terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Natal no Coração

Jesús Victor Salvador Portuguez, Navidad en los Andes, 2008*


*Arte descoberta na fanpage do programa Cantos do Sul da Terra, de Demétrio Xavier, na FM Cultura 107,7

Pinduka & Galvão cantam para o Seu Natalino
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

“Celebrai a terra e seus frutos;
colhei o Sol que, queimando, nos alumia.
A infância é mesmo uma epifania

no trajeto infinito
de Nazaré a Belém

para cada Sagrada Família”.


CoVNoite Feliz (ensaio dezembro de 2013): De acordo com Hertha Pauli (1906-1973), no livro “Silent Night. The story of a song”, escrito em seu exílio nos EUA, após sair da Áustria em pleno regime nazista, em 1943, “Stille Nacht, Heilige Nacht” (Silent Night) foi poetada por uma padre de Salzburgo, Joseph Mohr, em 1816, e musicada por Franz Xaver Gruber, outro padre, em 1818. Ambos apresentaram ao violão (o órgão estava com defeito) a obra na Missa do Galo da Igreja de São Nicolau (o Papai  Noel). Ainda não descobri quando e por quem foi traduzida para o português (de Portugal? Do Brasil? De Angola? Moçambique?).

Ficha Técnica:
Albani, o Inventor do Vento: Voz e guitarra
“Alemão” Cristiano: Cajón



Bob DylanLittle Drummer Boy (2009):  

domingo, 14 de dezembro de 2014

Jogo de Olhares

Eu & Eu*, dezembro de 2014


Jogo de Olhares

(C. A. Albani da Silva)

Nesse jogo de olhares que se cruzam, se perdem ou se evitam
As pessoas seguem os seus tristes caminhos
Para algumas, de tanto olhares, quase cego ficarás
Para outras, tantas e tantas, do relance nada restará

Mas para algumas dessas outras é uma pena que só se tenha dois olhos
E eles não bastam pra olhar, olhar, olhar...
Na imensidão do vai e vem dessas calçadas
Quantos rostos dispersos
Você nunca vai poder enxergar

(Escrita e gravada em 2005 pelo Inventor do Vento)

* Caricatura de Thaís Pazze, a Analista de Gravataí; foto de Amanda Alves, a secretária Feiaura.

domingo, 7 de dezembro de 2014

O pégaso branco & A ciranda dos pequenos

Ado Malagoli, Repouso, 1942



O pégaso branco
(Álvaro Moreyra, 1888 a 1964)

O pégaso branco
De olhos de sol
Com as asas de aurora
Pousou na manhã.
Seu peito de sombra
Guardou o segredo
Da música estranha
De sonhos em rumo.
Seus lábios de âmbar
Calaram a angústia
Dos pássaros mudos.
E o pégaso branco
Um dia partiu.
Seus dentes de neve
Haviam trincado
Os nardos azuis.
Seu canto de bronze
Quebrou de repente
Silêncios de luz.
E cravos de sol
Tombaram no mar.
O pégaso branco
De cascos de vidro
Fugiu da manhã.
Levou no seu voo
Palavras de lua
E o riso de estrelas
Que eu tinha na boca.


A ciranda dos pequenos
(Álvaro Moreyra, 1888 a 1964)

E os homens ainda lutam pela paz!
Por que não plantam rosas nos caminhos
E perfumam de nardos os cabelos.
Por que não tentam compreender os pássaros,
Trabalhar ao lado das abelhas
E no verão cantar com as cigarras.
Por que não se renovam com a manhã
E não oram ao fim de cada dia.
Por que não transpõem a barreira do ocaso
Para cantar na ciranda dos pequenos,
Igualando em força, superando em bondade,
Pelo simples fato de ser bom.
Por que não sentem o rumor da vida.
Por que não sondam o fundo do oceano
Para escutar o silêncio do seu mundo.
Por que não amam na Terra o Universo
Para encontrar a sua própria paz.


Túlio PivaPandeiro de Prata

Túlio PivaGente da Noite




domingo, 30 de novembro de 2014

Relendo II: "Senhora de pouca fé, aconchega-te"

Albert Moore, Moça adormecida, c. 1875

Lay Lady Lay
(Bob Dylan, 1967)
Tradução livre: C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento

Senhora de pouca fé, aconchega-te, aconchega-te na minha grande cama de bronze
Senhora de pouca fé, aconchega-te, aconchega-te na minha grande cama de bronze

Tanto faz a cor do teu pensamento
Trago minha paleta e é ela está luminosa
Senhora de pouca fé, aconchega-te, aconchega-te na minha grande cama de bronze

Fique, Senhora, fique, fique com teu homem um pouco que seja
Até o amanhecer e me deixe vê-la fazendo-o sorrir
As roupas dele estão sujas, mas as mãos estão limpas
E você é o seu bem maior
Fique, Senhora, fique, fique com teu homem um pouco que seja

Por que esperar mais pelo Gênesis?
Se você pode cozinhar o bolo com suas próprias mãos e ainda por cima comê-lo
Por que esperar por mais um amor?
Quando ele se encontra de pé e na sua frente

