sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Gustave Courbet, Os Pedreiros, 1850

A Revolução Sexual em Marte
      Antes de partir desta para uma melhor o escritor norteamericano Ray Bradbury (1920-2012) me pediu, por e-mail, que indicasse um livro referente à Revolução Sexual dos anos 1960 para um amigo seu marciano. O simpático alienígena passou aqui em casa, e após algumas taças de café e chá, cheguei à conclusão de que o camarada extraterreno precisava ler o mais recente título do inglês Martin Amis (1949) – “A Viúva Grávida” (2010). O marciano explicou-me, em português correto, e sem emitir nenhum juízo de valor, que as marcianas têm tomado cada vez mais conta da sociedade no planeta Vermelho, assim como, cada vez mais marcianos se interessam por marcianos e não por marcianas. Empolgado com o assunto, o E.T. curioso nos enviou a seguinte mensagem telepática, após a atenta leitura do romance em questão:

A Revolução Sexual na Terra
            Por muito tempo / Houve / Na Terra / O conflito de classes / O conflito de raças / O conflito de sexos / Hoje resta apenas o / Conflito de Idades. / Um mundo dividido / Sobretudo / Entre Jovens / E Velhos / Mas quando isso começou? / Não! Não foi lendo o Martin Amis / Carinhosamente recomendado a mim / pelo / Amigo / Terráqueo / Albani / Que encontrei a resposta / Foi pesquisando / Na Wikipédia / E no Google / E nuns livros de História bem escritos / Que a verdade me foi / Revelada.
            A minissaia de Mary Quant / Em 1955 / Permitiu ao belo sexo / Botar as mangas de fora, digo, coxas / Mas, antes de tudo / Foi a Revolução Francesa em 1789 / Berrando “Igualdade, Liberdade, Fraternidade” / E a Revolução Industrial / Na mesma época / Enxotando / Milhões de camponeses / Para as cidades / Que / Criaram as burguesas charmosas / As sofridas operárias / Mudou-se a família desde então.
            Nas Guerras Mundiais – entre 1914 e 1945 / A Morte, onipresente nos campos de batalha, disse: “Virem-se, senhoras e meninas / Não há mais homens para amar – estão todos ocupados se matando / Pela Democracia / Pelo Nazismo / Pelo Comunismo”.
            Consequências dessas Guerras: 1) Mais direitos trabalhistas mundo afora; 2) Estabelecimento da sociedade de consumo para reerguer a economia dos países devastados; 2.1) Eletrodomésticos na casa do povão;  3) Bomba-atômica.
            Não esquecendo / Das feministas inteligentes / Clara Zetkin / Alexandra Kollontai / Todas comunistas / Manuelas de outrora / Simone de Beauvoir / Tantas, tantas / Luz Del Fuego / Pagu / Sufragistas / Votes for Women / Não se esquecendo delas.
        Mas tudo isso / Pode ser / Resumido / Em duas palavras / PÍLULA ANTICONCEPCIONAL / Repito / PÍLULA ANTICONCEPCIONAL.            
          Marciano reducionista, eu? / Conforme os marxistas vulgares de outrora? / Talvez / Mas a pílula / Lá em 1954 / Foi um tapa na cara / Dos religiosos moralistas / Judeus / Cristãos / Muçulmanos / “Sexo só para procriar?” / “No escurinho?” / “Chega do homem que vira as costas à gestante!” / Fala agora a PÍLULA, onipresente, ainda que não 100% eficiente / No lugar da Morte / E continua falando: / “Basta do homem que impune fica embuchando falenas” / “Basta da mulher que só / Gere / Pare / Amamenta / Educa / Limpa / Cozinha / Lava / Educa” = “Basta da Mulher Escrava do Mundo”!
            Com a PÍLULA / Ou PIRLA / Ou PÍRULA, tanto faz / O prazer carnal deixou de ser / Exclusividade / De barbados e bigodes / Não sendo mais a gravidez algo / Incontrolável / Mas continuando a economia incontrolável / E continuando, como continua, a mercadoria incontrolável / As mulheres viraram os homens do século XXI / Diria o terráqueo Chacrinha / Sábio palhaço da TV brasileira. 
           Prevalecendo a busca pela felicidade / Na cama / Ganhou força / E legitimidade / A luta homoafetiva.
            Muitas conquistas / Novos problemas / Dilemas / Dramas / Ironias / Gracejos / É Martin Amis quem cita o pensador francês do século Dezesseis, Michel Montaigne - mais precisamente, de 1575:
O homem (a mulher, o homoafetivo – acrescenta o marciano) que ocupa o trono mais elevado da Terra continua sentado em cima de sua bunda.

Odair José Pare de tomar a pílula (1973): 

PapercutsPrimitive Future (2009): 

 Zeca Baleiro Heavy Metal do Senhor (2010): 

 O marciano recomenda
O marciano amigo curtiu mesmo a obra de Martin Amis. Sendo assim, o simpático verdinho extraterreno destaca outros trechos que dão o que pensar em “A Viúva Grávida”:

1.
E assim, mesmo no universo maluco do sono – a gente queria algo apaixonadamente, e aquilo acontecia, se tornava verdade. A gente acordava. E era a única hora em que aquilo acontecia de fato (pensou ele): era naquele sentido e apenas naquele sentido que os nossos sonhos alguma vez se tornavam realidade.

2.
Quando saía pelas ruas de Londres, ele tinha a sensação quase constante de que toda beleza havia desaparecido. E o que havia tomado seu lugar? Beleza é verdade, verdade é beleza. Aquilo era lindo, talvez. Mas como podia ser lindo? Não era verdadeiro. Da maneira como ele via. A beleza, essa coisa rara, tinha sumido. O que restara era a verdade. E havia um estoque interminável de verdade.


Brothers of a Feather Over the Hill (2007)

Brothers of a Feather Soul Singing (2007): 


3.
Nós somos para os deuses aquilo que são as moscas para meninos malvados, Lily. Eles nos torturam por diversão.

4.
Havia uma garota linda, chamada Echo, que se apaixonou por um rapaz lindo. Certo dia, quando estava caçando, o rapaz se perdeu de seus companheiros. Gritou chamando por eles: Onde vocês estão? Eu estou aqui. E Echo, olhando para ele de uma distância cautelosa, respondeu. Eu estou aqui. Eu estou aqui. Eu estou aqui. Eu estou aqui.
            Vou ficar aqui, disse ele. Venha até a mim.
         Venha até a mim. Até a mim, até a mim, até a mim.
            Fique aí!
           Fique aí!, disse ela, com lágrimas nos olhos. Fique aí, fique aí, fique aí.
            Ele parou e ficou escutando. Vamos nos encontrar no meio do caminho. Venha.
            Venha, disse ela. Venha, venha, venha.


VetiverWonder Why (2011): 

The WallflowersReboot the Mission (2012): 

Bom demais!!!
Tem link novo no “Visite” do CoV.
Não deixem de conferir o blog do quadrinista Laerte Coutinho (1951)Manual do Minotauro

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