Gustave Courbet, Os Pedreiros, 1850
A Revolução Sexual em Marte
Antes de partir desta para uma
melhor o escritor norteamericano Ray Bradbury
(1920-2012) me pediu, por e-mail, que indicasse um livro referente à Revolução Sexual dos anos 1960 para um amigo
seu marciano. O simpático alienígena passou aqui em casa, e após algumas taças
de café e chá, cheguei à conclusão de que o camarada extraterreno precisava ler
o mais recente título do inglês Martin Amis (1949) – “A Viúva Grávida”
(2010). O marciano explicou-me, em português correto, e sem emitir nenhum juízo
de valor, que as marcianas têm tomado cada vez mais conta da sociedade no
planeta Vermelho, assim como, cada vez mais marcianos se interessam por
marcianos e não por marcianas. Empolgado com o assunto, o E.T. curioso
nos enviou a seguinte mensagem telepática, após a atenta leitura do romance em
questão:
A Revolução Sexual na Terra
Por muito
tempo / Houve / Na Terra / O conflito de classes / O conflito de raças / O
conflito de sexos / Hoje resta apenas o / Conflito de Idades. / Um mundo
dividido / Sobretudo / Entre Jovens / E Velhos / Mas quando isso
começou? / Não! Não foi lendo o Martin Amis / Carinhosamente
recomendado a mim / pelo / Amigo / Terráqueo / Albani / Que encontrei a
resposta / Foi pesquisando / Na Wikipédia / E no Google / E nuns livros de
História bem escritos / Que a verdade me foi / Revelada.
A
minissaia de Mary Quant / Em 1955 / Permitiu ao belo sexo / Botar as mangas de fora, digo, coxas / Mas, antes de tudo / Foi a Revolução Francesa em 1789 /
Berrando “Igualdade, Liberdade, Fraternidade” / E a
Revolução Industrial / Na mesma época / Enxotando / Milhões de camponeses /
Para as cidades / Que / Criaram as burguesas charmosas / As sofridas operárias
/ Mudou-se a família desde então.
Nas
Guerras Mundiais – entre 1914 e 1945 / A
Morte, onipresente nos campos de batalha, disse: “Virem-se, senhoras e meninas /
Não há mais homens para amar – estão todos ocupados se matando / Pela
Democracia / Pelo Nazismo / Pelo Comunismo”.
Consequências dessas Guerras: 1) Mais direitos trabalhistas
mundo afora; 2) Estabelecimento da sociedade de consumo para reerguer a
economia dos países devastados; 2.1) Eletrodomésticos na casa do povão; 3) Bomba-atômica.
Não esquecendo
/ Das feministas inteligentes / Clara Zetkin / Alexandra Kollontai / Todas comunistas
/ Manuelas de outrora / Simone de Beauvoir / Tantas, tantas / Luz Del Fuego / Pagu
/ Sufragistas / Votes for Women / Não
se esquecendo delas.
Mas
tudo isso / Pode ser / Resumido / Em duas palavras / PÍLULA
ANTICONCEPCIONAL / Repito / PÍLULA ANTICONCEPCIONAL.
Marciano reducionista, eu? / Conforme os marxistas vulgares de outrora? / Talvez / Mas a pílula / Lá em 1954 / Foi um tapa na cara / Dos religiosos moralistas / Judeus / Cristãos / Muçulmanos / “Sexo só para procriar?” / “No escurinho?” / “Chega do homem que vira as costas à gestante!” / Fala agora a PÍLULA, onipresente, ainda que não 100% eficiente / No lugar da Morte / E continua falando: / “Basta do homem que impune fica embuchando falenas” / “Basta da mulher que só / Gere / Pare / Amamenta / Educa / Limpa / Cozinha / Lava / Educa” = “Basta da Mulher Escrava do Mundo”!
