quinta-feira, 31 de maio de 2012


Winslow Homer, Garotos na canoa, 1880

Deus para Allan Kardec
  Foi o leitor Eduardo Schütz, professor de História, quem colaborou com a enquete do mês de junho (“Quem ou o que é Deus para você?” – ali do ladinho) lembrando das perguntas que Allan Kardec (1804-1869) fez aos espíritos e escreveu no seu “Livro dos Espíritos(1857): 1. O que é Deus? – Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. 2.  O que devemos entender por infinito? – O que não tem começo nem fim; o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito. 3. Poderíamos dizer que Deus é o infinito? – Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, que é insuficiente para definir as coisas que estão acima da sua inteligência. (Albani da Silva, 29.05.2012)

O Arraial do Beco das Cangalhas em Açu do Livramento
No interior do Estado da Piauíba localizamos um novo Arraial de Canudos. Como era de se esperar lá se encontram jovens de todas as idades – 14, 25, 33, 48, 56, 67, 72, 84, 99 anos. Hippies, indígenas de uma reserva guarani vizinha, sonhadores profissionais, estagiários de Dom Quixote, meninas bonitas, cidadãos indignados e nada ingênuos.
         Todos plantam e colhem hortaliças por lá, em rodízio diário, num simpático jardim que faz parte dos 5 ha do terreno do Arraial. O restante da alimentação dos cerca de 150 moradores da comunidade advém do escambo – trocam poemas, canções, artesanatos, bonsais, origamis, aulas de História e Política por galinhas, ovos, leite e frutas com as famílias de agricultores da região.
         Além dos trabalhos coletivos, por si sós já deveras divertidos, o pessoal do Arraial de Açu do Livramento aprende a conversar. Assim, os moradores também colaboram com formações e debates junto a assentamentos do MST no município vizinho - Gameleiras de Ubá.
         Tocando na sanfona, no tamborim e na harmônica, o Coletivo de Música do Arraial nos presenteou com um velho clássico do Grateful Dead e dois clássicos do trio Sá, Rodrix e Guarabyra(Albani da Silva, 25.05.2012)

Greateful DeadBrokedown Palace: Todos os pássaros que cantavam voaram – exceto você / Deixarei este palácio em ruínas / Farei eu mesmo uma cama na praia / Ouça o rio cantar doces canções / É um antigo acalanto, cantado há muitos anos atrás / Eu te amo mais do que as palavras podem dizer / Adeus.

Sá, Rodrix e GuarabyraPrimeira Canção da Estrada

Sá, Rodrix e GuarabyraCompadre Meu


Depoimento de Ana Paula Souza sobre o Arraial de Açu do Livramento
“Eu trabalhei num banco, anteriormente. Também estagiei numa fábrica de automóveis. Pra descansar, assistia TV. Aos sábados, “enchia a cara” badalando – mas, não, não tocava nenhum sino. Ah! conversava com amigos sem cheiro nem cor nem sabor nem medos só piadinhas e fofocas pela internet.
“Optei pelo Arraial por influência do meu tio, engenheiro agrônomo e militante dos alimentos orgânicos (plantados em casa). Mas, sobretudo, me decidi pelo Arraial após cursar a cadeira de Mercado de Capitais na Faculdade de Economia. Ora, se era para viver a ficção do dinheiro e suas negociatas, preferi viver das minhas próprias ficções – assim vim para o Arraial e não saí mais. Aqui casei - há três anos, vivo, viverei e morrerei”. (Ana Paula Souza, 25.05.2012)
            * Dito isso, Ana Paula sacou seu bandolim e, fã de rock dos anos 90, entoou em uma bela voz de contralto:

Counting CrowsBig Yellow Taxi: Asfaltaram o Paraíso / E construíram um estacionamento / Cortaram todas as árvores / E as colocaram num Museu de Árvores / R$ 1,50 a entrada.

