terça-feira, 6 de junho de 2017

Cheirinho do Livro VII dos “Contos Pra Cantar”



REFRESCOS DA ALMA
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Não prometa a Pandora o que não se pode cumprir
Não menospreze a sabedoria daquele que não sabe ler
Nem Maomé, nem Jesus, nem Buda, nem Sócrates
Rabiscaram um bilhete só

Dia desses encontrei-me com a última das deusas
Astreia, a Virgem, cantou docemente para mim
Mandei-lhe presentes e um abraço apertado
Por sua mãe, a Justiça

Por muito pouco ela não entendeu a cabala
Mas se esqueceu dos burocratas de terno, gravata, sorriso e mala

Ela trouxe um prato de comida requentada
Para um Prometeu acorrentado

Não explique a Arjuna aquilo que nem você entende
Os tempos são duros, mas ainda podem piorar
Nem Conselheiro, nem Sepé, nem Zumbi, nem Prestes
Desistiram de causas perdidas

Noite dessas encontrei-me ouvindo velhas serestas
Nesta cidade bastam sete cordas para uma canção
Voar livre como um pássaro

Por muito pouco ele não perdeu a novela
E se lembrou que para cada meia-noite há uma Cinderela

Ele trouxe uma caixa de sapatos usada
Não cabiam muitas coisas, afinal,
ele não precisava
(Livro VII – Se for ateu, rezar, p. 38)


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