Senhora de pouca fé, aconchega-te, aconchega-te na minha grande cama de bronze
Fique, Senhora, fique, temos a noite toda pela frente

Gostaria de vê-la na alvorada
Gostaria de servi-la à noite
Fique, Senhora, fique, temos a noite toda pela frente

*Gravação ao vivo no Sarau de Inverno, 15/08/2012, Gravataí/RS
Voz e violão: Albani
Voz: Aline Albani
Guitarra solo e vocais: Mick Oliveira

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A primavera está pródiga de chuvas veraneiras

Ernst Ludwig Kirchner, Duas mulheres na rua, 1914


Chuvas de Verão
(João de Almeida Neto, 1989)


Quando estas nuvens se esparramam sobre o pampa
E em gotas claras se derramam pelo chão
Apaga o pó dos pátios pobres da campanha
E apaga a brasa dessas tardes de verão.

Parece até que cada gota desta chuva
Vem como lágrima do céu para regar
O peito triste dos que choram como as nuvens,
Sem ver a flor do coração desabrochar.

Por isso gosto dessas chuvas veraneiras,
Que vêm e chovem e se somem sem alarde
Para levar a outros campos e outras vidas
A paz molhada que espalharam pela tarde.

E como chegam, vão-se as tardes, vão-se as chuvas
e vão-se os dias, vai-se o tempo e a ilusão
e vamos nós, em cada sonho que se apaga,
como se a vida fosse chuva de verão.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Relendo: "É o que me interessa"

Mãe migrante, Dorothea Lange, 1936

É o que me interessa
(Lenine e Dudu Falcão)
Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto
E é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição

A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Todo dia é dia de Halloween na casa do Seu Vladimir

Drácula de Tod Browning, Béla Lugosi como o Príncipe das Trevas, 1931

Magia de Amor
(Raul Seixas e Paulo Coelho)
Mata Virgem, 1978

Me fascina tua morte mal morrida
E a tua luta pra ficar em tal estado
O teu beijo, tão fatal, nunca me assusta
Pois existe um fim pelo sangue derramado
Me fascinam teus olhos quando brilham
Pouco antes de escolher quem te seduz
E me fascinam os teus medos absurdos
A estaca, o alho, o fogo, o sol, a cruz
Me fascina a tua força, muito embora
Não consiga resistir à frágil aurora
E tua capa, de uma escuridão sem mácula

Me fascinam os teus dentes assustadores
E teus séculos de lendas e de horrores
E a nobreza do teu nome, Conde Drácula

*Leia sobre o casamento do Drácula com Don Juan na postagem do dia 15/03/2012http://cavalgandoovento.blogspot.com.br/2012/03/mulher-pre-historica-appaloosa-de.html

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Lucy não se esqueça de mim

Albani & Mick, Trilha das Artes, 25/10/2014


Lucy não se esqueça de mim*
(Letra e música de C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Lucy, pare de tomar LSD
Lucy, o vizinho da esquina quer comer você
Lucy, pare de ler Edgar Allan Poe
Lucy, nunca deixe de escutar o bom e velho roque enrow

Ah! Lucy, não te esqueças de mim
Ah! Lucy, nosso amor chegou ao fim

Lucy, pare de pensar no amor e na fé
Lucy, Jesus Cristo pega ônibus e anda a pé
Lucy, por favor, pare de sorrir
Lucy, teu olhar é tão doce e eu não consigo dormir

Ah! Lucy, por favor, não se vá
Ah! Lucy, o teu nome é amar

Lucy, por favor, me desperte antes das seis
Lucy, o sonho acabou outra vez
Lucy, não estou atrasado, mas preciso ir
Sinto o coração quebrado, mas eu vou partir

Ah! Lucy, por favor, não se vá
Ah! Lucy, o teu nome é me amar
Ah! Lucy, não te esqueças de mim
Ah! Lucy, nosso amor chegou ao fim


*Escrita originalmente em 2004 para a maior banda da galáxia, a banda Madame Satã, esta canção também integra o repertório autoral do CoV desde sempre. Em 2013 surgiu a sua gravação beatnik, direto do Laboratório de Sons do Vento. Já no primeiro semestre de 2014, foi a vez do Inventor do Vento e seu comparsa, Mick Oliveira, o Profeta do Vento, registrarem uma versão acústica da canção em uma noite abençoada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Postagem extraordinária: Professores - "Anjos da Guarda"


