Jean-Michel Basquiat, Cabeza, 1982
3 Poetas da
Modernidade
1)
Whalt
Whitman (1819-1892): O poeta que
ajudou a inventar os EUA / E os EUA, por sua vez, ajudaram a inventar a
Modernidade / Desde sua Revolução burguesa pela Independência / Em 1776 /
Quando deram um corridão / No Rei da Inglaterra / Passando por sua Guerra Civil
de 1860 a 1865 – um dos estopins da II Revolução Industrial / Chegando à
hegemonia global presente / Iniciada após a participação / Tardia / Mas
decisiva / Na I Guerra Mundial (1914-1918) / E / Consolidada / Após a II
Guerra Mundial (1939-1945) / Mas / Sobretudo mesmo / Após o fim da Guerra Fria (1991)
/ Ainda que marcada por imperialismos, crises / Bushes / Tiros em Columbine / A
história dos EUA / Está / Profundamente associada / À busca / Incessante /
Senão religiosa / De um “destino manifesto” / Ou seja / Das invenções e
conquistas básicas do Mundo Moderno e Contemporâneo / E foram estes os símbolos /
Revolucionários / Cantados pioneira e
intensamente na poesia livre e metafórica / De Whitman / Em seu célebre / Folhas na relva – Leaves of Grass
(1855): Liberdade – Natureza – Democracia – Individualidade / Autodidata e
professor / Whitman publicou com recursos próprios / A 1ª edição / De seu
clássico.
(Albani da Silva, 12.07.2012,
com uma baita ajuda do Harold Bloom e seu “O Cânone Ocidental” – 1994)
Uma clara meia-noite
Walt Whitman
Esta é tua hora, ó Alma,
teu vôo livre no sem palavras,
Longe dos livros, longe da
arte, o dia apagado,
A lição feita.
Emerges inteiramente,
silenciosa, contemplando, meditando
Os temas que mais amas,
Noite, sono, morte e as
estrelas.
Canção de mim mesmo – parte 38
Walt Whitman
Em vão me trespassaram cravos nas mãos.
Lembro-me de minha
crucificação e sangrenta coroação
Lembro-me dos zombadores e
das bofetadas insultantes
O sepulcro e o linho
branco me devolveram
Estou vivo em Nova York e
San Francisco,
De novo ando pelas ruas
dois mil anos depois.
Nem todas as tradições do
mundo podem dar vitalidade às igrejas
Elas não estão vivas, são
fria argamassa e tijolo,
Posso facilmente erguer
outras tantas, e também o podes tu: - Os livros não são homens -.
Cruzando a balsa do Brooklyn
Walt Whitman
Não só sobre ti caem as
manchas escuras,
também sobre mim lançou a
escuridão suas manchas
O melhor do que eu fizera
me pareceu vazio e suspeito,
minhas grandes ideias,
como eu as supunha, não eram na verdade fracas?
Nem é só tu quem sabe o
que é ser mau,
Também eu atei o velho nó
da discórdia.
Quando os lilases floriram pela última vez no
jardim da frente
Walt Whitman
No jardinzinho à frente de
uma velha casa de fazenda, perto da cerca caiada,
Ergue-se alto o pé de
lilases, as folhas em forma de coração, o verde exuberante,
Muitas flores pontiagudas
desabrocham delicadas, o forte perfume que adoro,
Cada folha, um milagre – e
desse pé no jardinzinho da frente,
Com suas flores de cores
delicadas, suas folhas em forma de coração de um verde exuberante,
Um raminho eu faço.
José Saramago – A Flor Mais Grande do Mundo (2010):
Beck – Loser (1993):
2)
Charles
Baudelaire (1821-1867): Filho de sacerdote
/ Criado por general / Baudelaire foi expulso / Do colégio / Interno / Em que
estudava / Torrou a herança / Do pai / Na boemia de Paris / Inventor do
movimento simbolista / Baudelaire e sua obra causaram escândalo / Sendo
censurados / Mas passou / A modelo para as vanguardas artísticas / A partir do
século XX / O escritor francês / Também foi um dos pioneiros / A conciliar inventividade
artística / Com intelectualidade / Ou seja / Pensar e teorizar sobre a arte que
se faz / Mas / Principalmente / Pensar e compreender cuidadosamente o mundo em
que se vive / E debruçando-se sobre a “aventura da modernidade” / Na Cidade das
Luzes / Baudelaire decidiu / Abordar a crise existencial / O sexo / O vício / O
pecado / A morte / De maneira lírica / Poetou sobre a vida comum / E sobre a
sordidez das grandes metrópoles / Contribuiu para a invenção dos versos sem
rima / Fortalecendo a poesia em prosa modernista / Escreveu ensaios sobre a
vida moderna / Concluindo que definir a modernidade não é nada fácil / Contraditório
como o próprio mundo moderno / Primeiramente, Baudelaire elogiou a iniciativa
burguesa / E o seu mundo capitalista, com todas suas possibilidades
tecnológicas, futuristas e criativas / Por fim, alfinetou e cantou “As Flores do Mal”
(1861) / Seu livro mais famoso de poesias / Morreu aos 46 anos / Num sanatório
/ Atordoado pela / Sífilis.
