domingo, 11 de fevereiro de 2018

É Carnaval na Bruzundanga




MARCHINHA ALEGRE, CANTIGA TRISTE
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Tentei fazer uma marchinha alegre
Pra comemorar o Carnaval que vem
Mas só saiu esta cantiga triste
Repleta de mágoas, cheia de desdém:

Fechei as alas, pois ninguém passou
E até o Zezé a cabeleira já cortou
Botei água na minha cachaça, cachaça na água
E ninguém tomou

Mãe, eu queria tanto a chupeta e fiquei querendo
Pois ninguém me deu
Perdi de vez a hora da aurora, não fui embora
Nem o dia raiou

Minha espanhola nunca vira a Catalunha
Não tocava castanholas, nem pegava touro à unha
Cheguei tarde às touradas de Madri
Fecharam os portões, não pude assistir

Na minha terra têm palmeiras onde canta o sabiá
Mas aqui em casa só dá mesmo pardal e araçá
Atrás do trio elétrico eu fui andando a pé
Não é que o dito cujo ele deu a marcha à ré?

A canoa não virou, mas também não cheguei lá
O que é que a baiana tem?
Tem caroço no angu, tem tico-tico no fubá
Muitas contas pra pagar

O imperador do samba foi deposto
E o frevo rasgado por inteiro remendado
Até esqueci aquela serpentina que a colombina gorda
Havia jogado

Tentei fazer uma marchinha alegre
Pra comemorar o Carnaval que vem
Mas só saiu esta cantiga triste
Repleta de mágoas, cheia de desdém.
(Página 142 do livro Contos Pra Cantar)

Nenhum comentário:

Postar um comentário