The VerveBitter Sweet Symphony: Pois é uma sinfonia agridoce / Esta vida / Você é um escravo do dinheiro / E então morre / Nunca rezo / Mas à noite ponho-me de joelhos / Tudo não passa de sexo violência melodia e silêncio?
OasisSongbird: Conversando com um passarinho ontem / Voei para um lugar não muito longe / Cantando canções de amor para passar o tempo / Devolver o amor que recebi / Falar dos dias bons que ainda virão / Um homem não deve sonhar com esse tipo de coisa? / Nunca me senti assim antes.
Mais um pouco da sabedoria do Arraial do Beco das Cangalhas
            Antes de partir, Ana me lembra, com um lindo sorriso no rosto, que o mesmo discurso, realmente colocado em prática no Arraial de Açu do Livramento, tem sido alardeado pelos comerciais de TV – bancos, telefônicas, Planetas Atlânticos etc.
Mas foi Júlio César Pinheiro, um dos co-fundadores do Arraial, quem disse então: “Por isso, melhor do que sairmos por aí fundando sociedades alternativas e comunidades hippies, devemos é levá-las em nossos corações, usando-as no trato das pessoas de nosso dia-a-dia. Enquanto o mundo não explode de vez, ou então surjam outros Che Guevaras e Dom Quixotes liderando a invenção de algo novo e absolutamente inédito na História, talvez isso seja o melhor que possamos fazer. (Albani da Silva, 25.05.2012)

Sarau do Clube Literário de Cachoeirinha, 26.05
Retornando do Arraial de Açu do Livramento, apeamos de nossos Rocinantes, pangarés e burricos alados diretamente no Sarau do Clube Literário de Cachoeirinha/RS. E lá rolou esta jam session:
Jack LobboO Blues da Cachoeirinha: Jack Lobbo – Voz e Violão; Albani da Silva – Harmônica; Pelé – Atabaques; Amaro Flores – Pandeiro; Jacques – Meia-lua.  

Próxima parada: Tenessi
Encontrado outro novo Arraial de Canudos por lá... Quem avisou a estes Cavaleiros do Vento da boa nova foi o povo da banda Velho Lobo, de Cachoeirinha...
Velho Lobo Largue Tudo:






quinta-feira, 24 de maio de 2012


William Hogarth, Satanás, o pecado e a morte, 1735-1740
Buuuuuuuh!!!!
Para quem ainda não cansou de se assustar e ficar horrorizado com a realidade das ruas, vale mesmo a pena investir algum tempo na leitura de histórias de terror/suspense/mistério. Inspirado nas dúvidas e curiosidades de alguns estudantes, preparei este singelo Guia Prático Para Não Dormir à Noite, Pra Arrepiar os Cabelos e Tomar Sustos - Literatura de Terror. Se alguém ficou de fora, escreva pra gente dizendo quem foi!!!!  (Albani da Silva, 22.05.2012)
Contistas
Daniel DeFoe (1660 – 1731)Contos de fantasmas. DeFoe é considerado o padrinho do jornalismo e esse livro reúne reportagens sobre histórias de fantasmas. E muitas delas o autor jura que são reais.
Edgar Allan Poe (1809-1849)A carta roubada; Assassinatos na Rua Morgue; O escaravelho de ouro; O mistério de Marie Roget; O relato de Arthur Gordon Pym. Escritor norteamericano do século 19; os leitores iniciantes acham cansativas suas histórias, pois as frases e parágrafos são longos e com muitos detalhes, mas é o criador do gênero terror/suspense/mistério.
Álvares de Azevedo (1831 – 1852) Noite na taverna (contos); Macário (teatro). Poeta romântico, pessimista, precoce, por vezes, mórbido, é o precursor do gênero no Brasil.
Romancistas
Paulo Coelho (1947)Verônika decide morrer. Já virou filme, aborda o sentido da vida. Começa com a personagem tentando o suicídio - não é de terror, mas vale a pena, afinal, Deus, Diabo, Morte, Suicídio e Sobrenatural fomentam a literatura de terror.
Bram Stoker (1847 – 1912)Drácula. O romance gótico que originou quase toda a literatura de terror subsequente.
H.P. Lovecraft (1890-1937)A tumba ; O caso de Charles Dexter Ward; O horror em Red Hook. Os problemas da Ciência moderna, ocultismo e magia se misturam nesse escritor.
Mary Shelley (1797-1851)Frankenstein. Outro clássico gótico do século 19 – quais os limites da Ciência? Quais suas consequências quando os seres humanos tentam agir como deuses?
Robert Louis Stevenson (1850 – 1894)O Médico e o Monstro. Os demônios interiores que existem, mesmo nas mais civilizadas e cultas pessoas, vêm à tona nessa história.
Stephen King (1947)A coisa; A hora do lobisomem; A maldição do cigano; O Iluminado; Carrie, a estranha; À espera de um milagre. O escritor norteamericano é o mais badalado autor de terror. Vários de seus livros viraram filmes famosos.
Richard Matheson (1926)A casa infernal; Eu sou a lenda. Autor de livros que viraram filmes de sucesso, o rapaz foi o inventor da mais famosa casa maldita da literatura: a Mansão Belasco; além de renovar a literatura sobre vampiros com “Eu sou a lenda”.
William Peter Blatty (1928)O exorcista. Foi quem escreveu o mais cultuado filme sobre possessão diabólica da História, lançado em 1971.
Anne Rice (1941)Entrevista com o vampiro; O vampiro Lestat. Antes da série Crepúsculo, de Stephenie Meyer (1973), Anne Rice era a grande autora de romances sobre vampiros. 
(Albani da Silva, 22.05.2012) 
Zé RamalhoMistérios da Meia Noite

