quinta-feira, 21 de junho de 2012


Gustave Caillebote, Dia Chuvoso, 1877

Onde tudo era proibido
E novamente me encontrei andando pelas ruas de Gravataí e Cachoeirinha num velho FIAT Uno. Ao meu lado, Italo Calvino (1923-1985) contava algumas histórias que eu já conhecia de seu “Um general na biblioteca(1993). Ele as contava mais ou menos assim:
Havia um país em que tudo era proibido / A única coisa não proibida era jogar bola / Os cidadãos se reuniam num campo atrás da vila / E ali passavam os dias jogando bola / Tudo tinha sido proibido aos poucos / Sempre com motivos justificados / Não havia ninguém que pudesse reclamar / Que não soubesse se adaptar / Passaram-se anos / Um dia, o governo viu que não tinha mais razão para que tudo fosse proibido / E anunciaram que os cidadãos podiam fazer o que quisessem / Mensageiros foram aos lugares frequentados pelos cidadãos / “Saibam”, anunciaram, “nada mais é proibido”. / E eles continuaram jogando bola / “Entenderam”?, os mensageiros insistiram. “Estão livres para fazer o que quiserem”. / “Muito bem”, responderam os cidadãos, “Nós jogamos bola”. / O governo fez campanha publicitária para recordar-lhes quantas coisas belas e úteis havia / Às quais eles tinham se dedicado no passado e poderiam voltar a se dedicar / Ninguém prestou atenção e continuaram a jogar bola / Chuta que chuta / Gol e gol / O governo decidiu então / “Nem uma, nem duas”, disseram os governantes, “Proibamos o futebol” / Aí o povo fez uma revolução e matou a todos governantes / Depois, sem perder tempo, voltaram a jogar bola". (Italo da Silva, 21.06.2012)

Caetano VelosoÉ Proibido Proibir (s/d):

Ladrões...
Havia um país onde todos eram ladrões / À noite, cada cidadão saía para arrombar a casa do vizinho / Ao voltar, carregados, encontravam a sua casa roubada / E assim todos viviam em paz e sem prejuízo / Um roubava o outro / E este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o primeiro / Não se sabe bem como / Ocorre que no país / Apareceu um homem honesto / À noite, em vez de sair com o saco e a lanterna / Ficava em casa, fumando e lendo romances / Vinham os ladrões, viam a luz acesa e não subiam / Isso durou algum tempo / Até que convenceram o homem honesto que / Se quisesse / Viver sem fazer nada demais / Não era essa boa razão para não deixar os outros fazerem / Cada noite que ele passava em casa / Era uma família que não comia no dia seguinte / Sem argumentos / O homem começou a sair de noite, voltando de madrugada / Mas não ia roubar / Era honesto, não havia nada a fazer / Ia até a ponte olhar a água passar / Voltava pra casa, e a encontrava roubada / Em uma semana o homem honesto ficou sem um tostão / Sem comida / Com a casa vazia / Mas até aí tudo bem, era culpa sua / Mas seu comportamento criou uma grande confusão / Lhe roubavam tudo / E ele não roubava ninguém / Algum ladrão voltava pra casa e a achava intacta / Exatamente a casa que o homem honesto deveria ter roubado / O fato é que, pouco depois, os que não eram roubados acabaram ficando mais ricos / Não querendo mais roubar / E os que vinham roubar a casa do homem honesto / Sempre a encontravam vazia / Assim, ficavam mais pobres / E os que enricaram pegaram o costume, eles também, de ir à noite ver a água do rio / Isso só fez aumentar a confusão / Pois muitos outros ficaram ricos / E muitos outros ficaram pobres / Os ricos entenderam que indo até a ponte / Mais tarde ficariam pobres / E pensaram: “Contratemos os pobres para irem roubar por nós” / Definiram salários, comissões / Como eram ladrões / Procuravam enganar-se uns aos outros / Mas, como acontece, os ricos tornavam-se cada vez mais ricos / E os pobres cada vez mais pobres / Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e mandavam roubar os pobres para continuarem ricos / Mas se parassem de roubar, eram roubados pelos pobres / Então pagaram aos mais pobres dos pobres para defenderem as suas coisas / Contra outros pobres / Assim criaram a polícia e ergueram prisões / Poucos anos após o episódio do homem honesto / Não se falava mais em roubar ou ser roubado / Mas só de ricos e pobres / E no entanto todos continuavam a ser pobres.
/ Honesto só tinha havido aquele sujeito, e morrera logo, de fome. (Albani Calvino, 21.06.2012)


Leonard Cohen Suzanne (1970): E Jesus era um marinheiro / Quando andou sobre a água / Ele ficou muito tempo apenas observando / De sua solitária torre de madeira / E quando soube com certeza (que) / Apenas os afogados podiam enxergá-lo / Ele disse "Então todos os homens serão marinheiros / Até o mar libertá-los". 

Os Livros Mais Vendidos da Semana (De acordo com a Revista Olhe)

 Ficção
1º - Cavalgando o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - Querido João (Nicolas Fagulhas);
3º - O Filho da Mãe (Rique Raiordan);
4º - A Guerra dos Tontos (Jorge Martin Pescador);
5º - Jogos Sem-Graça (Suzana Colos e todo o Campeonato Brasileiro).

WilcoBorn Alone (2011): 
Não-Ficção
1º - Cavalgando o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - Para sempre, mas só enquanto durar (Bilharda e Críquete Carpinteiros);
3º - Guia Politicamente Incorreto de Gravataí e Cachoeirinha (Leonardo Moloch);
4º - Estevão Empregos. Uma biografia. (Válter Isaquisson);
5º - A cozinha morosa de Anne Marie Bragui-Lhá (Anne Marie Bragui-Lhá).

Cordel do Fogo EncantadoPreta (2006):

Autoajuda e esoterismo
1º - Cavalgando o Vento. Poesia e Ficções (Albani da Silva e a Ventania);
2º - H. Pinho. O amiguinho fiel (Padre Marcos Vermelho);
3º - Desperte o pobretão que há em você (Marcos Feiticeiro Martin Pescador);
4º - O sábio druida e o C.E.O (Tiago Caçador);
5º - Nietzsche para Bobocas (Alain Delon).

Echo and the BunnymenThe Killing Moon (1984): 





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