Bartolomé Estebán Murillo, Crianças comendo melão e uvas, século XVII
Quando
o colorido dos cabelos de Anna gerou polêmica na pacata família Oliveira...
Cores
Vivas
Alexia Aguilheira de Menezes*
A
casa da família Oliveira sempre foi calma e tranquila.
Sra. Oliveira estava sentada em uma poltrona, folheando uma revista comprada há pouco. Sr. Oliveira lia o jornal atentamente, conferindo o resultado do último jogo de seu time. David, o filho, estava atirado sobre o sofá, assistindo a um seriado qualquer na televisão.
Sra. Oliveira estava sentada em uma poltrona, folheando uma revista comprada há pouco. Sr. Oliveira lia o jornal atentamente, conferindo o resultado do último jogo de seu time. David, o filho, estava atirado sobre o sofá, assistindo a um seriado qualquer na televisão.
-
Onde tá a Anna? – David perguntou aos pais. Dera falta da irmã mais nova, pois
ela sempre estava perto da família.
-
Saiu. Disse que ia fazer uma coisa muito impor... – a fala do Sr. Oliveira foi
cortada pela porta se abrindo, revelando uma garota vestida com um visual
rockeiro: jeans rasgado, camiseta preta
dos Ramones, tênis All-Star vermelho desbotado, piercing no nariz. Os cabelos que
antigamente eram loiros platinados estavam repicados acima dos ombros e com
três cores espalhadas entre as mechas: verde, vermelho e branco.
Levou
dois décimos de segundo para a Sra. Oliveira soltar um grito aterrorizado ao
reconhecer sua preciosa filha vestida feito uma “suicida”, assim ela costumava
falar das rockeiras.
-
An-Ann-Anna?! Filha... O quê? – A mulher gaguejou enquanto soltava um grito
histérico e caía sobre os braços do marido em um desmaio pouco convincente.
-
Sabe... Acho que vermelho não ficou legal, não! Eu colocava amarelo! – O garoto
comentou intrigado, com o indicador sobre o queixo e o cenho franzido.
-
David! – Sr. Oliveira urrou para o filho enquanto, em vão, tentava amparar a
mulher. – Não põe mais lenha na fogueira, pelo amor de Deus! – Ele voltou o
olhar para a garota, que mexia distraidamente no celular. – Anna, explique-se!
Um
tsic saiu dos lábios da garota, que
preferiu criar tensão antes de responder, bloqueou o celular e guardou o
aparelho no bolso, então se jogou no sofá ao lado do irmão mais velho e encarou
os pais.
-
Virei rockeira! – Anunciou alegremente, quase pulando de emoção. – Cansei de
ser patricinha, usar rosa e vestidinhos. Resolvi virar rockeira!
Outro
grito agudo cortou o ar, mais uma vez Sra. Oliveira havia feito um de seus
famosos DMF – Desmaios Mal Fingidos – era como David chamava.
-
Marta! Recomponha-se! – Sr. Oliveira berrou, o queixo tremendo levemente. –
Anna, quem lhe deu o direito de fazer isso com você mesma? Temos uma imagem a
zelar nessa família!
-
Ah, papai... Sabe como é... Agora sou rockeira, rockeiras são imprevisíveis!
Yeep!
-
Tá mais pra louca... – David murmurou ainda concentrado em seu seriado. Como
ele conseguia prestar atenção na discussão e no seriado ao mesmo tempo era um
mistério.
-
Cala boca, ôh imprestável! – Uma almofada foi de encontro ao rosto de David que
começou a desfiar o rosário de tanto que reclamou.
-
...E ainda por cima é violenta! – Sua última frase saiu alta e clara, devido ao
silêncio que reinava na sala.
Sra.
Oliveira olhava bobamente para o filho; Sr. Oliveira incrédulo; e Anna com um
olhar homicida.
-
Tu corre, peste, por que se eu te pegar te dou pro meu poodle comer! – Anna jogou-se sobre o irmão sem nem dar tempo do
mesmo fugir. Do sofá para o chão os dois rolaram, Anna a todo custo tentando ao
menos marcar a cara do irmão com suas unhas e o irmão tentando proteger seu
rosto, ou cartão de visitas, como costumava chamar.
-
CHEGA! – O Sr. Oliveira devia ter gritado mais alto, pois os vizinhos chineses
do outro lado do mundo ainda não o ouviam. – Olha aqui, vocês dois parem agora mesmo!
Marta, chega de se lamentar! Se Anna quer ser rockeira, deixa ela!
-
Mas... mas...
-
Sem mas! – E o martelo estava batido. A palavra final era sempre do chefe da
casa.
O
lar voltaria à paz antiga. Sra. Oliveira folheando suas revistas de fofocas e
assistindo a suas novelas; Sr. Oliveira vendo jogo de futebol na TV e lendo jornal, também sobre
os jogos; David dando uma de garoto: sem fazer nada o dia todo, comendo
besteiras e aprontando por aí. E Anna seria a mais nova rockeira da casa.
[ ... ]
-
Anna e suas escapulidas! – Dois dias após a garota chegar em casa, totalmente
transformada, e o irmão já dava a falta dela novamente. Os pais já não se
importavam tanto, talvez aquilo virasse rotina, certo?
-
Anna... – David sussurrou aterrorizado.
-
Oh! – Mais uma vez Marta foi aos braços do marido, que a essa altura tinha os
olhos vermelhos em um olhar assassino.
*Alexia Aguilheira
de Menezes
Nascida no ano de 1997, em Porto Alegre, Alexia agora reside em Gravataí e
é estudante da EMEF Alberto Pasqualini. Fã de Guns N’ Roses e One Direction,
amante de games, como os da série Resident Evil e God Of War, entre
outros. Sonha em ser Zoóloga, mas enquanto isso, Alexia continua com outras
funções que adora exercer, que é escrever e desenhar. Já escreveu um livro de
terror chamado “Fique Acordado”, aguardando
publicação.
Ramones
– I don´t want to grow
up
(1995): Esta vai a
pedidos da Anna Oliveira, fã de Ramones até conhecer o Bob Marley.
Nirvana – Smells like teen spirit (1991): Hino da juventude classe média
globalizada pós-moderna buscando diversão fugindo do tédio.
Guns n´Roses – Garden
of Eden (1992): Heróis da
juventude classe média globalizada pós-moderna buscando diversão fugindo do
tédio.
The White Stripes – Seven Nation Army (2003): Ãh! (Ãh! Ãh!
Ãh! Ãh! Ãh)
Ãaaah! Ãh!
The
Strokes – Last Night (2001): A pedidos do Ventoso Leitor Jorge Pereira, eletricista, jogador
de xadrez e que ainda escreve cartas para as namoradas.
SOJA – Rest of my life (2008): Soldiers
of Jah Army.
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