes de morar juntos, mas Ana mal sabia que sua vida viraria um inferno na nova casa.
            Recém casados, Paulo exigiu que Ana parasse de trabalhar. Ela não entendeu o porquê de Paulo fazer a ela esse pedido, mas como ela o amava acabou aceitando. Logo depois ele a proibiu de ver toda sua família, não usar roupa curta e muito menos sair sozinha.
            Ela se desgostou – do trabalho doméstico, do amor, da vida. Paulo inclusive bateu nela em duas situações e falou muitas coisas que a deixou ainda mais triste. Ela queria muito voltar ao antigo emprego, mas ele dizia que lugar de mulher era dentro de casa lavando a louça, lavando a roupa, enfim, sendo escrava dele.
            A vida de Ana era uma rotina só, até que um dia, cansada de tudo, foi até ele e estourou: estava farta e que ele era um bosta de homem que não a satisfazia e que ela ia trabalhar e voltar a sua vida normal. Também falou que ainda gostava dele, mas daquele homem de antes, não o covarde de agora.
            Ele, sem reação, vendo a atitude corajosa e sincera de Ana, parou para pensar. E o temor da perda de sua companheira o fez mudar a cabeça. Esquecia assim os conselhos do pai que lhe ensinou a conquistar as meninas com romantismo e depois “pô-las nos eixos”, “mantê-las no lugar” com autoritarismo e virilidade. Assim deixou de ser aquele homem grosso para voltar a ser o que era antes do casamento, largando de mão o machismo e tratando Ana com todo amor e carinho. Este foi o dia em que, ao menos o Paulo, se esqueceu do machismo.

* Joyce Rafaella é estudante da EMEF Alberto Pasqualini, em Gravataí/RS, e compôs esta crônica com a calma e elegância costumeiras numa manhã preguiçosa de terça – bom momento para se discutir História.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Guria (Chuva Caindo)

Pablo Picasso, A dança, 1925


NOVIDADES DO VENTO!!!
Videoclipe novo e SoundCloud...

Guria (Chuva Caindo)
(C.A. Albani da Silva)

Chuva caindo sem pedir licença
Homens bolando teses que me dão dor de cabeça
Meninas sonhando com seus namorados
Anjos pedindo perdão por todos seus pecados
Crianças brincando de soltar pipa
No bar, doses quentes de uma mesma bebida
Um velho marinheiro gritando alto
Teme ele que empresários transformem o mar em asfalto

Refrão:         Guria,
Leve meu nome nos teus lábios sujos de batom
Guarde meu rosto no fundo do teu coração
Pois saiba que eu não vou te esquecer


Um jovem indeciso entre mudar o mundo
Ou dizer aos pais que se apaixonou pela prima de Passo Fundo
Um carteiro distribuindo correspondências
Nada além de contas, promoções bancárias e outras demências
Um careca banguela sempre sorridente
Perguntava ao dentista por que ele nunca sorria?



CoVGuria (Chuva Caindo): Faixa de abertura do álbum "Cavalgando o Vento", gravado entre Julho de 2012 e Agosto de 2013, no Estúdio LACOS, em Cachoeirinha/RS, com produção de Cleiton Amorim e apoio do FUCCA (Fundo da Cultura de Cachoeirinha).

Ficha Técnica da canção:
Letra, Música, Voz e Harmônica: C. A. Albani da Silva
Violões e Guitarra: Mick Oliveira
Sopros: João Cândido
Coro: Heigli Amorim
Baixo, Bateria e Teclado: Daniel "San"
Técnico de Áudio: Luan Henrique
Produção: Cleiton Amorim


Ficha Técnica do VIDEOCLIPE:
Dir.: C. A. Albani da Silva
Produção: CoV Produções

Atores em ordem de aparição: 

Erick Farias / Aline Albani / Luan Santos / Amanda Machado / Ana Lúcia Freitas / Clarice Freitas / Mick Oliveira / Amaro Flores Castilhos / Maicon Albani / Lucas Hermes / Kellwyn Quadros e Kézia Almeida / Josiane Miranda / Kémyly Vidal / Arthur Webber / Caroline Rodrigues / Inventor do Vento / Alex Albani / Lessandro Albani / Vanessa Jablonski / Rodrigo Monteiro / Alexsandra da Rosa / O Esqueleto / Ronnyelly Erich e Guilherme Moraes / canelas de Maria Albani / Alexia Menezes / Camila Somensi / Andreia Freitas / Amanda Bandeira da Silva.

Que os Bons Ventos soprem para sempre no coração de cada um dos atores que carinhosamente participaram deste vídeo.

sábado, 10 de agosto de 2013

Voto em branco

Thomas Gainsborough, Tristão e Raposa, 1775-85


O Vento que sopra a lucidez
(C. A. Albani da Silva)

