terça-feira, 2 de abril de 2019

Uma MÁQUINA de ABRAÇOS por uma MENINA ESTRANHA: O AUTISMO



Uma MÁQUINA de ABRAÇOS por uma MENINA ESTRANHA: O AUTISMO
Temple Grandin é uma menina estranha, por causa do autismo. Mesmo assim bolou uma máquina de abraços para diminuir a dificuldade afetiva que pode ser o contato físico para um autista. O mais doido nem é isso: é que ela foi uma das primeiras autistas da história a escrever uma autobiografia! 

O autista, dizem os estudiosos desde os anos 1940, entre eles, Johann Asperger (1906 a 1980) e Leo Kanner (1894 a 1981) são mentes que pensam e sentem diferente o mundo. Suas limitações para se comunicar, interagir no coletivo, e muitas vezes, os seus comportamentos repetitivos, revelam que, ao invés do todo, o que interessa ao autista (num amplo leque de níveis do transtorno) são apenas algumas partes da existência.

Temple Grandin, com sua blusa de cowboy, nasceu em Boston em 1947, e só foi falar com quase quatro anos. A mãe sacou isso e atacaram o problema desde então com muito estímulo (especialmente dos professores) e afeto. A mãe da moça inclusive engoliu a seco por muito tempo uma possível culpa por ser fria e insensível com a sua bebê. Hoje gente graúda e esperta como a dra. Uta Frith (1941) afirmam que isso de “mãe geladeira” causar autismo é balela.

Dizia eu que a mente autista, em menor ou maior intensidade, tem o foco nas partezinhas do mundo, não na teoria geral. Temple, por exemplo, tinha uma memória visual, e empregava sua dificuldade de socializar, observando o comportamento de bois e vacas na fazenda da família. Ela se sentia uma antropóloga em Marte, entre as pessoas, mas muito em casa na mansidão dos ruminantes. Mesmo péssima em álgebra, mas boa em geometria, ela projetou uma máquina de abraços, inspirada no jeito que o gado era vacinado no campo em 1965. Uma leve pressão e uma breve imobilidade já aconchegavam o ansioso coração do autista, claro, no caso, do jeito que o autismo se manifestou em Temple. 

Aliás, formada engenheira agropecuária, desenvolveu melhorias no abate do gado, hoje usados mundo afora. Gaudérios bagualudos do rio Gravataí, fãs de açougues e de churrascos, talvez saibam disso. 

O autismo já foi considerado psicose infantil e mesmo uma esquizofrenia. Até hoje não existem medidas biológicas, sequer grandes instrumentos de diagnóstico, a não ser a observação e o histórico da pessoa. Mas para sair das suas ilhas de habilidades, o autista precisa de um cuidadoso estímulo, com desafios sensatos ao seu dia a dia.

Gênios como Temple Grandin ou o Raymond do manjado filme “Rain Man” (1988, do diretor Barry Levinson) são minoria. Pois outra lenda que cerca o autismo é a da extrema inteligência. Não é bem assim. Agora uma coisa afirmo eu: quem aprende a conviver com um autista (detalhe: ocorrem mais meninos que meninas autistas, dizem as últimas estatísticas), ou seja, os familiares e educadores, estes, rapidamente, aprendem com eles e elas a fugir da extrema burrice. Obrigado, autistas! Ninguém precisa ser extremamente inteligente em nada. Mas também não precisa ser extremamente burro em tudo. Vuuuush!
(c. a. albani da silva, o inventor do vento, 02.04.019)

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