Quadro negro e giz branco, De Comenius até as estagiárias de 2014

            Desde 1995 quando foi gravada pela sambista Leci Brandão, a canção “Anjos da Guarda” tem sido um símbolo da luta dos educadores, Brasil adentro, pela educação pública de qualidade – hino entoado em greves e mobilizações; credo inconsciente nos conselhos de classe.
            Muitas vezes me pediram para que eu cantasse essa música... E este Inventor do Vento nunca conseguiu. Até chegar a tarde de primavera do dia 15 de outubro de 2014: exatamente o Dia do Professor!
            Passei o dia no asilo para professores aposentados “Saudosa Sociedade dos Mestres Queridos”, lá na Praia de Baunilha, ao sul de Moçambique. E lá me deparei com seis velhinhos que, para minha boa fortuna, tinham aprendido a tocar algum instrumento como terapia após se afastarem do giz e da lousa. Sendo assim, realizamos esta estranha gravação.
            A idéia era gravarmos no pátio de uma escola próxima, mas a preguiça não nos deixou passar do quarto do Professor Arquimedes Vieira, matemático e tocador do cajón, dono também de uma vasta biblioteca que ajudou a atrasar nosso ensaio. Na guitarra, contamos com Ary Tolueno, biólogo e professor da rede pública de Viamão, nos anos 1950, onde criava tigres nos Laboratórios de Ciências das escolas para deixar suas aulas mais atraentes aos filhos dos agricultores locais. No violão, conheci Dona Capitolina de Assis Machado, professora de língua portuguesa, francês, espanhol e latim, assanhada que só ela: embestou de me achar bonito. Lecionar, lecionou apenas 5 anos logo após sair do Magistério, pros pimpolhos do primário, isto em Porto Alegre. No mais de sua carreira, foi diretora nos anos 1960 e 1970 de uma escola hoje desativada, pois atendia apenas 75 alunos por ano, todos muito comportados, embora houvesse milhares de camponeses e sem-terra analfabetos (adultos e crianças) se achegando no bairro: na sua época, portanto, as comunidades não votavam para a direção das escolas como acontece hoje em dia após a redemocratização brasileira e sua LDBEN, dos anos 1990.
            Nas percussões, o General Positivista Quem Manda Aqui Sou Eu, Educador Físico ainda saradão, no alto dos seus 87 aninhos: evidentemente desritimado, mas teimoso que só, armado com seus galardões, foi também quem propôs o arranjo da canção e, talvez inconscientemente cumprindo a sina dos militares no Brasil, tentou pôr ordem no processo criativo, em busca de algum progresso, entenda-se, do melhor andamento musical, o que acabou transformando um samba autêntico num rock anárquico.
            Nos vocais de apoio, ainda contamos com o teólogo, professor de História e Geografia e Religião e padre jesuíta, Pedro Paulo dos Santos Inácio de Loyola: por três vezes paramos a gravação para ouvir sua maravilhosa explanação sobre a profissão de professor não ser uma profissão qualquer, muito menos ser qualquer profissão: mas, sim, uma predestinação: uma missão civilizatória e evangélica na América.
            Tecnocrático da Cunha, professor universitário e, por um triz, quase que o primeiro professor do ensino profissionalizante do Brasil (perdeu a vaga inexplicavelmente para um amigo seu de infância, ruim pra dedéu em cálculo) decidiu não participar da releitura, embora tocasse apito. Achou perda de tempo essa homenagem excêntrica e apressada (além de tudo, atrasada, pois conforme sua previsão, só na madrugada do dia seguinte este Inventor do Vento chegaria em Gravataí para poder escrever aos leitores do blogue do CoV sobre a aventura no asilo). Da mesma forma, julgou nossos instrumentos ultrapassados, nossas competências e habilidades como artistas incompetentes e inábeis. Se estivesse na ativa, estaríamos todos rodados na matéria de engenharia de ruídos ou canto orfeônico.             

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A bordo do aeróstato um cão lê

Thomas Gainsborough, George Venable Vernon, [seria o rapaz ou o cão?], 1767


            “Numa extremidade da gôndola, indiferente aos que iam e vinham pelo tombadilho, batendo de vez em quando a cauda de modo expressivo contra as tábuas do assoalho, o focinho enterrado nas páginas de um volume do Sr. Henry James, um cão de nenhuma raça em particular parecia absorto no texto à sua frente. Desde o dia em que os Amigos (do Acaso), no decorrer de uma missão na capital da nação (ver Os Amigos do Acaso e o pateta perverso), salvaram Pugnax, na época ainda um mero filhote, de um conflito furioso, à sombra do Monumento a Washington, entre duas matilhas rivais de cães sem dono, ele tinha o hábito de perscrutar as páginas de qualquer material impresso que porventura encontrasse a bordo do Inconveniência, desde abordagens teóricas das artes aeronáuticas até leituras bem menos apropriadas, como folhetins sensacionalistas – embora, ao que parecia, ele gostasse mais de narrativas sentimentais a respeito de sua própria espécie do que de histórias que destacassem os extremos do comportamento humano, que lhes pareciam um tanto extravagantes. Ele aprendera, com aquela facilidade característica dos cães, a virar as páginas do modo mais delicado, utilizando o focinho ou as patas, e todo aquele que o visse entretido dessa forma não podia deixar de perceber as mudanças de expressão em seu rosto, em particular as sobrancelhas excepcionalmente articuladas, que contribuíam para o efeito geral de interesse, envolvimento e – impossível evitar a conclusão – compreensão”.
(Thomas Pynchon, Contra o dia, 2006, tradução de Paulo Henriques Britto)


Sugestão de trilha sonora para ler Thomas Pynchon>



Thelonious Monk – Blue Monk