(Albani da Silva, 12.07.2012,
com uma ajudona do Marshall Berman e seu “Tudo que é sólido desmancha no ar” – 1982)
O
pintor da vida moderna
Charles Baudelaire
“Por ‘modernidade’
eu entendo o efêmero, o contingente, a metade da arte cuja outra metade é
eterna e imutável”.
Spleen
Charles Baudelaire
Quando o céu
plúmbeo e baixo pesa como tampa
Sobre o
espírito exposto aos tédios e aos açoites,
E, ungindo
toda a curva do horizonte, estampa
Um dia mais
escuro e triste do que as noites;
Quando a
terra se torna um calabouço horrendo,
Onde a
Esperança, qual morcego espavorido,
Sua asa
tímida nos muros vai batendo
E a cabeça
roçando o teto apodrecido;
Quando a
chuva, a escorrer as tranças fugidias,
Imita as
grades de uma lúgubre cadeia,
E a muda
multidão das aranhas sombrias
Estende em
nosso cérebro uma espessa teia,
Os sinos
dobram, de repente, furibundos
E lançam
contra o céu um uivo horripilante,
Como os espíritos
sem pátria e vagabundos
Que se põem a
gemer com voz recalcitrante
- Sem música
ou tambor, desfila lentamente
Em minha
alma uma esguia e fúnebre carreta;
Chora a
Esperança, e a Angústia, atroz e prepotente,
Enterra-me
no crânio uma bandeira preta.
Primal Scream – Rocks (2008):
Arnaldo Antunes – Longe (2009):
3)
Federico
García-Lorca (1898-1936): Formado em Direito
/ Educado num caldo de cultura campestre / Na Espanha do início do século XX /
Lorca bebeu na fonte das narrativas folclóricas / Mitológicas / E na memória
oral / Jogando essa ancestralidade poética / Em experiências surrealistas /
Espiritualizadas / Tematizando a natureza / A infância / O amor / Diretor do
grupo teatral La Barraca
/ Penetrou nos rincões de Espanha / Entre 1931 e 1936 / Levando clássicos
literários a camponeses / Politizado, homossexual, produtor de teatro popular /
Lorca foi assassinado por militantes fascistas / Ao explodir a Guerra Civil
espanhola, de 1936 a 1939 / Prenúncio da II Guerra Mundial / Em Espanha / a Guerra Civil / Foi / Um confronto entre
as forças anarco-comunistas / Que haviam proclamado a República / Em
1933 / E as forças da direita fascista / Entenda-se: / Clero / Militares / Fazendeiros
/ Até hoje / A poesia / Procura / Os restos mortais de Lorca. (Albani da
Silva, 12.07.2012)
O poeta pede
a seu amor que lhe escreva
Federico García-Lorca
Amor de minhas entranhas,
morte viva,
em vão espero tua palavra
escrita
e penso, com a flor que se
murcha,
que se vivo sem mim quero
perder-te.
O ar é imortal. A pedra
inerte
nem conhece a sombra nem a
evita.
Coração interior não
necessita
o mel gelado que a lua
verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me
as veias,
tigre e pomba, sobre tua
cintura
em duelo de mordiscos e
açucenas.
Enche, pois, de palavras
minha loucura
ou deixa-me viver em minha
serena
noite da alma para sempre
escura.
Gazel
I
Do
amor imprevisto
Federico García-Lorca
Ninguém compreendia
o perfume
da escura
magnólia do teu ventre
Ninguém
sabia que martirizavas
entre os
dentes um colibri de amor
Mil
cavalinhos persas dormiam
na praça com
luar de tua fronte,
enquanto eu
enlaçava quatro noites
tua cintura,
inimiga da neve.
Entre gesso
e jasmins, o teu olhar
em um pálido
ramo de sementes.
Eu procurei,
para dar-te, em meu peito
as letras de
marfim que dizem sempre,
sempre, sempre: jardim de minha agonia,
teu corpo
fugitivo para sempre,
o sangue de
tuas veias em minha boca,
tua boca já
sem luz para minha morte.
Cesária Évora – Sodade (2004):
Xutos e Pontapés – Quem é quem? (2009):
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