Kleiton e KledirCanção da Meia Noite:
Sem eles nos faltariam fantasmas, demônios e outros medos...
Antigo Testamento da Bíblia Uma mirabolante tradição oral / Convertida em diversos livros ao longo do século 6 a.C. / Em que poesia, crônica, lições, salmos e profecias se entrelaçam / Eis a Bíblia Hebraica ou, para os cristãos, Antigo Testamento / A origem do mal está lá (Adão e Eva, a fruta proibida da árvore do conhecimento, o pecado original, a expulsão do Jardim do Éden, o aparecimento da morte, dos sofrimentos, do trabalho) / O enciumado Caim matando Abel está lá (até hoje errando pelo mundo, para alguns, pai de todos os vampiros) / O Dilúvio e a Torre de Babel também estão lá / O Profeta Isaías está lá / O Livro de Jó está lá, com ele aguentando no osso os sofrimentos impostos por Satanás, autorizado por Deus a testar a sua fé... / É que / As religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo) / Mudaram o mundo ao diminuir a importância mística dos rituais / Atribuindo o peso da fé / Às ações e escolhas dos crentes / Que devem respeitar as leis divinas (Bíblia ou Alcorão) / Porém, em nenhum desses livros sagrados, em suas versões oficiais / Aparece a história da transformação do anjo Lúcifer – o queridinho de Deus / Em Satanás / Esse mito provêm de livros apócrifos (não-aceitos como divinos por rabinos, padres, pastores, sacerdotes, aiatolás, califas e mulás) / O Livro de Enoch é um desses apócrifos que conta como a inveja de Lúcifer / Redundou em rebelião contra Deus / E na expulsão de vários anjos para o Inferno / Agora transformados em Demônios / Historiadores creditam aos persas, entre os séculos 8 e 7 a.C. / Através do profeta Zoroastro ou Zaratustra / A invenção dessa visão dualista do mundo / Ou seja, em que tudo se resume a uma permanente oposição entre o Bem e o Mal (Albani da Silva, 22.05.2012)
* Para mais informações sobre os Persas e Zaratustra: 
A divina comédia (1308-1321) – Dante Alighieri (1265-1321): O 3º Testamento. O poema que sintetiza a Idade Média e anuncia o Renascimento europeu. Dante é guiado pelo poeta romano Virgílio pelos nove círculos do Inferno; pelo Purgatório; e, por fim, pelos sete Céus atrás de sua amada, Beatriz, falecida com apenas 25 anos. O Sobrenatural judaico-cristão é descrito nesse poema épico.
Paraíso Perdido (1667) – John Milton (1608-1674): Nesse poema barroco o escritor inglês conta a expulsão de Adão e Eva do Jardim de Éden, seduzidos por Lúcifer. Jorge Luis Borges e Oscar Wilde concordavam que o Diabo tudo deve a Milton. E para o crítico literário Harold Bloom, Satã é o mestre da cilada, do ressentimento, pois talento ignorado. Para Milton, a rebeldia de Eva lhe associa permanentemente às malícias do Demônio – e, realmente, pobre das bruxas na Idade Média... Milton disse também: “Onde quer eu voe é o Inferno / eu mesmo sou o Inferno / ...Todo o bem me foi perdido / Mal, vós sois o meu bem”.
Fausto (1831) - Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)Dividido em duas partes, Fausto é um poema trágico e épico que narra o pacto entre o demônio Mefistófeles e o médico Fausto, que buscava a felicidade. Apesar de fazer a sua amada sofrer, Margarete, é ela quem lhe salva do Inferno, com suas preces e fé, na hora em que Fausto se realiza e está sendo levado por Mefistófeles. A busca pela eterna juventude e pela imortalidade são as bases dessa história, precursora assim de todas as histórias de vampiros (que buscam o mesmo que Fausto) e zumbis (que são vampiros toscos).  
Dr. Fausto (1947) - Thomas Mann (1875-1955): Retire o médico, do Fausto de Goethe, e coloque no lugar o compositor de música erudita Adrian Leverkühn. Eis o Fausto de Mann. Nesse romance de derreter o cérebro, ou a gente sai amplamente transformado e apaixonado pela Literatura ou a gente não lê mais nada além de Best-Sellers. O livro reconstrói a História da Alemanha desde o fim do século 19 até a década de 1940 em meio ao fortalecimento da burguesia e à consolidação da Revolução Industrial, assim como em meio à explosão da I e da II Guerras Mundiais e à ascensão sorrateira e brutal do nazismo. Nesse contexto, o professor Serenus Zeitblon, amigo de infância de Adrian, relata como o seu soturno e arrogante amigo virou um gênio da música. A descrição do pacto, entre Mefistófeles e Adrian, nos Alpes italianos, é incrivelmente bela e perturbadora – seria um sonho/pesadelo ou tudo foi real mesmo? Assim como, a morte de Adrian, ao piano, ao apresentar sua última obra-prima, Doutor Fausto, também emociona.  
(Albani da Silva, 22.05.2012)
Robert JohnsonMe and the devil blues: O velho mito de Fausto agora a partir da música popular. O blues de Robert Johnson surgiu de um pacto com o demônio, diz o próprio.
The Rolling StonesSympathy for the Devil: E então o rock fez escola (e diabruras): 

