sábado, 29 de agosto de 2015

Resenhas da Aline - Livro 02: Americanah



No meu último aniversário recebi de presente o Americanah das mãos de uma baita amiga que me disse: é um romance, a autora é nigeriana e feminista, acho que irás gostar.
Já tinha ouvido falar da Chimamanda Ngozi Adichie, mas ainda não tinha lido nada dela. Fiquei tomada pela curiosidade e ansiedade para iniciar a leitura então logo abandonei o que estava lendo na época e me deixei levar pela narrativa incrível desta mulher maravilhosa.
O livro conta a história de Ifemelu, uma garota nigeriana que devido às recorrentes greves na sua universidade, muda-se para os Estados Unidos para estudar.
A protagonista torna-se uma imigrante e essa trajetória dela é o grande fio condutor do romance.
A narrativa inicia-se com o retorno dela à Nigéria e no decorrer dos capítulos acompanhamos seu caminho entre os Estados Unidos e seu país de origem.
Ifemelu é uma mulher inteligente, sagaz, cativante e questionadora. E devido a este tipo de personalidade, a narrativa consegue abordar muitos problemas pertinentes à nossa sociedade. Exemplo disso é a questão racial: até sua chegada aos Estados Unidos Ifemelu não se enxergava como negra, mas logo se depara com a realidade da discriminação racial que não existia para ela até aquele momento.
 Para mim, um dos trechos mais emocionantes do livro se dá na descrição do processo que culmina com a eleição de Barack Obama como presidente norteamericano. É muito interessante ver através dela o sentimento de esperança que inundava muitas pessoas naquele contexto!
O livro nos traz reflexões importantes, mas de forma natural, mostrando o quanto essas questões estão presentes no nosso cotidiano.
Além da ponte entre os EUA e a Nigéria, posso dizer que foi muito bom ler uma narrativa que descreve um país do continente africano, na qual é possível identificar alguns de seus costumes, sua divisão étnica, além de imaginar suas cidades e aldeias.
É necessário que façamos o rompimento com aquela visão preconceituosa e limitadora que tivemos do continente africano na escola ou nas mídias na qual a África era representada de uma forma única, sem a diversidade cultural, étnica, social e política que tem.
Acredito que ler autores de diversas etnias africanas é um começo para esse processo que só irá nos enriquecer. E começar com este livro vai ser um prazer, te garanto!

Título: Americanah
Páginas: 516
Lançamento: 2014
Editora: Cia das Letras
Tradução: Julia Romeu
Resenha: Aline Sparremberger

De trilha sonora, vamos com poema de Solano Trindade, “Sou Negro”, musicado pelo Inventor do Vento em 2013. Em seguida, inevitável ao se tratar da Nigéria, a “água que não tem inimigos” de Fela Kuti e sua banda Afrika ’70.



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Canção do ex-mágico

Sylvain Chomet, O mágico, 2010

Canção do ex-mágico
(C. A. Albani da Silva – livremente inspirada no conto “O ex-mágico da taberna Minhota”, Murilo Rubião, 1949)

Ele não nasceu nem morreu
Não estava preparado para sofrer
(Como eu e você)

Quando viu tinha os cabelos grisalhos
Público funcionário
(Entediado)

O ex-mágico da Taberna Minhota
Fazia truques sem saber como ou por quê
(Mas queria saber)

Retirava empresários do bolso
Coelhos, lagartos e cobras do chapéu
(Vivia ao léu)

No circo agradou multidões
Mas também arrumou confusões
O cadarço que virou serpente
Ele nunca consigo contente

Por isso tentou o suicídio
Mas devorou os próprios leões que dos bolsos tirou
(Só teve dor de barriga)

A pistola virara um lápis
Desde a serra saltou pelos ares
(Mas se salvou)

Foi quando entrou pro emprego público
Pensando assim morrer lentamente
(Lá se apaixonou)

Inclusive compôs poemas de amor
Para os seios da sua colega datilógrafa
(Que o rejeitou)

Tentou enganar o patrão
Pra evitar a sua demissão
Mas perdeu o dom da magia
Atolado na burocracia

Só entendeu seus poderes mágicos
Depois que os deixou para trás
(Sozinho estás)

Agora fica lamentando
Por um tempo que não volta mais
(E ele não aproveitou)

*Participação especial: “Alemão” Cristiano no cajón
**Gravada em 28/07/2015 no Laboratório de Sons do Vento

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Pontos de Vista

O ponto de vista do canário da terra, Praia de Baunilha, verão de 2014


PONTOS DE VISTA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
* Com a participação especial da cantora Fernanda Estevão nos vocais

Disse o Zezinho: “Pra que saber o sujeito da oração, quando eu sei que é a minha mãe quem reza por mim enquanto vendo bala na estação?!”

