Mamica, Mãe do Inventor do Vento, c. de 1974
Esta é uma
postagem extraordinária. Mas não é uma postagem de luto. Esta canção surgiu
como uma resposta poética e histórica à impotência e à indignação, ainda durante
a luta pela vida e pela saúde. Voltar ao seio da natureza é sair do nosso
atabalhoado tempo histórico para entrar na serenidade do tempo infinito. Além
do que, não há doença que possa ser maior do que a VIDA. Por isso é pra MARIA
que canto!
É de Maria que falo é
pra Maria que canto
(C. A. Albani da Silva,
o Inventor do Vento)
Se
for segunda o bife é à milanesa
Ferve
a lentilha que espanta a fome e a tristeza
Foi-se
o domingo que começou na Cachoeirinha
Ou
lá na barra do Tramandaí
Na
tela o Silvio antes de um beijo de boa noite
A
casa limpa pra receber a luz do sol
E
colorir de artesanato o chão, a mesa
Pano
de prato e o banheiro, com certeza
Ainda
menina, cabelo ao vento, encaracolado
De
campo e mata e de cascatas em Santo Antônio
Os
15 irmãos, o bergamasco com os pais e as tias
Tem
pés na sanga e um medo louco de temporal
Desceu
do morro pra esse vale cheio de indústrias
Seus
olhos verdes viram a luz da noite elétrica
Aos
11 anos deixou a escola pra faxinar
A
tantas casas que só a ela coube limpar
É de Maria que falo
É pra Maria que canto
Aos
19 foi operária de bola e latas
Para
o azeite e a árvore dos Natais
Chegada
a hora, na domingueira da Jovem Guarda
Um
cara magro pegou seu braço e a levou pro altar
Corria
rápido o mês nove de ´76
A
ditadura rolando solta aqui outra vez
E
a Maria, recém-casada, peregrinava
Atrás
do lar que o manto da Virgem abençoava
Viriam
logo os primeiros dias pela COHAB
Hoje
incontáveis quanto os verões lá de Baunilha
Plenos
de vento, de chocolate e maresia
Secreto
amigo e de lambari, as pescarias
O
primeiro filho veio no tempo das vacas magras
Isso
que o esposo as madrugadas ele varava
Fazendo
bombas e geringonças na metalúrgica
Ainda
assim curaram a asma do pequenino
Em
09 anos chegava ao mundo o seu caçula
Naquele
outono, 22, de utopia
Levá-los
todos para o colégio de mãos dadas
É
a merenda, feita com esmero, pra criançada
A
história vai pro “digodieime”, pro futebol
Pintou
o rock e outras formas de fantasia
Com
namoradas, na faculdade, era sempre a Maria
A
esperar, vigilante, pelo portão
Às
vezes braba: fazer dos jovens homens feitos
Só
pra sentir falta da infância deles depois
Mas
não importa, o cafuné continuará
Nos
pés, na alma, sempre que a gente precisar
É de Maria que falo
É pra Maria que canto
Teu
amor é a flor do quintal
Tu
és a flor do nosso quintal
Não
há dor que murche o jardim
Pois
o nosso amor não tem mais fim
É de Maria que falo
É pra Maria o meu canto
Nenhum comentário:
Postar um comentário