domingo, 31 de março de 2019

ALGUNS MOTIVOS PARA NÃO SENTIRMOS SAUDADES DA DITADURA MILITAR (1964-1985)




ALGUNS MOTIVOS PARA NÃO SENTIRMOS SAUDADES DA DITADURA MILITAR (1964-1985)

Há 55 anos, na madrugada de 31/03 para 1° de abril de 1964, o Exército derrubou o Presidente João Goulart (1919-1976) e passou a ditar as regras, através dos seus coturnos, no Brasil. Jango era um discípulo mais moderno e liberal da herança trabalhista do presidente Getúlio Vargas. Este foi o gaúcho que havia se suicidado em 1954 após ser acusado de corrupção por criar coisas que desagradaram grande parte dos interesses da burguesia no Brasil: A Carteira de Trabalho, a Petrobras, a siderurgia e a mineração públicas, entre outras. Lembro que Getúlio não foi nenhum santo e boa parte de suas obras em 19 anos de governo foram conduzidas também de forma autoritária. Mas foi assim que, apoiado por empresários nacionais e estrangeiros, por grande parte da Igreja, por setores da classe média, fazendeiros e pelo governo dos EUA, o GOLPE MILITAR foi uma reação das elites econômicas contra as então crescentes reivindicações sociais de sindicatos, agricultores, partidos de Esquerda, estudantes, intelectuais e artistas. Essas lutas populares eram em prol das REFORMAS de BASE (reforma agrária, reforma urbana, reforma educacional e política). O pessoal da Direita, que deu o Golpe Militar, temia que essas grandes e fundamentais reivindicações trabalhistas levassem o país a uma Revolução Comunista, como na Cuba de Fidel Castro e “Che” Guevara em 1959. Saíram com tiros, bombas, tanques e cavalos pelas capitais do país em defesa da propriedade privada sem limites, do poder do dinheiro sobre o trabalho, do ultracapitalismo moralista, direcionando os recursos do governo à iniciativa privada, celebrando a alienação cultural e reprimindo grosseiramente a oposição. Sendo assim:

1) É verdade que havia mais segurança nas ruas durante a Ditadura? Não! Durante a Ditadura, a repressão policial se concentrou contra grupos políticos de Esquerda (guerrilheiros, estudantes, líderes sindicais, intelectuais, artistas críticos). Se as ruas eram mais pacatas é porque os centros urbanos brasileiros eram bem menores e muita gente (cerca de 60% da população) vivia no campo. Em 1970, por exemplo, Gravataí tinha menos de 70 mil habitantes. Em 2000, tinha 270 mil habitantes!

2) As favelas e o êxodo rural têm a ver com a Ditadura então? Tudo a ver! Entre 1967 e 1979 os militares incentivaram a vinda de muitas empresas estrangeiras para o Brasil, sobretudo empresas norteamericanas. O país se industrializou de vez. Porém, o campo continuou dominado pelo latifúndio, ou seja, muita terra na mão de poucos fazendeiros e pouca terra na mão de muitos agricultores. Resultado disto? Milhões de camponeses sem-terra abandonaram o campo (estima-se uns 40 milhões), ocupando as periferias das cidades atrás de emprego nas fábricas. Alguns conseguiram... Outros, não!

3) Não existiam drogas durante a Ditadura? Foi exatamente durante a Ditadura que o campo, no Brasil, se industrializou também, a partir de 1972. Máquinas agrícolas substituíram a mão-de-obra de milhões de agricultores e isso ocasionou ainda mais êxodo rural. Nesse embalo, fazendeiros, empresas multinacionais de agrotóxicos e equipamentos agrícolas investiram pesado na produção de alimentos, mas também, de entorpecentes (tudo em nome do lucro, claro!) em um processo simultâneo em quase toda a América Latina. Rapidamente, as drogas inundaram as cidades...

4) Não havia corrupção na Ditadura? Enormes obras de infraestrutura (estradas, pontes, hidrelétricas, aeroportos) aconteceram no Regime Militar, quase todas superfaturadas e com muitos desvios. Veja o caso da Rodovia Transamazônica, caríssima e até hoje inacabada. Ou mesmo a enorme dívida externa, contraída pelo Governo Militar para industrializar o país. Poucas denúncias apareciam na TV, pois o próprio governo censurava a imprensa, e porque também grande parte da imprensa apoiava o Regime Militar (a Rede Globo, a Folha de SP, o SBT...)

5) Mas a Globo não foi censurada também? Algumas novelas da Globo foram censuradas, mas quase todas por cenas de sexo, beijos e nádegas, não por ideias políticas como foram censurados dezenas de compositores, escritores e professores. Mesmo assim, foi a Ditadura que patrocinou dezenas de filmes estilo PORNOCHANCHADA, via Embrafilme, aqueles filmes brasileiros de comédia-erótica que fizeram muito sucesso no país nos anos 1970.