Disse a Mariazinha: “Pra que saber se o Teorema é de Pitágoras se, na minha mesa, como as migalhas de um velho pão com água?!”

Disse o triste Luís: “Por qual motivo estudar todas essas guerras, se, aqui no morro, cada guri é um soldado da favela?!”

Refrão: Eu aprendo tantas coisas vivendo
             Que a escola já não pode me ensinar
             Os franceses que fiquem com as suas Revoluções
             Pois eu tenho a minha “mina” e ela tá louca pra deitar...

Disse o Cambotinha: “Não me diz nada esse tal Hino Nacional! Prefiro algo na minha língua: Rap, Funk, Rock, Pagode, Samba ou outra batida legal!”

Disse a Professora: “Ganho tão pouco, como posso melhorar? A culpa é dos próprios ‘maloqueiros’ que nem tentam ao menos me escutar!”

Disse o Gerente do Banco: “Este mês me assaltaram outra vez! Quando vão dar um fim a essa cambada de ‘pés-rapados’ de uma vez?” 

Refrão

Disse o Secretário da Cultura: “O problema é com a Educação! Dirija-se ao próximo Gabinete, mas antes retire a sua ficha no balcão”.

“Depois das férias, temos um pleito, é só a Câmara aprovar, passar pelo Governo do Estado e aos Deputados a reforma retornar”.

“Mas aí temos outro recesso, e como já vem o fim do ano outra vez, deixamos pra depois do Carnaval pra sancionar essas ilegíveis Leis”...

Só não esqueça (Passe por cima dos outros)
Só não esqueça (Deixe os velhinhos banguelas)
Mas não esqueça (Faça filhos por aí)
Só não esqueça (Leia poemas de amor)
Mas não esqueça (Dê toda sua grana para o pastor)
Mas não esqueça (Torça pela Dupla Grenal)
Só não esqueça (Especialmente no ano eleitoral)
Só não esqueça a minha legenda

Ficha Técnica:
C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento: Letra, música, voz, violão e harmônica
Mick Oliveira, o Profeta do Vento: Guitarras
Fernanda Estevão: Participação Especial - Vocais
Daniel "San": Baixo, bateria, teclados, percussão
Luan Henrique: Técnico de áudio
Cleiton Amorim: Produção
Nona faixa do álbum "Cavalgando o Vento" (CoV), lançado em dezembro de 2013 com apoio do Fundo da Cultura de Cachoeirinha/RS (FUCCA).
Gravado no Estúdio LACOS, Cachoeirinha/RS, entre julho de 2012 e agosto de 2013.

sábado, 8 de agosto de 2015

Lavoura de Morangos Eterna

Don Wood, O ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado, 1984


O encontro da Jovem Guarda com o Roque Rural aconteceu no Laboratório de Sons do Vento em tarde tri quente do inverno tri frio do RS. Tudo, tudo (letra, música, guarda, jovem, roça e roque) inspirado em “Strawberry Fields Forever”, The Beatles, 1967.


Lavoura de morangos eterna -

Deixa eu te levar
Queu já tô me indo
Pra lavoura de morangos que
Plantei de mentirinha
Hora de colher ou arar
Minha lavoura de morangos eterna

Plantar tá fácil pra quem não
Não tem a enxada na mão
O meu trator ficou velho, está cansado
De jogar o sal na terra

Nenhum pé você encontrou
Nenhum pé maduro ou verde
O pomar dos sonhos do pobre lavrador
Virou pasto de um boi contente

A flor que o manacá deu
Só tu na roça apercebeu
Ocupei teu sítio pra semear e semeei
Morangos vermelhos engalanados
(Voz, violão, letra e adaptação musical: Albani, o Inventor do Vento)