sábado, 6 de abril de 2019

#23 E SÓ



#23 E SÓ
No verão de 2011 me caiu em mãos um velho violão Giannini desafinado e só. Há 30 anos não soava uma nota naquele instrumento.
Bolei assim uma cantoria ave fênix pra ele, celebrando vários autores que encheram (ou será que esvaziaram?) a minha Cabeça de Vento:
1 – CARMEN MIRANDA: a primeira voz que cantou o Brasil pro mundo, nos anos 1940, com seu Bando da Lua;
2 – VINCENT van GOGH: o holandês que pintou a melancolia em traços de girassóis, corvos e noites estreladas; tinha muito amor pra dar, mas os anos 1880 não estavam prontos para receber;
3- JOAN BAEZ: a voz feminina que fez o Bob Dylan virar homem;
4 – DORIVAL CAYMMI: o baiano que no gogó, violão e mais algumas histórias de pescador fez o resto parecer história de pescador em 1959;
5 – FRANCISCO de GOYA: o espanhol que pintou a fúria da revolução francesa e de seu imperador Napoleão em 1800;
6 – MERCEDES SOSA: la negra voz da América Latina;
7 – MAHATMA GANDHI: o indiano pacifista de uma modernidade alternativa em 1940, antes do Buda engordar;
8 – ROLLING STONES: a boca desbocada do rock bagaceiro bem sacana antes que meio mundo fosse metido à sacana ou à bacana depois de 1968;
9 – CHE GUEVARA: o Dom Quixote de 1959 sem a triste figura em Buenos Aires, Cuba, Congo e na Bolívia;
10 – VICTOR JARA: cantador chileno que cantou o João Sem Terra e a Amanda em 1970;
11 – MACHADO de ASSIS: o maior psicólogo da canalha chamada burguesia brasileira em 1900, orgulhosamente escravocrata até hoje;
12 – RAUL SEIXAS: o filósofo maluco beleza do Zé Povão, um tom acima da Jovem Guarda;
13 – DOM QUIXOTE: o Che Guevara católico renascentista de triste figura em 1615;
14 – JACKSON do PANDEIRO: forró no alto do coqueiro para a ema dançar de pescoçada e o Tio Sam ficar de fora;
15 – LIMA BARRETO: triste visionário da negritude que ou abraça a Mama África ou embranquece desgraçadamente…
16 – GELSON OLIVEIRA: desde a Serra gaúcha soltando pipa pandorga papagaio para a glória da imaginação do homem-menino, menino que é homem;
17 – ALEJO CARPENTIER: autor cubano de sinfonias iluministas em meio a ditadores cheios de métodos, dólares, casas em Paris e panças largas;
18 – LUPICÍNIO RODRIGUES: quando Porto Alegre inventou a dor de cotovelo dos pobres moços esses moços sobre mesas de bar: uma judiaria;
19 – KARL MARX: o escriba alemão que sonhou a revolução judaico-cristã neste mundo e não no outro, ao invés do banquete das máquinas movidas a dinheiro e devoradoras de carne humana;
20 – No coração uma MENINA MORENA e só.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

PLAYLIST do LIVRO
CONTOS pra CANTAR do INVENTOR do VENTO


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