sexta-feira, 13 de julho de 2012

Jean-Michel Basquiat, Cabeza, 1982

3 Poetas da Modernidade

1)       Whalt Whitman (1819-1892): O poeta que ajudou a inventar os EUA / E os EUA, por sua vez, ajudaram a inventar a Modernidade / Desde sua Revolução burguesa pela Independência / Em 1776 / Quando deram um corridão / No Rei da Inglaterra / Passando por sua Guerra Civil de 1860 a 1865 – um dos estopins da II Revolução Industrial / Chegando à hegemonia global presente / Iniciada após a participação / Tardia / Mas decisiva / Na I Guerra Mundial (1914-1918) / E / Consolidada / Após a II Guerra Mundial (1939-1945) / Mas / Sobretudo mesmo / Após o fim da Guerra Fria (1991) / Ainda que marcada por imperialismos, crises / Bushes / Tiros em Columbine / A história dos EUA / Está / Profundamente associada / À busca / Incessante / Senão religiosa / De um “destino manifesto” / Ou seja / Das invenções e conquistas básicas do Mundo Moderno e Contemporâneo / E foram estes  os símbolos / Revolucionários /  Cantados pioneira e intensamente na poesia livre e metafórica / De Whitman / Em seu célebre / Folhas na relva – Leaves of Grass (1855): Liberdade – Natureza – Democracia – Individualidade / Autodidata e professor / Whitman publicou com recursos próprios / A 1ª edição / De seu clássico.
(Albani da Silva, 12.07.2012, com uma baita ajuda do Harold Bloom e seu “O Cânone Ocidental” – 1994)

Uma clara meia-noite
Walt Whitman
Esta é tua hora, ó Alma, teu vôo livre no sem palavras,
Longe dos livros, longe da arte, o dia apagado,
         A lição feita.
Emerges inteiramente, silenciosa, contemplando, meditando
         Os temas que mais amas,
Noite, sono, morte e as estrelas.

Canção de mim mesmo – parte 38
Walt Whitman
Em vão me trespassaram cravos nas mãos.
Lembro-me de minha crucificação e sangrenta coroação
Lembro-me dos zombadores e das bofetadas insultantes
O sepulcro e o linho branco me devolveram
Estou vivo em Nova York e San Francisco,
De novo ando pelas ruas dois mil anos depois.
Nem todas as tradições do mundo podem dar vitalidade às igrejas
Elas não estão vivas, são fria argamassa e tijolo,
Posso facilmente erguer outras tantas, e também o podes tu: - Os livros não são homens -.

Cruzando a balsa do Brooklyn
Walt Whitman
Não só sobre ti caem as manchas escuras,
também sobre mim lançou a escuridão suas manchas
O melhor do que eu fizera me pareceu vazio e suspeito,
minhas grandes ideias, como eu as supunha, não eram na verdade fracas?
Nem é só tu quem sabe o que é ser mau,
Também eu atei o velho nó da discórdia.

Quando os lilases floriram pela última vez no jardim da frente
Walt Whitman
No jardinzinho à frente de uma velha casa de fazenda, perto da cerca caiada,
Ergue-se alto o pé de lilases, as folhas em forma de coração, o verde exuberante,
Muitas flores pontiagudas desabrocham delicadas, o forte perfume que adoro,
Cada folha, um milagre – e desse pé no jardinzinho da frente,
Com suas flores de cores delicadas, suas folhas em forma de coração de um verde exuberante,
Um raminho eu faço. 

José Saramago A Flor Mais Grande do Mundo (2010)


BeckLoser (1993): 


