Marcel Duchamp, Nu descendo a escada, 1912
1) Cinco
depoimentos sobre o machismo
Marilyn Monroe (1926
a 1962) –
“Penso
que mulher bonita não sofre discriminação. Há muito tempo eu não sei o que é
machismo. Desde quando fui para Hollywood todos os homens só me paparicaram,
cortejaram, adularam como se eu fosse a última rainha do mundo! E igualzinho ocorre
agora no Paraíso. Ainda assim me sinto tão triste e insegura”...
Princesa Isabel (1846
a 1921)
– “Quantas belas moças negras foram escravizadas? E mesmo as
forras eu vi sendo humilhadas, ofendidas, mal-tratadas, seviciadas durante o
século XIX no Brasil Império. Não foi uma nem duas: foram muitas! Muitas! Muitas!
E continua assim, não continua, cara leitora do Vento?”
Yoko Ono (1933) – “Woman is the nigger of the world. A mulher é o escravo do mundo. Nós a
fizemos pintar o rosto e dançar. Nós a insultamos todo dia na TV. A mulher é a escrava
dos escravos. Fazer os homens se esquecer do machismo não é a questão
principal, mas sim fazer as mulheres reagir ao machismo: de objetos sexuais a
indivíduos pensantes e políticos, este continua sendo o desafio”.
Joana D´Arc (1412 a 1431)– “Assim
como me passei por homem para lutar pela França, os homens todos deveriam se
transformar um diazinho sequer em mulher. Só provando do próprio veneno é que
eles darão valor ao regaço materno, à ternura do coração da amada, ao
companheirismo da irmã, à experiência da avó. Mas acuda-nos o Todo Poderoso
para que quando este dia chegar não chegue para todos os homens ao mesmo tempo.
Primeiro uma metade, depois a outra. Se todos virarem mulher no mesmo instante,
eles não aprenderão nada”.
Maga Patalógika (1961)
–
“Só
com feitiço, bruxaria pesada, para que os homens se esqueçam do machismo. Há um
livro de sortilégios, guardado num baú por bruxas napolitanas, há séculos, em
que se lê que a poção mágica, seja ela qual for, deve começar com o seguinte
encantamento: eu
desconfio do diabo a quatro desde nascença, menos do meu marido, do meu pai e
do meu irmão, pois eu sei que todo homem de agora em diante ama, respeita e
pede licença”.
2) Quatro músicas para pensar sobre o tema
CoV - Diga Cá – Neste baião, perguntamos
às mulheres, protagonistas do século XXI, sobre o que faz do brasil, Brasil?
CoV - Pequena Gaulesa – O sentido lírico que alguns homens atribuem às mulheres ao mesmo tempo em que outros atribuem truculência e brutalidade no seu afeto.
CoV - Lucy não se esqueça de mim – Às vezes, a amizade entre o homem e a mulher é impossível. Espécie de jogo de soma zero tudo ou nada amor ou distância adeus não estou atrasado mas preciso ir.
CoV - Até Breve – “Só pela mulher há beleza no mundo” (André Breton – 1896 a 1966).
3) E uma
crônica feminina para encerrar
Ana e Paulo, antes e depois de
casados
*Joyce Rafaella Ataíde da Silva
Ana
trabalhava num consultório médico, até que um dia conheceu Paulo: foi amor à
primeira vista. Ele era jovem e atuava na mesma área que Ana, cuidando dos
papéis da clínica e agendando as consultas dos pacientes.
Os
dois começaram a sair, em seguida começaram a namorar e por fim, pouco depois,
se casaram. Ana e Paulo eram muito felizes antes de morar juntos, mas Ana mal
sabia que sua vida viraria um inferno na nova casa.
Recém
casados, Paulo exigiu que Ana parasse de trabalhar. Ela não entendeu o porquê
de Paulo fazer a ela esse pedido, mas como ela o amava acabou aceitando. Logo
depois ele a proibiu de ver toda sua família, não usar roupa curta e muito
menos sair sozinha.
Ela
se desgostou – do trabalho doméstico, do amor, da vida. Paulo inclusive bateu nela em
duas situações e falou muitas coisas que a deixou ainda mais triste. Ela queria
muito voltar ao antigo emprego, mas ele dizia que lugar de mulher era dentro de casa lavando a
louça, lavando a roupa, enfim, sendo escrava dele.
A
vida de Ana era uma rotina só, até que um dia, cansada de tudo, foi até ele e estourou:
estava farta e que ele era um bosta de homem que não a satisfazia e que ela ia
trabalhar e voltar a sua vida normal. Também falou que ainda gostava dele, mas
daquele homem de antes, não o covarde de agora.
Ele,
sem reação, vendo a atitude corajosa e sincera de Ana, parou para pensar. E o
temor da perda de sua companheira o fez mudar a cabeça. Esquecia assim os
conselhos do pai que lhe ensinou a conquistar as meninas com romantismo e
depois “pô-las nos eixos”, “mantê-las no lugar” com autoritarismo e virilidade.
Assim deixou de ser aquele homem grosso para voltar a ser o que era antes do
casamento, largando de mão o machismo e tratando Ana com todo amor e carinho.
Este foi o dia em que, ao menos o Paulo, se esqueceu do machismo.
* Joyce Rafaella é estudante da EMEF Alberto
Pasqualini, em Gravataí/RS, e compôs esta crônica com a calma e elegância
costumeiras numa manhã preguiçosa de terça – bom momento para se discutir História.
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