sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Canção do ex-mágico

Sylvain Chomet, O mágico, 2010

Canção do ex-mágico
(C. A. Albani da Silva – livremente inspirada no conto “O ex-mágico da taberna Minhota”, Murilo Rubião, 1949)

Ele não nasceu nem morreu
Não estava preparado para sofrer
(Como eu e você)

Quando viu tinha os cabelos grisalhos
Público funcionário
(Entediado)

O ex-mágico da Taberna Minhota
Fazia truques sem saber como ou por quê
(Mas queria saber)

Retirava empresários do bolso
Coelhos, lagartos e cobras do chapéu
(Vivia ao léu)

No circo agradou multidões
Mas também arrumou confusões
O cadarço que virou serpente
Ele nunca consigo contente

Por isso tentou o suicídio
Mas devorou os próprios leões que dos bolsos tirou
(Só teve dor de barriga)

A pistola virara um lápis
Desde a serra saltou pelos ares
(Mas se salvou)

Foi quando entrou pro emprego público
Pensando assim morrer lentamente
(Lá se apaixonou)

Inclusive compôs poemas de amor
Para os seios da sua colega datilógrafa
(Que o rejeitou)

Tentou enganar o patrão
Pra evitar a sua demissão
Mas perdeu o dom da magia
Atolado na burocracia

Só entendeu seus poderes mágicos
Depois que os deixou para trás
(Sozinho estás)

Agora fica lamentando
Por um tempo que não volta mais
(E ele não aproveitou)

*Participação especial: “Alemão” Cristiano no cajón
**Gravada em 28/07/2015 no Laboratório de Sons do Vento

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