6) A Ditadura no Brasil foi menos violenta que as Ditaduras no Uruguai, Paraguai, Argentina, Bolívia, Chile? Não! Ainda hoje centenas de pessoas estão desaparecidas por terem sido torturadas e mortas por órgãos militares e policiais: outras centenas morreram assassinadas. Atualmente, a resistência ainda é grande entre os militares e políticos de Direita que, por vezes, contestam a Comissão Nacional da Verdade, instituída pelo governo Dilma Roussef em Maio de 2012 e que busca apurar os crimes de torturadores e terroristas de Estado do Regime Militar, resgatando e preservando também documentos históricos do Regime. Muitos desses torturadores seguem hoje recebendo salários, homenagens e mantêm títulos militares. Mesmo a Lei da Anistia Geral, de 1979, promoveu a impunidade dos torturadores e não prescreveu, como deveria, em 2009.

7) Alguém votava na Ditadura? Na maior parte da Ditadura, não! Os militares liberaram o voto em certos momentos, mas apenas para os alfabetizados (milhões de brasileiros eram analfabetos então) e para algumas prefeituras e Estados. Nada de voto para presidente! A lógica era: o povo brasileiro é incompetente, incapaz de votar por ser ignorante. Ou seja, novela (ou pornochanchada), futebol e cerveja pro povo, pois assim o povo deixava que os Generais, os “técnicos” do Exército e das empresas governassem o país.

RESUMINDO: Grande parte dos problemas do Brasil de hoje tem sua origem nos 21 anos de Ditadura Militar!!!!
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento, 31/03/2019)

quinta-feira, 28 de março de 2019

Ibsen: O Inimigo do Povo




No dia mundial do teatro, Henrik Ibsen (1828-1906) me contou o enredo de sua famosa peça teatral de 1882, O INIMIGO DO POVO:


Em Molendal / Na Noruega / O dr. Tomas Stockman descobriu que as águas da cidade eram medicinais / Havia mais de 50 termas / Assim a prosperidade chegou ao local / Com um enorme fluxo de turistas / E o surgimento de um grande comércio / O prefeito Peter Stockman, irmão do médico famoso / Também ficou eufórico com / O fim do desemprego e da pobreza / O jornal local / O Mensageiro do Povo / Noticiou as descobertas do dr. Stock / Até que / Passado dois ou três anos / O mesmo doutor revelou análises químicas que / Afirmavam: as termas estavam todas poluídas / Completamente infectadas após poucos anos de uso! / Precisavam urgentemente ser fechadas e tratadas / Deveria ser trocado todo o encanamento / Para captar água direto das nascentes / E não como fora feito às pressas / Com canos muito próximos aos pântanos da cidade / Precisava-se também construir esgotos / E essas obras custariam 10 milhões de coroas / E dois anos de trabalho… / O jornal levantou a questão / Quem seria o culpado por essa crise? / Ou melhor / Por essa irresponsabilidade! / O jornal fazia o tipo de vender notícias / Com uma embalagem / Em que só cabiam reportagens onde / O bom era bom / O mau era mau / Havendo uma força sobrenatural que resolvia as situações / E recompensava os bons / Castigando os maus / Pois os jornalistas acreditavam que / Esse era o alimento que os leitores do povo desejavam… / Sendo assim / O prefeito propôs à imprensa / Um relatório alternativo ao do médico / Apontando falhas / Apontando os riscos de prejuízos / Dessas denúncias feitas pelo médico / Prejuízos inclusive ao jornal / Diminuindo vendas e anunciantes / A esposa do médico / Pensava parecido / Sugerindo ao marido / Não comprar essa briga / Por medo e precaução / Frente aos muitos e poderosos inimigos / Proprietários, lojistas, investidores, governo, imprensa, burguesia / E dito e feito / Assim se formou uma maioria que / Saiu a boicotar o doutor e sua família / No que o doutor / Sem sequer poder explicar o resultado de seus trabalhos / Sobre a saúde e o risco de morte de grande parte da população de Molendal / Reconheceu ele então que as maiorias detêm o poder / Mas estava ele convicto também de que as minorias detêm a justiça... / Chegaram a acusá-lo / Primeiro, de aristocrata (metido a dono da verdade) / Depois de revolucionário (homem “do contra” frente à vontade popular) / O médico anotou: / “Quando a verdade chega a atacar e destruir / “Quem dela discorda / “É porque se tornou uma mentira” / O prefeito acusou o médico de querer dividir o povo / E conclamou / Com sucesso / As massas a atacarem o INIMIGO do POVO / A multidão apedrejou a casa do doutor / Ele foi retaliado, perdendo clientes / A casa que alugava foi-lhe retirada / A filha (que sempre lhe apoiou) foi demitida da escola onde lecionava… / Mesmo assim / Dr. Stock decidiu não se exilar na América / Decidiu seguir em Molendal / Ainda que se mudando para a periferia da cidade / Acreditava que lá / Entre os pobres / Renasceria a esperança / Assim como / Anotou: / “O homem mais forte / É o que está mais só!”.
(Inspirado na versão livre de Domingos de Oliveira)
c. a. albani da silva, o inventor do vento, 27.03.2019