Iron MaidenThe Number of the Beast: E pensar que esses caras já meteram medo em muita gente... 

Sepultura Roots Bloody Roots: Sem dúvida o pessoal do Sepultura captou bem a base cultural barroca do Brasil. Talvez por essa base, gostamos tanto de histórias de terror e mistérios. 
Michael Jackson Thriller: Essa também assustava. Hoje, dançamos no Wii. A gordura assusta mais, portanto...

O estranho mundo de Zé do Caixão
José Mojica Marins (1936) é um dos pioneiros do cinema no Brasil. Por ser a mais cara de todas as artes (ainda mais antes das câmeras digitais) Zé do Caixão fez um cinema assumidamente tosco, mas inovadoramente de terror. Abusando de um português bem coloquial, e algumas doses de sensualidade, Zé do Caixão lançou as bases do cinema trash – aquele filme mal feito de propósito. À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1963) foi o primeiro sucesso do , antes disso, nos anos 1950, ele fez faroeste e até filme religioso. Mas Zé do Caixão só foi ganhar dinheiro mesmo quando investiu em filmes eróticos...  (Albani da Silva, 22.05.2012)


Bento Carneiro – O Vampiro Brasileiro
Como já sabemos, toda história de Terror está a um passo da Anedota. Com o caminho aberto pelo Zé do Caixão, Chico Anysio pegou carona... 
(Albani da Silva, 22.05.2012)
Nosferatu de Murnau
Em 1922, o cineasta expressionista alemão Friedrich Wilhelm Murnau (1888-1931) lançou o primeiro filme (mudo) de vampiro da História. E ele acabava assim:  
(Albani da Silva, 22.05.2012)





quinta-feira, 17 de maio de 2012

John Sell Cotman, Tempestade na praia de Yarmouth, c. 1831

O Senso do Ridículo
Wislawa Szymborska (lê-se Vissáuva Chembórska, 1923 - 2012) faturou o Prêmio Nobel de Literatura em 1996. Mas sua relação com as Letras era marcada por Leituras Não-Obrigatórias, conforme a coluna de resenhas e crônicas que publicou durante décadas em revistas e jornais poloneses. Em seu poema “Possibilidades(1987) do livro “Gente na ponte”, Wislawa refletiu sobre o senso do ridículo: “Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não escrevê-los”. (Albani da Silva, 15.05.2012)

Rir, chorar ou entender?
Baruch Spinoza (1632-1677) filosofava que “não é rir, nem chorar, mas entender” – isso de acordo com Cathy Fox, personagem de Tariq Ali (1943) em Redenção (1990). Para Ezra Einstein, outro personagem de Ali, e do mesmo livro,“o comportamento é muito claro. Por trás de cada razão de desespero, temos de descobrir uma razão de esperança. As pessoas voltaram-se para a religião porque o mundo secular se identificara com as crueldades associadas na Idade Média à religião”. (Albani da Silva, 15.05.2012)

NUVENS
Para descrever as nuvens
eu necessitaria ser muito rápida –
numa fração de segundo
