Johannes Vermeer, Moça com brinco de pérola,
c. 1665
Diálogo
sobre relacionamentos I
O professor Moses E. Herzog (1964), de Saul
Bellow (1915-2005), conversava com Phoebe
Gersbach, esposa de seu "amigo", o radialista Valentine Gersbach - o mesmo que acabou conquistando a segunda mulher de Herzog, a jovem Madeleine Pontritter:
“Talvez você ache que eu vou embora mais depressa
se você não se sentar. Venha, Phoebe, sente-se. Prometo que não vim aqui fazer
uma cena. Só tenho um propósito aqui, além de querer ver uma velha amiga...”
“Na verdade não somos velhos amigos.”
“Não pelos anos do calendário. Mas éramos tão
próximos em Ludeyville. Isso é verdade. Você tem que pensar na duração. Algumas
pessoas são condenadas a certos
relacionamentos. Talvez cada relacionamento seja ou uma alegria ou uma
condenação”. (Albani da Silva, 12.06.2012)
Diálogo sobre relacionamentos II
Agora o Professor Herzog conversa com seu colega
de universidade, o biólogo Lucas
Asphalter:
“Sim, mas você
lida com seres humanos. O que eu tenho para mostrar? Rocco (meu macaquinho
de estimação que morreu há pouco)”?
“Mas vamos nos
ater ao que interessa. Eu acredito de fato que a fraternidade é o que torna um
homem humano. Se devo a Deus uma vida humana, é aqui que eu fracasso. ‘O homem
não vive só de si mesmo, mas no rosto do seu irmão... Cada um contemplará o Pai
Eterno e o amor e a alegria abundarão’ (citação do poeta inglês William
Blake (1757-1827). Quando os
apóstolos do temor lhe dizem que os outros só servem para distraí-lo da
liberdade metafísica, está na hora de você deixá-los falando sozinhos. A questão verdadeira e essencial é a da nossa serventia
para outros seres humanos e da serventia deles para nós. Sem essa
serventia você nunca teme a morte, você a cultiva. E
a consciência, quando não compreende claramente para que viver, para que
morrer, só pode agredir e ridicularizar a si própria. Como você faz com
a ajuda de Rocco e de Tina Zokóly (escritora de autoajuda),
como eu faço ao escrever cartas impertinentes... Estou meio tonto. Onde está
aquela garrafa de Cutty Sark? Preciso de um trago”.
“Você precisa
dormir. Parece prestes a capotar”.
(Carlos
Adriano, 12.06.2012)
Uma moça bonita
afirmou, então a gente acredita mesmo, que William Blake escreveu em algum
lugar:
“A ave constrói o ninho; a aranha, a
teia; o homem, a amizade”. (Anônima moça bonita, 39.13.2012)
O silencioso
leitor
Certamente
foi Alberto Manguel (1948) quem escreveu, em seu “A
biblioteca à noite” (2006):
“Em Ouadane (deserto de
Adrar, Mauritânia), conta-se a
história de um mendigo que, no começo do século XV, apareceu diante dos
portões da cidade, famélico e andrajoso. Foi levado à mesquita, alimentado e
vestido, mas ninguém
conseguiu fazê-lo revelar seu nome ou sua cidade natal. O homem não
parecia querer outra coisa senão passar longas horas junto aos livros de
Ouadane, lendo em completo
silêncio. Por fim, após meses de comportamento misterioso, o imã perdeu a paciência
e disse ao mendigo: ‘Está escrito que aquele que guarda o conhecimento para si
não será bem vindo no Reino dos Céus. Cada leitor é apenas um capítulo na vida
do livro, e quando não passa adiante seus conhecimentos condena o livro a ser
enterrado em vida, por assim dizer. Você quer um tal destino para os livros que
lhe serviram tão bem?´. Ao ouvir essas palavras, o homem abriu a boca e
comentou longa e maravilhosamente o texto sagrado que por acaso tinha diante de
si. O imã percebeu que o visitante era um certo estudioso, homem célebre que, desesperado com a surdez do
mundo, prometera ficar calado enquanto não chegasse a um lugar em que o
conhecimento fosse verdadeiramente prezado”. (Albani
da Silva, 12.06.2012)
Adoniran Barbosa – Samba do Arnesto (c. 1976):
Ainda sobre os Namorados – a ausência da seresta
O
fantasma de Cartola
(1908-1980) veio me visitar no Dia dos
Namorados, indignado com o fato destes Cavaleiros do Vento não terem
mencionado a seresta ou
samba-canção ou ainda samba-de-inverno, junto do blues
e da milonga,
ao falarmos das paixões fracassadas, na semana passada. Então lá vai, Cartola,
canção sua na voz de: (Albani da Silva, 12.06.2012)
Roberta Sá e Ney Matogrosso – Peito Vazio (2009):
O Arraial de Canudos lá do Tenessi
O Haiti é aqui / Mas o Tenessi também / Aqui no coração / Na Califórnia /
No Tennesse / Na cachola-mente-aberta-espírito-livre / Em Gravataí /
Cachoeirinha / Açu do Livramento / Buenos Aires / Comala / Santa María / É uma
/ FRATERNIDADE / Um ritual de Lua Cheia / Porta-mágica / Novo movimento
surrealista / Em Sol Maior / Canudos / Em Tenessi / É a fraternidade CR /
Adocicadamente falando / Claro. (Albani da Silva, 12.06.2012)
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