MARCHINHA
ALEGRE, CANTIGA TRISTE
(c.
a. albani da silva,
o inventor do vento)
Tentei
fazer uma marchinha alegre
Pra
comemorar o Carnaval que vem
Mas
só saiu esta cantiga triste
Repleta
de mágoas, cheia de desdém:
Fechei
as alas, pois ninguém passou
E
até o Zezé a cabeleira já cortou
Botei
água na minha cachaça, cachaça na água
E
ninguém tomou
Mãe,
eu queria tanto a chupeta e fiquei querendo
Pois
ninguém me deu
Perdi
de vez a hora da aurora, não fui embora
Nem
o dia raiou
Minha
espanhola nunca vira a Catalunha
Não
tocava castanholas, nem pegava touro à unha
Cheguei
tarde às touradas de Madri
Fecharam
os portões, não pude assistir
Na
minha terra têm palmeiras onde canta o sabiá
Mas
aqui em casa só dá mesmo pardal e araçá
Atrás
do trio elétrico eu fui andando a pé
Não
é que o dito cujo ele deu a marcha à ré?
A
canoa não virou, mas também não cheguei lá
O
que é que a baiana tem?
Tem
caroço no angu, tem tico-tico no fubá
Muitas
contas pra pagar
O
imperador do samba foi deposto
E
o frevo rasgado por inteiro remendado
Até
esqueci aquela serpentina que a colombina gorda
Havia
jogado
Tentei
fazer uma marchinha alegre
Pra
comemorar o Carnaval que vem
Mas
só saiu esta cantiga triste
Repleta
de mágoas, cheia de desdém.
(Página
142 do livro Contos Pra Cantar)
Nenhum comentário:
Postar um comentário