deixam de ser estas, tornam-se outras.

É próprio delas
não se repetir nunca
nas formas, matizes, poses e composição.

Sem o peso de nenhuma lembrança
flutuam sem esforço sobre os fatos.

Elas lá podem ser testemunhas de alguma coisa –
logo se dispersam para todos os lados.

Comparada com as nuvens
a vida parece muito sólida,
quase perene, praticamente eterna.

Perante as nuvens
até a pedra parece uma irmã
em quem se pode confiar,
já elas – são primas distantes e inconstantes.

Que as pessoas vivam, se quiserem,
e em sequencia que cada uma morra,
as nuvens nada têm a ver
com toda essa coisa
muito estranha.

Sobre a tua vida inteira
e a minha, ainda incompleta,
elas passam pomposas como sempre passaram.

Não têm obrigação de conosco findar.
Não precisam ser vistas para navegar.
(Wislawa Szymborska, Instante (2002), tradução de Regina Przybycien)

LENINEÉ o que me interessa (2009): Taí um dos nossos problemas, só corremos atrás do que nos interessa...

DICAS PARA A SAÚDE DO NENÊ: O aleitamento materno não deve passar dos 35 anos. Caso contrário, o nenê corre o risco de nunca arranjar um emprego. (Albani da Silva, 15.05.2012)

DICAS PARA O MERCADO DE TRABALHO: Em uma entrevista de emprego, evite os erros de português: responda a todas as perguntas in english. (Albani da Silva, 15.05.2012)

NAÇÃO ZUMBI A ilha (2007): A carne é fraca / E o corpo / É uma ilha / À procura / Do sol – Felizmente o historiador Carlo Ginzburg (1939) nos lembra que “nenhuma ilha é uma ilha (2000):
Em busca de novos Arraiais de Canudos
Cavalgando o Vento segue sua busca quixotesca por novos Arraiais de Canudos. Antônios nãos nos faltam; Conselheiros, porém, rareiam. Não, não, ainda, assim, não desistiremos! Embora não tenhamos aprendido a rezar direito – continuaremos a tentar longe de igrejas e supermercados. E mesmo que os corações estejam secos como o Ceará / Nossos ventos são ventos de chuva, tal qual na tempestade de Sell Cotman e sua praia de Yarmouth.  (Albani da Silva, 15.05.2012)
O Arraial de Canudos
Em 1897 / O Exército / Da República brasileira / Recém-proclamada / Mas já controlada pelos fazendeiros de sempre / Os barões do café / Destruiu / O Arraial de Canudos / Chamado também de / Belo Monte / No sertão / Da Bahia / Lá / Quem plantava / Colhia / E comia / Repartindo / O suor / E o fruto do suor / Num clima / Místico / Esperando pelo fim dos tempos / Pela volta de Dom Sebastião / Ou / Pela volta de Cristo / O que dá no mesmo / Pro cristão / Antônio Conselheiro / Liderou / Esta / Fascinante / Experiência / Socialista / Em que o caboclo / E a cabocla / Chocolate e mel / Deixaram / De ser / Servo & Escrava / Pra virar gente / Ainda que humilde / Mas gente. (Albani da Silva, 15.05.2012)

