segunda-feira, 12 de junho de 2017

Livro VIII - O amor é gostoso que nem pastel com ovo (p.39)



No século três os romanos prenderam o Valentino por livrar os jovens da guerra, casando eles. / Atrás das grades, o Valentino encafifou de gostar da filha do carcereiro. / Todo dia ele escrevia cartinhas de amor para ela, tipo assim:

Vem que tem, meu caramelozinho sem glúten:
tem amor bandido, que nem a Bonnie e o Clyde, coladinhos, dando tiro em poliça;
tem casal pacifista que nem John & Yoko, deitando na cama pela paz;
tem casal enfeitiçado que nem Isolda e Tristão;
tem prova de amor do tamanho dum palácio indiano,
embora na real seja uma tumba indiana, a da Mahal do Shah;
tem casal homo, como a Elizabeth Poeteira Bishop e a Lota arquiteta;
tem Santo Antão do Deserto e Atalanta casados com a misoginia;
tem casal gay, feito os cowboys Diadorim e Riobaldo;
tem amante idoso lentamente caminhando na praia;
tem amor platônico de coroa tipo o Gustavo pelo jovem Tadeu em Veneza;
tem prostituta que de tanto amor virou santa, a Maria do Egito;
tem casamento na roça, amores de verão que no frio não sobem a serra pelados, tem amor sem futuro e sem passado – o primeiro amor / tem amor interessado – em carro zero e cartão de crédito, tem amor de adolescência com ou sem espinhas que até vira casamento no cartório e tudo, tem amor brega e amor punk brega em três acordes e com muita bateção de cabeça, tem amor de tudo que é jeito jeitinho e jeitão porque...

...o amor é gostoso que nem pastel com ovo: uns se lambuzam outros passam fome na rodoviária”.
Do teu Valentino.
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento, p. 39 dos Contos Pra Cantar)

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