quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Vasco Prado, Dormideira, s/d

Pai e Mãe
J.M.G. Le Clézio (1940) começa seu livro “O Africano(2004) assim:
Todo ser humano é um resultado de pai e mãe. Pode-se não reconhecê-los, não amá-los, pode-se duvidar deles. Mas eles aí estão: seu rosto, suas atitudes, suas maneiras e manias, suas ilusões e esperanças, a forma de suas mãos e de seus dedos do pé, a cor dos olhos e dos cabelos, seu modo de falar, suas ideias, provavelmente a idade de sua morte, tudo isso passou para nós”.

Concepção e Nascimento
Le Clézio invoca a Mãe África:
Os africanos costumam dizer que não é do dia em que saem do ventre materno que as pessoas nascem, mas sim do lugar e do instante em que elas são concebidas”.

O Vento Africano
Agora fala do Vento na Nigéria, onde viveu aos 8 anos de idade, logo após a II Guerra Mundial, filho de um médico do Império Britânico:
 “[...] o vento que envergava as grandes árvores ao redor do quintal, que arrancava as palmas do teto, rodopiava na sala de jantar, passando por debaixo das portas, e apagava os lampiões a querosene”.

Angélique KidjoBatonga (1991): 

Zee AviThe Book of Johnson Morris (2011): 

Mariachi El BronxHoly (2009): 

 Buvar e Pecuchê falam sobre poesia
Não haverá poetas imortais neste século XXI insosso e debochado! – Pecuchê afirma em voz alta.
Teimo em não concordar com você, Pecuchê. Sempre haverá, se é que já não existe por aí, um novo Baudelaire, um novo Whitman, outro Lorca e seus sonetos obscuros, outro Neruda e seu engajamento político. Há que se ter esperança.
Aliás, Pecuchê, poesia é a bengala de cada um. Nada mais. – Acrescentou Buvar.
Não, não, Buvar. A genialidade é frágil e rara. A história não se repete, exceto enquanto tragédia e depois fraude.
Farsa, Pecuchê, depois farsa!
Buvar declama então para Pecuchê, e quem mais quiser ouvir, o que se lembra de um poema pescado num museu:

Ouça o apito de Diuqueine soprando
Soprando como se fosse varrer meu mundo
Soprando como se estivesse acabando
Soprando como nunca antes ela soprara
Soprando como se nunca mais fosse soprar
Soprando como se o Céu fosse se desmontar
Soprando como se fosse me matar
Consegue ouvir o apito de Diuqueine soprando?
Soprando através de outra cidade ruim
Ouça o apito de Diuqueine soprando
Soprando como se ela soprasse no ritmo

Bob DylanDuquesne Whistle (2012): Não é apenas "O Esqueleto" que se dá mal. Veja o "Velho Bardo" a cantar mais uma história de fracasso...

Raphael SaadiqGood Man (2011): Sim, Raphael, elas são muito más. Muito más mesmo!

Clementina de Jesus e João Bosco Boca de Sapo (1979): 

 Força e Fraqueza
 “Sendo fraco de início, quem apanha a seguir se torna forte”.
Quem concorda com Le Clézio e o provérbio árabe?

 Caran D´Ache, Caçador, 1898

quinta-feira, 23 de agosto de 2012


Alexander Rodchenko, Cartaz para a oficina de publicidade estatal de Leningrado, 1925

Dois Apaixonados no Papo Ventoso da semana
Nosso repórter, Almada Alves, especialista de longa data em entrevistas pós-morte, foi ao Terreiro Ogum Belicoso, na Barra da Tijuca-RJ, e levou um Papo Ventoso com dois ícones da cultura brasileira – o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) e o rei da soul music, cantor e compositor, Tim Maia (1942-1998).


Tim Maia do Brasil
Almada Alves – Existe vida antes da morte, Tim?
Tim Maia – A gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri. Mas quem sofre sempre tem que procurar, pelo menos vir a achar, razão para viver. Ter na vida algum motivo pra sonhar.

AA – Muito bonito isso, Tim. Mas o que é pior, não fazer o que se pensa ou não pensar no que se faz?
TM – Vale tudo. Vale o que vier. Vale o que quiser.

 AA – Esta é fácil, Tim, para um especialista em “cornologia” como você [risos]. Já dissestes para alguém “eu te amo”, com sinceridade?
TM – Sou sentimental e ninguém percebe. [Tim fecha os olhos, suspira] Você é mais do que sei. É mais que pensei. É mais que esperava, baby. Você é algo assim. É tudo pra mim. É como eu sonhava, baby.

AA – A quem se refere, Tim, a mim? [risos novamente, alguns palavrões]
TM – Pô, só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher!!! É a Jurema, bicho. She´s the Queen of the jungle. A encapuzada.