O Rappa Súplica Cearense (2008)

WADO A reforma agrária do ar (2009) - Contra o artista mudo / Contra o ouvinte surdo / Contra o latifúndio / Das ondas do rádio:

Adaíltom Percival da Silva
De acordo com o leitor Adaíltom Percival da Silva (1955), pedreiro, observador de estrelas, eclipses e vaga-lumesnovos arraiais de Canudos precisarão de guerreiros meninos – nada a ver com falcões do tráfico, pistoleiros e outros valentões, mas, sim, homens que também choram:

Gonzaguinha Guerreiro Menino (1976):
Antes de mais nada
Adaíltom Percival da Silva também alerta, em sua missiva, que é indispensável para o sucesso dos novos Arraiais a presença de meninas bonitas:

Pedro Luís e a ParedeMenina Bonita (2011)
Até Breve
Enquanto procuramos/construímos/inventamos novos Arraiais de Canudos, os Cavaleiros do Vento lhes desejam um até breve, ou seja, até a semana que vem!!!

CAVALGANDO o VENTOAté Breve (Albani da Silva, 2012)O artesanato de transformar sentimentos, sonhos e experiências em canção: compor, ensaiar, gravar, divulgar...





quinta-feira, 10 de maio de 2012

Almeida Jr., O Violeiro, 1899
Tristezas do Jeca
           Nos anos 1940 o Brasil começou a deixar de ser o país do café – apesar de ainda o ser até hoje (?!?). É que a crise de 1929 e a II Guerra Mundial (1939-1945) fizeram com que o presidente Getúlio Vargas (1882-1954) começasse um processo chamado de Industrialização por Substituição de Importações, que se resumia em produzir aqui um pouco dos produtos que comprávamos fora, no mesmo momento em que os países industrializados europeus paravam de tomar nosso café devido à guerra e outros entreveros.
Uma primeira e importante leva de trabalhadores rurais saiu dos sertões brasileiros então e foi ganhar a vida nos centros urbanos – em especial em São Paulo e arredores. João Salvador Pérez e José Pérez, ou melhor, Tonico e Tinoco, foram um desses caipiras que debandaram. O sonho deles? Bem atual: virarem cantores sertanejos. E viraram. A “Dupla Coração do Brasil” foi a caçula dessas duplas que levaram as modas de viola sertanejas para o rádio nos anos 1940 e 1950 – entre eles havia também João Pacífico, Alvarenga e Ranchinho, Pena Branca e Xavantinho, Cacique e Pajé, Tião Carreiro e Pardinho, Cascatinha e Inhana e o padrinho de todos eles, ou quase, o Capitão Furtado, que batizou Tonico de Tonico e Tinoco de Tinoco.
Em 1945 gravaram o primeiro disco; e em 1947, regravaram uma toada caipira de Angelino de Oliveira (1888-1964) dos anos 1920 – “Tristezas do Jeca”. Tocando em circos, quermesses e programas de rádio, Tonico e Tinoco venderam mais de 50 milhões de discos até o fim da dupla em 1994, quando Tonico faleceu. Foi também em 1947 que estrearam na Rádio Nacional o programa “Na beira da tuia que durou até os anos 1970 quando o rock, encabeçado pelo pessoal da Jovem Guarda, começou a ganhar a preferência dos produtores e ouvintes. Não à toa as duplas “sertanejas” que vieram depois, rapidinho, acrescentaram guitarras elétricas às suas modas, catiras e rancheiras, ficando cada vez mais pop-rock.
De acordo com a escritora Rosa Nepomuceno, em seu “Música Caipira: da roça ao rodeio” (1999), foi em 1930 que Tonico e Tinoco começaram a tocar mundo afora, cantando modinhas assim:
            A muié pra se casá
       É preciso escoiê
       Livrá dos armofadinha
       Que anda no ginguelê.
     Seriam, hoje em dia, “armofadinhas que andam no ginguelê” os “asteróides da paixão”, os “ai, ai, ui, uis da pegação”, assim como “tchu-tchás” e seus correlatos? (Albani da Silva, 08.05.2012)