1.    E se nas próximas eleições 83% dos votos em Brasília fossem em branco?
2.     E se a graça dos Protestos de Junho de 2013, tal qual a branca Pomba do Rio Jordão, ou do Espírito Santo, tanto faz, reaparecesse, agora nas urnas?
3.  Isto já aconteceu! Ao menos na fictícia Lisboa de José Saramago (1922-2010), conforme seu “Ensaio sobre a lucidez” (2004).
4.    Quatro anos após a epidemia de cegueira que acometeu meio-mundo a partir de Portugal.
5.     A nova epidemia foi justamente a do voto em branco.
6.   Os ministros do interior e da justiça colocaram espias nas ruas; interrogaram exatos 500 cidadãos.
7.  Mas os cidadãos levaram a lei ao pé da letra. Sendo o voto secreto, nenhuma autoridade pode exigir do eleitor que revele em quem votou.
8.   Os governantes da capital lusitana declararam estado de exceção, em seguida, estado de sítio. Muito confusos, transferiram a sede do governo central e do congresso para outra cidade; cercaram com as Forças Armadas entradas e saídas de Lisboa.
9. Políticos profissionais e polícias sumiram da cidade então. Os lixeiros ameaçaram greve: instigados pelo alarmismo apocalíptico da imprensa e pelos cutucos do ministério do interior.
10. Quando o lixo se acumulou nas calçadas, donas de casa saíram de pá e vassoura em mãos e recolheram a sujeira.
11.    Assim o governo, protagonista de uma fuga sem precedentes, de dar inveja até mesmo em Dom João VI, tentou a todo custo: “fazer-lhes (aos eleitores brancosos) perceber que um uso sem freio do voto em branco tornaria ingovernável o sistema democrático”.
12.  Sozinho na administração da metrópole o presidente da câmara municipal andou pelas ruas, conversou com brancoso e concluiu que o partido da situação, então o p.d.d. (partido da direita), mas também o partido da oposição (p.d.m. – partido do meio) e, quiçá, o nanico p.d.e. (partido da esquerda) não faziam falta alguma à população, que seguia sua vida em relativa tranquilidade.
13.  O ministro da defesa autorizou e uma bomba explodiu no metrô leste, vitimando 33 pessoas e fazendo o presidente da câmara renunciar ao cargo diante de tal covardia.
14.  O povo reagiu com uma marcha silenciosa e pacífica até o palacete do governo.
15.  Após o ato terrorista, que o governo e a imprensa fizeram de tudo para imputar aos brancosos, os eleitores do p.d.d. e do p.d.m tentaram também eles sair da cidade.
16.   A nova comitiva de fugitivos porém retornou aos seus lares por influência do discurso do 1º ministro que clamou pelo patriotismo dos conservadores legalistas contra os subversivos do voto em branco.
17.   Embora com muitas previsões funestas de retaliações contra os legalistas, ventiladas pela mídia, os brancosos gentilmente ajudaram aqueles a descarregar os carros, ampararam também seus velhinhos, em suma, acudiram os vizinhos em sua volta pra casa.
18.  Numa reunião do conselho de ministros o da justiça (se não me engano) sugeriu que podia haver alguma relação entre os votos em branco e a epidemia de cegueira que tomou as ruas 4 anos antes.
19.    Com discurso em cadeia nacional de rádio e TV, mais uma enxurrada de panfletos jogados desde as alturas por helicópteros oficiais, o presidente instigou as pessoas a equipararem o caos da cegueira com a atual rebelião do voto em branco.
20.  Justamente um dos sobreviventes da epidemia, o motorista a quem a tal cegueira 1º acometera, escreveu aos chefes de estado acusando a mulher do oftalmologista, exatamente quem lhe salvou, e a mais 5, nos tempos da falta de visão, de estar por trás desse boicote ao governo. Pois, como ele revelou na carta, ela foi a única pessoa a não cegar quatro anos antes.
21.  Três detetives entraram assim às escondidas em Lisboa para investigar os supostos líderes rebeldes.
22. Mais do que identificar as raízes da rebelião, o ministro do interior, em conflito pessoal com o premier, queria era criar falsas provas contra a mulher do oftalmo; ou seja, pretendia arranjar um bode expiatório para o caso singular dos brancosos.
23. A cidade prosseguia sossegada e tranquila, sem autoridades, governo, vigilância e polícia. As fábricas reduziram, de modo geral, o ritmo das suas atividades; o exército continuou controlando a chegada de alimentos; mas Lisboa parecia não sentir falta das velhas instituições.
24.  O comissário, chefe da investigação, nas cifras em que dialogava com o ministro do interior, papagaio do mar, já o ministro do interior, alcunhado albatroz, compreendeu em poucos dias de busca que, de fato, a mulher do oftalmo e seus amigos não tinham nada de líderes rebeldes.
25.  Porém, o ministro publicou nos jornais a foto da moça, do oftalmo e dos outros 5, apontando-os como as “cabeças” dos brancosos. Além da esposa do oftalmo ser acusada de assassinato: que de fato cometeu, mas contra um estuprador que violou as mulheres do manicômio em que os cegos pela epidemia foram postos de quarentena.
26.  Indignado, o comissário, ou papagaio do mar, escreveu artigo e o publicou num pequeno jornal de esquerda, que adaptou o texto para fazê-lo escapar da censura e assim denunciar o engodo, ou armação, governamental.
27.   Recolhido o jornal das bancas, os próprios cidadãos distribuíram desde as janelas dos apartamentos e de mão em mão mesmo fotocópias do artigo.
28.   Sentindo-se mais aliviado e esperançoso, o comissário relaxava em praça pública quando foi assassinado pelo homem da gravata azul com bolinhas brancas. E o ministro do interior ainda inventou que ele foi morto pelos brancosos, por ter revelado a identidade de sua liderança: a mulher do oftalmo que não ficara cega.
29. Metade do país saiu às ruas em protesto e assim o primeiro-ministro demitiu o ministro do interior.
30.  O homem da gravata azul com bolinhas brancas matou a mulher do oftalmo logo após levarem o oftalmo preso em algemas.

31.    Como será no Brasil ano que vem?

Nação ZumbiMaracatu atômico (2012): Célebre canção de Jorge Mautner e Nelson Jacobina a transbordar surrealismo. 

Zé RamalhoChão de Giz (1978): Outra porrada surrealista, agora de um poeta do sertão paraibano.


Seu Pereira e Coletivo 401 Menina E.T. (2013): Um brega que não tem nada de bobo lá de João Pessoa (PB).