segunda-feira, 25 de março de 2019

#22 CRIANÇAS. BICHOS e FLORES





PLAYLIST do LIVRO
CONTOS pra CANTAR do INVENTOR do VENTO
#22 CRIANÇAS. BICHOS e FLORES

Escrevi esta canção como uma homenagem
À filosofia existencialista
Do escritor francês Jean Paul Sartre (1905-1980)
Para ele não há NATUREZA humana
Mas há a CONDIÇÃO humana no mundo
O nosso lugar, nossa voz e nossos projetos
O mundo está cheio de coisas sem sentido
Cabe a nós organizar, valorizar e usar elas
Conforme nossa consciência prática
Obviamente existem conflitos entre as consciências
Pois são muitas as cabeças humanas
Talvez o equilíbrio entre todas as formas de pensar
Seja impossível, senão, absurdo
Mas o futuro sempre está em aberto
Ele é escolha e decisão (projeto)
Em menor ou maior grau
Dependendo da pessoa e suas circunstâncias
A humanidade é a única coisa na Terra que
Decide o seu próprio destino
A responsabilidade está no fato
De não haver uma escolha ESSENCIAL!
O livre-arbítrio pode virar má-fé
Até mesmo negação da liberdade
Exploração e falta de dignidade
Mas continua e continuará
Em aberto (o livre-arbítrio)
No lugar de uma PREDESTINAÇÃO
Sobra a angústia para a gente eternamente tratar:
Optar e ao mesmo tempo
Buscar os fundamentos de nossa opção
E saber que escolher é abrir mão
De muitas outras opções...
Se conformar a tudo
Ou menosprezar a tudo
Já é uma escolha
Aliás, ao gosto da má-fé
A intriga humana seria então
Enfrentar o nada
Ser o que podemos ser!
Mesmo com a náusea do desespero rondando
(E da desigualdade social também, né?)
---
c. a. albani da silva, o inventor do vento: letra, música, voz e violão 
mick oliveira: viola caipira 
antonio ramos: flauta 

quinta-feira, 21 de março de 2019

#21 MILONGA para RULFO & ONETTI


No dia em que
A Múmia política
Depois de esquentar o trono 
Para o faraó
E restabelecer as chicotadas
Nos que carregam as pedras
Das pirâmides egípcias
Vira boi de piranha
De piranha política...
E a assistência à saúde
Dos servidores públicos de Gravataí
Caminha para ser jogada aos cifrões
Da iniciativa privada
Dos médicos saudavelmente empresários
Em nome da gestão liberal que
Humaniza o dinheiro
E esculacha o humano
Somente a música
O vinho e a literatura
Pra não perder o sono
...
Juan Rulfo escreveu no seu México
Sobre os fantasmas da América Latina
Juan Carlos Onetti escreveu no seu Uruguay
Sobre o inferno urbano capitalista
Embaralhei generais e donzelas de Comala
Com os cigarros do Dr. Díaz
E deu nessa 
MILONGA PARA RULFO & ONETTI.

Playlist #21 
Contos Pra Cantar

quinta-feira, 14 de março de 2019

#39 PAZ, AFINAL



PLAYLIST do LIVRO CONTOS pra CANTAR do INVENTOR do VENTO #39 PAZ, AFINAL A paz é a gente que faz: abaixo às armas! PAZ, AFINAL A paz, afinal, virá! De dentro pra fora, a qualquer hora, na mesa do bar, na rua ou na escola A paz, afinal, verá que o homem é capaz de coisas legais e não só se matar! Veja, amor, estamos começando de novo Veja, amor, a gente já está tentando Na sua cabeça, no seu pensamento, tudo pode mudar Toda essa gente que se esconde no lixo agora vai se mostrar Veja, amor, sobre os escombros da guerra vamos se erguer Veja, amor, é só permitirmos e darmos uma chance à paz Toda essa luz que está dentro de ti, agora vai se mostrar Não haverá mais muros, e o nosso futuro, no hoje se tornará! A paz, afinal, virá! De dentro pra fora, a qualquer hora, na mesa do bar, na rua ou na escola A paz, afinal, verá que o homem é capaz de coisas legais e não só se matar! *** Letra, música, voz, violão e baixo: c. a. albani da silva, o inventor do vento Bateria: Alemão Cristiano Flauta: Antonio Ramos Leia: cavalgandoovento.blogspot.com.br

segunda-feira, 11 de março de 2019

# 20 NOSSO AMOR É PUNK BREGA



PLAYLIST do LIVRO
CONTOS pra CANTAR do INVENTOR do VENTO

#20 NOSSO AMOR É PUNK BREGA

Topei com Cupido
No Centro de Gravataí
Cabelo moicano e calça rasgada
Tatuagem Mt 1,3
Camiseta escrita eu te amo
Não sabia que Cupido
Gostava de política
Mas ele gosta
E pediu pra eu compor
Ao povão brasileiro
Uma canção de amor punk brega
Só assim disse ele
Se amará de verdade o povaréu
Sem a falsidade e os maus-tratos
De outras paixões
E ideologias amorosas

Pediu-me também para
Dedicar o som
Ao rei do punk brega:
Wander Wildner!
P.S.: As telas que ilustram a canção
São do Scott Scheidly
Vuuuuush
***
c. a. albani da silva, o inventor do vento:
letra, música, voz, violão, baixo
alemão cristiano:
bateria