Tonico e TinocoTristezas do Jeca (1973):

Tonico e TinocoO rei do gado (1973)

Sabiás do sertão
Mas a minha dupla caipira predileta é Cascatinha e Inhana, aquele que matava aula pra tomar banho de cascata; e a Sinhá Ana, aquela que abreviando vira Inhana! Não tem jeito:

Cascatinha e InhanaO meu primeiro amor (1973):

Cascatinha e Inhana Índia (1973)

TOADA CAIPIRA INTERGALÁCTICA
Em 1969, foi a vez dos Mutantes gravarem a sua toada caipira (intergaláctica), escrita por Tom Zé (1936).

Mutantes2001 (Tom Zé, 1969)
E por falar em Tom Zé o rapaz decidiu opinar em nossa enquete sobre amor e sinceridade:
Tom ZéO amor é um rock (2007): 
O poder da ficção
Poderia falar de um reality show / De Guerra nas Estrelas / Das novelas da TV / Da Publicidade e Propaganda / Do mercado financeiro / História de pescador / Mas falo mesmo da última notícia / Um furo jornalístico / Para / Demonstrar / O que é / O poder / Da / Ficção / Cansada das arengas / Entre a bancada evangélica / De um lado / E os ateus / De outro / A presidenta Dilma mandou / O Banco Central / Obedeceu / Nosso Real / Agora já não / Mais / Louva / A Deus / Agora / É / Lula seja louvado / Nas notas de 2, 5, 10, 20, 50, 100 / Teve / Deputado / Que se indignou / Não / Não foi o / Tiririca / Não. (Albani da Silva, 08.05.2012)
*Para mais informações sobre as novas notas do Real veja e se indigne também aqui e ali: 

Ali Babá e os 40 ladrões
Não estranha / Que / Esse / Mesmo / Congresso / Que / Boicotou o III Plano Nacional de Direitos Humanos / Em 2010 / Encabeçado pelas bancadas reacionárias / de plantão / Ou seja / Ruralistas, “evangélicos”, colaboradores da grande mídia etc / Também / Derrubou / Em 2011 / O kit escolar Anti-Homofobia / E sabotam também / Há tempos / O marco regulatório / da radiodifusão / Assim como a Lei Complementar / que criminaliza / a / Homofobia (PL 122) / Não espanta / Igualmente / Que esse mesmo / Congresso Nacional / Em que Deputado / Se Indigna / Com as “novas” cédulas de Real / Seja / O Congresso que votou / Com ampla maioria / o Novo Código Florestal / O Código que manda pro espaço / As reservas legais e áreas de preservação permanente / A responsabilidade / Por parte dos fazendeiros / Com as matas nativas / E / Em nome do Agronegócio / Sua soja seus dólares e que tais / Permite o / corte / da mata ciliar / do topo de morros / entre outros / itens / É / Esse mesmo / Congresso / Eleito / Por / Nós / E nosso CALDO DE CULTURA FASCISTA / que / Por ora / Elabora / O Novo Código Penal / Brasileiro / Conforme / Lembra / O Profeta Miquéias / E a profetisa Carina / Já ameaçando / Descriminalizar / Quem tortura / Animais / E quem devasta / O meio ambiente / Lembremos da indústria automobilística, dos pesticidas agrícolas e outros senões / Não estranha / Mas revolta / E entristece / Se o Novo Código Penal / Vir a ter a cara / do Datena / do Mota / do Ratynho / do Capitão Nascimento / Pobre de nós – apenas ladrões de galinhas...
*Nota do MST sobre o “Novo Código Florestal”Em defesa da preservação ambiental
*Nota do movimento “Crueldade Nunca Mais” sobre o “Novo Código Penal”, atualmente em discussão no Senado, e as possíveis mudanças quanto aos maus-tratos a animais e o encampamento da Lei de Crimes Ambientais pelo Código: Crueldade Nunca Mais