2)       Charles Baudelaire (1821-1867): Filho de sacerdote / Criado por general / Baudelaire foi expulso / Do colégio / Interno / Em que estudava / Torrou a herança / Do pai / Na boemia de Paris / Inventor do movimento simbolista / Baudelaire e sua obra causaram escândalo / Sendo censurados / Mas passou / A modelo para as vanguardas artísticas / A partir do século XX / O escritor francês / Também foi um dos pioneiros / A conciliar inventividade artística / Com intelectualidade / Ou seja / Pensar e teorizar sobre a arte que se faz / Mas / Principalmente / Pensar e compreender cuidadosamente o mundo em que se vive / E debruçando-se sobre a “aventura da modernidade” / Na Cidade das Luzes / Baudelaire decidiu / Abordar a crise existencial / O sexo / O vício / O pecado / A morte / De maneira lírica / Poetou sobre a vida comum / E sobre a sordidez das grandes metrópoles / Contribuiu para a invenção dos versos sem rima / Fortalecendo a poesia em prosa modernista / Escreveu ensaios sobre a vida moderna / Concluindo que definir a modernidade não é nada fácil / Contraditório como o próprio mundo moderno / Primeiramente, Baudelaire elogiou a iniciativa burguesa / E o seu mundo capitalista, com todas suas possibilidades tecnológicas, futuristas e criativas / Por fim, alfinetou e cantou “As Flores do Mal” (1861) / Seu livro mais famoso de poesias / Morreu aos 46 anos / Num sanatório / Atordoado pela / Sífilis.
(Albani da Silva, 12.07.2012, com uma ajudona do Marshall Berman e seu “Tudo que é sólido desmancha no ar” – 1982)

O pintor da vida moderna
Charles Baudelaire
“Por ‘modernidade’ eu entendo o efêmero, o contingente, a metade da arte cuja outra metade é eterna e imutável”.


Spleen
Charles Baudelaire
Quando o céu plúmbeo e baixo pesa como tampa
Sobre o espírito exposto aos tédios e aos açoites,
E, ungindo toda a curva do horizonte, estampa
Um dia mais escuro e triste do que as noites;

Quando a terra se torna um calabouço horrendo,
Onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Sua asa tímida nos muros vai batendo
E a cabeça roçando o teto apodrecido;

Quando a chuva, a escorrer as tranças fugidias,
Imita as grades de uma lúgubre cadeia,
E a muda multidão das aranhas sombrias
Estende em nosso cérebro uma espessa teia,

Os sinos dobram, de repente, furibundos
E lançam contra o céu um uivo horripilante,
Como os espíritos sem pátria e vagabundos
Que se põem a gemer com voz recalcitrante

- Sem música ou tambor, desfila lentamente
Em minha alma uma esguia e fúnebre carreta;
Chora a Esperança, e a Angústia, atroz e prepotente,
Enterra-me no crânio uma bandeira preta.

Primal ScreamRocks (2008): 


Arnaldo Antunes Longe (2009):

3)       Federico García-Lorca (1898-1936): Formado em Direito / Educado num caldo de cultura campestre / Na Espanha do início do século XX / Lorca bebeu na fonte das narrativas folclóricas / Mitológicas / E na memória oral / Jogando essa ancestralidade poética / Em experiências surrealistas / Espiritualizadas / Tematizando a natureza / A infância / O amor / Diretor do grupo teatral La Barraca / Penetrou nos rincões de Espanha / Entre 1931 e 1936 / Levando clássicos literários a camponeses / Politizado, homossexual, produtor de teatro popular / Lorca foi assassinado por militantes fascistas / Ao explodir a Guerra Civil espanhola, de 1936 a 1939 / Prenúncio da II Guerra Mundial / Em Espanha / a Guerra Civil / Foi / Um confronto entre as forças anarco-comunistas / Que haviam proclamado a República / Em 1933 / E as forças da direita fascista / Entenda-se: / Clero / Militares / Fazendeiros / Até hoje / A poesia / Procura / Os restos mortais de Lorca. (Albani da Silva, 12.07.2012) 

O poeta pede a seu amor que lhe escreva
Federico García-Lorca
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Gazel I
Do amor imprevisto
Federico García-Lorca
Ninguém compreendia o perfume
da escura magnólia do teu ventre
Ninguém sabia que martirizavas
entre os dentes um colibri de amor

Mil cavalinhos persas dormiam
na praça com luar de tua fronte,
enquanto eu enlaçava quatro noites
tua cintura, inimiga da neve.

Entre gesso e jasmins, o teu olhar
em um pálido ramo de sementes.
Eu procurei, para dar-te, em meu peito
as letras de marfim que dizem sempre,

sempre, sempre: jardim de minha agonia,
teu corpo fugitivo para sempre,
o sangue de tuas veias em minha boca,
tua boca já sem luz para minha morte.

Cesária ÉvoraSodade (2004): 


Xutos e PontapésQuem é quem? (2009): 

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