quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O dia em que os homens se esquecerão do machismo

Marcel Duchamp, Nu descendo a escada, 1912


1) Cinco depoimentos sobre o machismo

Marilyn Monroe (1926 a 1962) “Penso que mulher bonita não sofre discriminação. Há muito tempo eu não sei o que é machismo. Desde quando fui para Hollywood todos os homens só me paparicaram, cortejaram, adularam como se eu fosse a última rainha do mundo! E igualzinho ocorre agora no Paraíso. Ainda assim me sinto tão triste e insegura”...


Princesa Isabel (1846 a 1921)“Quantas belas moças negras foram escravizadas? E mesmo as forras eu vi sendo humilhadas, ofendidas, mal-tratadas, seviciadas durante o século XIX no Brasil Império. Não foi uma nem duas: foram muitas! Muitas! Muitas! E continua assim, não continua, cara leitora do Vento?”


Yoko Ono (1933) Woman is the nigger of the world. A mulher é o escravo do mundo. Nós a fizemos pintar o rosto e dançar. Nós a insultamos todo dia na TV. A mulher é a escrava dos escravos. Fazer os homens se esquecer do machismo não é a questão principal, mas sim fazer as mulheres reagir ao machismo: de objetos sexuais a indivíduos pensantes e políticos, este continua sendo o desafio”.

Joana D´Arc (1412 a 1431)– “Assim como me passei por homem para lutar pela França, os homens todos deveriam se transformar um diazinho sequer em mulher. Só provando do próprio veneno é que eles darão valor ao regaço materno, à ternura do coração da amada, ao companheirismo da irmã, à experiência da avó. Mas acuda-nos o Todo Poderoso para que quando este dia chegar não chegue para todos os homens ao mesmo tempo. Primeiro uma metade, depois a outra. Se todos virarem mulher no mesmo instante, eles não aprenderão nada”.


Maga Patalógika (1961) – Só com feitiço, bruxaria pesada, para que os homens se esqueçam do machismo. Há um livro de sortilégios, guardado num baú por bruxas napolitanas, há séculos, em que se lê que a poção mágica, seja ela qual for, deve começar com o seguinte encantamento: eu desconfio do diabo a quatro desde nascença, menos do meu marido, do meu pai e do meu irmão, pois eu sei que todo homem de agora em diante ama, respeita e pede licença”.


2) Quatro músicas para pensar sobre o tema

CoV - Diga CáNeste baião, perguntamos às mulheres, protagonistas do século XXI, sobre o que faz do brasil, Brasil?



CoV - Pequena Gaulesa – O sentido lírico que alguns homens atribuem às mulheres ao mesmo tempo em que outros atribuem truculência e brutalidade no seu afeto.



CoV - Lucy não se esqueça de mim Às vezes, a amizade entre o homem e a mulher é impossível. Espécie de jogo de soma zero tudo ou nada amor ou distância adeus não estou atrasado mas preciso ir.


CoV - Até Breve – “Só pela mulher há beleza no mundo” (André Breton – 1896 a 1966).



3) E uma crônica feminina para encerrar

Ana e Paulo, antes e depois de casados

*Joyce Rafaella Ataíde da Silva

            Ana trabalhava num consultório médico, até que um dia conheceu Paulo: foi amor à primeira vista. Ele era jovem e atuava na mesma área que Ana, cuidando dos papéis da clínica e agendando as consultas dos pacientes.
            Os dois começaram a sair, em seguida começaram a namorar e por fim, pouco depois, se casaram. Ana e Paulo eram muito felizes antes de morar juntos, mas Ana mal sabia que sua vida viraria um inferno na nova casa.
            Recém casados, Paulo exigiu que Ana parasse de trabalhar. Ela não entendeu o porquê de Paulo fazer a ela esse pedido, mas como ela o amava acabou aceitando. Logo depois ele a proibiu de ver toda sua família, não usar roupa curta e muito menos sair sozinha.
            Ela se desgostou – do trabalho doméstico, do amor, da vida. Paulo inclusive bateu nela em duas situações e falou muitas coisas que a deixou ainda mais triste. Ela queria muito voltar ao antigo emprego, mas ele dizia que lugar de mulher era dentro de casa lavando a louça, lavando a roupa, enfim, sendo escrava dele.
            A vida de Ana era uma rotina só, até que um dia, cansada de tudo, foi até ele e estourou: estava farta e que ele era um bosta de homem que não a satisfazia e que ela ia trabalhar e voltar a sua vida normal. Também falou que ainda gostava dele, mas daquele homem de antes, não o covarde de agora.
            Ele, sem reação, vendo a atitude corajosa e sincera de Ana, parou para pensar. E o temor da perda de sua companheira o fez mudar a cabeça. Esquecia assim os conselhos do pai que lhe ensinou a conquistar as meninas com romantismo e depois “pô-las nos eixos”, “mantê-las no lugar” com autoritarismo e virilidade. Assim deixou de ser aquele homem grosso para voltar a ser o que era antes do casamento, largando de mão o machismo e tratando Ana com todo amor e carinho. Este foi o dia em que, ao menos o Paulo, se esqueceu do machismo.

* Joyce Rafaella é estudante da EMEF Alberto Pasqualini, em Gravataí/RS, e compôs esta crônica com a calma e elegância costumeiras numa manhã preguiçosa de terça – bom momento para se discutir História.

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