sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A primavera está pródiga de chuvas veraneiras

Ernst Ludwig Kirchner, Duas mulheres na rua, 1914


Chuvas de Verão
(João de Almeida Neto, 1989)


Quando estas nuvens se esparramam sobre o pampa
E em gotas claras se derramam pelo chão
Apaga o pó dos pátios pobres da campanha
E apaga a brasa dessas tardes de verão.

Parece até que cada gota desta chuva
Vem como lágrima do céu para regar
O peito triste dos que choram como as nuvens,
Sem ver a flor do coração desabrochar.

Por isso gosto dessas chuvas veraneiras,
Que vêm e chovem e se somem sem alarde
Para levar a outros campos e outras vidas
A paz molhada que espalharam pela tarde.

E como chegam, vão-se as tardes, vão-se as chuvas
e vão-se os dias, vai-se o tempo e a ilusão
e vamos nós, em cada sonho que se apaga,
como se a vida fosse chuva de verão.


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