domingo, 25 de fevereiro de 2018

Elogio do Aprendizado

Foi só um ensaio,
mas dedicamos este canto de Bert Brecht (1933)
a todas às professoras e estudantes
da escola pública brasileira!

Vuuuuush!


Elogio do Aprendizado
Canto de Bertolt Brecht (1933) / Recanto por Cavalgando o Vento (CoV) – 21.02.2018
Tradução do original por Paulo César de Souza, Editora 34, 2000.

Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda!
Não desanime! Comece! É preciso saber mais!

Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher!
Aprenda, na cozinha!
Aprenda, ancião!
É que você tem que assumir o comando:
Do seu corpo, seu trabalho
Sua consciência, do seu coração
De qualquer tentativa de salvação!

Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio (todo mundo sente)!
Você que tem fome, agarre o livro: é a única arma!
É que você tem que assumir o comando:
Do seu corpo, seu trabalho
Sua consciência, da sua voz, seu coração
De qualquer promessa de revolução!

Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer!
Veja com os teus próprios olhos!
O que não sabe por conta própria, nunca vai saber.
Verifique a conta É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: o que é isso? Pergunte: o que é isso?
É que você tem que assumir o comando:
Do seu corpo, seu trabalho
Sua consciência, Sua voz, Do seu coração
Lembrar sempre que ninguém é maior que ninguém

domingo, 11 de fevereiro de 2018

É Carnaval na Bruzundanga




MARCHINHA ALEGRE, CANTIGA TRISTE
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Tentei fazer uma marchinha alegre
Pra comemorar o Carnaval que vem
Mas só saiu esta cantiga triste
Repleta de mágoas, cheia de desdém:

Fechei as alas, pois ninguém passou
E até o Zezé a cabeleira já cortou
Botei água na minha cachaça, cachaça na água
E ninguém tomou

Mãe, eu queria tanto a chupeta e fiquei querendo
Pois ninguém me deu
Perdi de vez a hora da aurora, não fui embora
Nem o dia raiou

Minha espanhola nunca vira a Catalunha
Não tocava castanholas, nem pegava touro à unha
Cheguei tarde às touradas de Madri
Fecharam os portões, não pude assistir

Na minha terra têm palmeiras onde canta o sabiá
Mas aqui em casa só dá mesmo pardal e araçá
Atrás do trio elétrico eu fui andando a pé
Não é que o dito cujo ele deu a marcha à ré?

A canoa não virou, mas também não cheguei lá
O que é que a baiana tem?
Tem caroço no angu, tem tico-tico no fubá
Muitas contas pra pagar

O imperador do samba foi deposto
E o frevo rasgado por inteiro remendado
Até esqueci aquela serpentina que a colombina gorda
Havia jogado

Tentei fazer uma marchinha alegre
Pra comemorar o Carnaval que vem
Mas só saiu esta cantiga triste
Repleta de mágoas, cheia de desdém.
(Página 142 do livro Contos Pra Cantar)