AA – Quem ou o que é Deus para você?
TM – Uma Luz Azul me guia, com a firmeza e os lampejos do farol. E os recifes lá de cima me avisam dos perigos de chegar. Salve Nossa Senhora! Eu canto e rezo também. E grito ao mundo inteiro que não quero dinheiro, só quero amar!!!

AA – Previsão do tempo para as eleições 2012:
TM – No meu país vi como vivem todas as flores, todas as cores. Sem distinção de cor, o amor ainda existe, enfim, mesmo ainda quando há luta. Do alto se escuta, em uma só voz que diz: “somos como irmãos”.

AA – Os males do Brasil são?
TM - O Brasil é o único Pais em que além de p*ta gozar, cafetão sentir ciúmes e traficante ser viciado, o pobre é de Direita.

AA –Algo mais, Tim?
TM – Chego a ter medo do futuro. E da solidão que em minha porta bate. Devo admitir que sou réu confesso. Um abraço ao “Batata Frita” – ladrão de bicicletas; “Coroné Antônio Bento” – pai da Juliana; e "Johnny" – o boleiro.

Tim MaiaO Descobridor dos Sete Mares (1992): 

 FalcatruaSossego (2010): 


Tim Maia - Bom Senso (1976): 

 FalcatruaRéu Confesso (2010):

Nelson Rodrigues dos Aforismos
Almada Alves – Existe vida antes da morte, Nelson?
Nelson Rodrigues – Somente à sombra das chuteiras imortais.

AA – O que é pior, não fazer o que se pensa ou não pensar no que se faz?
NR – O óbvio ululante é que toda unanimidade é burra.

AA – Você já disse para alguém, Nelson, “eu te amo”, com sinceridade?
NR – Todo amor é eterno. Se não é eterno, não é amor.

AA – Quem ou o que é Deus para você?
NR – Meu destino é pecar... Mas toda nudez será castigada!

AA – Previsão do tempo para as eleições 2012:
NR – Alguns “Bocas de Ouro” serão eleitos. E seus odontologistas serão pagos pelo contribuinte anônimo de olhos rútilos.

AA – Os males do Brasil são?
NR – Nosso “complexo de vira-lata”. E também a traição. Num casal há sempre um infiel. É preciso trair para não ser traído.

AA –Alguma consideração final, Nelson?
NR – É a vida como ela é. Não à toa eu me considero um reacionário.

Tim MaiaPrimavera (1997): 

Falcatrua Festa de Santo Reis (2010): 

Tim MaiaGostava Tanto de Você (1997): 


Falcatrua Azul da Cor Do Mar (2010): 


Jorge BenjorW Brasil (Chama o Síndico, 2002): 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Ralph Singh Para Vereador
00666
De mãos dadas com Vishnu o povo pode mais
Coligação Por Uma Isabella Mais Bella
PSI – PEI - PCI

Para Prefeito Vá de 00171 – Odorico Paraguaçu

Ficha do Candidato

Nome Completo: Ranjit "Ralph" Kripalsingh
Data de Nascimento: Em algum dia de 1967
Filiação: V.S. Naipaul (1932), Gurudeva (?), Sra. Kripalsingh (?)
Partido: Partido Socialista de Isabella (PSI)
Religião: Sikh
Escolaridade: Graduado em Economia pela London School of Economics
Estado-civil: Divorciado
Time: Grêmio FBPA
Comida Predileta: Banana frita
Hobby: Críquete; redigir seu livro de memórias; fazer mímicas
Propostas: 1) Proclamar a independência de Isabella; 2) Nacionalizar os canaviais; 3) Renegociar os royalties da bauxita; 4) Unificar as polícias, criando uma força civil de segurança.

Daft PunkTechnologic (2005):

Curiosidade: R. Singh é filho do professor Kripalsingh, aquele que nos anos 1930 virou o profeta Gurudeva. Gurudeva criou um novo Arraial de Canudos nas montanhas de Isabella junto dos estivadores então em greve. 

Jackson do Pandeiro Chiclete com Banana (1959): 

Luísa MaitaAlento (2010): 

 Breve Histórico de Ralph Singh: 
   Ralph Singh é filho de imigrantes indianos, de religião sikh e hindu, chegados a Isabella na década de 1920 quando tanto a ilha caribenha quanto a Índia pertenciam ao Império Britânico. A família de sua mãe fez fortuna com a fábrica Bella Bella, fabricante autorizada da Coca-Cola em Isabella.
     Aos 18 anos, Singh partiu para Londres, onde se formou em Economia na London School of Economics e lá conheceu a 1ª esposa, Sandra. Após formar-se em Londres, retornou a Isabella quando então construiu, tendo muito sucesso comercial, o loteamento de classe média CripplevilleEm 1961 foi nomeado Ministro da Economia do Governo Browne, em Isabella. Foi também um dos fundadores do Partido Socialista de Isabella (PSI), sendo notório colaborador do jornal do Partido. 
Pearl Jam Do The Evolution (1998): 

 Pato FuEu (Graforreia Xilarmônica, 2011): 


Depoimentos:
            Deschampneufs (colega no Colégio Imperial): Votar em Ralph Singh é votar na milenar sabedoria brâmane. Se realizar um mau governo no seu mandato, Singh ainda terá o infinito Sansara para tentar fazer alguma coisa. Além de ser punido com um Karma em caso de corrupção.
            
