sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cheirinho do Livro IV dos "Contos Pra Cantar"



IMORTAL AQUILES

(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Foi um dia tão difícil, amor
Parecia não passar
Mas como tudo, na vida,
Passou

Foi um dia tão tristonho, amor
Só restava chorar
Mas não se faz chuva com as lágrimas
De um só

Foi um dia tão comum, amor
Pra quem não pode se ocupar
E ver o que tinha nele
De diferente

Foi um dia tão comum, no ar
O teu perfume a me embriagar
E você tão
Indiferente

Hoje foi um dia tão comum
Como qualquer dos outros dias
Hoje foi um dia tão comum
Como um dia qualquer que ainda não teve

Você vai ter que me desculpar, amor
Por tudo aquilo que eu não pude ser
E você tanto
Queria

Há alguma coisa a me incomodar
Há tanta gente em tanto lugar
Mas as casas estão todas
Vazias

O velho homem a desvanecer
E a amante que não pude ter
Dançam nesta mesma e irônica
Melodia

O amor padece deste mesmo mal
Oh! Aquiles fora imortal
Somente enquanto
Ele vivia

Hoje foi um dia tão comum...

Você vai ter que me desculpar, amor
Por tudo aquilo que eu não pude ser
E você tanto
Insistia

Há muita coisa a nos incomodar
Pouca mente em nenhum lugar:
As cabeças estão todas
Vazias

O jovem homem a adormecer
E a amante que vai me conhecer
Dançam nesta mesma e irônica
Sinfonia
O amor padece deste mesmo mal:
Gilgamesh fora imortal
Somente enquanto
Ele sorria
(Livro IV – Tomar um gol no futebol, p. 22)

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