Marciano reducionista, eu? / Conforme os marxistas vulgares de outrora? / Talvez / Mas a pílula / Lá em 1954 / Foi um tapa na cara / Dos religiosos moralistas / Judeus / Cristãos / Muçulmanos / “Sexo só para procriar?” / “No escurinho?” / “Chega do homem que vira as costas à gestante!” / Fala agora a PÍLULA, onipresente, ainda que não 100% eficiente / No lugar da Morte / E continua falando: / “Basta do homem que impune fica embuchando falenas” / “Basta da mulher que só / Gere / Pare / Amamenta / Educa / Limpa / Cozinha / Lava / Educa” = “Basta da Mulher Escrava do Mundo”!
Com
a PÍLULA / Ou PIRLA / Ou PÍRULA, tanto faz / O prazer carnal deixou de ser /
Exclusividade / De barbados e bigodes / Não sendo mais a gravidez algo /
Incontrolável / Mas continuando a economia incontrolável / E continuando, como
continua, a mercadoria incontrolável / As mulheres viraram os homens do
século XXI / Diria o terráqueo Chacrinha / Sábio palhaço da TV
brasileira.
Prevalecendo a busca pela felicidade / Na cama / Ganhou força / E legitimidade / A luta homoafetiva.
Prevalecendo a busca pela felicidade / Na cama / Ganhou força / E legitimidade / A luta homoafetiva.
Muitas
conquistas / Novos problemas / Dilemas / Dramas / Ironias / Gracejos / É Martin
Amis quem cita o pensador francês do século Dezesseis, Michel Montaigne - mais
precisamente, de 1575:
O homem (a mulher, o homoafetivo – acrescenta o marciano) que
ocupa o trono mais elevado da Terra continua sentado em cima de sua bunda.
Odair
José – Pare de tomar a pílula (1973):
Papercuts
– Primitive
Future (2009):
O marciano amigo
curtiu mesmo a obra de Martin Amis. Sendo
assim, o simpático verdinho extraterreno destaca outros trechos que dão o que
pensar em “A Viúva Grávida”:
1.
E assim, mesmo
no universo maluco do sono – a gente queria algo apaixonadamente, e aquilo
acontecia, se tornava verdade. A gente acordava. E era a única hora em que
aquilo acontecia de fato (pensou ele): era naquele sentido e apenas naquele
sentido que os nossos sonhos alguma vez se tornavam realidade.
2.
Quando
saía pelas ruas de Londres, ele tinha a sensação quase constante de que toda
beleza havia desaparecido. E o que havia tomado seu lugar? Beleza é verdade, verdade é beleza. Aquilo era lindo, talvez. Mas
como podia ser lindo? Não era verdadeiro. Da maneira como ele via. A beleza,
essa coisa rara, tinha sumido. O que restara era a verdade. E havia um estoque
interminável de verdade.
Brothers of a Feather – Over the Hill (2007):
Brothers of a Feather– Soul Singing (2007):
3.
Nós somos para
os deuses aquilo que são as moscas para meninos malvados, Lily. Eles nos
torturam por diversão.
4.
Havia uma
garota linda, chamada Echo, que se apaixonou por um rapaz lindo. Certo dia,
quando estava caçando, o rapaz se perdeu de seus companheiros. Gritou chamando
por eles: Onde
vocês estão? Eu estou aqui. E Echo,
olhando para ele de uma distância cautelosa, respondeu. Eu estou aqui. Eu
estou aqui. Eu estou aqui. Eu estou aqui.
Vou ficar aqui, disse ele. Venha até a mim.
Venha até a mim. Até a mim, até a
mim, até a mim.
Fique aí!
Fique aí!, disse ela, com lágrimas nos
olhos. Fique aí, fique aí, fique aí.
Ele
parou e ficou escutando. Vamos nos encontrar no meio do caminho. Venha.
Venha, disse ela. Venha, venha, venha.
Vetiver – Wonder
Why (2011):
The Wallflowers – Reboot the Mission (2012):
Bom demais!!!
Tem link novo no “Visite”
do CoV.
Não deixem de conferir o blog do
quadrinista Laerte Coutinho (1951) – Manual do Minotauro
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