         Cecil (primo e gerente executivo da Bella-Bella Coke Ltda.): Ralph sempre foi um guri bom. Puxou mais do lado da nossa família (materna). A família do pai não vale nada.
            
          Sally (1ª namorada): Até hoje me lembro dos doces beijos de Ralph. No fundo, todo homem continua sendo eternamente um menino.
            
       Major Grant (professor no Colégio Imperial): Muitos pensam que foi o pai de Kripalsingh, Gurudeva, o inventor da greve. Nem ele nem os estivadores de Isabella. A greve foi inventada pelos romanos 500 anos antes de Cristo. Gurudeva apenas deu um toque hindu à coisa.
            
       Browne (Ex-primeiro ministro de Isabella): Apesar do escândalo do plástico e do seu romance com Lady Stella, filha de Lorde Stockwell, maior latifundiário isabelense, Singh é um socialista convicto - embora não seja marxista.
            
      Sandra (ex-mulher, vive hoje nos EUA): Ralph foi um bom marido. Sobretudo rico. Mas infiel. De toda forma, eu também fui infiel.
            
         Círculo Esportivo (Onde Singh costumava almoçar com empresários e celebridades isabelenses): Indianos, negros, latinos, judeus, árabes, homossexuais, mulheres, pobres são todos iguais. A única raça que presta em Isabella (e no mundo, por que, não?) é a raça branca indo-europeia. Claro, nós do Círculo Esportivo não comungamos de nenhum preconceito. Oh! Imagine! Nós? Racistas? Ora...

GorillazClint Eastwood (2005): 

Júpiter Maçã As Tortas e as Cucas (2009): 


R. Singh por R. Singh:
Começamos com um blefe. Continuávamos blefando. No entanto, havia uma diferença. Começamos na inocência, acreditando na virtude do cheiro de suor. Continuamos já com a consciência da pobreza e do poder. O político colonial é um alvo fácil para a ridicularização. Quero evitar o ridículo, não vou contar histórias de analfabetismo e inocência social. Não que eu queira pintar uma imagem do político colonial mais elevada ou mais perfeita do que a realidade. É que sua situação, ela própria constitui, por assim dizer, uma sátira; ela vira a sátira do avesso, leva-a a um ponto em que ela se aproxima do patético, talvez até do trágico. Nesta imensa violação, as palavras lhe vêm com facilidade, uma facilidade excessiva. Ele é obrigado a trair suas palavras. Atingindo o sucesso, ele é obrigado a pôr de lado a violação. Ele tem de se trair, e no final sua única causa é sua própria sobrevivência. O apoio que ele atraiu – não um ideal atraindo outro, e sim um rancor atraindo outro – ele termina por trair e mutilar: a emancipação não é possível para todos”. 
(V.S. Naipaul, Os Mímicos, 1967).

 PixiesLa La Love You (2005): 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


August Macke, Casaco Verde, 1913

Confira o Vídeo Inédito do CoV!!!
Cavalgando o VentoO Esqueleto (Albani da Silva): Cavalgando o Vento canta e interpreta, de maneira bem-humorada e irônica, uma história de solidão e traição. Afinal, quem já não se encontrou (e ainda vai se encontrar de novo, óbvio) desamparado como o Esqueleto?

Buvar e Pecuchê no banco da praça
“Quebraste o braço, meu velho”?
“Compadre, tomei uma surra da mulher e da vizinha”.
“Se os antigos egípcios não mumificassem seus mortos, hoje tu não terias essas talas e ataduras pra remendar os ossos”.
“Nem me fale de egípcios, compadre. Comprei o clássico “Deuses do Nilo(1956) do arqueólogo Charles Anderson (1917-2002), em nova edição revista e ampliada, e embestei de dar uma de Ramsés II. O faraó das 1000 esposas e 150 filhos”.
“Sei! Aquele que governou o Egito por 67 anos!”
“Exato, compadre. Mas eu não cheguei nem na segunda esposa e já estava todo lascado. Pedi em casamento a minha vizinha que enviuvou há 2 anos. Apanhei dela e da patroa em casa”.
(Albani da Silva, 09.08.2012)