Raul SeixasAbre-te, sésamo (1980)
Dia das Mães
Já faz tempo, lá por 2001, Christopher Hitchens (1949-2011) foi convidado pelo Vaticano para fazer o papel de “advogado do Diabo” no processo de canonização da Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Entre muitos outros argumentos apresentados por Hitchens em resposta às perguntas dos padres, um desses argumentos, bem interessante, contrário à canonização da missionária albanesa que fez fama na Índia: “Ela (Madre Teresa) se opunha ferrenhamente à única política que já conseguiu reduzir a pobreza em qualquer país – ou seja, o fortalecimento das mulheres e seu controle sobre a própria fertilidade”. Caminhavam os dois, Hitchens, o repórter, e a Madre, pelas ruas de Calcutá quando a freira expôs seus pensamentos ao jornalista inglês, conforme publicado no artigo “O diabo e madre Teresa” do livro “Amor, Pobreza e Guerra(2004). Em 2003, Madre Teresa foi beatificada, estágio anterior à canonização. (Albani da Silva, 09.05.2012)

Simpatizantes do ganham asas...
  A “autêntica” juventude
            Você já parou para pensar em como nós, jovens, mudamos de um ano para o outro? E depois de se passarem 3 anos? É impossível não notar! Tudo é “ultrapassado” para nós, estamos sempre inovando ou querendo inovar. Mas será que isso quer dizer que somos autênticos?
                A juventude de hoje está muito ligada à indústria cultural. Nós, jovens, somos altamente influenciados por ela, e ao seguirmos seu padrão, achamos que somos os “maiorais”, que somos “autênticos”. Mas autêntico, na minha opinião, é aquele jovem que age, decide e opina por si próprio, levando em conta o que pensa e o que está certo.
                Nós, jovens, somos o futuro, e, por isso, devemos nos conscientizar. Devemos deixar de lado a imagem que querem da gente (entenda-se, a mídia POP e a indústria da cultura) e nos mostrar do jeito que somos. E o mais importante é que devemos fazer a diferença.
                É muito difícil ser jovem atualmente, e isso é compreensível. O mundo está cada vez mais violento, problemático e indiferente. E não podemos nos acostumar com isso, não é o certo, mas, infelizmente, é o que acontece. E a juventude é o maior fator possível que pode mudar essa realidade ruim, mas acomodadora.
                 Abra os olhos e viva essa sua juventude. Seja autêntico, aja e transforme. Não se acostume com MIGALHAS. Não se deixe influenciar, pois quando se tornar adulto e um verdadeiro “ultrapassado”, vai sentir falta do “poder” que um dia já teve. (Angélica Andrade Reis – Estudante de 8ª série da EMEF Alberto Pasqualini Gravataí/RS, 08.05.2012)

CAVALGUEM o VENTO, CAVALGUEM o VENTO – Não há nada mais rebelde do que ele
Leitores e simpatizantes,
façam como a estudante Angélica Reis e enviem seus escritos, poemas, contos, crônicas, sugestões de assuntos, vídeos e músicas para o CoV – dentro do possível, estaremos publicando-os. Construir um Círculo de Leitores é construir um Círculo de Escritores.
Escrever e ler para que mesmo? Nas palavras de Zygmunt Bauman (1925), em seu “Comunidade: a busca por segurança no mundo atual(1998): “E no entanto — como colocou Cornelius Castoriadis — o problema da condição contemporânea de nossa civilização moderna é que ela parou de questionar-se. Não formular certas questões é extremamente perigoso, mais do que deixar de responder às questões que já figuram na agenda oficial; ao passo que responder o tipo errado de questões com freqüência ajuda a desviar os olhos das questões realmente importantes. O preço do silêncio é pago na dura moeda corrente do sofrimento humano. Fazer as perguntas certas constitui, afinal, toda a diferença entre sina e destino, entre andar à deriva e viajar. Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que devemos prestar aos nossos companheiros humanos e a nós mesmos. (Albani da Silva, 10.05.2012)