Milton NascimentoTravessia (1967):  

Buvar e Pecuchê na fila do açougue
“Sabe, meu velho, comprei um livro do Charles Anderson sobre o Egito”.
“Sim, compadre. Tu o compraste de mim depois da surra que levei da mulher e da vizinha”.
“Bem bom esse livrinho. Agora sei que o Nilo nasce em Ruanda, e que 100.000 escravos ergueram a pirâmide de Quéops em 2550 a.C”.
“Eu li essa parte também, compadre. A pirâmide tem quase 140 metros de altura, ali ali com nosso Itacolomi”.
“Mas no nosso morro não nasce nenhum Nilo, e sim o Arroio Barnabé”.
“Há uma tabela anexada no livro que mostra a população das grandes cidades da Antiguidade”.
“Lembro também, compadre. Menos de 50 mil habitantes em Ur e Uruk na Mesopotâmia.”
“E a nossa Gravataí já vai chegando a 300 mil moradores”.
“Fico pensando que em cidades tão pequenas Reis e Faraós, como Salomão e Ramsés, se casavam com mil mulheres”.
“Você casado com uminha só há 40 anos e eu solteiro”.
“Não se fazem mais homens como antigamente”.
(Albani da Silva, 32.08.2012)

Fito y FitipaldisAntes de que cuente diez (2009): 

Buvar e Pecuchê na saída da lotérica da Parada 47
“Compadre, comprei uma Tele Sena”.
“Eu jogo toda sexta na Quina, meu velho”.
“Nunca ganhei nada”.
“Eu também, não”.
“Mas muita gente ganha”.
“Claro”.
“Pecuchê, andei ruminando de novo sobre a Antiguidade”.
“Ora, Buvar, tenho lido atualmente apenas o jornal e meu Feicebuques”.
“Enfim, não invejo mais a virilidade de Ramsés”.
“Ainda bem. Com os teus anos não é preciso muita teoria para se aceitar tal obviedade”.
“Compadre Pecuchê, saiba que me sinto como um adolescente. Mas o que me fez cair na real é o fato dos agricultores antigos viverem em média 34 anos, e as agricultoras, 29 anos”.
“E o que isso tem a ver com Ramsés e suas 700 concubinas?”
“A maioria dos antigos era de agricultores... Nunca teve tanta gente na História vivendo 70, 80, 90 anos quanto no nosso mundo moderno! Ainda que, por vezes, ele pareça que vá explodir a qualquer momento”.
“Lá vem o ônibus, Buvar”.
(Albani da Silva, 08.32.2012)

Bob DylanThings Have Changed (2000): 


Bob DylanBlood in my Eyes (1993):


Pecuchê e Buvar saem do Planetário ao mesmo tempo em que uma turma de 5ª série
“Tantas estrelas lá em cima e planetas a rodeá-las. Deve haver vida mais inteligente que a humana em algum lugar por aí”.
“Antes do GPS, os fenícios, os cartagineses, os portugueses singravam os mares de olho nas estrelas”.
“Eu até hoje me confundo – onde está o Cruzeiro do Sul? E as Três Marias? E Vênus, a Estrela Vespertina”?
“Curiosamente, quando era pequeno, nunca quis ser astronauta”.
Eram os deuses astronautas? Às vezes me pergunto, Buvar.”
Mas Buvar já não ouvia mais nada, observava atento a dois gurizinhos que futricavam em seus celulares. No GPS, como chegar a Cachoeirinha...
(Albani da Silva, 09.08.2012)

Roberta CamposFlores Pra Te Dar (2009): 
TiêTe Mereço (2012): 


Buvar sonha com um GPS histórico enquanto Pecuchê escreve uma carta
“Bote aí nessa tua cartinha, Pecuchê: ‘Meu amigo, Buvar, projeta GPS que aponta o caminho para a Rota da Seda, de Pequim a Samarcanda, de Bagdá a Mumbai”.
“Mas esta carta é para minha namorada, devo falar apenas de mim mesmo, pois o amor é egoísta”.
“Ora, Pecuchê, não seja tão pragmático. Sejamos mais surreais nesta história”.
“Evidentemente, Buvar, admiro o surrealismo. Acabei de reler “Alice no País das Maravilhas(1862), de Lewis Carrol (1832-1898) e fiquei novamente encantado com o Coelho Branco e com o Chapeleiro Louco. Mas minha namorada não passa da novela das 6”.
“A das 7 ela já não entende?”
“Que nada, dorme muito cedo mesmo”.
(Carlos Adriano, 09.08.2012)

Paul McCartneyBlackbird (The Beatles, 2005): 

RHCPThe Adventures of Rain Dance Maggie (2011):